Martinho Júnior | Luanda
Em
saudação aos 60 anos do MPLA, aos 52 anos da passagem do Che por África e aos
43 anos do 25 de Abril… e assinalando os 50 anos do início do “Exercício
ALCORA” e os 50 anos do início da Guerra do Biafra.
5-
A ambiguidade dos sucessivos Governos portugueses pós o 25 de Novembro de 1975
teve“cultores” que actuaram “por inércia” em função do passado
histórico em relação a África, aproveitando as experiências do âmbito da
internacional fascista e entre elas a que se refere ao Exercício ALCORA, o que
explica o facto de nenhum dos signatários desse acordo o ter publicitado em
tempo, muito menos os governos que o poderiam e deveriam fazer, por que
poderiam e deveriam ter-se preocupado no anúncio efectivo de sua caducidade,
livrando-se dos efeitos que se lhes seguiriam.
É
evidente que em relação a Portugal o peso das “redes stay-behind” da
NATO, assim como a vassalagem em relação aos Estados Unidos, as “obrigações” para
com a União Europeia e até a vassalagem recriada na moderna esteira do âmbito
da aliança anglo-lusa de 1373, explicam-no e justificam-no e por isso, por
exemplo, muitos dos velhos diplomatas que serviram o Estado Novo não tiveram
suas carreiras postas em causa com o 25 de Abril.
Explicam-no
também as actuações na base da democracia cristã, em conformidade com os
interesses mentores do “Le Cercle”: como os interesses não só se
mantiveram, mas se avolumaram, a democracia cristã teve a garantia dum “terreno
fértil” que pode ser observado por exemplo nos“Jogos Africanos” de
Jaime Nogueira Pinto.
A
democracia cristã conforme ao “Le Cercle”, soube aproveitar-se em tempo do
maoismo, demarcando o seu campo absorvente de sua “estratégia de tensão” na
sua “luta contra o comunismo”e, quando o neoliberalismo vitorioso se
assumiu mais tarde (depois do 25 de Abril de 1974) em função desde logo das
experiências encetadas pela administração republicana de Ronald Reagan, veio a
garantir a introdução de elementos doutrinários e ideológicos não só da própria
teoria de Milton Friedman, mas a de outros filósofos estado-unidenses como os
que tenho vindo a citar: Gene Sharp (“Manual de autoajuda para os golpes de
Estado suaves”) e o neoconservador Leo Strauss(sobretudo em “Jews
philosophy and the crisis of modernity”, “What is political philosophy” e “Liberalism
ancient – modern”).
6- As vulnerabilidades africanas de toda a ordem que possibilitaram a Conferência de Berlim nos finais do século XIX, garantiram por si as resistências coloniais e do “apartheid”, pois África só muito a custo conseguiu começar a erguer a sua voz para denunciar os crimes contra a humanidade que na essência se constituíam na existência da própria internacional fascista no sul do continente, que quando era conveniente, recorria ainda a mercenários para se esconder e para esconder os interesses e as implicações que tinham origem nos Estados Unidos, na Europa e na NATO.
6- As vulnerabilidades africanas de toda a ordem que possibilitaram a Conferência de Berlim nos finais do século XIX, garantiram por si as resistências coloniais e do “apartheid”, pois África só muito a custo conseguiu começar a erguer a sua voz para denunciar os crimes contra a humanidade que na essência se constituíam na existência da própria internacional fascista no sul do continente, que quando era conveniente, recorria ainda a mercenários para se esconder e para esconder os interesses e as implicações que tinham origem nos Estados Unidos, na Europa e na NATO.
A
expressão libertária africana assente no marxismo-leninismo de Amilcar Cabral,
Agostinho Neto, Samora Machel, Ernesto Guevara e Fidel, foi decisiva para que
África conseguisse ganhar essa voz, que seria impossível com outros como Leopod
Senghor, Houphouet Boigny, Bongo, Mobutu, Kaunda, ou Savimbi!
A
passagem do Che pelo Congo foi proverbial para a constituição da linha da
frente informal que o Movimento de Libertação em África alicerçou entre Dar es
Salam e Brazzaville com seus aliados cubanos, pois o Comandante Fidel
conjuntamente com seus pares africanos marxistas-leninistas, entre eles Amílcar
Cabral, Agostinho Neto e Samora Machel, levaram por diante uma saga que venceu
as alianças da internacional fascista em quase todos os campos de luta
(inclusive no que toca a algumas das suas sequelas)…
…Menos
quando a aristocracia financeira mundial no rescaldo de sua vitória sobre o
campo socialista, aproveitou o que o capitalismo neoliberal fez a partir da
administração republicana de Ronald Reagan e neoconservadora de Margareth
Thatcher, de doutrinas, ideologias e práticas levadas a cabo pelas “redes
stay behind” da NATO (maoistas e trotskistas conjugados com os
democratas-cristãs, nazis, fascistas e mercenários do “Le Cercle”), que
providenciaram sentido, inspiração e antropologia cultural em benefício dos
actuais neoconservadores e agentes de caos e terrorismo, em estrita
conformidade à expressão filosófica de Milton Friedman, Gene Sharp, Francis
Fukuyama e Leo Strauss, das escolas estado-unidenses incentivadas e financiadas
pelos interesses dos clãs Rockefeller e Rothschield, que engrossaram as
fileiras dos “lobbies” do petróleo, armamento e dos minerais, nas
suas constantes práticas de subversão em África.
Os
agentes contemporâneos das “revoluções coloridas” e das “primaveras
árabes” têm muito tacitamente a ver, no quadro de seus mentores e
impulsionadores, com os mercenários africanos de então, em especial no quadro
das intervenções que hoje implicam golpes de estado, caos e terrorismo: eles
contribuem para criar a cínica oportunidade da “responsabilidade para
proteger”, tal como antes, por exemplo, os mercenários da Operação Dragão
Vermelho em Stanleyville (1964/65).
Ao
mínimo sinal da possibilidade da presença do Che no Congo em 1965, a
inteligência estado-unidense reagiu, retirando a outros (entre eles os
colonialistas belgas e portugueses, bem como os agentes mercenários do “apartheid”)
os vínculos na utilização de alguns grupos de mercenários no leste daquele país
que se apresentava balcanizado também em função dos interesses da aristocracia
financeira mundial, na altura (revoltas do Katanga e do Kassai, além da
situação nos Kivus).
Em “Mercenários
S.A.”, de Philippe Chapleau e François Misser, há um capítulo sobre esse tema ("des
affreux à la chimère de l'état mercenaire", “Bukavu – la chimère d´un
État mercenaire”), do qual dou especial realce (pag.37):
“…Tudo
começou em 1964, um ano depois do fim da secessão catanguesa.
Face
à rebelião dos guerrilheiros mulelistas, os irredutíveis simbas (leões em
língua swahili) dirigidos no Kivu por Laurent Kabila, (actual Presidente do
Congo-Kinshasa), Tshombé, promovido a Primeiro-Ministro do Congo-Léopoldville,
solicita o apoio dos seus velhos cúmplices – Mike Hoare, que Dénard considera
como um homem da CIA, o próprio Bob, Schramme e Tavernier, que à cabeça do seu
14º Batalhão pacifica a região de Watsa.
Desta
vez ainda os africanos têm um talismã.
No
Batalhão Leopardo, testemunha Schramme, um homem da igreja ocupa-se com efeito
do reconhecimento, um certo Louis O., missionário flamengo, um antigo da frente
Oriental.
Os
fieis Noddyn e Bracco continuam lá.
O
coronel Vandewalle está no terreno conduzindo a Operação Ommegang em
Stanleyville, onde milhares de expatriados são reféns dos simbas.
Antigos
homens da Wehrmacht, como o major Sigfried Muller, condecorado com a Cruz de
Ferro na frente russa, completam o efectivo.
Para
coroar tudo, a CIA engaja pilotos cubanos anticastristas e comandos de marinha
recrutados na África do Sul e na Europa.
A
CIA procura vedetas para atacar a partir do Lago Tanganika os rebeldes de
Kabila e cortar as suas linhas de abastecimento, indica uma obra colectiva prefaciada
por Sean Mac Bride.
Para
esse efeito a Agência recorre à sociedade-écran Western International Ground
Maintenance Organization (WIGMO), baseada em Liechtenstein.
