quinta-feira, 5 de julho de 2018

França | As lutas prosseguem, cada vez mais


Rémy Herrera

Se, no conflito no SCNF, as organizações "reformistas" (CFDT) e de direita (UNSA) oficializaram em 28 de Junho a sua saída do movimento dos ferroviários, os sindicatos combativos, CGT e Sud-Rali, representando só por si mais de 50% dos efectivos sindicalizados do sector ferroviário, anunciaram a sua vontade de prosseguir em conjunto a mobilização no mês de Julho – e provavelmente mais tarde, no Verão. Mas a estratégia posta em marcha vai mudar: ao contrário da "greve intermitente" praticada desde Abril, com um calendário de dias de greve estabelecido muito tempo antes (o que permite aos utilizadores preverem soluções de substituição para seus transportes, assim como à direcção do SCNF organizar-se para atenuas os efeitos do movimento), a CGT e o Sud-Rali decidiram não revelar as datas de cessão de trabalho senão poucos dias antes, mirando as grandes partidas de veranistas (fim de semana de 6 e 7 de Julho, depois a 11 de Julho para uma acção específica no sector do frete).

As promessas do presidente Macron duraram apenas algumas horas. A direcção do SCNF já informou que o ramo do frete da empresa suprimirá 700 postos de trabalho daqui até 2021. A razão apresentada? O défice registado por este ramo seria "agravado" pelas perdas provocadas pela greve! Os ferroviários que, para muitos, perderam mais de 30 dias de salário nos últimos três meses, seriam em suma responsáveis por estes despedimentos! E, sem vergonha, os sindicatos CFDT e UNSA que lançaram o movimento – como se esperava – estão a mendigar migalhas, nas negociações com o departamento de recursos humanos sobre o novo "acordo colectivo do transporte ferroviário" (em substituição do estatuto dos ferroviários, abandonado). Como se diz aqui, "quando o patronato tiver decidido restabelecer a escravatura, os "reformistas" negociarão com os seus mestres a dimensão das cadeias usadas pelos escravos"...

Ao mesmo tempo, uma outra mobilização de amplitude muito maior, também ela histórica pela sua força, sua determinação e sua duração, desenvolve-se. Os trabalhadores da energia entraram em luta desde há mais de dez semanas. Trata-se de uma greve maciça, muito dinâmica, conduzida por jovens trabalhadores, principiada nomeadamente do lado de Marselha. Ao apelo da Federação CGT da energia, os trabalhadores da electricidade e do gás puseram-se em movimento, em cooperação e em apoio à greve dos ferroviários, conforme modalidades bastante semelhantes, mas com reivindicações próprias ao seu sector e num espírito de convergência em defesa dos serviços públicos.

Desde meados de Junho este movimento vai em crescendo e afecta os sítios Enedis (filial da Électricité de France, [EDF], primeiro fornecedor de electricidade na Europa) e GRDF (Gaz Réseau Distribution France), filial da Engie (ex GDF Suez) e principal distribuidor de gás natural na Europa). Em fins de Junho, cerca de 300 locais estavam bloqueados e mais da metade deles estavam ocupados pelos trabalhadores. Estas greves foram primeiramente "intermitentes", antes de se tornarem prorrogáveis, mesmo ilimitadas, fazendo desta mobilização a mais importante greve do sector da energia desde há dez anos no país. O ambiente ali é muitas vezes cordial, familiar, mantendo grandes laços de solidariedade local.

Escandalizados pelos dividendos astronómicos pagos aos accionistas privados, os grevistas, na ofensiva, reclamam aumentos de salários (no mínimo mais 400 euros mensais), a contratação firme de colegas actualmente com contrato de duração determinadas ou temporária, a anulação das supressões de postos programadas, a reinternalização de actividades externalizadas e a nacionalização dos sectores da energia para um serviço público posto autenticamente ao serviço dos utilizadores – e não dos capitalistas.

É o culminar das lutas, múltiplas e poderosas, conduzidas pelos trabalhadores do gás e da electricidade desde há dois anos (com nomeadamente os "dias da cólera" organizados durante vários meses no princípio de 2017). Face à amplitude da rebelião, os media dominantes impõem uma censura total da informação. Patronato e governo, aterrorizados, aguardam impacientemente as férias estivais que marcarão provavelmente o sufocamento das lutas. Aterrorizada diante do risco de contágio, o poder joga na dispersão dos trabalhadores, que a privatização e o desmembramento do sector público efectuam há anos. São discutidos mesmo prémios para os empregados que se mantiverem calmos, nos sectores do nuclear e das linhas de alta tensão... O que acontecerá na reentrada [das férias], quando ressurgir a cólera dos cidadãos contra Macron e renascer a esperança de mudança? 

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

Portugal | Não há contratação colectiva com políticas de direita


PS, PSD e CDS convergem na elaboração e execução de uma política de direita contrária ao interesse dos trabalhadores e ao serviço do capital, com repetido agravamento das condições de vida e trabalho.

Armando Farias | AbrilAbril | opinião

Sendo certo que o provérbio «diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és» remonta aos tempos bíblicos, o que para os fiéis bem pode figurar no episódio da traição de Judas a Cristo, é também notório que a expressão popular mantém plena actualidade se aplicada aos vendilhões dos templos modernos.

Evidentemente, essas não eram cogitações que ocupassem o espírito do então presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) quando, há precisamente uma década atrás, lançou, com genuína sinceridade, a declaração, que citamos ao lado, sobre o Ministro do Trabalho do Governo do PS/José Sócrates. E para que não subsistissem quaisquer dúvidas sobre a seriedade da afirmação, o «patrão dos patrões», perguntado pela jornalista que o entrevistava se estava a fazer ironia, fez questão de esclarecer que não senhora, tratava-se de um juízo objectivo decorrente do empenho pessoal do ministro em levar por diante as alterações laborais requisitadas pelas confederações patronais ao governo, enumerando algumas dessas malfeitorias.

Interrogado sobre se o banco de horas e outros mecanismos de «flexibilidade» eram uma maneira das empresas deixarem de pagar trabalho extraordinário, o presidente da CIP foi taxativo: «no fundo é para acabar com o conceito de horas extraordinárias. Trabalhar mais duas horas além do horário passa a ser regular».

Seguidamente, desafiado a comparar Vieira da Silva com Bagão Félix, antecessor com a mesma pasta no Governo PSD/CDS, o tal do ar angelical e mansas falas que em 2003 introduziu o famigerado código do trabalho, Van Zeller foi igualmente categórico: «O Dr. Bagão Félix não era especialista neste tema, era um generalista» e este ministro, Vieira da Silva, e a sua equipa «… são especializados, isto é mérito de especialistas». E prosseguiu, sentenciando que «a forma como organizaram tudo conduziu a uma melhor finalização e a uma discussão final muito curta. Quando a proposta final apareceu já estava tudo discutido» (tudo cozinhado, foi o que foi).

Para que ficasse perfeitamente claro que no sistema capitalista o papel que o grande patronato reserva ao Ministro do Trabalho é que este submeta os direitos dos trabalhadores, aniquilando-os ou diminuindo-os, aos interesses dos grupos económicos, o presidente da CIP não se conteve em mostrar quem «manda», rematando, sem disfarçar alguma arrogância, com a seguinte afirmação sobre as alterações à legislação laboral: «Foi uma vitória nossa sem dúvida nenhuma. Antes bastava uma ou duas pessoas para empatar uma equipa inteira. Agora já não».

Os eixos da ofensiva anti-laboral

Esta introdução ao tema que aqui nos trás hoje tem uma dupla finalidade. Por um lado, lembrar que os governos do PS, e em particular o ministro Vieira da Silva, têm um largo currículo na definição e elaboração de legislação anti-laboral, consubstanciada no ataque aos direitos e na regressão das condições de vida dos trabalhadores, currículo que é reconhecido pelas insuspeitas confederações patronais.

