Paris, 19 mai (Lusa) -- O
coordenador da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação, criada em 2001
para investigar o período de ocupação de Timor-Leste pela Indonésia, disse hoje
que "julgar os crimes" cometidos entre 1974 e 1999 é "um desafio
da sociedade global".
Patrick Walsh, que falava em
Paris na cerimónia evocativa da restauração da independência de Timor-Leste, há
dez anos, que a Assembleia Nacional francesa acolheu, considerou que
"conseguir que sejam que sejam levados a tribunal os crimes que foram
cometidos durante a ocupação indonésia de Timor-Leste é um desafio da sociedade
civil global porque em causa estão crimes contra a humanidade".
"O relatório que entregámos,
e que tem 2.800 páginas, não deixa margem para dúvidas. E não é o único.
Contaram-se, durante esse período, cerca de 100 mil civis mortos, verificou-se
uma sistemática violação do direito internacional e também dos direitos
humanos, nomeadamente violência sexual contra mulheres, detenções arbitrárias e
deportações", afirmou.
O Governo indonésio e o seu poder
militar, defendeu, "foram os responsáveis". Além disso, "há
testemunhos de alguma cooperação de outros Estados, como a França ou a
Austrália, quer porque fecharam os olhos à situação, quer porque venderam
equipamento militar ou armas à Indonésia".
No entanto, acrescentou,
"até aqui, nenhum desses atores pediu desculpa ou assumiu responsabilidades
em relação ao que aconteceu".
Por outro lado, prosseguiu,
"nem José Ramos-Horta, ex-Presidente da República de Timor-Leste, nem Taur
Matan Ruak, que hoje tomou posse como chefe de Estado, entendem que deve
pressionar-se a Indonésia a fazer justiça ou levar a questão a um tribunal
internacional. 'É preciso olhar para o futuro porque não temos tempo para olhar
para trás', disse o novo Presidente".
"Eu acho que a história tem
tendência para se repetir. Por isso, as pessoas precisam de saber o que
aconteceu. Os crimes precisam de ser julgados. Para isso, tem que criar-se uma
base de apoio. E também para que continuemos vigilantes", concluiu.
Na cerimónia, interveio também
Frederic Durand, geógrafo e presidente da Associação França-Timor, que mostrou
retratos do país, dez anos depois da restauração da independência: um país
"que levou a cabo um grande esforço de reconstrução", que tem "um
povo com sede de aprender" e que "tem uma magia inexplicável".
A cerimónia, que juntou mais de
100 pessoas, foi organizada por iniciativa da Associação França-Timor, que
assinalou hoje o seu 9.º aniversário, em colaboração com o grupo parlamentar de
amizade França-Timor-Leste.
JYF
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