domingo, 16 de setembro de 2018

Como se prepara o novo terremoto financeiro


Dez anos depois da crise de 2018, ex-premiê britânico expõe os ingredientes fatais: bancos sem controle, Estados e sociedades devastados pela “austeridade”, descoordenação global e disputa Ocidente X China

Gordonn Brown, entrevistado por Larry Elliott, no Guardian | Outras Palavras | Tradução: Inês Castilho 

Um mundo sem líderes avança como sonâmbulo para a repetição do colapso econômico do fim de 2008 e inicio de 2009 — porque falhou em remediar as causas da crise financeira de uma década passada – alertou o ex-primeiro ministro Gordon Brown. Primeiro-ministro britânico durante o período em que o colapso do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers colocou todos os maiores bancos em risco, ele disse que após uma década de estagnação a economia global está agora se dirigindo para uma década de vulnerabilidade.

Falando ao Guardian de sua casa na Escócia, Brown fez uma análise contundente de como os grandes problemas de 2009 permaneceram sem solução, e afirmou ser necessária uma ação muito mais dura para evitar fraudes por parte dos banqueiros.

Brown foi fundamental na criação do G20 – um órgão formado pelas principais nações desenvolvidas e em desenvolvimento do mundo –, mas disse que a cooperação que ajudou a evitar uma segunda Grande Depressão foi substituída por um mundo no qual os países refugiaram-se em silos nacionalistas. “Corremos o perigo de caminhar como sonâmbulos para um crise futura”, disse Brown, quando lhe pediram para avaliar os riscos de uma repetição de 2008. “Terá de haver um severo despertar para a escalada dos riscos, mas estamos num mundo sem líderes”.

O ex-primeiro ministro, que liderava um governo trabalhista e perdeu as eleições de 2010 após a recessão mais longa e profunda da era pós-guerra da Grã-Bretanha, disse haver agora menos espaço para reduzir as taxas de juros do que há dez anos, nenhuma evidência de que os ministérios das finanças teriam permissão pra cortar impostos ou aumentar gastos públicos e nenhuma garantia de que a China seria tão ativa na oferta de estímulos.

“A cooperação que foi vista em 2008 não seria possível numa crise pós-2018, tanto em termos de bancos centrais como de governos trabalhando juntos. Teríamos um exercício de transferência incessante de culpas, em vez de respostas ao problema”. À luz da guerra comercial lançada pelos EUA contra Pequim, Brown duvidou que a China fosse tão cooperativa numa segunda vez. “O protecionismo de Trump é a maior barreira para construir a cooperação internacional”, disse.

Depois de suceder Tony Blair no cargo de primeiro ministro, em junho de 2007, Brown teve apenas uma curta lua de mel antes e surgirem os primeiros sinais de problema. Ele disse que ainda falta, na economia global, um sistema de alerta precoce para monitorar os fluxos financeiros, capaz de informar o que foi emprestado, para quem, e em quais termos. “Temos lidado com as pequenas coisas, não com as grandes”, disse ele.

Brown admitiu que o trabalhismo deveria ter sido mais duro contra a City (o centro financeiro global situado em Londres), nos anos de expansão que levaram à crise. “Nós não sabíamos o que estava acontecendo em várias instituições, algumas delas ilegais e que estavam sendo acobertadas”. Mas insistiu em que o clima na época era de desregulamentação ainda maior das finanças. “Eu era criticado por ser muito duro em termos de regulação e impostos”.

Desde a crise, os bancos foram forçados a reservar mais capital para proteger-se contra possíveis perdas, e introduziu-se um sistema de restituições de bônus, para dissuadir os banqueiros de assumir muitos riscos. Mas Brown disse que as ações contra as piores práticas financeiras não foram suficientemente duras, e os bancos esperam ser novamente socorridos no caso de uma futura crise. “As penas para fraudes não aumentaram suficientemente. Os banqueiros não têm medo de ser presos por mau comportamento. Não se enviou mensagem forte o suficiente de que o governo não irá resgatar instituições que não colocaram a casa em ordem.”

A crise de 2008 teve raízes no mercado imobiliário dos EUA, quando os prejuízos sofridos pelas hipotecas subprime espalharam-se como dominó no interior do sistema financeiro global, até levar ao colapso do banco financeiro norte-americano Lehmans Brothers [em 15 de setembro de 2008]. Brown disse que da próxima vez a causa seria diferente. “É muito difícil dizer o que irá dispará-la [a próxima crise], mas estamos no final do ciclo econômico em que as pessoas assumem riscos maiores. Há problemas nos mercados emergentes.”

Brown disse que uma área de preocupação deve ser o pesado crédito comercial e industrial oferecido por bancos-sombra pouco ou nada regulados, num momento em que as taxas de juros dos EUA estão subindo. “[A crise] Pode surgir na Ásia, por causa da quantidade de empréstimos no sistema bancário paralelo”. O ex-primeiro-ministro do Reino Unido acrescentou: “Num mundo interconectado há uma escalada dos riscos. Tivemos uma década de estagnação e agora estamos próximos de uma década de vulnerabilidade”.

Recordando a paralisia dos mercados financeiros, uma década atrás, Brown disse que os governos tentaram compensar a falta de confiança entre os bancos cooperando mais de perto. “Na próxima crise, um colapso da confiança no sistema financeiro seria ampliado pelo colapso da confiança entre os governos. Não haveria a mesma vontade de cooperar, mas sim uma tendência a culpar um ao outro pelo que deu errado.