Por outro lado, evidenciar que existe um fio condutor nessa ofensiva, articulando quatro eixos principais:

- a precarização da relação laboral, por via da liberalização e embaratecimento do despedimento individual, da generalização das formas precárias de trabalho e do alargamento do período experimental;

- a desregulação da organização do trabalho e a desregulamentação dos horários, a par da introdução dos bancos de horas e de outros regimes incluídos no pacote das chamadas flexibilidades e adaptabilidades;

- a diminuição dos rendimentos do trabalho, seja pela contenção salarial, seja por outras vias de aumentar a exploração dos trabalhadores, como o aumento do trabalho não remunerado;

- a imposição de regras que visam fragilizar o direito à contratação colectiva, nomeadamente o regime da caducidade, a possibilidade de adesão individual às convenções colectivas de trabalho; a eliminação do principio do tratamento mais favorável aos trabalhadores, a generalização do contrato individual de trabalho, a redução do direito de greve, através do alargamento dos serviços mínimos a vários sectores de actividade.

Não surpreende, portanto, que a apreciação da CIP tenha, também ela, um mesmo fio condutor. Se o anterior presidente daquela organização patronal se regozijava por Vieira da Silva fazer melhor trabalho que um governo de direita, o actual presidente, António Saraiva, não se mostrou menos agradado com a escolha do mesmo homem para Ministro do Trabalho no actual Governo do PS/António Costa.

De facto, em entrevista ao programa «Terça à Noite» da Renascença, emitido em 24 de Novembro de 2015, António Saraiva dizia ter ficado “descansado” com a escolha de Vieira da Silva para Ministro do Trabalho porque, confidenciava Saraiva, «é um nome que me tranquiliza pela prática, pelo conhecimento, por aquilo que já trabalhámos anteriormente no Governo Sócrates».

O Acordo subscrito pelo Governo de António Costa na Concertação Social confirma as opções de classe do PS ao serviço do grande capital

Quem não podem estar tranquilos são os trabalhadores, face ao longo historial de convergências do PS com o PSD, o CDS e o grande capital. Os sucessivos ataques aos direitos e à contratação colectiva só foram possíveis porque independentemente de quem estava, em cada momento, no governo – PS, PSD ou CDS, separados ou coligados – todas eles convergiram, sempre, na Assembleia da República contra os trabalhadores.

Voltando à citação de Francisco Van Zeller: «Vieira da Silva fez melhor do que um Governo de direita», diremos que é tolice polemizar sobre quem, no «arco da governação» protagonizado pelo bloco central de interesses, é mais de direita. O que está em causa não são as embalagens, mais ou menos embelezadas com as cores preferidas, mas sim, as opções políticas que cada uma dessas forças políticas prossegue. E, aí, o teste do algodão não engana: entre PS, PSD e CDS não há nenhuma diferença significativa, todos eles optaram por convergir na elaboração e execução de uma política de direita.

Política de direita que, sendo contrária aos interesses dos trabalhadores e destinada a servir os interesses do grande capital, aqueles partidos aprofundam continuadamente, fazendo suceder medidas atrás de outras medidas, num repetido agravamento das condições de vida e de trabalho. Foi assim com os pacotes laborais das décadas de 80 e 90, depois com o Código do Trabalho de Bagão Félix, no inicio deste século, mais tarde com os «acordos» de concertação social (usando, nesta sede, a excrescência que dá pelo nome de UGT1), e tem sido sempre assim, depois da Revolução de Abril, ao longo de mais de 40 anos de recuperação capitalista.

O actual Governo do PS, ao insistir em manter a caducidade da contratação colectiva, posição que é acompanhada com a recusa em introduzir o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador, sabe que está a reforçar os mecanismos de chantagem e pressão que o patronato exerce sobre os trabalhadores, a fim de aumentar a exploração e continuar a liquidação de direitos. As ideias enunciadas quanto ao «aperfeiçoamento» dos mecanismos de arbitragem e do reforço da mediação, prévios à decisão sobre a caducidade, não são solução, como não é solução submeter os direitos dos trabalhadores à discricionariedade das decisões de colégios arbitrais.

Ao contrário do que o governo e as confederações patronais têm afirmado, não há nenhum dinamismo da negociação colectiva. Apesar das 208 convenções colectivas de trabalho e das 84 portarias de extensão publicados em 2017 a situação é inaceitável, pois uma grande parte dessas convenções resultam da fragmentação operada nos últimos anos, com diminuta expressão numérica dos trabalhadores abrangidos.

Como os dados da CGTP-IN mostram (Relatório de Actividades de 2017), mesmo continuando suspensa a publicação de avisos de caducidade decididas pelas associações patronais, o bloqueio da contratação colectiva mantém-se, com apenas 821 mil trabalhadores abrangidos pela renovação da contratação colectiva em 2017, muito longe do total de assalariados que, sem os trabalhadores da Administração Pública, é de cerca de 3,3 milhões. Está-se, portanto, com um nível médio de cobertura da ordem dos 25% do total de assalariados, quando em 2007 era de 50,3%.

A baixa cobertura da contratação colectiva tem efeitos nocivos em toda a esfera da relação laboral. A realidade mostra como se aprofundou a exploração e se degradaram as condições de trabalho em 2017:

i) o salário médio liquido mensal foi de 856 € e cerca de 30% dos trabalhadores tinham salários inferiores a 600 €;

ii) 47% dos trabalhadores trabalhavam por turno, ao serão, por noite, sábado ou domingo, ou numa combinação entre estes tipos de horários, envolvendo 43% de mulheres e 50% de homens, quando, há 20 anos atrás, eram 26% dos TPCO, 23% mulheres e 29% homens;

iii) alargou-se a precariedade dos vínculos laborais, sendo que 80% dos novos contratos celebrados nos três primeiros trimestres de 2017 assentam em vínculos precários.

Os trabalhadores da Administração Pública foram igualmente atingidos por uma ofensiva legislativa que pôs termo ao vínculo tradicional de emprego público, substituindo o regime de nomeação pelo regime de contrato de trabalho em funções públicas enquanto modalidade principal de constituição da relação jurídica de emprego público.

Esta alteração consubstancia uma fragilização do vínculo de emprego público, a que acrescem outras medidas como sejam o enfraquecimento do sistema de protecção na doença, a alteração do regime de pensões e a imposição de um sistema de avaliação pouco objectivo e bastante penalizador, além de sucessivos anos de congelamento de salários e progressões na carreira.

Apesar de fortemente golpeada, a contratação colectiva não será destruída

Pese embora os graves retrocessos no plano social que decorrem da ofensiva desencadeada pelo patronato e caucionada pelas medidas dos Governos que estão ao serviço do capital económico e financeiro, a situação seria hoje muito pior, se não fossem as lutas de resistência dos trabalhadores para defender os seus direitos e interesses, particularmente quanto à contratação colectiva.

A CGTP-IN, com os seus sindicatos, os seus milhares de activistas e dirigentes sindicais, assumiu um papel determinante na condução de muitas e poderosas lutas sindicais a nível das empresas e locais de trabalho, dos sectores, das regiões e no plano nacional, em que participaram, de forma determinada, centenas e centenas de milhar de trabalhadores e trabalhadoras. Foi, assim, possível obter a actualização dos salários, manter e em muitos casos melhorar os direitos sociais, aprofundar a unidade e a solidariedade entre os trabalhadores.

Amanhã, dia em que a Assembleia da República vai debater a legislação laboral, os trabalhadores lá estarão, em mais uma jornada de luta, para protestar e denunciar uma nova convergência dos deputados do PS, do PSD e do CDS para a aprovação de mais um pacote de medidas anti-laborais, entre as quais aquelas que visam perpetuar a precariedade, a desregulamentação e alargamento dos horários de trabalho, bem assim como o boicote patronal à negociação e contratação colectiva.

Luta que continuará, por uma política de esquerda, de valorização do trabalho e de progresso social. É nesse quadro que a contratação colectiva mantém todas as potencialidades, como sempre teve, de fixar os direitos alcançados pela luta reivindicativa e preservá-los para o bem-estar dos trabalhadores e das suas famílias.

1. Excrescência ou excremento, deverá ter sido o pensamento do ministro Augusto Santos Silva quando, no final de 2016, foi apanhado pelas câmaras de televisão a brindar o ministro Vieira da Silva, exaltando mais um “acordo” fabricado na concertação social pelos suspeitos do costume: «Ó Zé António, és o maior! Grande negociante... Era como uma feira de gado!».

