Em discurso no Parlamento
Europeu, presidente francês alerta contra avanço do "nacionalismo
egoísta" na União Europeia. "Não quero fazer parte de uma geração de
sonâmbulos que se esqueceu do próprio passado."
O presidente da França, Emmanuel
Macron, lançou nesta terça-feira (17/04) um alerta à Europa contra o
autoritarismo dentro e fora da União Europeia (UE). Em seu primeiro discurso ao
Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o líder francês pediu que a Europa não
retroceda rumo ao nacionalismo, mas que trabalhe para se tornar um bastião da
democracia liberal.
Após as vitórias expressivas de
eurocéticos populistas na Hungria e na Itália e em meio ao contínuo embate
entre a UE e o governo de direitista da Polônia, Macron disse que há uma
atmosfera de "guerra civil europeia" e que um "nacionalismo
egoísta" está ganhando terreno. Ele convocou os demais países do bloco a
sair em defesa da democracia.
"Não quero fazer parte de
uma geração de sonâmbulos, não quero pertencer a uma geração que se esqueceu do
próprio passado", disse o presidente ao delinear sua visão para o futuro
da Europa.
"Quero pertencer a uma
geração que defende a soberania europeia, porque lutamos para
conquistá-la. Não cederei a nenhuma forma de obsessão pelo autoritarismo",
acrescentou.
"Frente ao autoritarismo, a
resposta não é a democracia autoritária, mas sim a autoridade da
democracia", disse o francês, numa clara referência ao governo do
primeiro-ministro Viktor Orbán, recém-reeleito na Hungria, e ao partido
governista da Polônia, o populista de direita Lei e Justiça (PiS).
Perspectiva europeia pós-Brexit
Macron foi o quarto chefe de
Estado ou de governo da UE a participar de um ciclo de debates sobre o futuro
da Europa no Parlamento Europeu, que passará por uma renovação após as eleições
europeias em maio de 2019.
O francês acredita que muito
ainda pode ser feito até o final da legislatura atual, especialmente no que diz
respeito ao orçamento do bloco. O próximo quadro financeiro plurianual pós-2020
será o primeiro após a saída da UE de um dos principais contribuintes dos
cofres europeus, o Reino Unido.
Ele defendeu a criação de novos
recursos próprios, em especial, um imposto digital sobre as grandes
multinacionais da internet, que considera essencial para "aumentar os
recursos para o próximo orçamento".
O presidente ainda defendeu um
maior apoio aos refugiados, o reforço da cooperação na área da defesa e o
avanço da reforma da União Econômica e Monetária (UEM), com a finalidade
de "estabelecer uma capacidade orçamental que favoreça a estabilidade e a
convergência na zona euro".
A volta da "verdadeira
França"
Para tal convergência, dos
maiores desafios de Macron será convencer seus aliados, incluindo a
Alemanha, onde os conservadores pressionam contra a concessão de maiores
poderes à Bruxelas, a qual poderia prejudicar os contribuintes alemães.
A União Democrata Cristã (CDU),
da chanceler federal alemã, Angela Merkel, recuou nesta segunda-feira nos
planos para o aprofundamento da integração econômica na zona do euro. Na
próxima semana, Macron se reunirá com Merkel em Berlim para tentar convencê-la
a apoiar seus planos para o futuro do bloco.
Após a fala de Macron no
Parlamento Europeu, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker,
alertou contra o grande foco na parceria franco-alemã como o "motor"
da Europa, lembrando que após a saída do Reino Unido do bloco europeu, ainda
serão 27 os Estados-membros.
Juncker, porém declarou seu
entusiasmo pela forma como Macron, após derrotar os populistas de direita
nas eleições presidenciais francesas no ano passado, se esforça para colocar a
UE como uma prioridade na política de seu país, após uma aparente perda de
influência nos anos anteriores.
"A verdadeira França está de
volta", comemorou Juncker. "A história de amanhã está sendo escrita
hoje."
RC/afp/lusa/rtr | Deutsche Welle
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