A situação das mulheres angolanas
é “bastante negativo e bastante má”, disse a psicóloga clínica e professora
universitária, Maria Encarnação Pimenta.
Ao participar no programa “Angola
Fala Só”, Encarnação Pimenta referiu-se ao Dia Internacional da Mulher celebrado
esta semana como algo que a esmagadora maioria das mulheres angolanas
desconhece.
“A carestia da vida é cada vez
mais sufocante”, afirma a psicólogo lembrando ainda que, para a maioria dos
angolanos, “a habitação é uma miragem”.
“O quadro é bastante negativo,
bastante mau”, disse.
Interrogada sobre as recentes
trocas de acusações feitas pelo actual dirigente da Sonangol, Carlos Saturnino,
e a anterior PCA, Isabel dos Santos, a psicóloga descreveu isso como “uma troca
de mimos”.
“Zangam-se as comadres
descobrem-se as carecas”, disse a professora, acrescentando que “obviamente
isso aguça os ouvidos dos angolanos”.
“Os angolanos não são estúpidos e
têm a noção da riqueza de Angola e esperavam estar a viver melhor”, afirmou,
pedindo que “alguém tenha coragem de vir à ribalta esclarecer”.
O trauma do 27 de Maio
“Ainda que a situação não se
resolva, ainda que ninguém responda pelos crimes que possam ter sido cometidos
do ponto de vista psicológico faz bem aos angolanos ouvirem isso”, afirmou a
psicóloga.
Interrogada sobre o porquê do
medo dos angolanos, Pimenta disse que esse medo se instalou em Angola após os
acontecimentos de 27 de Maio de 1977.
“O grande medo não é do tempo
colonial, mas é o instalado depois do 27 de Maio”, afirmou, referindo-se à
alegada tentativa de golpe de Estado de Nito Alves que resultou em confrontos
sangrentos nas ruas de Luanda e, subsequentemente, na morte de milhares de
pessoas presas e mortas sem qualquer processo judicial.
“A caça ás bruxas foi tão grande
que fez com se passasse a aceitar tudo e não se discutir muito”, resumiu Maria
Encarnação Pimenta, lembrando que os jovens dessa altura disseram depois aos
seus filhos para não se meterem na política.
“Os jovens intelectuais foram
perseguidos e mortos e os jovens aprenderam a aceitar tudo”, afirmou.
“O medo faz parte da estrutura
mental dos angolanos”, acrescentou.
Interrogada sobre as doenças
mentais em Angola a psicóloga disse que no Hospital Psiquiátrico de Luanda são
atendidos entre 150 e 180 casos por dia e lamentou a inexistência de estruturas
para lidar com casos de doença mental, como assistentes sociais que sirvam de
elo de ligação entre o pessoal médico e famílias de pessoas afectadas por
problemas mentais.
A psicóloga Pimenta abordou
também a questão da admissão às universidades, afirmando que no sistema actual
os estudantes “são admitidos porque têm dinheiro e não pelas suas aptidões”.
“A universidade transformou-se
numa empresa de rendimentos”, disse, lamentando também a falta de qualidade dos
professores.
Maria Encarnação Pimenta lamentou
também o facto de que possam fornecer uma profissão aos jovens que não entram
nas universidades e não existirem cursos intermediários como escolas
politécnicas.
VOA News
Psicóloga clínica diz que o medo
dos angolanos é do 27 de Maio de 1977
Sem comentários:
Enviar um comentário