Em São Tomé e Príncipe, Marcelo
Rebelo de Sousa visita o monumento aos Mártires da Liberdade, que assinala o
massacre de Batepá, em 1953. Um massacre ainda hoje desconhecido da maioria dos
portugueses.
É um dos momentos mais simbólicos
da viagem do Presidente português a São Tomé e Príncipe. Marcelo Rebelo de
Sousa homenageia, esta quarta-feira, as vítimas do massacre de Batepá, um dos
acontecimentos mais trágicos do tempo colonial, que foi praticamente silenciado
em Portugal.
Inês Nascimento Rodrigues,
investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que fez
o doutoramento em Pós-Colonialismos e Cidadania Global, a partir destes
acontecimentos nos anos 1950, em São Tomé e Príncipe, esteve na Manhã TSF para
falar sobre esta marca negra da história do colonialismo português.
"O massacre de Batepá é
ainda um evento bastante silenciado porque ainda subsiste uma narrativa
lusotropicalista que acaba por minimizar os mecanismos de violência usados pelo
Império Colonial Português, na administração e manutenção dos territórios
coloniais", afirma a investigadora.
Existe um relatório aos
acontecimentos de Batepá que foi produzido entre 1974 e 1975, que está no
arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e que, ainda hoje, não pode
ser lido na íntegra por se considerar que pode pôr em causa as boas relações diplomáticas
entre os dois países, garante Inês Nascimento Rodrigues.
O massacre esteve diretamente
relacionado com a organização social e laboral nas roças, e é uma questão mais
complexa do que se possa imaginar. "O massacre não foi um ato
isolado", refere a investigadora.
"Com a recolonização das
ilhas no século XIX, a construção das grandes roças de cacau e café e uma
crescente procura destes produtos, havia uma grande necessidade de mão-de-obra
no arquipélago que não conseguia ser suprida", explica. Os forros, o grupo
étnico predominante naquelas ilhas, se recusavam a trabalhar pelo "regime
de contrato" - "um eufemismo para trabalho, na maioria das vezes,
forçado, em condições quase análogas à escravatura", diz Inês Nascimento
Rodrigues.
Quando o Inspetor da
Curadoria-Geral dos Indígenas alerta para mais alterações ao regime de trabalho
nas roças, a desconfiança e a tensão aumentam em São Tomé e Príncipe.
"Houve, muito rapidamente, uma resposta violenta da administração colonial
portuguesa face à morte de um alferes português e, a partir dessa altura,
registam-se rusgas constantes a casas, lojas incendiadas, prisões sobrelotadas
e um campo de trabalho forçado, em Fernão Dias - o local onde está hoje o
memorial ao massacre.
Para além do povo são-tomense, há
dois protagonistas portugueses na história: o ex-governador da colónia, o
coronel Carlos Gorgulho, que instigou os portugueses proprietários de terras
contra os trabalhadores nativos e, do lado oposto, o advogado Manuel João da
Palma Carlos, que acompanhou o processo judicial que se seguiu ao massacre e,
graças a quem, os são-tomenses que foram detidos arbitrariamente conseguiram
reconquistar a sua liberdade.
TSF | Fernando Alves e Rita
Carvalho Pereira
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