A operação Liberdade Duradoura
lançada em 2001 pela NATO no Afeganistão, sob o comando dos Estados Unidos,
permitiu multiplicar por 4000
a produção de ópio neste país, origem da maioria
esmagadora da heroína e outras drogas perigosas que circulam pelo mundo. Um
boom que gera lucros superiores a um bilião de dólares por ano e terá provocado
a morte de mais de um milhão de pessoas em 15 anos, segundo fontes concordantes
de várias organizações internacionais. Um cenário que funciona sob a tutela da
Aliança Atlântica, enquanto os Estados Unidos afirmam que investiram 8500
milhões de dólares na luta contra a droga no Afeganistão.
José Goulão; com Edward Barnes,
Cabul | O Lado Oculto
Desde o início da operação Liberdade
Duradoura, isto é, a invasão do Afeganistão pela NATO, em Outubro de 2001, a produção anual de
ópio para fabrico de heroína e outras drogas ilícitas neste país cresceu entre 4000 a 4500%, alimentando um
tráfico com lucros de um bilião de dólares que terá provocado a morte de mais
de um milhão de pessoas. Os dados são de várias organizações internacionais,
entre elas a United Nations Office Drugs and Crime, agência da ONU
para a droga e o crime.
Os dados de várias fontes sobre o
cultivo e tráfico de ópio na Afeganistão convergem na demonstração da
existência de uma relação de causa e efeito entre a ocupação militar atlantista
e o boom de um colossal negócio ilícito que torna o país responsável
por mais de 90% do comércio total de heroína no mundo.
Os Estados Unidos afirmam ter
investido mais de 8500 milhões de dólares no combate ao tráfico de droga no
Afeganistão, mas vários meios de comunicação norte-americanos, entre eles o New
York Times e o Huffington Post, admitem que se perdeu o rasto de
uma verba tão importante, no caso de ter sido usada com o objectivo declarado.
“Segundo todas as perspectivas de
avaliação possíveis, falhámos”, reconhece John Sopko, um dos inspectores-gerais
que avalia os resultados dos programas norte-americanos para o Afeganistão. “A
produção e o cultivo estão em alta, a interdição e erradicação estão em baixa,
o apoio financeiro a grupos armados está em alta, a dependência e o consumo
atingem níveis sem precedentes no próprio Afeganistão”, acrescenta. Neste país,
há agora mais de 100 mil crianças toxicodependentes com menos de dez anos.
Em 2000, ano anterior ao início
da invasão da NATO, a produção de ópio no Afeganistão foi apenas de 180
toneladas. Este valor resulta do facto de governo talibã ter aplicado uma
violenta repressão contra os produtores de ópio, à luz de uma suposta política
de reconversão dos objectivos agrícolas do país, dominados tradicionalmente
pelo cultivo da papoila do ópio – fonte de sobrevivência de grande parte da
população rural.
A partir da operação Liberdade
Duradoura, lançada para “estabelecer a democracia no Afeganistão”, a
produção aumentou exponencialmente e, em 2007, atingiu um pico de sete mil
toneladas, isto é, registou um aumento de quase 4000%. Depois disso, segundo os
relatórios da agência da ONU, a produção estabilizou em torno de média de sete
mil toneladas ano, com alguns aumentos e uma redução para metade em 2015, não
por causa de incidências da ocupação mas devido a uma praga que afectou
duramente a produção de papoila. Uma contrariedade remediada com notável
eficácia, uma vez que a safra do ano seguinte voltou aos valores médios.
NATO embolsa os lucros? (continua)
Na foto: Soldado da NATO entre
papoilas de ópio no Afeganistão
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