A DW África foi à região do
nordeste de Angola de onde mais de 200 mil congoleses foram repatriados no
âmbito do combate ao tráfico de diamantes e à imigração ilegal. Alguns saíram
voluntariamente, outros foram expulsos.
A Operação
Transparência, que está a ser desencadeada pelo Governo angolano para
combater o tráfico de diamantes e a imigração ilegal, acabou com o sonho de
vários cidadãos da República Democrática do Congo (RDC), que viam a província
da Lunda Norte como local de prosperidade financeira. Desde 25 setembro, o
encerramento de cooperativas de exploração de diamantes e casas de compra e
venda ilegal do mineral tem vários imigrantes, na sua maioria da RDC, a
abandonar o país.
Em toda parte da Lunda Norte,
carros e motorizadas carregados com bens domésticos como fogões, colchões e
televisores chamam a atenção de quem passa. Quase todos têm como destino o
posto fronteiriço da Chissanda e Kamako, a sete quilómetros do Dundo, a sede da
província.
Uns despedem-se dos angolanos com
canções, noutros rostos são visíveis os sinais de tristeza. Alguns imigrantes
vendem os pertences para reduzir o peso e chegar à RDC com algum dinheiro.
O garimpeiro Mulumba Tony entrou
em Angola com um visto de 15 dias e acabou por ficar cinco anos. "Só
entrei em Angola para cavar camanga para conseguir dinheiro para comer com a
minha mboa (mulher). Aqui em Angola não trabalho na empresa do Governo e como
fecharam os locais de trabalho, não dá mais para ficar aqui", disse o
jovem que se dirigia para fronteira.
Tony é um dos congoleses que
estão a deixar o país por livre e espontânea vontade. Partem porque a
oportunidade de ganhar dinheiro em Angola acabou com o encerramento das casas
de compra ilegal de diamantes.
Indignação na hora do adeus
Entretanto, mais de 200 mil
estrangeiros foram repatriados porque, segundo as autoridades de Angola,
trabalhavam nas zonas do garimpo.
Bia, de 28 anos, está indignada
com a situação. A cabeleireira diz que regressa à RDC por ter sido expulsa.
"Eu aqui vendia e trançava cabelo. Estou a voltar porque vocês me
enxotaram do vosso país. Sou congolesa, estou aqui ilegal há quatro anos",
explicou a jovem, que entrou com auxílio dos guardas fronteiriços angolanos.
A DW África esteve num dos postos
policiais do município do Lucapa, uma das maiores zonas de exploração de
diamantes. Aqui, muitos imigrantes foram repatriados à força por não
responderem ao apelo do Governo.
Há congoleses que não têm meios
próprios para regressar. Muitos estão a deixar os filhos que tiveram em Angola
- como é caso de Frank, que deixa a esposa grávida. "Ela é angolana e eu
sou estrangeiro. Estou a sair e estou a lhe deixar dois filhos e o que está na
barriga será o terceiro", lamentou.
A operação conta com o apoio da
população, que está a denunciar a existência de imigrantes ilegais nas
comunidades. Os congoleses acusam os nacionais de vandalizarem os seus meios.
Mas o soba Alberto Muevo do município do Lucapa nega a acusação.
"Eles estão levar tudo que
eles compraram aqui na província da Lunda Norte. Estão a levar porque estão a
sair voluntariamente. Estão a levar arcas, fogões e outros bens. Os
estrangeiros roubaram todo o diamante, peixe, toda a nossa carne de caça,
destruíram as árvores para fazer carvão. E isso prejudicou a província",
disse Muevo.
Nos diversos comandos da polícia,
há centenas de meios apreendidos pelas autoridades, como viaturas, motorizadas,
bicicletas, equipamento de vídeo-vigilância, armas de fogo, detetores de
diamantes e muitos outros.
Tráfico de diamantes
Segundo o porta-voz da operação
Transparência, comissário António Bernardo, os compradores de diamantes
estimulavam o tráfico ilegal nos garimpos da região.
"Essas casas estimulavam o
tráfico ilícito de diamantes. Muitas das viaturas que os senhores viram nas
visitas efetuadas às unidades da polícia aqui na Lunda Norte, viaturas ligeiras
e de pequeno porte, falamos de Land Cruiser, Hyundai i10, e motorizadas com
mais de 50
centímetros cúbico de cilindrada ou até 50 centímetros
cúbicos também, serviam para estimular que mais diamantes fossem vendidos
nestas casas", relata Bernardo.
O também comandante provincial da
Polícia Nacional de Malanje explicou que os compradores ofereciam automóveis
Land Cruiser a quem tivesse uma pedra de diamante que valesse entre 15 a 20 mil dólares. O
garimpeiro que conseguisse um mineral avaliado em três mil dólares tinha
direito a um Hyundai i10, e davam uma motorizada a cada homem que encontrasse
um diamante que custasse 500 dólares.
Desde o início da operação, as
autoridades apreenderam mais de 26 mil pedras de diamantes e avultadas somas em
moedas de vários países. Segundo as autoridades, as cooperativas de exploração
de diamantes e as casas que compravam as pedras preciosas de forma ilegal não
pagavam impostos ao Estado.
A província dispõe apenas de uma
repartição fiscal, localizada no Dundo, capital da Lunda Norte. Ainda assim,
nada prova que os exploradores são contribuintes.
Comunidades se dizem abandonadas
Para os populares que vivem na
miséria, nenhuma cooperativa contribuía para o bem social das comunidades onde
atuavam. "Se eles pagavam impostos deve ser a nível da capital do país.
Aqui neste município não pagavam, porque até não temos as instituições que
cobram os impostos", disse o administrador de Cambulo, Silvestre Cheleca.
A primeira fase da operação
Transparência vai terminar em 2020. O Presidente angolano disse no seu discurso
sobre o estado da Nação que não haverá trégua para os traficantes de diamantes
e para os estrangeiros ilegais.
"Por se tratar de uma
questão de segurança nacional e de defesa e proteção dos nossos recursos
naturais, estamos a levar a cabo, um combate sem trégua contra este fenómeno
que se instalou no nosso país aos olhos de todos e com a conivência e proteção
de muitos cidadãos nacionais que passam também a serem responsabilizados",
anunciou João Lourenço.
Borralho Ndomba (Lunda-Norte) |
Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário