Díli,
07 ago (Lusa) - O secretário-geral da Fretilin, partido timorense mais votado,
disse hoje que quer dialogar com Xanana Gusmão, no arranque das negociações
sobre o futuro Governo, por considerar que é "uma figura
incontornável" que não pode estar fora do processo.
"Continuo
a achar que devo insistir num encontro com ele (Xanana Gusmão) o mais
brevemente possível. Respeito todas as decisões que foram tomadas (pelo CNRT,
segundo partido mais votado), mas sei que ele é uma figura incontornável que
não pode estar fora", disse Mari Alkatiri à Lusa.
"Só
amanha é que começamos a falar com os outros partidos e não podemos ir com
ideias fixas. Temos que ter abertura particularmente com o senhor Xanana
Gusmão, o meu compadre", sublinhou.
Alkatiri
falava à Lusa depois de uma reunião de três horas dos 15 elementos da Comissão
Política Nacional (CPN) da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin), que venceu as legislativas de 22 de julho em Timor-Leste.
O
Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), liderado por Xanana
Gusmão, deliberou numa conferência nacional do fim de semana que não vai
integrar qualquer coligação de Governo e quer ser oposição, tendo o seu líder
apresentado a demissão que ficou suspensa até um próximo Congresso
extraordinário do partido.
A
Fretilin escreveu a todos os partidos eleitos para o parlamento - CNRT, Partido
Libertação Popular (PLP), Partido Democrático (PD) e Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO) - a propor um diálogo tendo em vista a formação de
Governo.
"Todos
os outros partidos já estão disponíveis para os encontros que vão ser feitos. O
CNRT também não disse que não. Pelos contactos que fiz com o secretário-geral e
outras figuras destacadas, dizem que mesmo na resolução, há clausulas finais
que abrem caminho para um entendimento", disse Alkatiri.
Uma
das opções, que o CNRT ainda não decidiu, seria o eventual apoio de incidência
parlamentar com um Governo liderado pela Fretilin, que terá 23 dos 65 lugares
no parlamento, mais um que a CNRT. O PLP tem oito, o PD sete e o KHUNTO cinco.
Alkatiri
confirmou que ainda não falou com Xanana Gusmão mas recusou que a decisão do
CNRT não apoiar uma coligação com a Fretilin é normal.
"A
Fretilin também nunca aceitou fazer parte do Governo mas colaborou. Pelo que
tive oportunidade de ver com Xanana Gusmão nestes últimos dois, três anos, é
uma pessoa que quer o melhor para este país", afirmou, recusando-se a
comentar as decisões tomadas pelo CNRT.
"A
Fretilin continua a fazer esforço para falar com o CNRT e com o presidente do
CNRT, Xanana Gusmão", disse, afirmando, quando pressionado sobre se essa
reunião vai ou não ocorrer: "Nós os dois somos imprevisíveis. Quando
acontecer aconteceu".
Sobre
se prefere a opção de incidência parlamentar ou um Governo de inclusão, com
membros de outros partidos, Alkatiri invejou a solução encontrada em Portugal e
disse que poderia ser viabilizada aqui.
"O
que se pretende é ter um governo que governe e que responda aos anseios do
povo. Se pudesse ter a ginástica do Dr. António Costa também o faria. É sempre
uma opção desde que haja seriedade no tratamento dos assuntos de Estado. Com o
nosso programa, mas que não é um livro sagrado, pois pode ter alterações. Não é
um livro sagrado", disse o secretário-geral da Fretilin.
Questionado
sobre a questão de quem vai ser o primeiro-ministro, Alkatiri disse que mantém
a posição de querer decidir, dentro das estruturas do partido, se aceita ou não
o cargo, afirmando que pediu na CPN para remeter essa decisão para depois do
diálogo com os partidos.
"Falar
falámos, disso, mas pedi para não haver decisão ainda. Pedi para não haver
decisão, especialmente porque se vamos falar com os outros temos que ir de boa
fé. Mas não há dúvidas de que o primeiro-ministro terá que ser da
Fretilin", disse.
Sobre
os prazos para a negociação Alkatiri recorda que em 2007 se demorou quase dois
meses para encontrar uma solução de Governo declarando-se "otimista por
excelência" e defendendo que se deve "continuar a insistir em
respeitar a decisão do povo".
"O
país, de certa forma e por mais que queiramos empurrar, está um pouco parado,
com incertezas sobre membros do governo. Teremos um parlamento novo a partir do
dia 18. Hoje é 07. Até 18 ainda temos 11 dias. Vamos ver", considerou.
Alkatiri
garantiu que independente da solução de Governo a equipa liderada por Xanana
Gusmão que está a negociar com a Austrália as fronteiras marítimas se manterá
em funções.
"A
equipa continua até ao fim. Mudar agora não teria sentido de Estado. Xanana
Gusmão e Agio Pereira, esta equipa tem que continuar até ao fim. Não se troca a
equipa a meio da negociação", afirmou Alkatiri.
ASP
// EL
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