Na
região encontra-se de tudo, inclusive jovens à procura de aventura e alguns
psicopatas – Burlion recolhe testemunhos dos mercenários sobre a morte de
rebeldes queimados vivos, ou de um soldado da fortuna que colecionava cabeças
dos mortos… (Jacques Burlion autor de Moisés Tshombé abandonado).
O
próprio Hoare tem um discurso desafiador e arrogante no regresso do Congo e
numa entrevista ao quotidiano La Libre Belgique, de 15 de Dezembro de 1965
declarou – matar os comunistas é como matar vermes; matar os nacionalistas
africanos é como matar animais; não gosto nem de uns nem de outros”…
Do
outro lado do “front”, do lado dos simbas e de Laurent Kabila, esteve o
Che e alguns dos combatentes cubanos que deram consistência às duas colunas do
Che em África e às alianças em prol do Movimento de Libertação, formando a
linha da frente progressista e informal de então (1965), contra a internacional
fascista que na altura era tremendamente poderosa.
Tenho
muitos depoimentos do próprio Comandante Che Guevara (nome de código em África,
em swahili, Tatu) sobre essa saga, mas vou aqui citar Victor Dreke (nome de
código em África, em swahili, Moja), que recentemente deu uma entrevista a
propósito numa Mesa Redonda da Televisão Cubana:
“MISIÓN
EN EL CONGO
De
la colaboración de Cuba en África, y de la postura solidaria de la Revolución
con ese continente, puede dar fe Víctor Dreke, uno de los protagonistas
excepcionales de varias misiones.
Durante
la noche del 31 de marzo de 1965, horas antes de salir para el Congo –de lo
cual el compañero Osmany Cienfuegos es testigo-, tuvimos un intercambio con el
Comandante en Jefe y con el Che, en el que Fidel nos explica la situación de
África. Y aunque era lógico que teníamos que cuidar al Che, el Comandante nunca
nos lo dice explícitamente, porque cuando tú vas con alguien de esa altura eso
no hay ni que decirlo. Fidel se detiene a hablarnos de grandes cosas de África,
que eran aristas que yo no conocía.
Tampoco
nadie en el Congo imaginaba que el Che iba a ir. Por eso cuando llegamos a
Tanzania, quien nos espera se queda impactado con el hecho de que era el
Che quien estaría al frente de la misión personalmente.
De
África no sabíamos mucho. Los libros sobre ese continente quienes los escribían
eran los capitalistas, y daban la impresión de que ellos eran unos salvajes.
Por eso fue muy reveladora esa vivencia.
Entre
las anécdotas que compartió, estuvo que ninguno de los cubanos allí en el Congo
identificó al Che. Y cuando se supo, muchos quedaron realmente impresionados
con esa certeza.
Benigno
dijo muchas cosas, porque él coge noticias de cosas que pasaron en el Congo, a
partir de lo que el Che explicaba de los errores que cometimos. Pero él nunca
estuvo allí. Además, es mentira que el Che no estuvo en algún momento junto a
la tropa, de hecho, cuando él lo refiere, el Che estaba enfermo gravemente de
paludismo y con asma. Creíamos que moría y aún así dijo que no salía. Yo tenía
una situación compleja porque no lo podía dejar morir. La decisión fue tratar
de curarlo. Pero el Che hasta perdió el sentido. Si el Che viviera hoy, las
interpretaciones sobre esa experiencia serían diferentes.
Han
pasado los años, y yo creo que esa fue la historia de una experiencia y no de
un fracaso, porque nosotros no conocíamos África, y eso no quiere decir que
engañaron al Che. Qué se dio allí, que cuando se hizo la exploración se vio a
un grupo de armas, y vestidos, todos los negros son bastante parecidos, y los
vieron armados. Nosotros logramos con las acciones ver lo que realmente tenían.
Esa fue una experiencia de cosas que no conocíamos. Pero el Che a lo negro le
decía negro, no andaba con medias tintas. Tenía la moral de lucha que cuando se
equivocaba, decía que se equivocaba y si tú tenías la razón lo admitía, pero no
te andaba pasando la mano por la cabeza.
Además,
dentro de ellos mismos –los congoleses- salen muchos que traicionan. Ellos no
se acabaron de unir. Pero el Che era el jefe de los cubanos, y llegó un momento
en el que estaba prácticamente aislado. Nos pidió seleccionar 15 hombres, pero
no se quiso ir. Queríamos que saliera porque el Movimiento de Liberación había
planteado el fin de la guerra y dijeron que iban a resolver sus problemas sin
el apoyo de ninguna otra fuerza. Pero los cubanos salimos en zafarrancho de
combate, y los belgas se quedaron allí.
