Grupo de 19 personalidades acusa
organização de ser injusta e imparcial e diz que sanções foram encomendadas por
Domingos Simões Pereira. Os 15 deputados expulsos do PAIGC afirmam que Acordo
de Conacri ficou sem efeito.
As 19 personalidades guineenses
sancionadas pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO)
por estarem impedindo o cumprimento do Acordo de Conacri fizeram este domingo
(18.02) uma marcha em Bissau em protesto contra a atuação da CEDEAO na mediação
da crise política guineense.
Braima Camará, coordenador do
grupo dos 15 deputados expulsos do Partido Africano da Independência da Guiné e
Cabo Verde (PAIGC), o principal partido com assento no Parlamento da
Guiné-Bissau, afirmou que o Acordo de Conacri ficou sem efeitos com a
realização do nono Congresso do PAIGC, no início deste mês, e que Augusto
Olivais, figura que a comunidade internacional reclama ser escolhida para o
cargo do primeiro-ministro, jamais será nomeado na Guiné-Bissau.
Para o PAIGC e outras três
formações políticas no parlamento, Augusto Olivais seria a figura de consenso
indicada no âmbito do Acordo de Conacri para ser primeiro-ministro e desta
forma tirar a Guiné-Bissau da crise político-institucional.
"A partir do dia em que o
PAIGC realizou o seu congresso, o Acordo de Conacri acabou. Nunca Augusto
Olivais será primeiro-ministro. Se o PAIGC quiser o cumprimento do Acordo de
Conacri que anule o seu Congresso", afirmou Braima Camará ao dirigir-se
aos manifestantes no final de um protesto pacifico perto da sede principal da
CEDEAO, em Bissau.
A marcha teve forte aderência dos
militantes do Partido da Renovação Social (PRS), a segunda força política
guineense, e de apoiantes do grupos dos 15 e dos 18 partidos sem assento
parlamentar. Os manifestantes acusaram os chefes de Estado da CEDEAO de serem
parciais e injustos nas decisão tomadas sobre a Guiné-Bissau, que dizem ser um
Estado soberano, e exortaram a organização a anular as medidas.
O porta-voz do PRS, Victor
Pereira, leu um manifesto que o partido enviou aos líderes da CEDEAO e
considerou que as sanções impostas a seis dirigentes do PRS visam
"decapitar a liderança do partido" na perspetiva das próximas
eleições. Victor Pereira disse esperar que as Nações Unidas, a União Europeia e
a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) se posicionem a favor do
levantamento imediato das sanções.
"Queremos dizer ao povo
guineense que as ditas sanções são mentirosas. São sanções encomendadas pelo
presidente fascista do PAIGC, Domingos Simões Pereira, e pelo presidente do
Parlamento, Cipriano Cassamá, contra os verdadeiros defensores da Guiné-Bissau.
Eles que elaboraram a lista e enviaram para os seus representantes lá
fora", disse Camará.
Segundo Braima Camará, seriam
Domingos Simões Pereira e Cipriano Cassamá os autores das sanções, com a
finalidade de "entregar as riquezas" da Guiné-Bissau aos interesses
estrangeiros. O coordenador do grupo de 15 deputados expulsos do PAIGC advertiu
ao Presidente guineense, José Mário Vaz, a convocar eleições legislativas para
que se saiba "quem realmente tem o povo do seu lado".
Sanções
No último dia 7, a CEDEAO
divulgou uma lista de 19 personalidades guineenses, entre as quais atuais
governantes, deputados, magistrados e o filho do Presidente do país, como sendo
pessoas que estariam a "obstaculizar a aplicação do Acordo de Conacri"
e ainda a dificultar o normal funcionamento das instituições democráticas.
O Acordo de Conacri é um
instrumento patrocinado pela CEDEAO como fórmula para acabar com o impasse
político na Guiné-Bissau, que persiste há já três anos. No essencial, o acordo
prevê que seja escolhida uma figura de consenso para primeiro-ministro de um
governo integrado por todas as partes desavindas.
O Procurador-geral da República,
Bacari Biai, um dos sancionados, divulgou um comunicado no qual instava os
organizadores da manifestação sobre o "cumprimento escrupuloso” dos
limites temporais e geográficos da marcha, conforme o estipulado na lei do
país.
A marcha deste domingo teve a
participação do ministro do Interior do governo demissionário, Botche Candé,
que prometeu estar "na primeira linha" da manifestação.
Braima Darame (Bissau), Agência
Lusa | Deutsche Welle
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