A manifestação pacífica foi
interrompida pela polícia, mas o movimento promete que a "luta vai
continuar". Em abril, três jovens foram condenados a penas de prisão após
protestos contra o governador de Malanje.
Dezenas de ativistas e cidadãos
concentraram-se este sábado (26.05) no largo da Sagrada Família, no centro de
Luanda, para exigir a libertação dos três
ativistas de Malanje condenados em abril por subversão da ordem
pública. A vigília pacífica foi interrompida pela polícia por razões não
plausíveis, segundo a organização, que garantiu que a luta vai continuar.
No mês passado, três dos seis
ativistas que participaram de um protesto pela destiuição do governador de
Malanje, Norberto dos Santos "Kwata Kanawa", foram detidos e,
posteriormente, condenados a penas entre cinco a sete meses de prisão efetiva.
Na altura, o vice-Presidente
angolano, Bornito de Sousa, desvalorizou
a manifestação dos jovens e disse que a atitude não
refletia "o sentimento e o caráter do povo de Malanje".
Em solidariedade, lançou-se
em Luanda no mês passado uma campanha para
pressionar o Governo pela libertação dos jovens ativistas. Tukid Escote, membro
do movimento "Clac Cívica", mentor da iniciativa, explica que a
sociedade civil não pode "deixar que situações do género aconteçam, quando
simplesmente [os jovens] procuraram exercer um ato de cidadania que era
protestar contra a má governação de Malanje".
Valete Eurico foi um dos
participantes da vigília na capital angolana, e também disse ser solidário com
os ativistas, que segundo ele foram condenados "injustamente".
"Vim cá participar por causa dos manos presos injustamente na província de
Malanje. Abandonei os meus afazeres e juntei-me à causa", disse.
Graciano Brinco é outro cidadão
que abraçou a causa e também esteve no largo da Sagrada Família. "O
objetivo aqui é exigir que o Governo liberte os nossos manos. Viemos aqui
gritar liberdade, já e agora!", afirmou Brinco.
"Ordens superiores"
A vigília começou por volta das
19h por causa do culto que decorria no interior da igreja. O ato terminaria as
22h, mas as pessoas despersaram-se mais cedo devido a intervenção da polícia.
"Vocês têm de deixar este
largo livre depois de terminar a missa", alertou um agente enquanto os
ativistas preparam-se para acender as velas. Apesar do aviso, as velas foram
acesas e os manifestantes leram mensagens, entoaram cânticos e gritavam:
"Liberdade, já e agora!".
Momentos mais tarde, o largo
encheu-se de viaturas da polícia, algumas com cães. Os agentes, então,
informaram que, por ordens superiores, a manifestação deveria ser interrompida.
"Vocês viram que a polícia
está aqui em peso. Nós estamos a realizar a nossa vigília pacificamente.
Estamos a sair porque a polícia está com vontade de reprimir. Aqui, mesmo com a
nova governação, nada mudou", desabafou à imprensa Francisco Mapanda.
"Polícia é do povo, não é do
MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder). Polícia é
do povo, não é do MPLA", cantava o grupo que se dirigiu ao largo 1º
de Maio, onde a manifestação se dispersaria.
Luta vai continuar
Segundo a organização do
movimento, o próximo passo será a colagem de panfletos em vários cantos da
cidade de Luanda. "Vamos dar rosto a esta ação durante um mês. Esta
(vigilia) é a segunda ação, porque a primeira foi a manifestação espontânea. O
próximo passo será a colocação de outdoors nas paragens públicas,
para que as pessoas tenham acesso às informações que afetam
a vida dos ativistas presos", adiantouTukid Escote.
Há escassas informações sobre o
estado de saúde dos ativistas presos na cadeia da Damba, em Malanje. O
estabelecimento prisional fica a mais de 50 quilómentros da sede da capital
provincial e os familiares enfrentam dificuldades financeiras e, por isso, chegar
ao local não é fácil.
"Não temos muitos
informações sobre o estado de saúde. Os familiares têm custos económicos
elevados, gastam quatro mil kwanzas por dia só no transporte, sem falar de
alimentação e água", contou Escote.
Durante o ato deste sábado uma
quantia em dinheiro foi arrecadada para minimizar os custos dos
transportes da família dos ativitas. Há também uma petição que será entregue ao
Tribunal Supremo para pressionar as autoridades pela libertação dos três jovens
malanjinos.
Mais protestos contra governante
local
Não só os cidadãos de Malanje
estão insatisfeitos com o poder público. Os munícipes do Cazenga, um dos mais
populosos de Luanda, prometem sair no próximo sábado (02.06) às ruas para
exigir pela segunda vez este ano a destituição do administrador local, Tany
Narciso. Em abril, algumas centenas de cidadãos já haviam pedido a exoneração
do governante nomeado em 2008.
Em declarações à DW África, Pedro
Matubakana, da organização da manifestação no Cazenga, ressaltou que se o
governador local não atender a reivindicação dos cidadãos, "vamos
realizar uma manifestação contra o Governo da província de Luanda".
Em recentes declarações a um
canal de televisão em Angola, o administrador Tany Narciso disse que
"Cazenga é um bom lugar para se viver" e que "há muitos espaços
verdes" na circunscrição. Mas Pedro Matubakana descorda.
"Eu acho que o camarada tem
estado a confundir zonas verdes e água verde. Tem água verde por tudo que é
canto. No bairro Cortume, por exemplo, aquilo está intransitável. Estamos a
falar sobre uma zona sem vias de acesso", denuncia.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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