Fernando Calado Rodrigues | Jornal
de Notícias | opinião
Lula da Silva tirou muitos
brasileiros da pobreza nos dois mandatos em que foi presidente do Brasil.
Colocou o Brasil entre os países emergentes no Mundo, com um crescimento
económico extraordinário.
Já antes lutava para que os mais
pobres tivessem acesso a alguns dos direitos que estavam reservados a muito
poucos na sociedade brasileira. Como ter três refeições por dia, ou o acesso ao
Ensino Superior. Foi o presidente do Brasil que mais investiu na saúde pública
e que construiu mais universidades. Foi também o que conseguiu ter um maior
nível de popularidade, sobretudo entre o povo. Em contrapartida, a maioria das
classes elevadas da sociedade brasileira ficou incomodada com o facto de os
mais pobres terem começado a ter uma vida melhor, a estudar, a fazer férias e
até a viajar de avião.
Todo um passado político de luta
pelos mais desfavorecidos e de denúncia da exploração pelos mais poderosos
poderá ficar maculado pela acusação e condenação por um comportamento
semelhante aos desmandos dos políticos que antes criticava. Se se vier a provar
que ele beneficiou de algum privilégio, obtido em função da sua atividade
política, será sempre ilegítimo e condenável. O problema é que acabou por
apanhar uma pena de 12 anos de prisão num processo mais fundado em convicções
do que em factos e em que não ficou clara a sua culpabilidade.
Uma coisa, no entanto, é
evidente: não é fácil resistir ao encantamento do dinheiro e do poder. Ter
riqueza ou ter poder, não são, à partida, um mal. A forma como são obtidos ou
usufruídos é que pode corromper quem os possui.
O Papa Francisco já classificou o
dinheiro como o "esterco do Diabo", recuperando uma expressão de
Basílio de Cesareia, um padre da Igreja do século IV, que S. Francisco de Assis
utilizava frequentemente. "Quando o dinheiro se torna um ídolo, comanda as
escolhas do homem. E então arruína o homem e condena-o", disse o Papa numa
audiência no dia 28 de fevereiro de 2015.
Enquanto o dinheiro é assumido
como um meio ou uma oportunidade para fazer o bem, ele é ótimo. Quando se torna
num objetivo a alcançar só para benefício próprio, então ele corrompe e
degrada. O mesmo se pode dizer do poder, da fama, ou de tantos outros valores.
A prisão de Lula comprova que não
é fácil combater o poder do dinheiro e a acumulação da riqueza nas mãos de
poucos. Não é uma tarefa fácil assumir a defesa dos explorados e oprimidos, dos
mais pobres. Mas mais difícil ainda é não perder o pé e não embarcar nos jogos
dos poderosos, os quais estão treinados a esmagar e aniquilar quem não
compactua com eles.
Lula, por ação ou por omissão,
entrou nesse jogo. Sendo certo que ninguém pode estar acima da lei - nem mesmo
um presidente que fez tanto bem a tantos pobres e ao Brasil -, também não é
menos certo que todas as pessoas têm direito a um julgamento justo, imparcial e
equitativo. A justiça tem de ser justa e proporcional - não pode ser uma arma
usada por tribunais manipulados pelo poder económico e pelas elites que não
viam com bons olhos o progresso que Lula estava a promover entre os mais
desfavorecidos do Brasil.
Veremos o que a avaliação de
futuros recursos pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro nos poderá iluminar
sobre este caso.
*Padre
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