segunda-feira, 2 de abril de 2018

São Tomé e Príncipe | PM A CONTAS COM MILITARES | AGITAÇÃO NO QUARTEL GENERAL


O momento de crispação, agitação e de tensão no Quartel General das Forças Armadas de São Tomé e Príncipe começou a transparecer a partir de 19 de Janeiro passado. 4 dias após a intervenção dos Ninjas – Polícia de Intervenção Rápida na Assembleia Nacional, para instalar o Tribunal Constitucional, o Primeiro Ministro foi convocado pelos militares do exército para uma reunião.

Indícios do mal-estar entre o governo e os oficiais e os sargentos foi a necessidade de se negociar o lugar do referido encontro. O Téla Nón soube de boa fonte que o primeiro ministro se recusou a ir ao Quartel-general e que os chefes militares se recusaram a ir ao seu gabinete, tendo o Centro de Instrução Militar sido uma solução de compromisso.

O encontro de 19 de Janeiro entre Patrice Trovoada e os militares no Centro de Instrução Militar, foi escaldante. O Téla Nón sabe que os militares descreveram um quadro severo sobre a situação nos quartéis. A situação é tão crítica que no mesmo encontro, e por indicação do primeiro-ministro, foi criada uma comissão ad-hoc, presidida pelo coronel Idalécio Pachire, antigo comandante do exército.

Na prática a comissão ad-hoc, para reestruturação das forças armadas, substitui o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, o Brigadeiro Horácio Sousa, que pelo que o Téla Nón apurou, de algum tempo a esta parte não tem ido ao Quartel General, permanecendo na sede do Estado Maior, localizado no bairro da quinta de Santo António na capital São Tomé.

Em entrevista exclusiva em São Tomé, Óscar Sousa Coronel do Exército na Reforma, disse que «uma determinada classe de militares não acredita no Chefe de Estado Maior».

Na entrevista a que o Téla Nón também teve acesso, o oficial superior na reforma, que foi ministro da defesa durante vários anos, descreveu um quadro sombrio das forças armadas santomenses, que segundo o entrevistado, vai desde a falta de liderança, passando por graves carências na logística e termina no mau funcionamento das tropas. «Há problemas sérios com as infraestruturas, de materiais e equipamentos de aquartelamento e outros», frisou.

O coronel na reforma considera que o corte de relações com Taiwan privou as forças armadas de meios financeiros para assegurar o funcionamento básico da instituição.

A comissão ad-hoc criada na reunião de 19 de Janeiro, tem a missão de atender aos pontos constantes do caderno reivindicativo apresentado antes pelos militares ao chefe do governo. Para além da resolução de problemas imediatos como preenchimento de vagas em função da lei orgânica das Forças Armadas, o descontentamento no seio das Forças Armadas são-tomenses tem a ver com o que é descrito como demora na implementação do novo quadro legal das Forças Armadas.

O governo aprovou uma série de leis nomeadamente a Lei Orgânica das Forças Armadas, (Lei 8/2012) e a Lei da Programação Militar (Lei 10/2012), tendo o primeiro-ministro Patrice Trovoada assegurado na altura, segundo Óscar Sousa, mobilizar recursos financeiros que assegurava os anos de 2013 até 2017. Pouco ou nada foi implementado à luz da Lei nº10/2012, conforme consta no anexo desta Lei.

Ainda segundo o coronel, após o regresso de Patrice Trovoada ao poder em 2014, não têm sido cumpridos compromissos assumidos em encontros avulsos, cujo conteúdo consta de atas.

Motivo grave de descontentamento segundo o ex-ministro da defesa resulta de discrepâncias salariais entre a polícia e os oficias das forças armadas recém-formados.

Outro motivo também de descontentamento e, aparentemente, grave preocupação para os militares são-tomenses é a criação pelo primeiro-ministro do que é descrito por Óscar Sousa como uma força militar desproporcional e composta de aproximadamente 60 a 80 homens. «Ele tem que ter uma força paramilitar, enquadrada na Unidade de Protecção dos Dirigentes do Estado (UPDE)», defendeu o coronel na reforma.


Tudo aponta que o Primeiro Ministro dispõe de uma força especial com meios e equipamentos muito sofisticados. « Meios bélicos superiores ao que está estipulado, e a força é composta por elementos recrutados em várias unidades», explica o coronel na reforma.

Segundo ainda o coronel, o processo de constituição desta força de segurança pessoal por militares ruandeses, violou o Memorando de Entendimento assinado aquando do golpe de 16 de julho de 2003, que não permitia a entrada de tropas estrangeiras no país, fora do âmbito da Constituição.

Semanas depois do encontro entre o primeiro ministro e os militares no Centro de Instrução Militar, cinco oficiais superiores na reserva e na reforma, incluindo Óscar Sousa tiveram um encontro com o Presidente da República na qualidade de Comandante Supremo das Forças Armadas.

Este encontro culminou após uma série de outros, nomeadamente com o ministro da defesa e administração interna, Arlindo Ramos, no dia 27 de fevereiro, com o chefe de Estado maior general das Forças Armadas, no dia 01 de março e com a comissão ad-hoc chefiada pelo coronel Idalécio Pachire, no dia 05 de Março.

Esses oficiais dizem-se preocupados com a actual situação das Forças Armadas, receiam que as revisões das várias leis que regulam o funcionamento do exército podem pôr em causa alguns direitos e garantias adquiridos.

No entanto o governo pretende reduzir o número de efectivos do exército que reclama melhores condições sociais, incluindo alimentares. «As forças armadas foram evoluindo quer em número quer em capacitação e é preciso agora a sua adequação no pacote legislativo, aquilo que são os efectivos e as qualificações nas Forças Armadas»,  defendeu o chefe do governo, Patrice Trovoada.

Óscar Sousa sublinha que com a aprovação na ultima sessão da Assembleia Nacional  da proposta de alteração da Lei da Defesa Nacional e das Forças Armadas, Patrice Trovoada passou a ter maior domínio sobre as tropas.

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