Dreke
hizo énfasis en que en esa misión ni Fidel ni Raúl abandonaron al Che, hubo
momentos en los que faltó la comunicación y ahora uno fácilmente puede juzgar
la historia, porque hay celulares…, pero en aquellos momentos no era fácil la
comunicación con Cuba. No obstante, este país jamás abandonó a África. Prueba
de ello es que después regresé al frente de un grupo a Guinea Bissau.
Hay
un combate del cual se habla mucho. Ahí perdimos a 4 compañeros en una
emboscada, pero se trata de solo uno de los combates. Nosotros reforzamos la
crítica de la pérdida, pero no fue la debacle. Sin embargo, no sabíamos cómo
llegar, porque qué le decíamos a Fidel. Cuando nos despedimos en Tanzania, el
Che se va con Papi Villegas, y yo me digo qué le digo a Fidel. Aragonés venía
con nosotros. Pero yo formé esa tropa y llegué con el Che allí, pero Fidel nos
recibió y no nos castigó, y nos dio una explicación de la situación.
Para
Dreke, el Che llegó a África con la idea de lograr la unidad. “Nosotros también
pasamos por el problema de la unidad, y él lo vivió. Los que tenemos cierta
edad sabíamos que habían personajes. Pero la estrategia permitió dar un giro a
esa problemática, y el pueblo fue reconociendo tempranamente a sus verdaderos
líderes. Una demostración de ello fue cuando, en el Estadio del Cerro, Fidel se
quedó sin voz en medio del discurso en el que explicaba todo lo relacionado con
la intervención de los centrales, el pueblo espontáneamente pidió que siguiera
Raúl, y ese respeto él se lo ganó con su moral, no porque era el hermano de
Fidel.
Ante
la pregunta de por qué se hizo revolucionario, respondió que por tres
condiciones fundamentalmente: por ser cubano, joven y negro. Y esas singulares
razones han sostenido el destino de Víctor Dreke, un combatiente que ha puesto
su vida al lado de las mejores causas de su patria.”
A
consultar de Martinho Júnior:
A
ambiguidade feita cultura política – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/a-ambiguidade-feita-cultura-politica.html
Assim
se faz a hegemonia – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/07/assim-se-faz-hegemonia.html
Eleições
na letargia duma colónia periférica – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/10/eleicoes-na-letargia-duma-colonia.html
Assimilação
neocolonial sem precedentes – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/assimilacao-neocolonial-sem-precedentes.html
Neocolonialismo
em brandos costumes e dois episódios – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/neocolonialismo-em-brandos-costumes-e.html
Portugal
à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html
Portugal
à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_30.html
Outras
fontes:
Lista
de entidades do “Le Cercle” – https://isgp-studies.com/le-cercle-membership-list
Daniele
Ganser – http://www.voltairenet.org/auteur124764.html?lang=es
La
guerra secreta en Portugal – http://www.voltairenet.org/article170116.html
Mercenaires
S. A. – https://www.monde-diplomatique.fr/1998/08/LINARD/3945
Víctor
Dreke siempre al lado de las mejores causas de Cuba – http://mesaredonda.cubadebate.cu/mesa-redonda/2016/07/01/victor-dreke-siempre-al-lado-de-las-mejores-causas-de-cuba/
Imagens: Capa do livro “ALCORA – o acordo secreto do colonialismo”; capa do livro “Mercenaires S.A.”; mapa da primeira linha da frente progressista e informal (Dar es Salam – Kvu – Brazzaville); mapa que ilustra a área afecta aos rebeldes simba no Congo (1964); capa do livro“Pasajes de la guerra revolucionaria: Congo”.
Imagens: Capa do livro “ALCORA – o acordo secreto do colonialismo”; capa do livro “Mercenaires S.A.”; mapa da primeira linha da frente progressista e informal (Dar es Salam – Kvu – Brazzaville); mapa que ilustra a área afecta aos rebeldes simba no Congo (1964); capa do livro“Pasajes de la guerra revolucionaria: Congo”.
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