Na foto: Membros do Governo com representantes das confederações patronais, na assinatura do acordo laboral em Lisboa, 18 de Junho de 2018. A CGTP-IN recusou a assinatura do acordo, que qualificou de «declaração de guerra aos trabalhadores»CréditosPaulo Vaz Henriques. Fonte: Portal do Governo. Legenda do AbrilAbril

Racismo e um parque pop

Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

A história fúnebre da Europa, perto de se repetir aos nossos olhos. No momento em que alguns comemoram o mal menor na Alemanha que permite - fruto do acordo entre a chanceler alemã e o seu ministro do Interior - sustentar Ângela Merkel no poder, Portugal conta a quem passa a ladainha mentirosa de que não é um país racista. Quando muito, diferenciador. Tão diverso como o que se mostrou ser na agressão bárbara a uma jovem colombiana por um fiscal da STCP na noite de S. João no Porto. O estigma reside nessa diferença de pormenor que permite fechar os olhos a três campos de internamento ao ar livre para refugiados, autorizados por Merkel à força de querer evitar uma crise política interna que podia arrastar a Alemanha para onde rasteja parte da Europa. Eis a barbárie da radicalização que se vive pela ascensão ao poder da extrema-direita. Pela fraqueza das soluções de todo o espectro político, a Europa rende-se à réplica dos piores momentos da história do século XX e vamos todos fingindo que é uma atitude isolada de um fiscal numa viagem. Fragilidade, temor e vergonha.

Fechando os olhos, divertimento e rotinas diárias, a vida a correr costumeira. Os emigrantes portugueses em New Jersey passaram boa parte do seu tempo de ócio no "Palace Amusements", parque de diversões com 100 anos de história, onde gerações estacionaram os seus veículos perto do passadiço de Asbury Park, gozando alucinação e delírio com bilhete familiar. Mas a vida de emigração não é igual para todos na relação luso-americana. Três décadas exactas depois do encerramento do parque americano, um Palácio português serve uma só rainha pop, sendo a populaça a que sofre com a portagem. O campo de concentração para veículos de Madonna avança em Lisboa, sito nas traseiras do Palácio Pombal, propriedade da Autarquia lisboeta. Um terreno público em saldo, sim.

Nada disto seria grave se não fosse ultrajante para milhares de pessoas, lisboetas na sua esmagadora maioria, que tentam estacionar na zona de Santos, um inferno bíblico-alfacinha de enormes proporções. Sem auscultar nada nem ninguém, a decisão em velocidade vertigem de Fernando Medina fez contrato no Palácio perto do Palacete onde a artista vive. Não é uma visita, ela vive: Lisboa, a província de Madonna. E há quem, à sombra da árvore do turismo, ache normal que um município escorregue nesta casca de banana. O que agora resta do parque de diversões de Asbury Park é um sombrio museu online. Sem tráfego mas onde ninguém aparca. Só fragilidade.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e jurista

Portugal | ASSIMILADOS DE ESTRANGEIRISMOS ESTÃO A ABUSAR


Não, nem sequer é aqui neste Curto que vai ler a constatação do abandalhamento do português por via dos abusos de inclusões de estrangeirismos. Mas disso vimos e ouvimos todos os dias e a todas as horas na comunicação social. Interromper as férias é muito aborrecido. E então tomem lá com esta justificável implicação. Grrr.

O PG começou hoje todo da lusofonia/CPLP, em beleza. Já deu um toque em Angola, em Moçambique e em Timor-Leste. Assim como tocou na divulgação sobre as declarações do MNE português sobre a reunião próxima da CPLP, de que ele diz maravilhas que vão acontecer. O homem é um diplomata muito otimista e vê coisas que não vimos. Imaginação fértil é do que padece Augusto Santos Silva. Mas vale, pela simpatia e aquela sua competência a ver o que mais ninguém vê mas aceita que até vê. Olá, loron diak. Não perceberam?

Pois é, estamos a ir na onda de empregar termos de outras línguas à mistura com o português. Aqui em baixo, no Curto, por uma senhora jornalista, Cristina Figueiredo, temos “silly”, e antes “season”, por pequeno exemplo. Mas disto há em barda pela comunicação social portuguesa, na rádio, nos jornais, nas tvs ou em outro qualquer pasquim. Está mal, mas eles é que têm “os livros”. Depois admiram-se que lhes chamem “cagões” – vaidosos, convencidos e etc.

Foi o que aconteceu aqui em cima no final do segundo parágrafo: loron diak, que significa bom dia em tétum. A língua timorense. É só uma provocação, não é uma “caganeirisse”. Certo é que a língua portuguesa está a ficar inundada de termos estranhos à nossa Pátria, que é a nossa língua, o que é um abuso cometido por assimilados de estrangeirismos que acabam por não ser carne nem peixe. Ficam assim a ser a “modos de uma coisa”. Não é assim que se defende e divulga corretamente a língua portuguesa, senhores jornalistas e outros escrevinhadores. Ainda mais com o prejuízo de muitas vezes não permitirem que imensos portugueses fiquem a entender o que escrevem ou o que dizem nas rádios e tvs. Novos métodos de comunicação? Rasguem esses vossos livros, aprendam português. Ou emigrem para a velha Albion ou outro lugar qualquer. Fazem cá menos falta que uma viola num enterro. Diziam os nossos avós. Só que agora já se canta e acontecem as coisas mais estranhas nos enterros. Tudo bem. Os mortos não falam, não sentem, nem se coçam.  Também não se indignam. Aleluia!

Segue o Curto. Este foi só um desabafo, numas férias de vez em quando interrompidas. Hau ba bahona. Saude barak. Entenderam? Oh, também não é preciso.

O Curto cumpre a função. É de ler. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Drama(s) de verão?

Cristina Figueiredo | Expresso

Nem sempre a "season" é "silly".O verão passado lembra-nos bem como sol e calor podem ser trágicos sinónimos de tragédia. Mas a maioria das vezes, felizmente, a época é mesmo "tola" (numa tradução livre da expressão anglófona que já vem do século XIX), que é como quem diz, parca em notícias puras e duras, o que leva a que certas histórias ganhem uma proporção mediática que nunca teriam noutra altura do ano. Escrevo isto a pensar em três exemplos em concreto (seriam quatro, se contasse com o estacionamento da Madonna, mas a polémica parece ter estancado). Mas suspendo o raciocínio. Dou por mim a perguntar-me se em qualquer outra altura do ano não daríamos exatamente o mesmo tempo de antena ao...

1) salvamento dos jovens tailandeses presos na gruta;

2) futuro de Cristiano Ronaldo;

3) equilíbrio de forças na "geringonça"?

Provavelmente, sim. O que me leva a outra interrogação, e para esta não tenho resposta: é a "season" que já não é "silly" ou há uma "sillyzação" do ano inteiro? Dramas de verão ou de inverno são, por estes dias, os temas que dominam os noticiários.

Os miúdos tailandeses. Um daqueles casos em que a realidade ultrapassa a ficção. Quando a tragédia parecia inevitável, o milagre aconteceu: dez dias depois de desaparecerem, as crianças e o seu treinador foram encontrados vivos no interior de uma gruta, retidas devido às chuvas fortes que inundaram boa parte das câmaras subterrâneas e inviabilizaram o seu regresso à superfície. Dir-se-ia que tudo está bem quando acaba bem... o problema é que o caso está longe do fim. A operação de resgate é complexíssima e ainda não se sabe bem como (nem durante quanto tempo) se irá processar. O mergulhador Pedro Ivo Arriegas, da Associação de Estudos Subaquáticos, esteve ontem na Edição da Noite da SIC Notícias a explicar as dificuldades. Há mais informação no Observador, no Público, no Diário de Notícias ou (em inglês) neste artigo do The Guardian, com gráficos bastante esclarecedores.

Adiós Madrid, Ciao Turim. A notícia começou a ser avançada na terça-feira e a SIC confirmou-a ao início da noite de ontem: Cristiano Ronaldo trocou o Real pela Juventus, vai receber 30 milhões de euros anuais de salário (o clube recebe 100 milhões pela sua saída) e deverá ser apresentado aos adeptos italianos dentro de poucos dias. O diário desportivo espanhol As assegura que foi o jogador quem se ofereceu ao clube de Turim e resume a três as razões para tanto: competitividade (a Juventus permite-lhe continuar a lutar por títulos); afecto mútuo (recorde-se que o estádio inteiro aplaudiu Ronaldo após aquele golo incrível de bicicleta a dois metros de altura que ele marcou aos italianos, em casa destes, nos quartos de final da Champions); e, claro, o salário. No Expresso Diário de ontem (só para assinantes) Bruno Vieira Amaral escreve que a relação de CR7 com o Real nunca foi uma história de amor: "Cristiano não fica no coração dos madridistas porque nunca lá entrou. E nunca lá entrou porque, para começo de conversa, Madrid não tem coração. O Real, sobretudo o de Florentino, tem bolsa e palmarés. Para reforçar este abre os cordões àquela, mas nunca entrega o coração que não tem". Ainda a notícia não estava confirmada e já havia outro tipo de consequências: o valor das ações da Juventus disparava na Bolsa italiana.

