Díli,
12 nov (Lusa) - O Presidente timorense homenageou hoje os "jovens de
coragem" que lutaram contra a ocupação indonésia de Timor-Leste, evocando
as vítimas do massacre de Santa Cruz, de 1991, e apelando à "tranquilidade
e espírito de paz" no atual momento político.
"Para
desenvolver o país precisamos de tranquilidade e espírito de paz. As diferenças
políticas são naturais em democracia. É natural surgirem diferenças de
programas, de atitudes ou opiniões entre pessoas ou grupos", disse
Francisco Guterres Lu-Olo, num discurso no maior cemitério da cidade de Díli.
"Como
Presidente da República apelo ao diálogo, à moderação no discurso e ao respeito
pela dignidade de todos. O desenvolvimento, a criação de empregos, a preparação
dos jovens para o futuro requerem um ambiente estável que permita a
implementação de políticas estáveis, em todos os setores", insistiu.
Francisco
Guterres Lu-Olo falava numa cerimónia evocativa do 26.º aniversário do massacre
de Santa Cruz, acontecimento que, por ser filmado pelo jornalista Max Stahl deu
a conhecer ao mundo o drama que se vivia com a ocupação indonésia de
Timor-Leste.
A
intervenção ocorreu num momento de tensão política em Timor-Leste com o Governo
minoritário que tomou posse a 15 de setembro, liderado pela Fretilin, a poder
cair se a oposição chumbar pela segunda vez o programa do executivo.
"As
diferenças políticas não podem parar o desenvolvimento nacional. Isto exige a
compreensão de todos para a defesa dos interesses nacionais - os interesses de
todos", exortou o chefe de Estado.
"Apelo
ao reforço da paz e da estabilidade, e acredito na vossa maturidade política
crescente. Só a paz e a estabilidade nos permitem resolver os problemas da
juventude e do país. É esta a herança que recebemos pelo sangue derramado pelos
nossos jovens a 12 novembro de 1991: a consolidação do espírito nacionalista e
da unidade nacional", acrescentou.
Uma
multidão concentrou-se hoje no cemitério para recordar um dos momentos mais
importantes dos anos finais de luta contra a ocupação indonésia.
A
12 de novembro de 1991 realizou-se uma missa e cerimónia em homenagem de
Sebastião Gomes, morto por elementos ligados às forças indonésias uns dias
antes no bairro de Motael, e milhares de pessoas dirigiram-se até ao cemitério
de Santa Cruz.
Durante
o percurso alguns abriram cartazes e faixas de protesto. As forças indonésias
responderam com extrema violência, matando mais de 250 pessoas.
As
imagens do massacre de Santa Cruz, recolhidas pelo jornalista inglês Max Stahl
e que, para muitos marcaram um momento de viragem na questão de Timor-Leste
saíram de Díli, dois dias mais tarde, a 14 de novembro de 1991, graças à
intervenção da holandesa Saskia Kouwenberg, que escondeu a cassete numa 'bolsa'
improvisada entre duas cuecas cosidas uma à outra, conforme contou à agência
Lusa.
No
seu discurso, o chefe de Estado homenageou quer "o movimento dos jovens de
coragem contra a ocupação e violação da dignidade do povo", os
"jornalistas e amigos corajosos", como Max Stahl, Allan Nairn, Amy
Goodman e Saskia Kouwenberg que "testemunharam e divulgaram os
acontecimentos no estrangeiro".
"Saúdo
a memória dos jovens mártires e heróis de Santa Cruz que se entregaram à morte
e de todos aqueles que deram a vida em outros momentos do nosso processo de
luta pela independência", disse.
"Saúdo
e estendo o meu sentimento profundo para com todas as famílias enlutadas, cujos
filhos e filhas tombaram na luta em defesa da dignidade do povo e da
independência da nossa terra, em Santa Cruz e outros lugares", afirmou.
Lu-Olo
considerou a "paz e a independência a maior riqueza" que o país
recebeu com a luta contra a ocupação, sendo crucial passar para as gerações
futuras "o respeito pela dignidade de todos os timorenses, incluindo os
jovens".
"No
tempo do massacre de Santa Cruz, lutar pela melhoria das condições de vida
significava lutar pela liberdade e a independência", considerou.
"Agora,
restaurada a independência, lutar pela melhoria das condições de vida significa
reforçar a paz para continuar a desenvolver o nosso país e as nossas condições
de vida, e propiciar mais bem-estar aos nossos filhos e netos", considerou
ainda.
No
discurso, o chefe de Estado recordou a importância de dar "atenção máxima
às questões de juventude", com renovadas apostas na educação, formação
profissional, criação de emprego e melhores condições de vida.
"Timor-Leste
precisa de jovens preparados para responder às necessidades do desenvolvimento
da agricultura em todo o país. Precisa também de empresas com sucesso,
especialmente no setor do turismo, que tem um alto potencial de aumento nos
próximos anos", disse.
ASP
// ZO
Foto:
em Facebook - Unju Da
Silva Simões
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