domingo, 27 de maio de 2018

Vigília em Luanda exige a libertação dos ativistas de Malanje


A manifestação pacífica foi interrompida pela polícia, mas o movimento promete que a "luta vai continuar". Em abril, três jovens foram condenados a penas de prisão após protestos contra o governador de Malanje.

Dezenas de ativistas e cidadãos concentraram-se este sábado (26.05) no largo da Sagrada Família, no centro de Luanda, para exigir a libertação dos três ativistas de Malanje condenados em abril por subversão da ordem pública. A vigília pacífica foi interrompida pela polícia por razões não plausíveis, segundo a organização, que garantiu que a luta vai continuar. 

No mês passado, três dos seis ativistas que participaram de um protesto pela destiuição do governador de Malanje, Norberto dos Santos "Kwata Kanawa", foram detidos e, posteriormente, condenados a penas entre cinco a sete meses de prisão efetiva.

Na altura, o vice-Presidente angolano, Bornito de Sousa, desvalorizou a manifestação dos jovens e disse que a atitude não refletia "o sentimento e o caráter do povo de Malanje".

Em solidariedade, lançou-se em Luanda no mês passado uma campanha para pressionar o Governo pela libertação dos jovens ativistas. Tukid Escote, membro do movimento "Clac Cívica", mentor da iniciativa, explica que a sociedade civil não pode "deixar que situações do género aconteçam, quando simplesmente [os jovens] procuraram exercer um ato de cidadania que era protestar contra a má governação de Malanje".

Valete Eurico foi um dos participantes da vigília na capital angolana, e também disse ser solidário com os ativistas, que segundo ele foram condenados "injustamente". "Vim cá participar por causa dos manos presos injustamente na província de Malanje. Abandonei os meus afazeres e juntei-me à causa", disse.

Graciano Brinco é outro cidadão que abraçou a causa e também esteve no largo da Sagrada Família. "O objetivo aqui é exigir que o Governo  liberte os nossos manos. Viemos aqui gritar liberdade, já e agora!", afirmou Brinco.

"Ordens superiores"

A vigília começou por volta das 19h por causa do culto que decorria no interior da igreja. O ato terminaria as 22h, mas as pessoas despersaram-se mais cedo devido a intervenção da polícia.

"Vocês têm de deixar este largo livre depois de terminar a missa", alertou um agente enquanto os ativistas preparam-se para acender as velas. Apesar do aviso, as velas foram acesas e os manifestantes leram mensagens, entoaram cânticos e gritavam: "Liberdade, já e agora!". 

Momentos mais tarde, o largo encheu-se de viaturas da polícia, algumas com cães. Os agentes, então, informaram que, por ordens superiores, a manifestação deveria ser interrompida.

"Vocês viram que a polícia está aqui em peso. Nós estamos a realizar a nossa vigília pacificamente. Estamos a sair porque a polícia está com vontade de reprimir. Aqui, mesmo com a nova governação, nada mudou", desabafou à imprensa Francisco Mapanda.

"Polícia é do povo, não é do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder). Polícia é do povo, não é do MPLA", cantava o grupo que se dirigiu ao largo 1º de Maio, onde a manifestação se dispersaria.

Luta vai continuar

Segundo a organização do movimento, o próximo passo será a colagem de panfletos em vários cantos da cidade de Luanda. "Vamos dar rosto a esta ação durante um mês. Esta (vigilia) é a segunda ação, porque a primeira foi a manifestação espontânea. O próximo passo será a colocação de outdoors nas paragens públicas, para que as pessoas tenham acesso às informações que afetam a vida dos ativistas presos", adiantouTukid Escote.

Há escassas informações sobre o estado de saúde dos ativistas presos na cadeia da Damba, em Malanje. O estabelecimento prisional fica a mais de 50 quilómentros da sede da capital provincial e os familiares enfrentam dificuldades financeiras e, por isso, chegar ao local não é fácil.

"Não temos muitos informações sobre o estado de saúde. Os familiares têm custos económicos elevados, gastam quatro mil kwanzas por dia só no transporte, sem falar de alimentação e água", contou Escote.

Durante o ato deste sábado uma quantia em dinheiro foi arrecadada para minimizar os custos dos transportes da família dos ativitas. Há também uma petição que será entregue ao Tribunal Supremo para pressionar as autoridades pela libertação dos três jovens malanjinos.

Mais protestos contra governante local

Não só os cidadãos de Malanje estão insatisfeitos com o poder público. Os munícipes do Cazenga, um dos mais populosos de Luanda, prometem sair no próximo sábado (02.06) às ruas para exigir pela segunda vez este ano a destituição do administrador local, Tany Narciso. Em abril, algumas centenas de cidadãos já haviam pedido a exoneração do governante nomeado em 2008.

Em declarações à DW África, Pedro Matubakana, da organização da manifestação no Cazenga, ressaltou que se o governador local não atender a reivindicação dos cidadãos, "vamos realizar uma manifestação contra o Governo da província de Luanda".

Em recentes declarações a um canal de televisão em Angola, o administrador Tany Narciso disse que "Cazenga é um bom lugar para se viver" e que "há muitos espaços verdes" na circunscrição. Mas Pedro Matubakana descorda.

"Eu acho que o camarada tem estado a confundir zonas verdes e água verde. Tem água verde por tudo que é canto. No bairro Cortume, por exemplo, aquilo está intransitável. Estamos a falar sobre uma zona sem vias de acesso", denuncia.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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