Ainda e sempre, a "tensão na geringonça".Começa a ser um clássico de todas as estações. A três meses de mais um Orçamento do Estado (o último da legislatura) ser entregue no Parlamento, vai alta a tensão da "geringonça" (nome "afetuoso" - garante o pai do mesmo, o historiador Vasco Pulido Valente - com que se convencionou designar a atual solução governativa assente num acordo entre PS, PCP, BE e PEV), que é como quem diz o "esticar da corda" por parte de PCP e BE em relação a um PS que se refugia no argumento de que 'já falta pouco para a meta para deitar a perder três anos' de uma cooperação que muitos estranharam mas, verdade seja dita, quase todos entranharam. Terça-feira houve reunião entre António Costa e Jerónimo de Sousa (ah, quem me dera ser mosca!), e ontem o primeiro-ministro encontrou-se também com Heloísa Apolónia, dos Verdes (há duas semanas tinha sido com Catarina Martins). São encontros normais no âmbito da negociação política entre as forças políticas que apoiam o Governo, mas que à luz do acordo sobre as leis laborais (assinado por todos os parceiros menos pela CGTP), do braço-de-ferro entre os professores e o ministério da Educação, e dos protestos crescentes na Saúde ou nos transportes adquirem novos contornos. Marcelo continua a acreditar na concórdia, em nome do país. Rui Rio vinca o óbvio: o OE é um teste (o derradeiro) à geringonça. Eu tenho para mim que o jogo vai continuar a ser jogado até ao último momento, com eleições apenas em outubro de 2019 e não antes.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...

António Costa está em Maputo para uma visita de dois dias, a primeira de um"périplo" do primeiro-ministro a vários países da CPLP - algures, ainda não se sabe quando, há-de aterrar também em Luanda. Lembra o Público que há quatro anos que não havia uma cimeira bilateral Portugal/Moçambique. Nesta vão ser assinados dez acordos de cooperação.

O Princípe Aga Khan chega hoje a Portugal (fica até 11 de julho) para celebrar os seus 60 anos como líder espiritual da comunidade ismaelita. Vai ser recebido pelo Presidente da República e discursar na sala do senado da Assembleia da República. A "festa" leva até Lisboa 50 mil fiéis e vai provocar condicionamentos à circulação no Parque das Nações.

O Governo Regional da Madeira vai processar a TAP por considerar que sucessivos cancelamentos de voos da companhia para o arquipélago prejudicaram seriamente o turismo na região. Desde o início do ano que mais de 70 voos foram cancelados, afetando 10 mil passageiros. Miguel Albuquerque acusa a TAP de uma estratégia deliberada e vai exigir uma indemnização nos tribunais.

Nos Açores, a notícia é outra: há meses que quase não chove (!), em particular na Terceira. E a seca pode levar a uma queda de 30 a 40% na produção do leite.

Ontem um taxista agrediu um turista, alegadamente por o ter confundido com um motorista da uber. O cidadão, natural do Koweit, apresentou queixa e o Ministério Público é assim obrigado a abrir um processo. Neste contexto, tão pouco condizente com a imagem da Lisboa cosmopolita que Madonna escolheu para viver, importa recordar que o diploma que legaliza a atividade de plataformas como a Uber , que tinha sido vetado por Marcelo Rebelo de Sousa, será reapreciado na próxima semana no Parlamento.

A morte de Ricardo Camacho, dos Sétima Legião, consternou toda uma geração de portugueses e os jornais dão profuso eco disso mesmo. Na Blitz, Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão recordam o antigo companheiro.

...E LÁ FORA

Os números oficiais referem 113 mas podem ser mais, muito mais, as vítimas da erupção do vulcão do Fogo, na Guatemala. Os voluntários dos resgates estimam que o número possa subir até aos 3000.

Um casal britânico (ele 45 anos, ela 44) foi encontrado inanimado em Amesbury, no sudoeste inglês, e as análises clínicas provaram estar intoxicado com o agente químico Novichok, o mesmo que quase vitimou o russo Sergei Skripal e a sua filha Julia (numa localidade próxima) e abriu uma grave crise diplomática entre o reino Unido e a Rússia. Os dois cidadãos estão ainda em estado crítico. A unidade de contraterrorismo da polícia britânica está a investigar a "coincidência".

Hoje é dia de primárias no PP espanhol. Quase 70 mil militantes têm até às 20h30 para escolherem nas urnas o sucessor de Mariano Rajoy (que se demitiu da presidência do partido na sequência da moção de censura que derrubou o seu Governo, em maio). Há seis candidatos ao lugar mas a disputa das preferências do eleitorado deve centrar-se em Soraya Sáenz e Maria Dolores de Cospedal. Mais noticiário aqui e aqui.

Em Espanha ainda, o chefe do Governo Pedro Sanchez conseguiu passar um primeiro teste nas Cortes, ao fazer aprovar à segunda votação a nova direcção da RTVE. Os deputados do Ciudadanos abandonaram a câmara em protesto e o PP admitiu recorrer ao Constitucional mas, para já, a lista passou.

Uma mulher escalou a base da Estátua da Liberdade (30 metros de altura), em Nova Iorque, para protestar contra as leis da imigração, num gesto ainda mais simbólico por ontem ser 4 de julho, o dia em que se celebra o dia da independência de um país que não seria nada do que é sem os imigrantes que o fizeram.

AS MANCHETES DOS JORNAIS E REVISTAS

"Mortes em praxe de Braga sem solução na justiça" (Jornal de Notícias)
"Governo da Madeira processa TAP por danos no turismo" (Público)
"Megafraude em Braga. BCP perdoou 45 milhões mas Santander não cede" (i)
"Um ano à espera de um exame para despistar cancro no figado"(Diário de Notícias)
"Saco azul paga votos no PSD" (Correio da Manhã)
"PS quer impedir uso reiterado do período experimental" (Jornal de Negócios)
"Duelo de milhões nas casas de férias" (Visão)
"As estrelas das dietas" (Sábado)
"Viagem a uma galáxia quase sempre muito distante" (A Bola)
"CR Juve" (Record)
"Bissouma negociado" (O Jogo)

O QUE ANDO A LER E A VER

Estive recentemente no Alto Douro, região que desconhecia. Voltei de lá fascinada com a paisagem, a natural e a que o homem criou. E refiro-me não só aos terraços de xisto em que crescem as vinhas históricas, como ao maravilhoso rio tornado navegável à conta das barragens e dessa formidável obra de engenharia que são as eclusas. Há todo um mundo para lá do Pinhão - onde começa ou termina a maioria dos cruzeiros turísticos -, toda uma história - pouco divulgada - para conhecer. E meia dúzia de dias no local sabe a pouco. Daí que mal cheguei a casa tenha ido à estante buscar "Vindima", o primeiro romance de Miguel Torga, publicado em 1945, e durante muitos anos considerado - "injustamente", ajuizou Urbano Tavares Rodrigues - uma "obra menor" do consagrado autor que nos habituámos a conhecer (e estudar) através de "Bichos" ou "Contos da Montanha". É um retrato de um Douro marcadamente dividido ao meio entre senhores e empregados, ricos e pobres, que já não é o de hoje mas que o explica. E muito. Como o próprio Torga reconhece, num prefácio escrito para a edição inglesa do livro (43 anos depois da edição original): "Conhecer o passado ajuda às vezes a entender o presente".

Por coincidência, alguns dias depois, o zapping levou-me ao Porto Canal e ao programa "Caminhos da história", apresentado pelo historiador portuense Joel Cleto. Já tinha visto um ou outro episódio desta série que conta histórias menos conhecidas da nossa História. O de 23 de junho foi precisamente sobre "os rabelos e o barão de Forrester", um inglês que se perdeu de amores pelo Douro, gastou boa parte da sua fortuna a cartografar o percurso do rio e acabou, cruel ironia do destino, por morrer (em 1861) nas águas tumultuosas do cachão da Valeira, que ele assinalara precisamente como um dos pontos mais perigosos do percurso fluvial (e que só desapareceu com a construção da barragem da Valeira, em 1976).

