domingo, 4 de novembro de 2018

Portugal | TANCOS


Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

Há um problema político seriíssimo. E um problema, digamos, "técnico" gravíssimo. E um não pode escamotear o outro, nem o outro servir de álibi ao primeiro. Vamos lá às perguntas todas, mais uma vez, para ver se surgem respostas.

O problema "técnico". Houve um assalto ao paiol de Tancos. Isso sabe-se. Quem o fez, como o fez, com a cumplicidade de quem? Não são pistolinhas de quem brinca ao soldadinho de chumbo, são granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico, uma quantidade sem números de munições e mais. Lista longa.

Determinado armamento apareceu, numa operação encoberta em que toda a gente fez de conta não saber que sabia. Mais perguntas do foro "técnico". O material tem a mesma origem do que desapareceu? Ou outra? E se a origem não é diferente, que armamento é aquele que não estava em nenhuma lista, sendo que nem da lista apresentada há hoje certezas de verdade verdadeira? E, já agora, esse armamento "extra" pertence às Forças Armadas? Vem de onde, de que paióis, de que assaltos? Ou foi só incompetência no preenchimento de folhas "de presença"?

Eis-nos postos no desassossego que se instala no problema político, seriíssimo. Quem sabia o quê e encobriu o quê a quem? Que começa nos militares, já chegou ao ex-ministro da Defesa, e a lama na ventoinha sempre a girar e a salpicar - ainda que por via de meras dúvidas e cenários - o primeiro-ministro e o presidente da República.

Tem razão Marcelo Rebelo de Sousa, o único que anda há um ano e meio a pedir explicações, quando se preocupa com o facto de o risco da especulação política em torno do assalto a Tancos poder criar uma "nebulosa" que prejudique a investigação e o apuramento da verdade. Embora o alcance da verdade passe forçosamente pela necessidade de responder aos problemas "técnico" e político.

O medo de crise no regime não pode ser superior à necessidade de o país perceber os caminhos que fragilizam as suas instituições e, em última análise, as fundações de um Estado de direito.

*Diretor JN

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