terça-feira, 8 de agosto de 2017

Fretilin debate formação de Governo timorense, e ainda quer falar com Xanana Gusmão -- SG



Díli, 07 ago (Lusa) - O secretário-geral da Fretilin, partido timorense mais votado, disse hoje que quer dialogar com Xanana Gusmão, no arranque das negociações sobre o futuro Governo, por considerar que é "uma figura incontornável" que não pode estar fora do processo.

"Continuo a achar que devo insistir num encontro com ele (Xanana Gusmão) o mais brevemente possível. Respeito todas as decisões que foram tomadas (pelo CNRT, segundo partido mais votado), mas sei que ele é uma figura incontornável que não pode estar fora", disse Mari Alkatiri à Lusa.

"Só amanha é que começamos a falar com os outros partidos e não podemos ir com ideias fixas. Temos que ter abertura particularmente com o senhor Xanana Gusmão, o meu compadre", sublinhou.

Alkatiri falava à Lusa depois de uma reunião de três horas dos 15 elementos da Comissão Política Nacional (CPN) da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que venceu as legislativas de 22 de julho em Timor-Leste.

O Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), liderado por Xanana Gusmão, deliberou numa conferência nacional do fim de semana que não vai integrar qualquer coligação de Governo e quer ser oposição, tendo o seu líder apresentado a demissão que ficou suspensa até um próximo Congresso extraordinário do partido.

A Fretilin escreveu a todos os partidos eleitos para o parlamento - CNRT, Partido Libertação Popular (PLP), Partido Democrático (PD) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) - a propor um diálogo tendo em vista a formação de Governo.

"Todos os outros partidos já estão disponíveis para os encontros que vão ser feitos. O CNRT também não disse que não. Pelos contactos que fiz com o secretário-geral e outras figuras destacadas, dizem que mesmo na resolução, há clausulas finais que abrem caminho para um entendimento", disse Alkatiri.

Uma das opções, que o CNRT ainda não decidiu, seria o eventual apoio de incidência parlamentar com um Governo liderado pela Fretilin, que terá 23 dos 65 lugares no parlamento, mais um que a CNRT. O PLP tem oito, o PD sete e o KHUNTO cinco.

Alkatiri confirmou que ainda não falou com Xanana Gusmão mas recusou que a decisão do CNRT não apoiar uma coligação com a Fretilin é normal.

"A Fretilin também nunca aceitou fazer parte do Governo mas colaborou. Pelo que tive oportunidade de ver com Xanana Gusmão nestes últimos dois, três anos, é uma pessoa que quer o melhor para este país", afirmou, recusando-se a comentar as decisões tomadas pelo CNRT.

"A Fretilin continua a fazer esforço para falar com o CNRT e com o presidente do CNRT, Xanana Gusmão", disse, afirmando, quando pressionado sobre se essa reunião vai ou não ocorrer: "Nós os dois somos imprevisíveis. Quando acontecer aconteceu".

Sobre se prefere a opção de incidência parlamentar ou um Governo de inclusão, com membros de outros partidos, Alkatiri invejou a solução encontrada em Portugal e disse que poderia ser viabilizada aqui.

"O que se pretende é ter um governo que governe e que responda aos anseios do povo. Se pudesse ter a ginástica do Dr. António Costa também o faria. É sempre uma opção desde que haja seriedade no tratamento dos assuntos de Estado. Com o nosso programa, mas que não é um livro sagrado, pois pode ter alterações. Não é um livro sagrado", disse o secretário-geral da Fretilin.

Questionado sobre a questão de quem vai ser o primeiro-ministro, Alkatiri disse que mantém a posição de querer decidir, dentro das estruturas do partido, se aceita ou não o cargo, afirmando que pediu na CPN para remeter essa decisão para depois do diálogo com os partidos.

"Falar falámos, disso, mas pedi para não haver decisão ainda. Pedi para não haver decisão, especialmente porque se vamos falar com os outros temos que ir de boa fé. Mas não há dúvidas de que o primeiro-ministro terá que ser da Fretilin", disse.

Sobre os prazos para a negociação Alkatiri recorda que em 2007 se demorou quase dois meses para encontrar uma solução de Governo declarando-se "otimista por excelência" e defendendo que se deve "continuar a insistir em respeitar a decisão do povo".

"O país, de certa forma e por mais que queiramos empurrar, está um pouco parado, com incertezas sobre membros do governo. Teremos um parlamento novo a partir do dia 18. Hoje é 07. Até 18 ainda temos 11 dias. Vamos ver", considerou.

Alkatiri garantiu que independente da solução de Governo a equipa liderada por Xanana Gusmão que está a negociar com a Austrália as fronteiras marítimas se manterá em funções.

"A equipa continua até ao fim. Mudar agora não teria sentido de Estado. Xanana Gusmão e Agio Pereira, esta equipa tem que continuar até ao fim. Não se troca a equipa a meio da negociação", afirmou Alkatiri.

ASP // EL


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