domingo, 9 de setembro de 2018

Alemães têm mais medo de Trump que de terrorismo


Risco de que políticas do presidente americano tornem o mundo mais perigoso ocupa primeiro lugar na lista de temores dos alemães, aponta estudo. No ano passado, ataques terroristas eram principal preocupação.

Antes mesmo da posse de Donald Trump, diversos analistas internacionais já temiam que o seu mandato provocasse agitações pelo mundo. Alguns tuítes depois, tal receio se confirmou. Mas pensar que o novo homem na Casa Branca possa tirar o sono de muitos alemães ainda causa surpresa.

De fato, o presidente dos EUA, que gosta de se vangloriar de seus atos usando superlativos, pode reivindicar mais um deles: o medo de um mundo mais perigoso devido às políticas de Trump ocupa o primeiro lugar no estudo "Os Temores dos Alemães 2018".

Na pesquisa do ano passado, o antigo magnata do setor imobiliário sequer aparecia na lista. Agora, com 69% das menções, a política de Trump se tornou o maior pavor dos alemães.

Realizado pela 27ª vez e financiado pela companhia de seguros alemã R + V-Versicherung, o estudo aponta que o medo da política americana supera todos os outros temores – mesmo aqueles decorrentes do terrorismo e de outros tópicos frustrantes, como desavenças no âmbito do governo federal, disputas em torno da imigração e pagamentos a países altamente endividados da União Europeia (UE).

É verdade que a grande maioria dos cidadãos alemães está consideravelmente preocupada com tensões provocadas pela imigração, disse Brigitte Römstedt, porta-voz da R + V. Mas no contexto da política mundial, "tais preocupações são visivelmente ofuscadas".

"Mais de dois terços dos alemães estão aterrorizados com o fato de que as políticas de Trump possam tornar o mundo mais perigoso", aponta.

Seria de se supor que a maioria dos alemães se veja a uma distância segura das políticas de Trump. Mas eles se sentem de fato ameaçados pelas ações do presidente americano.

"Ficamos surpresos com os resultados", disse em entrevista à DW o cientista político e diretor do estudo, Manfred Schmidt. A explicação é óbvia. Trata-se de uma preocupação no campo da política internacional, a qual tem grandes implicações para as políticas externa e de segurança alemãs.

Em sua crítica à política de segurança dos países europeus e da Otan, Trump mostra estar pronto para uma grande mudança de rumo – o que teria consequências para toda a arquitetura da política de defesa alemã.

"Isso porque nós até agora acreditamos que o poder protetor dos Estados Unidos nos garantiria a segurança de que precisamos e que não podemos conseguir através de nossos próprios meios. A Alemanha estaria indefesa sem a ajuda dos americanos", avalia Schmidt. Nesse sentido, a política externa dos EUA se torna um assunto alemão.

"Creio que esse é um dos maiores desafios das políticas externa e de segurança da Alemanha – um desafio para o qual a política alemã ainda não está bem preparada", considera Schmidt. 

Refugiados e confiança nos políticos

Conforme o esperado, outros temas abalam os alemães além das relações transatlânticas, tal como a questão dos refugiados. Com 63% e, portanto, seis pontos percentuais abaixo do primeiro lugar, aparece a preocupação de que a Alemanha esteja sobrecarregada devido ao alto número de refugiados. No ano anterior, tal ponto preocupava 57% dos entrevistados, ficando em sexto lugar.

Além disso, 63% dos cidadãos temem que o maior afluxo de estrangeiros cause tensões entre alemães e estrangeiros que vivem no país – dois pontos percentuais a mais do que no ano anterior, ocupando o terceiro lugar no estudo atual.

Em quarto lugar, com 61%, está o medo de que os políticos estejam sobrecarregados com suas tarefas. O resultado foi seis pontos percentuais maior que o do ano anterior (55%, oitavo lugar).

"O medo de que a política esteja fora de controle é inequívoco e está por trás das preocupações expressas não apenas neste ano, mas também em anos anteriores", afirma Schmidt.

Segundo ele, o temor de que a chegada de solicitantes de refúgio e migrantes econômicos sobrecarregue o país e as autoridades também se reflete na preocupação de que as autoridades não possam assegurar garantias elementares. A frustração política também se deve à frustração com as demoradas negociações para a formação do novo governo após as eleições de 2017.

"Provavelmente também pesa a desunião da grande coalizão de governo, assim como a divisão dos partidos da União (CDU e CSU) em questões importantes, também quanto à política de refugiados", avalia Schmidt.

Na primeira posição no estudo do ano passado, o medo do terrorismo caiu para o quinto lugar, com 59%. Em 2017, tal preocupação obteve 12 pontos percentuais a mais. Para os responsáveis pelo estudo, isso se deve ao fato de que, felizmente, grandes ataques terroristas não se materializaram nos últimos tempos.

Nas posições de seis a dez no ranking apareceram: os custos da crise da dívida da UE para os contribuintes (58%), extremismo político (57%), desastres naturais (56%), substâncias nocivas presentes em alimentos (55%) e cuidados na terceira idade (52%).

Preocupações econômicas desempenham um papel ainda menor. Apenas 25% dos entrevistados temem perder seus próprios empregos – o menor valor já registrado. Menos de 40% temem uma tendência de queda na economia.

Ralf Bosen (ip) | Deutsche Welle

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