Martim Silva | Expresso | opinião
A competição para se avaliar qual
o maior tiro no pé dado pela direção de Rui Rio e pelo presidente do PSD deixou
de fazer qualquer sentido depois do comunicado do partido no último sábado.
Estimado leitor, esqueça lá a polémica da taxa robles ou da taxa rio ou outro
qualquer assunto semelhante. Agora chegámos a todo um novo, e perigoso patamar.
O patamar da caça interna às bruxas. Dê por onde der, a coisa não pode acabar bem.
A coisa explica-se em breves
linhas. Na última quarta-feira, o Conselho Nacional do partido reuniu nas
Caldas da Rainha. Assistiu-se aí ao primeiro confronto direto, visível e tenso,
entre os apoiantes de Rio e os chamados críticos, com destaque particular para
o antigo líder parlamentar Hugo Soares (pode ler AQUI o relato do encontro).
Um dos motivos próximos do
confronto prendeu-se precisamente pela forma como o presidente do partido
começou por reagir à chamada "Taxa Robles", contra a especulação
imobiliária, apresentada pelo Bloco de Esquerda, e que levou a divergências dentro
da própria geringonça. Entre os sociais-democratas, muitos não gostaram de ver
o líder do partido colar-se a uma medida bloquista.
O descontentamento interno não se
ficou por aqui. Na quinta-feira à noite o Expresso noticiou (ler AQUI) que também na reunião da Comissão Política o
descontentamento em relação a Rio se fez ouvir.
Repare-se bem: já não se trata de
surgirem críticas num órgão, como o Conselho Nacional, em que têm assento
apoiantes e críticos da liderança. Trata-se de surgirem críticas ao trabalho de
Rio dentro da sua própria direção. E isto muda tudo. Como na altura escrevemos:
"Nuno Morais Sarmento falou de 'tiro no pé'. Castro Almeida, de
'descaraterização ideológica'. Mas o desconforto foi geral. Tirando Elina Fraga
e Salvador Malheiro, todos os vice-presidentes de Rui Rio se demarcaram em tom
mais ou menos crítico da forma como o líder do PSD se deixou colar à polémica
"taxa Robles", lançada pelo Bloco de Esquerda."
Perante isto, no sábado, a reação
e a resposta foram do pior que já se viu na política portuguesa. Um comunicado
(pode ser lido AQUI),
assinado pelo secretário-geral do partido, José Silvano, cheio de recados e
divisionismo.
Na nota lêem-se com espanto
coisas como que "A Direção Nacional do Partido Social Democrata está
globalmente coesa" - o que confirma as divisões, se preciso fosse. Ou que
a Comissão Política Nacional está indignada"'pelo desgosto de verificar
que a notícia que originou toda esta desinformação, tenha tido,
necessariamente, a colaboração direta de alguém que, tendo estado presente, não
se coibiu de usar um jornalista para a prossecução de pequeninos objetivos de
guerrilha partidária".
É claro que Rio faz bem quando de
peito feito diz "estou cheiinho de medo" (ler AQUI), como que exortando os críticos a virem a jogo e a
dar a cara.
Mas onde perde claramente o pé é
na construção de um clima interno de perseguição, mesquinhez, desconfiança e
verdadeira caça às bruxas. Querer saber quem é, na sua visão, o 'bufo' que anda
a passar notícias aos jornais é um exercício estéril e que só se vira contra o
próprio. Só mostra fraqueza e insegurança.
Aliás, não é difícil perceber que
as críticas internas só surgem precisamente pela forma como está a fazer
oposição. Se o fizer melhor, mais apoios internos terá. Sem precisar de ter um
polícia dentro da sede da São Caetano à Lapa que lhe diga quem é que anda a
falar com o jornal x, com a televisão y ou com o site z. Se quer ir por aí,
está politicamente a cavar de forma acelerada o buraco em que está metido.
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