Domingos de Andrade* | Jornal de
Notícias | opinião
Há um problema político
seriíssimo. E um problema, digamos, "técnico" gravíssimo. E um não
pode escamotear o outro, nem o outro servir de álibi ao primeiro. Vamos lá às
perguntas todas, mais uma vez, para ver se surgem respostas.
O problema "técnico".
Houve um assalto ao paiol de Tancos. Isso sabe-se. Quem o fez, como o fez, com
a cumplicidade de quem? Não são pistolinhas de quem brinca ao soldadinho de
chumbo, são granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico, uma quantidade
sem números de munições e mais. Lista longa.
Determinado armamento apareceu,
numa operação encoberta em que toda a gente fez de conta não saber que sabia.
Mais perguntas do foro "técnico". O material tem a mesma origem do
que desapareceu? Ou outra? E se a origem não é diferente, que armamento é
aquele que não estava em nenhuma lista, sendo que nem da lista apresentada há
hoje certezas de verdade verdadeira? E, já agora, esse armamento
"extra" pertence às Forças Armadas? Vem de onde, de que paióis, de que
assaltos? Ou foi só incompetência no preenchimento de folhas "de
presença"?
Eis-nos postos no desassossego
que se instala no problema político, seriíssimo. Quem sabia o quê e encobriu o
quê a quem? Que começa nos militares, já chegou ao ex-ministro da Defesa, e a
lama na ventoinha sempre a girar e a salpicar - ainda que por via de meras dúvidas
e cenários - o primeiro-ministro e o presidente da República.
Tem razão Marcelo Rebelo de
Sousa, o único que anda há um ano e meio a pedir explicações, quando se preocupa
com o facto de o risco da especulação política em torno do assalto a Tancos
poder criar uma "nebulosa" que prejudique a investigação e o
apuramento da verdade. Embora o alcance da verdade passe forçosamente pela
necessidade de responder aos problemas "técnico" e político.
O medo de crise no regime não
pode ser superior à necessidade de o país perceber os caminhos que fragilizam
as suas instituições e, em última análise, as fundações de um Estado de
direito.
*Diretor JN
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