Caetano Júnior | Jornal de Angola
| opinião
Sobre o início da Luta Armada de
Libertação Nacional decorreram mais de 57 anos. Já a proclamação da
Independência Nacional, consequência directa do acto heróico iniciado a 4 de
Fevereiro de 1961, aconteceu há 43, evento cujo simbolismo Agostinho Neto eternizou
para o mundo naquela madrugada de 11 de Novembro. As motivações por detrás da
acção dos combatentes angolanos são conhecidas, embora seja sempre importante
lembrá-las, quer para avivar memórias, quer para delas dar conta a quem as
desconhece.
Nestes tempos de preocupações que
clamam por toda a atenção e também de superficialidade que mereciam desprezo,
vale sempre insistir no esforço de recriar o sinuoso percurso que levou os
angolanos à autodeterminação. Hoje, no intervalo de um pestanejar, verdades ganham
contornos de mentira e, no mesmo ápice, mentiras descaradas passam, com a
cuidada insistência, a verdades convenientes a determinados grupos de pressão.
Assim, para prevenir o surgimento do que a convenção de mal intencionados designou por "factos alternativos", é preciso relembrar eventos; urge divulgar as circunstâncias em que se desenrolaram determinados acontecimentos. E este deve ser um processo contínuo, executado a cada instante, ao longo do tempo. À História deve estar mesmo reservado o papel de "memória", ficando a quem tem a obrigação de a munir de informações fazer a parte que lhe cabe.
Uma avaliação às condições sob as quais viviam os angolanos à época da colonização ajuda a compreender o estado de espírito que os animou, quando partiram à conquista da liberdade. Quem, na sua própria terra, sofre com a violência, suporta a discriminação e abusos de toda a ordem, enfim, aguenta enormidades que só a escravatura inflige, acaba, mais cedo ou mais tarde, por apelar ao ser reivindicador que tem dentro de si e à revolta. Afinal, mais vale morrer com alguma dignidade a viver o resto da existência vergado a humilhações, que a cobardia aconselha a aturar.
As páginas que se estendem pela frente, nesta edição essencialmente dedicada ao 11 de Novembro, estão preenchidas com testemunhos vivos de figuras ligadas, de alguma forma, a processos que ajudaram a desencadear eventos desfavoráveis à colonização. Depoimentos emotivos, narrados em meio a lembranças dolorosas, transportam-nos para um passado de sofrimento, mas de resiliência, por meio da qual a luta clandestina percorreu até se consagrar; até se proclamar a vitória sobre a força que também se conhecia como “potência” colonizadora. São, na verdade, documentos legados às novas gerações para que conheçam a trajectória do País que os trouxe à luz.
Como se vê, para os compatriotas desses tempos de calvário, a alternativa era evidente. E, a muitos deles, o exercício do patriotismo e o resgate da terra custou a vida; a outros, o mesmo esforço traduziu-se na compreensão de que o País alcançara, finalmente, a Independência; de que a terra lhes pertencia e podiam dar-lhe o destino que melhor conviesse. Eis um dos benefícios de se ser um povo autodeterminado, soberano, detentor do pleno direito de se governar, fazer escolhas próprias, sem intervenção externa, embora consciente da necessidade de cooperar com outras Nações.
Hoje, decorridos 43 anos sobre a proclamação da Independência Nacional, o reconhecimento de que não há benefício maior deve ser unânime. Ainda que, vez por outra, o esforço de reconstrução nos tolhe de cansaço, o trabalho que se estende pela frente nos baixe o ânimo ou os contratempos do percurso nos abalem a esperança. É preciso seguir nas acções que conduzem à normalização do país: na transparência, no resgate, na moralização, na educação, na harmonização, na verdade ...
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