Martinho Júnior, Luanda
1- O Arquivo Nacional de Angola,
organismo inserido no Ministério da Cultura, promoveu a 16 de Novembro e em
saudação ao 11 de Novembro, Dia da Independência Nacional, uma Mostra do Acervo
Científico doado pelo Ministério da Educação Superior, Ciência, Tecnologia e
Inovação (MESCTI).
De acordo com a Introdução do
folheto que se referia ao acontecimento, “são 144 títulos que o MESCTI
recuperou em Portugal, em 2012, entregues numa cerimónia realizada a 7 de
Novembro passado, nestas instalações”, constituindo um grupo de “obras
diversas sobre Angola, de carácter científico, resultado de estudos académicos”,
abrangendo “temáticas acerca dos solos, fauna, flora, essências
florestais, pastos e gramíneas, botânica, cartografia, doenças, medicina
tradicional, agricultura, pecuária, geologia, potencialidades económicas, etc.”
Em relação a estudos
humanos, “constam ainda desse acervo obras de carácter etnográfico,
histórico, que certamente despertarão o interesse dos especialistas dessas
áreas para os seus trabalhos de investigação”.
O Arquivo Nacional de Angola e
com sentido de oportunidade, terminava assim essa introdução: “neste
momento em que se fala da necessidade da diversificação da economia, do
desenvolvimento do nosso país, acreditamos que a consulta deste material será
imprescindível e contribuirá para alcançar esses desideratos, através dos
conhecimentos que transmitem”.
2- Este acontecimento denota
algum esforço a nível do governo angolano, no sentido de começar a recolher
capacidades científicas e investigativas que se referem a estudos que vão desde
as ciências exactas às humanas, a fim de se estabelecerem os nexos que nos
possam conduzir a uma aberta e lúcida vontade comum que evolua para uma
plataforma de conhecimentos capaz de fazer fermentar uma cultura de
inteligência patriótica, mobilizadora e dirigida para o futuro.
Esse passo indispensável, amplo e
muito abrangente, existindo em embrião, está no entanto praticamente por
realizar…
Não basta colocar o acervo
existente à disposição de organismos científicos, organismos investigativos,
Universidades, Institutos Superiores e outros organismos (neste caso o Arquivo
Nacional de Angola, subordinado ao Ministério da Cultura), sejam do estado,
sejam privados…
A situação de subdesenvolvimento
crónico em que se encontra Angola, os desequilíbrios de toda a ordem, os
relacionamentos internacionais de espectro distinto, as assimetrias e as
injustiças sociais, merecem uma outra abordagem que inclua a decifragem das
causas, os seus efeitos e as dialéticas que estão desencadeadas, agora mais que
nunca à velocidade da luz, tendo em conta o espectro das novas tecnologias!
É preciso que haja uma
instituição que impulsione e dinamize, de forma tão integrada quanto o
possível, os procedimentos adequados à consulta desse acervo e de outros,
vocacionada para estratégias de interesse nacional, mas também vocacionada para
uma cultura da inteligência patriótica, gerindo a aproximação entre as
instituições (não deixando ao acaso estes aspectos tão essenciais à vitalidade
e transmissão de conhecimentos) e gerindo as articulações em rede
correspondentes.
O estado até tem “em
posição” esses organismos, mas linhas de pensamento estruturalista,
burocrático e atavismos derivados de processos académicos de assimilação, estão
a tornar-se empecilhos que estão a travar a potencialidade às iniciativas de
integração e articulação em rede para fins estratégicos e assim, perdem-se
enquadramentos, possibilidades mobilizadoras, potenciais projecções, acordos e
protocolos possíveis e recomendáveis, tornando muito mais difícil encontrar
opções e soluções que possam reverter, por via do resgate de conhecimento
científico e investigativo, para a construção dum futuro de desenvolvimento sustentável
em benefício de todo o povo angolano, do próprio estado e das instituições de
ensino, de forma a implicá-las em programas sincronizados que devem nortear
esforços sobretudo acima do médio prazo.