E o Curto fica por aqui. Entre o passado e, sobretudo, o presente, os sites do Expresso, da SIC Notícias, da Tribuna e do Blitz dão-lhe as orientações de que precisa para não se perder no caudal noticioso de todos os dias. Tenha um dia bom e, se for o caso, boas férias (as temperaturas começam hoje a subir e há francas possibilidades de o verão se tornar mais... estival).

Portugal diz que cimeira da CPLP terá "um dos mais favoráveis quadros políticos" dos últimos anos


Lisboa, 04 jul (Lusa) -- O ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou hoje no parlamento que a próxima cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) terá "um dos mais favoráveis quadros políticos e diplomáticos", assinalando a "vontade de trabalhar em conjunto".

A conferência de chefes de Estado e de Governo da comunidade lusófona, marcada para 17 e 18 de julho na ilha do Sal, Cabo Verde, contará com um "quadro político e diplomático que é provavelmente um dos mais favoráveis das últimas cimeiras", considerou hoje Augusto Santos Silva, durante uma audição pela comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.

O ministro começou por notar que "todos os chefes de Estado e de Governo confirmaram a sua presença, o que não se verificava há muitos anos".

Augusto Santos Silva respondia a uma pergunta do deputado do CDS-PP João Gonçalves Pereira, que o questionara sobre as condições de realização da cimeira e se estão previstas medidas para a cidadania e mobilidade dos cidadãos lusófonos.

O ministro salientou que se "sente uma vontade de trabalhar em conjunto, seja do ponto de vista da agenda 2030 [Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, definidos pelas Nações Unidas], na influência internacional dos países de língua portuguesa, ou do ponto de vista do trabalho sobre o regime da mobilidade".

"Haverá declarações a ser aprovadas", disse.

Portugal e Cabo Verde, que assumirá agora a presidência rotativa da CPLP, têm insistido na necessidade de facilitar a circulação dos cidadãos lusófonos no espaço comunitário.

Dos 250 mil vistos emitidos em 2017 por Portugal, 51% "foram emitidos a cidadãos oriundos de países de língua portuguesa", referiu Santos Silva, que recordou que o decreto, aprovado na semana passada pelo Governo, que regulamenta a lei sobre entrada e saída de estrangeiros "facilita bastante a emissão de vistos designadamente para oriundos da CPLP que vêm para Portugal estudar".

"Temos feito esforços no sentido de facilitar a mobilidade", disse, mas defendeu que é possível "criar um regime de mobilidade próprio da CPLP que será de facto uma mudança considerável na forma como os cidadãos veem e podem beneficiar" da organização.

Cabo Verde acolhe, em 17 e 18 de julho, na ilha do Sal, a XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, cimeira que marca o arranque da presidência cabo-verdiana da organização.

Para a cimeira está confirmada a presença dos chefes de Estado dos nove países-membros da organização: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

A presidência cabo-verdiana da comunidade lusófona, que tem a duração de dois anos, terá como lema "Cultura, pessoas e oceanos".

JH (CFF) // VM

PM e PR timorenses decidem quinta-feira posse de segundo grupo de membros do Governo


Díli, 04 jul (Lusa) - O Presidente da República e o primeiro-ministro timorense reúnem-se na quinta-feira para decidir quem integrará o segundo grupo de membros do executivo que tomará posse esta sexta-feira ou na segunda-feira, disse à Lusa fonte da Presidência.

A mesma fonte, que explicou que a composição deste segundo grupo "só será definida na reunião" que o chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, e o chefe do Governo, Taur Matan Ruak, mantêm às 10:00 de quinta-feira (hora local, 02:00 em Lisboa).

Logo depois dessa reunião decorre um encontro do Conselho Superior de Defesa e Segurança que deverá aprovar a exoneração do brigadeiro-general Filomeno Paixão de Jesus do cargo de vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, antes deste ocupar o cargo de ministro da Defesa.

O VIII Governo começou a trabalhar quando ainda não estava completo e depois do Presidente não ter dado posse a 11 dos 41 membros propostos pelo primeiro-ministro Taur Matan Ruak.

Desde aí tem-se mantido o impasse com o Presidente da República a não ceder na posição do primeiro-ministro que mantém a intenção de que todos os 11 tomem posse.

Entre os nomes excluídos contam-se elementos centrais dos partidos da AMP e do organigrama do executivo, incluindo o ministro de Estado e Coordenador dos Assuntos Económicos e o ministro das Finanças.

A decisão de Lu-Olo levou Xanana Gusmão, líder da AMP, a informar que não tomava posse como ministro de Estado e Conselheiro do primeiro-ministro, tendo estado também ausente da cerimónia o ministro do Petróleo e Minerais, Alfredo Pires.

A previsão é que se houver acordo entre o chefe do Governo e o chefe de Estado possa haver uma nova cerimónia de tomada de posse "na sexta-feira ou na segunda", neste segundo caso na véspera de Lu-Olo partir para uma visita de Estado a Portugal e a Cabo Verde, para a cimeira da CPLP.

Até ao momento o Parlamento Nacional ainda não deu autorização necessária para que essas visitas ocorram, podendo a decisão de agendar a votação sobre o pedido do Presidente da República ser tomada na conferência dos líderes das bancadas na quinta-feira.

A autorização poderia, assim, ser votada na sessão plenária de segunda-feira.

ASP // SB

Moçambique | Autárquicas podem ter de ser adiadas


A Comissão Nacional de Eleições (CNE) adiou o início da receção de candidaturas. Analista diz que isto pode comprometer a realização das eleições autárquicas na data prevista, 10 de outubro.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) decidiu adiar o arranque, esta quinta-feira (05.07), do processo de receção de candidaturas às eleições autárquicas, previstas para 10 de outubro.

Segundo o porta-voz da CNE, Paulo Cuinica, "a decisão prende-se com a falta de uma lei processual, ou mesmo por via de uma lei supletiva, para operacionalizar os comandos constitucionais introduzidos pela revisão pontual da Constituição da República de Moçambique."

A revisão constitucional prevê um novo figurino eleitoral, em que, por exemplo, se introduz a figura de cabeça de lista para a escolha dos edis.

Desmilitarização em causa

A legislação que vai operacionalizar esta revisão constitucional devia ter sido aprovada pelo Parlamento numa sessão extraordinária, adiada recentemente a pedido da bancada da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

O partido no poder alegou a falta de progressos no processo conducente à desmilitarização, desarmamento e reintegração das forças residuais do maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).

Para a FRELIMO, não faz sentido que as próximas eleições decorram ainda com um partido armado.

Data das eleições comprometida

"O calendário eleitoral já está atrapalhado a partir do momento em que não podemos receber as candidaturas a partir desta quinta-feira", admitiu o porta-voz da CNE, falando a jornalistas. "O primeiro impacto é este, de termos que não receber as candidaturas, o que significa que todos os atos subsequentes terão que ser recalendarizados."

Por seu turno, o analista Tomás Vieira Mário considera mesmo que, "se este adiamento se prolongar por mais uma semana, as eleições ficam seriamente comprometidas por falta de tempo."

Como ultrapassar a situação?

Ainda assim, o porta-voz da CNE, Paulo Cuinica, sublinhou na conferência de imprensa que "mal a CNE tenha uma lei processual, avança na recalendarização. Dependendo do dia em que a lei for aprovada, isso é que irá nos permitir ver se conseguimos ainda realizar as eleições autárquicas no dia 10 de Outubro ou não."

O analista Tomás Vieira Mário diz que a única forma de evitar um adiamento é "que a Assembleia da República se reúna e faça a revisão da legislação eleitoral". Não pode haver eleições com legislação antiga, inconstitucional, sublinha Vieira Mário.

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

Moçambique | PGR diz que não pode tolerar atos de corrução, mas tolera


PGR, que é incapaz de condenar os grandes corruptos, diz que Moçambique não pode tolerar actos de corrupção

 Adérito Caldeira | @Verdade

A PGR, Beatriz Buchili, que há cerca de 2 anos de investigações tem sido incapaz de encontrar a evidente corrupção no caso das dívidas ilegais da Proindicus, EMATUM e MAM ou condenar os corruptos identificados nos casos Embraer e Odebrecht disse nesta terça-feira (03) que os moçambicanos não podem “ser uma sociedade tolerante à corrupção”!

