Encontro de Escritores de Língua
Portuguesa terminou, este sábado (21.04), com a escritora santomense a reclamar
que seja alargado a seu país. Evento reuniu mais de 20 escritores lusófonos na
capital cabo-verdiana.
"A cidade e a literatura:
Conexões entre cidadania, criatividade e juventude" foi o tema geral do
VIII Encontro de Escritores de Língua Portuguesa organizado pela União das
Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Câmara Municipal da Praia,
Academia Cabo-Verdiana de Letras, Universidade de Cabo Verde e Biblioteca
Nacional de Cabo Verde.
Em declarações à DW, a escritora,
poetisa e narradora santomense Olinda Beja, que participou do evento,
disse que chegou o momento de o seu país acolher também um encontro do género.
A UCCLA "tem que fazer
também um encontro em São Tomé e Príncipe porque tem sido Brasil, Angola e Cabo
Verde", mas as ilhas santomenses também precisam de encontros do tipo,
considerou.
Para Olinda Beja, "a UCCLA
tem de ir à São Tomé e Príncipe que embora seja pequenino está lá" à
espera desse tipo de encontros.
A autora do livro "A Sombra
do Ocá", prémio literário Francisco José Tenreiro (2013), afirmou que o
encontro da Cidade da Praia permitiu alargar os seus horizontes.
"Saiu uma maior riqueza
cultural literária, porque viemos aqui encontrar escritores de todo o universo
lusófono e é uma alegria também estar na Cidade da Praia, em Cabo Verde, que é
um país com uma cultura extraordinária", avaliou.
Cidades em foco
Na mesma linha, a escritora
cabo-verdiana Hermínia Curado acrescentou que houve "apresentações e
debates muito interessantes" dos escritores lusófonos.
"Este encontro vai-nos
ajudar, nós os escritores, a pensarmos muito mais nas nossas cidades. Um dos
temas foram os 160 anos da Cidade da Praia que se estão a comemorar e, isso,
leva-vos a pensar muito mais na nossa cidade", disse.
No último dia do VIII Encontro de
Escritores de Língua Portuguesa (EELP), Hermínia Curado falou do tema "O
Primeiro e o Efémero Liceu da Cidade da Praia".
"Foi o liceu nacional que
muita gente nem sabe que existiu em 1860 e que funcionou durante dois anos. Foi
efémero mas foi bom, porque contribuiu para que aparecessem, por exemplo, o
liceu de São Nicolau, o liceu de São Vicente e outros", relatou.
Escritoras lusófonas
Enquanto Olinda Beja defende que
é preciso divulgar mais as escritoras lusófonas, Hermínia Curado considera que
o encontro que terminou este sábado é mais um passo na senda do que tem sido
feito.
"É claro que podem fazer
muito mais, mas penso que nós também, através das nossas instituições,
poderemos contribuir para isso. É preciso incentivar os escritores a escreverem
mais sobre as suas cidades", defendeu.
Um dos convidados do último
painel do EELP foi o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos
Fonseca, que é também escritor e poeta, tendo falado sobre “Literatura e
Cidadania”.
No caso de Cabo Verde, Jorge
Carlos Fonseca defendeu ser preciso que os romances, contos e poesias retratem
mais e tenham como inspiração a capital do país, que é uma cidade muito
generosa e acolhedora.
"Se formos ver, os romances,
os contos e poesias cabo-verdianos, podemos constatar que falam apenas de São
Vicente, de São Nicolau, das montanhas de Santo Antão da Ribeira de Paul e
muito pouco da capital do país, que é uma cidade muito generosa e
acolhedora", disse acreditando que a dinâmica literária que se regista
ultimamente venha contribuir para essa mudança.
Homenagem a Jaime de Figueiredo
O VIII Encontro de Escritores de
Língua Portuguesa homenageou o ensaísta, crítico e dramaturgo cabo-verdiano
Jaime de Figueiredo, (1905-1974), antigo conservador da Biblioteca Municipal da
Praia, e considerado um dos grandes vultos das letras cabo-verdianas.
O encontro aconteceu a poucos
dias de a Cidade da Praia comemorar 160 anos de existência (no próximo dia 29),
e também numa semana em que a capital cabo-verdiana acolhe vários eventos de
natureza musical e cultural, como o Atlantic Music Expo e o Kriol Jazz
Festival.
Durante três dias, os
participantes discutiram a literatura, com as suas ligações à juventude,
criatividade e cidadania com o objectivo de partilha, troca de experiências e
promoção da literatura dos países que falam o português.
Objectivo alcançado
"Estamos satisfeitos e
pensamos que o principal objectivo foi alcançado, que é colocar a Cidade da
Praia no centro das atenções a nível da literatura, aspecto esse que irá marcar
e ficará na história", afirmou o vereador da Cultura da Câmara Municipal
da Praia.
Para António Lopes da Silva, o
EELP contribuiu também para lançar as bases para uma maior projecção da capital
cabo-verdiana em termos literários e de desenvolvimento.
"Hoje a Praia é muito mais
do que construções de ruas, de casas, são pessoas com vivência, uma
história", sublinhou, anunciando que a Cidade da Praia vai ter,
brevemente, uma Biblioteca Municipal com o nome de Jaime de Figueiredo, o
homenageado desta edição.
David Capelenguela (Angola),
Maria de Fátima Fernandes, Hermínia Curado Ferreira, Joaquim Arena, Jorge
Carlos Fonseca, Jorge Tolentino, Judite Nascimento, Leão Lopes, Manuel Brito
Semedo, Natacha Magalhães, Tony Tcheka (Guiné-Bissau), Conceição Queirós
(Moçambique), Zhang Weimin (Macau), Inês Barata Raposo, Filipa Melo, José
Carlos Vasconcelos e António Carlos Cortez (Portugal), Olinda Beja (São Tomé e
Príncipe) e Luís Costa (Timor-Leste), foram alguns dos escritores convidados.
Pela terceira vez consecutiva, o
Encontro de Escritores de Língua Portuguesa (EELP) aconteceu na capital de Cabo
Verde, que agora é sede do evento e vai passar a organizá-lo todos os anos, em
parceria com a UCCLA.
A proposta foi lançada pelo
presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos, no anterior encontro,
realizado em Outubro de 2017, e aceite pela UCCLA.
As quatro primeiras edições do
encontro foram realizadas em Natal (Brasil) e a quinta em Luanda (Angola).
Nélio dos Santos (Praia) |
Deutsche Welle
Na foto: Olinda Beja, escritora,
poetisa e narradora santomense
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