3- Entre as instituições do
estado angolano que têm a possibilidade de aglutinar articulações em rede (para
além do próprio Ministério da Cultura), está o Serviço de Inteligência do
Estado (SINSE), que no meu modo de ver e face à necessidade de implementar
estratégias e geoestratégias a prazos superiores, pode-se tornar um organismo
catalisador das iniciativas, o que implicará necessariamente estabelecerem-se
frentes com muitos ministérios, organismos e instituições de toda a ordem, em
especial as de carácter investigativo e científico, de modo a que a luta contra
o subdesenvolvimento passe a ser um processo substantivo e não uma figura de
estilo para contemplação académica, ou administrativa.
O SINSE não deve ser apenas um
organismo do estado capaz de contribuir para trabalhar a informação corrente,
quase toda necessitando de pesquisa, análise e levando à estafada produção de
relatórios de ordem tática mas, elevando a fasquia, contribuir para ao
fermentar do multifacetado conhecimento cientificado e investigativo,
encaminhar os organismos para a plataforma duma cultura de inteligência
patriótica que possa produzir as tão necessárias estratégias e geoestratégias a
médio, longo e muito longo prazos, promovendo a integração de articulações em
rede, promovendo a desburocratização do estado, alertando para os casos de
empolamento, obstrução, vulnerabilização ou mesmo corrupção e dando vida a
capacidades de mobilização que saiam do estado dormente, ou mesmo palúdico em
que se encontram.
Assim sendo um organismo
enquadrado no SINSE como o Instituto de Informações e Segurança de Angola, pode
preencher em seu reforço e em grande parte as condutas mobilizadoras, tirando
partido dos quadros que pertencem à Comunidade da Segurança do Estado e não
estão absorvidos nas actividades correntes do próprio SINSE, do Serviço de
Inteligência Externa, ou do Serviço de Inteligência Militar.
De facto para o estabelecimento
de estratégias e geoestratégias coligir multifacetadas apreciações de carácter
científico e investigativo é imprescindível, ao mesmo tempo que se deve
libertar o aparelho da contínua sistematização jurídica-institucional, que o
torna por vezes pesado, burocrático e incapaz de participação para além das
capacidades táticas, quando o grau de subdesenvolvimento em que se encontra
Angola exige muito mais.
Nem por isso, essa plataforma
forjadora de estratégias e geoestratégias vai diminuir a necessidade de busca
de consensos, pelo contrário, deve-se tornar num factor activo não só de busca
de consensos, mas também na mobilização das sensibilidades patrióticas, em
especial quando os conceitos científicos e as investigações, para além do
conhecimento adquirido, captem a atenção na sua própria lógica e sobre os
relacionamentos causa-efeito que estão quantas vezes por discernir.
4- Tenho vindo a abordar a necessidade duma GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, procurando fundamentar com várias linhas de conhecimento e acção que se abrem aos nexos entre o espaço físico-geográfico-ambiental-hidrográfico, com o homem e os factores humanos, a partir de razões causais e acompanhando sempre os seus efeitos numa dialética compreensão.
De facto a antropologia
(entenda-se antropologia cultural), não tem merecido a atenção que se lhe deve
dar, pois a luta contra o subdesenvolvimento é um longo processo de superação
cultural inteligente e patriótico, obrigando à pertinente escolha de opções
face aos desafios e riscos, a prazos muito dilatados, sobretudo se houver
atenção em relação à necessidade de controlar a água interior do espaço
nacional, o que jamais foi feito em termos científicos e investigativos por
parte dos angolanos.
Esse é um exemplo do que está em
aberto, ou seja, do imenso resgate de conhecimento científico e investigativo
que há a realizar, desde logo sobre o próprio espaço nacional por parte dos
angolanos, que não só não o conhecem, como desconhecem as questões de antropologia
cultural que explicam a situação anterior, corrente e futura das muitas
comunidades rurais e urbanas nacionais.
Capacidade dialética de
interpretação, capacidade para potenciar amplos e abrangentes dinamismos,
capacidade para estabelecer consensos, gerar a plataforma duma cultura de
inteligência patriótica, vai obrigar muitos organismos nacionais, do estado e
privados, a uma outra filosofia que seja ao mesmo tempo garante de mobilização
para se fazer face ao subdesenvolvimento crónico que advém das trevas do
passado!
Martinho Júnior - Luanda, 26 de Novembro de 2018
Assinalando o 43º aniversário dos
organismos da Segurança do Estado de Angola
Três imagens relativas à Mostra
do Arquivo Nacional de Angola
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