“A nossa aposta é que não podemos ser uma sociedade tolerante à corrupção, onde um automobilista que viola as normas oferece valores ao agente de trânsito para que nada lhe aconteça, uma sociedade onde um agente económico viola as normas sobre a actividade que desenvolve, oferece valores ou outros favores ao inspector para não ser penalizado”, começou por afirmar a Procuradora-Geral da República durante a abertura da conferência sobre a intervenção do Estado, da Sociedade, e do Direito, no Combate a Corrupção.

Buchili disse que “a sociedade não pode ser tolerante à corrupção, onde um cidadão tem a convicção de que precisa de oferecer algo a um servidor público para que a sua pretensão seja satisfeita, ou obtenha tratamento célere”.

“A experiência mostra que é necessário que os cidadãos conheçam as condutas que configuram ilícitos criminais, bem como os mecanismos de prevenção e de combate, para contribuírem no estabelecimento de uma sociedade livre da corrupção”, referiu a guardiã da legalidade em Moçambique.

Segundo a PGR os comportamentos corruptos devem ser expurgadas da sociedade mediante “participação” pelos funcionários e agentes do Estado, mas também pelos cidadãos que presenciam ou tomam conhecimento das referidas práticas.

Concluindo o seu discurso, na conferência que junta académicos, especialistas das áreas jurídicas e empresarial e é promovida pela PGR, numa iniciativa conjunta com o Instituto Camões e União Europeia (UE), no âmbito do Projecto de Apoio à Consolidação do Estado de Direito nos PALOP (Países africanos de Língua Portuguesa) e Timor – Leste (PACED), Beatriz Buchili declarou ainda que a sociedade é que molda o Homem, sendo por isso crucial que se encontrem melhores formas para o seu maior envolvimento no combate a corrupção.

São paradoxais estas afirmações da Procuradora-Geral da República que nas suas mãos o maior caso de corrupção de sempre da história de Moçambique - o caso das dívidas ilegais da Proindicus, EMATUM e MAM - mas apesar de todas evidências materiais até hoje não conseguiu sequer pronunciar um único suspeito.

Estão também nas mãos de Beatriz Buchili há cerca de 2 anos os casos de corrupção na compra de aviões Embraer, pelas Linhas Aéreas de Moçambique, assim como os subornos declarados pela Odebrecht, construtura do Aeroporto de Nacala, e até hoje nenhum dos importantes funcionários e agentes do Estado denunciados foi condenado.

Haja moral para afirmar que a sociedade moçambicana é tolerante à corrupção!

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Angola | 27 DE JUNHO EM CALUEQUE – I

Martinho Júnior | Luanda 

A batalha do Cuito Cuanavale estendeu-se durante 11 meses (entre Julho de 1987 e Junho de 1988) em toda a Frente Sul das FAPLA, abrangendo sobretudo as províncias do Cuando Cubango, Huila e Cunene… todavia, o soco da mão direita a que se referiu o Comandante Fidel de Castro (como o boxeur que com a mão esquerda o mantém e com a direita o golpeia” –https://resistir.info/cuba/cuito_cuanavale.html), no lado africano do Atlântico Sul está aparentemente meio-apagado da corrente da memória, pelo que não se comemorou em Angola, conforme a dignidade assim o determina, o histórico 27 de Junho de 1988 em Calueque, 30 anos depois do acontecimento!...

1- A partir de Março de 1988, fez agora trinta anos, as forças das FAPLA, das FAR (Forças Armadas Revolucionárias, de Cuba) e do PLAN (o braço armado da SWAPO da Namíbia), desencadearam uma poderosa ofensiva a partir do sul da província da Huila e em direcção à fronteira, com o propósito de vencer em definitivo a presença do “apartheid” em Angola e na Namíbia ocupada, obrigando a África do Sul a sentar-se à mesa de conversações…

Essa ofensiva visou taticamente “desempatar” a situação a leste dos dispositivos militares angolanos no Triângulo do Tumpo e foi projectada para, geo-estrategicamente e tirando partido da superioridade aérea (invertendo a correlação de forças), dar um sinal claro ao “apartheid” que iria sofrer pesadas consequências, ainda que tivesse em sua posse seis bombas atómicas para despejar sobre as forças que compunham a aliança em prol do Movimento de Libertação Nacional em África, se não entendesse que era premente para as instituições racistas sul-africanas encontrar soluções políticas de fundo em toda a África Austral e na própria África do Sul.

Nunca antes do “soco” em Calueque, as South Africa Defence Forces haviam experimentado tantas contrariedades juntas, contrariedades que seriam as definitivas e conduziriam ao próprio fim do “apartheid”!

Os conceitos operacionais aplicados em toda a Frente Sul das FAPLA, correspondem a um projecto integrado de ofensiva de que alguns historiadores fiáveis transmitem a noção, todavia os “lavadores da história” trinta anos mais tarde, imbuídos de ideologias neoliberais, social-democratas ou cristã-democratas, reinterpretam a ofensiva polvilhando o terreno onde se registaram o encadeado de acontecimentos, em sucessivas batalhas (Cuito Cuanavale, Triangulo do tumpo, Calueque, Tchipa, Ruacaná…), como se cada uma das acções não resultasse dum processo integrado de conceitos.

É evidente que com isso dão cobertura a interesses que derivam de interpretações elitistas e estruturalistas que ficaram como resíduos umbilicalmente presos ao colonialismo e ao “apartheid”, desde as estimuladas pelo “Le Cercle” até às derivadas do Exercício Alcora e fazem o jeito de “aproximar-se” às interpretações dos historiadores sul-africanos que apenas se circunscreveram aos combates do perímetro do sudeste angolano, seguindo a trilha e a perspectiva das South Africa Defence Forces!

É evidente que esse tipo de sagas que demonstram quão longe progrediram os processos de assimilação em Angola desvirtuando sua própria identidade, é o que mais interessa ao cartel dos diamantes, pelas mesmíssimas razões, corroborando a sua iniciativa expressa nos projectos transfronteiriços do KAZA-TFCA (https://www.kavangozambezi.org/index.php/en/)!

2- A 23 de Março de 2013 o Cubadebate publicou uma incontornável síntese analítica do historiador Piero Gleijeses sobre a batalha do Cuito Cuanacale de acordo com a visão integrada de toda a Frente Sul das FAPLA, onde duma assentada se reflete sobre a correlação de forças em termos políticos, diplomáticos, de geoestratégia militar e de inteligência, que redundaram na derrota definitiva do “apartheid” institucional (http://www.cubadebate.cu/opinion/2013/03/23/cuito-cuanavale-batalla-que-termino-con-el-apartheid/#.VvgGFj72Zy0)!


Em relação ao 27 de Junho de 1988, Piero Gleijeses foca, como em toda a sua investigação, fundamentada e esclarecidamente os acontecimentos da ordem de batalha em sua época.

… “La gran pregunta era: ¿se detendrían los cubanos en la frontera?

Para obtener una respuesta a esta pregunta, Crocker fue a buscar a Risquet: ¿Cuba tiene la intención de detener su avance en la frontera entre Namibia y Angola?

Risquet contestó: si yo le dijera que no van a detenerse yo estaría profiriendo una amenaza. Si yo le dijera que van a detenerse yo le estaría dando un meprobamato y yo ni quiero amenazar ni quiero darle un calmante, lo que he dicho es que solo los acuerdos sobre la independencia de Namibia pueden dar las garantías.

Al día siguiente, 27 de junio de 1988, MIG cubanos atacaron posiciones de las SADF cerca de la presa de Calueque, 11 kilómetros al norte de la frontera de Namibia.

La CIA informó que: la manera exitosa con que Cuba ha utilizado su fuerza aérea y la aparente debilidad de las defensas antiaéreas de Pretoria subrayaban el hecho de que la Habana había logrado la superioridad aérea en el sur de Angola y en el norte de Namibia.

Unas pocas horas después del ataque exitoso de los cubanos, las SADF destruyeron un puente cercano a Calueque sobre el río Cunene.

Lo destruyeron —la CIA opinó— para dificultar a las tropas cubanas y angolanas el cruce de la frontera con Namibia y para reducir el número de posiciones que deben defender.

