Jornal de Angola | editorial
Os acontecimentos que ocorreram a
27 de Maio de 1977 e dias subsequentes, nos quais morreram e desapareceram
milhares de angolanos, deixaram marcas que continuam até aos nossos dias.
Tratou-se de acontecimentos que dividiram a sociedade angolana, criaram
profundas feridas e deram lugar a um contexto no qual não se falava, nem se
abordava o que fosse ligado ao assunto. Houve, no passado, particularmente
pouco depois da abertura ao multipartidarismo, tentativas políticas
encorajadoras da parte do MPLA, com comunicados do Bureau Político e gestos que
alimentavam esperanças de abordagens mais arrojadas.
As declarações feitas, há dias, pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, marcam uma fase que, independentemente dos desafios que se levantam, precisam de ser levadas adiante. Já se perdeu muito tempo com a gestão, nem sempre a contento de todas as partes, dos acontecimentos ligados ao 27 de Maio, sendo que o mais importante agora tem a ver com a assumpção de responsabilidades para que nos certifiquemos de que nunca mais volte a ocorrer tragédia do género.
“Houve execuções e prisões arbitrárias. Tudo isso está um pouco esquecido, mas precisamos de nos lembrar para que não volte a acontecer”, estas foram palavras pronunciadas pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, numa alusão aos referidos acontecimentos, que geraram as mais variadas reacções.
Segundo algumas informações que circulam, sectores que se apresentam como representantes de sobreviventes do 27 de Maio congratulam-se com esta narrativa de ruptura que está agora a ser assumida pelo Executivo, ao declarar publicamente que está em aberto a possibilidade de as famílias afectadas resolverem a questão das certidões de óbito e de outras matérias que têm a ver com esses acontecimentos.
As declarações do ministro, além de outras implicações para as quais o Executivo, certamente, está disposto a abrir-se, provam também que se pretende uma nova abordagem sobre a questão.
Mais do que encontrar culpados ou responsáveis pelo sucedido, importa que todos aprendamos com as lições dessa tragédia e nos preparemos para um debate sereno e transparente no sentido de contribuirmos, com eventuais propostas, para que o Estado resolva, em definitivo, o passivo do 27 de Maio.
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