El peligro de un avance cubano sobre Namibia nunca antes había parecido tan real.

Los últimos soldados sudafricanos salieron de Angola el 30 de agosto, cuando los negociadores ni siquiera habían empezado a discutir el cronograma de la retirada cubana de Angola”…


3- Como as SADF sentiram a progressão das FAPLA, das FAR e do PLAN no braço oeste da Frente Sul angolana?

Como sentiram o golpe da aviação em Calueque?

Constate-se, por exemplo, aqui, entre as “heroicas” mas afinal tão improdutivas bravatas do costume (https://mobile.facebook.com/southafricanlegion/photos/a.145635755606165.1073741836.142385935931147/302881963214876/?type=3):

“27th June is a tragic day on the South African Military calendar, here Trooper Gregory Scott from 2 Special Service Battalion comes home. he and 11 other SADF men where Killed in Action during the Calueque Dam attack, here he is been loaded with full military honours onto a transport aircraft for the trip home.

On the 27th June 1988, a combined Angolan FAPLA-Cuban force launched an unexpected ground attack against the Calueque Water Scheme SADF positions, close to the South West Africa/Namibia and Angola border. This was followed shortly thereafter by an air attack with MiG fighters.

The ground attack was halted by a combined SADF and SWATF protection force. However, the first wave of enemy aircraft bombed the bridge and sluice gates, killing a South African soldier in the process. Another wave of Migs bombed the pump and generator station, while a third strike destroyed the water pipeline to Ovamboland.

Significantly and tragically a SADF Buffel troop carrier suffered a direct hit by one of the bombs, killing all aboard. An Eland 90 Armoured Car was also hit by a bomb, killing the crew.

Twelve SA soldiers and more than 300 Cuban and Angolan soldiers died in the two skirmishes.

Let us always remember our fallen brothers in arms, the brave South Africans killed in action on this day were:

80468341BG Lieutenant Noah Tucker of 8 SAI. He was 23.

84247501BG Corporal Ewert Phillipus Koorts of 8 SAI. He was 19.

84481994BG Lance Corporal Johannes Reinhard Gerhardus Holder from the SA Medical Corps attached 8 SAI. He was 19.

84241694BG Rifleman Johannes Mattheus Strauss Venter of 8 SAI. He was 19.

8448141BG Rifleman Thomas Benjamin Rudman of 8 SAI. He was 20.

84458074BG Rifleman Phillipus Rudolph Marx of 8 SAI. He was 19.

84382407BG Rifleman Michael John van Heerden of 10 Armoured Car Squadron. He was 19

85434181BG Rifleman Andries Stephanus Johannes Els of 8 SAI. He was 19.

84450683BG Lance Corporal Wynand Albert van Wyk of 1 SSB Attached 10 Armoured Car Squadron. He was 19.

84246024BG Trooper Gregory Scott of 2 SSB Attached 10 Armoured Car Squadron. He was 19.

84432756BG Trooper Emile Erasmus of 10 Armoured Car Squadron. He was 20.

85445708BG 2/Lieutenant Muller Meiring of 61 Mechanised Battalion was Killed in Action North East of Calueque. His Ratel received a direct hit by a Soviet PG-7 Anti-Tank Rocket on the Commanders position, killing him instantly. He was 19.

Lest we forget.

A special thank you to Graham Du Toit for the Honour Roll and his tireless work to keep the veterans community in remembrance of those who went before us”.

É evidente que o “apartheid” na “border war”, entre outros contenciosos que marcavam a sua retumbante derrota, já nada mais podia justificar perante aqueles que mobilizavam a “carne para canhão” de tão insustentável aventura, o próprio Partido Nacional!...

Continua

Martinho Júnior - Luanda, 1 de Julho de 2018

Imagens:
Mapa da Frente Sul das FAPLA, de acordo com “Cuito Cuanavale revisitado” – https://resistir.info/cuba/cuito_cuanavale.html;
Aeródromo da Cahama – conjuntamente com a pista de Xangongo, serviu de base operacional para os MIG 23, junto à fronteira sul, ganharem o domínio do espaço aéreo inclusive no norte da Namíbia ocupada pelo “apartheid”;
Mapa das South Africa Defence Forces no norte da Namíbia ocupada;
Blindado Ratel atingido por bombardeamento de MIG 23 em Calueque, no dia 27 de Junho de 1988;
Honras militares no embarque do corpo de um dos militares sul-africanos mortos durante o bombardeamento dos MIG 23 e Calueque.

Portugal - Angola | Há (mesmo) muito mais vida para lá do… “irritante”


A propósito da contínua e acelerada peregrinação de políticos portugueses a Angola, o Folha 8 está a publicar a opinião de alguns reputados especialistas. Depois do Professor Universitário e Deputado da UNITA eleito pelo Círculo Eleitoral Provincial de Cabinda, Raul Tati, segue-se a de Eugénio Costa Almeida, Investigador angolano do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL).

«O Jornal Folha 8, convidou-me a elaborar uma análise àquilo que denomina de «correria de políticos portugueses a Angola», recordando, por certo, as recentes viagens dos dois líderes oposicionistas portugueses, em contraponto a, até há pouco, nenhuma – pelo menos oficial – de membros do Governo português.

Até há pouco, porque por quando da visita da líder do CDS-PP, Assunção Cristas, na mesma data, o Ministro da Defesa português esteve em Luanda, em visita oficial, naquela que foi a primeira desde, como recordamos, a visita de uma personalidade portuguesa oficial, que ocorreu com a ida do Presidente Professor Marcelo Rebelo de Sousa – o Ti Celito – por quando da tomada de posse presidencial, do Presidente João Lourenço.

Depois disso, e, em grande parte, devido ao processo jurídico – que decorria em Portugal, por causa de uma eventual acusação de corrupção – que impelia sobre o antigo Vice-presidente Manuel Vicente, houve um completo deserto de contactos oficiais.

Até com a exoneração (por rotação diplomática) do embaixador de Angola, em Portugal, levou que o nosso indigitado representante estivesse em suspenso, sendo que só, recentemente, recebeu indicações para entregar as suas credenciais em Lisboa.

Tudo, repito, devido a uma “irritante” situação que era o processo jurídico que ocorria sobre o engenheiro Manuel Vicente.

Em Maio passado, o Tribunal de Relação de Lisboa, decidiu reconhecer a imunidade do antigo Vice-presidente e ordenar o envio do processo, como Luanda sempre o exigiu, aos Tribunais angolanos a quem reconheceu idoneidade para o julgar e, caso disso, o condenar.

Foi a “libertação” das “suspensas” relações oficiais entre os dois países. A partir daí, começou o corrupio.

Só que, ao contrário do que se pensava, e do que, por certo, pensaria o Governo português, não foi o primeiro-ministro luso o primeiro contemplado com o convite par ir – de imediato – a Luanda.

Note-se, nem o primeiro-ministro português, nem ninguém, em especial, “exceptuando” o Ministro da Defesa luso, Azeredo Lopes, que foi a Angola no âmbito dos acordos de cooperação militares que existem entre os dois Países e que implicava a assinatura do Programa-Quadro de Cooperação para 2018-2021.

Acabou por ser notícia oficial porque o Ministro português foi recebido no Palácio da Cidade Alta pelo Presidente João Lourenço que, até à sua nomeação e tomada de posse, era o então Ministro da Defesa de Angola e, como tal, conhecia e conhece bem os dossiês sobre a Defesa Nacional, além de, principalmente, com a recepção – de cerca de uma hora, creio, e de surpresa, dado não estar programada, – ao Ministro Lopes, deu, digamos, o pontapé na crise institucional entre os Governos dos dois Países.

Que me recorde, foi, até agora, a única presença de um membro oficial do Governo português em Angola…

Mas se esta é e foi a única visita oficial de representantes de São Bento (palácio-sede do Governo português, liderado por António Costa), já a nível privado e partidário a Oposição tem seguido a habitual linha que sempre a caracterizou: visitar sem pruridos e sem se preocupar com quem está no Poder, Angola e as instituições públicas privadas angolanas.

Foi assim, como iniciei, com a primeira visita não-oficial da líder do CDS-PP, na oposição, a luandense Assunção Cristas – aproveitou para (re)conhecer a idade que a viu nascer e de quem terá recebido o nome, Assumpção, – em Maio, quase em simultâneo com a decisão do Tribunal de Relação de Lisboa, sobre o caso do engenheiro Manuel Vicente –; felizmente que acredito em coincidências, caso contrário, iria dizer que a Justiça estava em conluio com a Política, tal o dito e perfeito sincronismo de datas…

Mas antes de entrar nestas visitas e – porque é importante dada as boas relações entre a direita portuguesa e o MPLA – o que elas, normalmente representam em teros partidários (e oficiais e oficiosos), recorremos uma frase, que retenho de memória, do primeiro Presidente de Angola, Dr. António Agostinho Neto (1922-1979), em que dizia preferir falar e negociar com os partidos de direita portugueses do que com os da esquerda, porque aqueles não (con)tinham, ainda, os pruridos da descolonização e de temerem que, quaisquer relações, pudessem ser vistas como ingerência ou interferência nos assuntos internos de Angola; ou seja, e ele chegou arreferir isso, já tinham passado os traumas da descolonização e não viam que as relações implicassem uma eventual neocolonização como pareciam ver e manter os partidos de esquerda portugueses.

Por isso, talvez, que as relações entre a direita portuguesa e o MPLA – oficialmente, um movimento/partido de esquerda e que pertence à Internacional Socialista – foram sempre amplas, descomplexadas e, digamos, livres.

É certo que, oficiosamente – digamos assim – dois importantes factos contribuíram, de facto, para este “alinhamento”: Bicesse (estava em Portugal um governo de direita liderado por Cavaco Silva e que tinha como interlocutor o então Secretário de Estado da Cooperação, Durão Barroso) e o apoio que o “então” PS português dava à UNIAT e ao Dr. Jonas Malheiro Savimbi (à época, o inimigo dos sucessivos Governos angolanos do MPLA).

Ora, depois a visita de Assunção Cristas, considerada importante e muito proveitosa, e que esta recordou que, apesar de ter se encontrado com as 3 maiores organizações políticas de Angola, com assento parlamentar, MPLA, UNITA e CASA-CE, servir para mostrar e realçar a “preocupação do seu partido em situar o relacionamento este com os três maiores partidos em Angola, ao nível do próprio relacionamento entre Estados”, também não deixou de recordar que as relações entre o CDS-PP e o MPLA sempre foram boas, principalmente, desde que estas começaram a ser efectivas com a visita do então líder do CDS-PP Paulo Portas – e reforçadas quando este foi ministeriável – e solidificadas com a primeira participação de um representante oficial do CDS-PP, Hélder Amaral. num Congresso do MPLA, em Agosto de 2016.

Como na altura Assunção Cristas se justificou, por esta presença, no primeiro convite que o CDS-PP alguma vez havia recebido por parte do MPLA, – e, no meu entender, deve ser mesmo assim, gostemos ou não, – “o que está aqui em causa é o aprofundar de relações entre países em prol dos portugueses, das empresas que exportam para Angola, dos portugueses que vivem em Angola”. E a visita agora, serviu, espera, que seja, não só “uma voz do estabelecimento de pontes, da concórdia, de um clima positivo entre os dois países e isso também se faz dialogando com os vários partidos, cada um nas posições que ocupa” como ajudar com a sua experiência e conhecimento, segundo Raul Danda, à “realização das primeiras eleições autárquicas, previstas para 2020, e o assunto sobre o repatriamento de capitais”.

Ora, como se sabe, as relações oficias entre os dois Estados já começava a sentir efeitos do processo sobre o engenheiro Manuel Vicente…

Depois, da visita de Cristas, ocorreram várias visitas de políticos e políticos-empresários portugueses a Angola.

A última, e uma vez mais, com ressonância em Portugal, foi do líder do maior partido oposicionista português, PPD-PSD, Rui Rio.

Segundo rezam as estórias – na política portuguesa são mais as estórias que as histórias – Rui Rio terá ido a Luanda, de surpresa, nas palavras do comentador político residente da SIC e antigo líder do PSD.PP; Marques Mendes, e sem conhecimento ou aviso prévio ao primeiro-ministro português – uma vez mais viu-se preterido temporalmente por terceiros e Rio terá firmado que não disse nem teria de dizer nada a António Costa –, tratar das relações, contribuir e ajudar para que “as relações entre Angola e Portugal possam melhorar”.

Pois, tal como Cristas, também Rio, que, ao contrário daquela, terá tido relações com o Presidente João Lourenço e com o presidente do MPLA (presumo, José Eduardo dos Santos), considera que o “simbolismo” dos encontros, evidenciando que isso é “bom para o PSD”, mas “acima de tudo, bom para Portugal” até porque, segundo Rio, estes encontros, nomeadamente com João Lourenço, servirão para “que as relações entre Angola e Portugal têm agora uma “estrada aberta” pela frente”.

São mais as estórias que as histórias que estes rodopios de políticos portugueses em Angola nos contam.

E se tivermos em linha de conta que nos corredores da política portuguesa correm estórias – uma vez mais – que a ancestral amizade pessoal entre Rio e Costa, do tempo que eram líderes camarários das duas principais urbes portuguesas os levará à (re)criação– caso o PS ou o PSD não obtenham maioria absoluta nas próximas eleições – do Bloco Central, alguém acredita que Costa não soube mesmo e antecipadamente desta visita? E que, repetindo, ao contrário de Cristas, Rio foi recebido na Cidade Alta só porque há uma boa e antiga relação entre o PPD-PSD e o MPLA? Para isso, bastava as conversas com Eduardo dos Santos.

Não terá sido mais um secretário particular a preparar a próxima e primeira visita oficial de António Costa a Angola?

Estórias de rodopios que a História, um dia, clarificará!

Mas há algo, e importante, que devemos ter em linha de conta nas relações entre Angola e Portugal, ou entre organizações políticas e empresariais (e seus representantes) angolanas e portuguesas.

Independentemente dos oportunismos, políticos, económicos e sociais que existam – e existem – nestas visitas meio-públicas, meio-privadas, e políticos e políticos-empresários a Angola;

Independentemente das críticas que façamos – e temos de fazer, pelo menos, nós enquanto angolanos – quanto à opacidade das, ou de muitas, políticas governativas que o MPLA tem praticado – a esperança é que o Presidente João Lourenço consiga levar por diante as suas reformas, não só governativas, como, e principalmente, partidárias, caso seja eleito presidente do MPLA – seja a nível nacional ou local;

Independentemente de tudo isto – u talvez por causa disto – a verdade é que estas visitas servem par mostrar algumas realidades que, por certo, não seriam realçadas se não as houvessem.

É que, além das conversas com o partido maioritário e com membros governativos, os “visitantes” lusos têm mantido conversas com os partidos da Oposição nacional – apesar de quase inócuos, muitas vezes, até pela sua menoridade representativa a nível da Assembleia Nacional, eu quero acreditar que são Oposição e querem trabalhar e batalhar como tal – permitindo que certos aspectos e problemas políticos e sociais angolanos – até porque a comunicação social os acompanha – sejam partilhados para o exterior, ajudando, como se deseja, o país a se desenvolver social e politicamente dentro de uma Democracia plena estável e robusta.

Para isso, que as visitas – sejam dos políticos portugueses, sejam de outras nacionalidades, – não se cinjam às TV´s e aos seus interesses partidários internos, mas para ajudar, como Cristas o afirmou na sua visita, ajudar

E, finalmente, não esquecer que as relações entre Estados são sempre as mais importantes e predominantes e que as relações inter e intrapartidárias devem suprir, sempre e unicamente, aquelas.

Para isso, convém que estas, as relações inter e intrapartidárias não sirvam de e como veículo de propaganda política portuguesa à custa de passeios e rodopios por países terceiros, no caso, e porque está na linha da frente e porque é palco de vários encontros políticos e económicos internacionais: Angola.

Angola precisa de viajantes e de muito rodopio e correrias de visitantes sim, mas de turistas que ajudem a desenvolver uma das mais importantes indústrias deste século e de criação de muita mão-de-obra: o turismo.

Mas, não é o deste tipo e correrias e rodopio: políticos portugueses em Angola para consumo interno português!»

Nota: O autor é Investigador angolano do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL); Doutorado em Ciências Sociais, na especialidade de Relações Internacionais, pela UL-ISCSP; e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto e um dos mais credenciados especialistas em assuntos africanos, nomeadamente lusófonos.

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