“Os países se retraíram em silos nacionalistas, e isso nos trouxe o protecionismo e o populismo. Problemas que são globais, assim como nacionais e locais, não estão sendo enfrentados. Os países estão em guerra uns com os outros sobre comércio, mudanças climáticas e proliferação nuclear.” Brown foi contundente a respeito das políticas de “austeridade” perseguidas pela coalizão que assumiu o poder depois dele perder as eleições de 2010. “A ‘austeridade’ baseava-se numa análise de que a causa da recessão global era o alto nível de dívida pública, ao invés da ação irresponsável do sistema financeiro. Ninguém que tivesse olhado para o problema seriamente chegaria a essa conclusão, mas os conservadores mantiveram tal postura durante cinco anos.”

O problema, acrescentou Brown, não foi que o governo tomou mais emprestado para impulsionar o crescimento, mas que o estímulo não foi grande o suficiente. “Nós subestimamos o poder da política fiscal por causa de uma aversão a déficits e dívida. Voltamos a crescer rapidamente, mas não pudemos sustentar o crescimento por causa da consolidação fiscal excessivamente rápida. Saímos da recessão em 2009 mas voltamos a ela em 2011. Por que? A retirada de apoio do governo nos custou empregos e prosperidade, mas também a capacidade de reduzir o déficit no longo prazo.”

Indagado se a atual primeira-ministra, Theresa May, concordava com a análise de Brown, seu porta-voz disse, na quinta-feira: “Não. Desde 2008 nós construímos um dos sistemas regulatórios mais robustos no mundo, projetado especificamente para garantir estabilidade financeira e proteger os contribuintes”. Questionado se o Reino Unido não sofreria consequências adversas, mesmo com o possível afrouxamento da regulamentação nos EUA, o porta-voz disse: “Nos últimos anos, reformamos a regulamentação da City e implantamos um sistema incrivelmente robusto, um dos mais robustos do mundo, certificando-nos ao mesmo tempo de que é globalmente competitivo. Tomamos medidas para nos certificar de que nosso sistema é resiliente e robusto.”

No pasarán!


Afonso Camões* | Jornal de Notícias | opinião

O Parlamento Europeu arreganhou os dentes, esta semana, ao votar contra Viktor Orbán, o racista primeiro-ministro húngaro. O cartão amarelo pode não produzir efeito, mas sinaliza a mais importante fratura que marcará as eleições europeias de maio. Porque estão em causa valores que são os alicerces da União e sem os quais não haverá Europa. O assunto também é connosco e a campanha já aí está.

Há anos que a extrema-direita europeia procurava uma narrativa comum, e está a tecê-la à volta da xenofobia e do populismo eurocético. São partidos diversos, com posições que vão desde o ultranacionalismo ao neonazismo. Governam em Itália, Hungria e Polónia, e condicionam a agenda política de uma dezena de países da União. É preciso travá-los. Porque ceder-lhes, ou insistir em ignorar as razões do seu crescimento, é antecipar o colapso do projeto europeu.

Ensina a História que só há concorrência ou conflito na disputa de bens escassos. E a soberania é um deles, todos a querem. Quem a não tem ou não tem o suficiente, deseja tê-la por inteiro. E quem a tem inteira, ou julga tê-la, angustia-se no receio de a perder - progressiva e inexoravelmente. A soberania tem capatazes e respetivos cães pastores: são os estados. Os mais possessivos estão condenados a cedê-la e até perdê-la, aos solavancos e de empurrão, na medida em que não estejam dispostos nem preparados para partilhá-la. Quando os estados a partilham, em vez de somar multiplicam. Ao contrário, é o conflito, por vezes a guerra. Ora, se há instituição de larga trajetória (a caminho dos 61 anos de estabilidade, paz e prosperidade) no exercício de partilhar, esta é a União Europeia. A "maravilhosa construção jurídica e política" é em si mesma uma experiência única. Mas tem deixado acentuar desigualdades e revela sinais de inquietante fraqueza e divisão na forma como reagiu aos anos de chumbo, com as intervenções da troika, com a crise do euro e das dívidas soberanas, ou com a persistente incapacidade de gerir, com dignidade e no respeito pelos direitos humanos, a crise migratória.

*Diretor do JN

Pedofilia | Dalai Lama tinha conhecimento de abusos de mestres budistas desde os anos 90


Revelação foi feita num canal de televisão holandês e é uma reação a um grupo de alegadas vítimas de monges

Dalai Lama, líder espiritual tibetano, reconheceu este sábado, pela primeira vez, que tinha conhecimento desde os anos 1990 de casos de abusos sexuais cometidos por mestres budistas.

Dalai Lama está de visita à Holanda e numa entrevista à televisão pública NOS admitiu que sabia há várias décadas de casos de abusos por parte de professores budistas e que em 1993 chegou a discutir o assunto com líderes budistas ocidentais.

A declaração surge um dia depois de o líder espiritual, de 83 anos, ter recebido testemunhos escritos de 12 supostas vítimas de abusos físicos e psicológicos por parte de vários professores budistas tibetanos.

Na sexta-feira, o Dalai Lama esteve reunido cerca de 20 minutos com quatro representantes do grupo de vítimas, que pediram para que usasse da sua autoridade moral para influenciar a fé.

Na entrevista de sábado, o Dalai Lama disse que aqueles relatos “não eram novos”, porque “já sabia dessas coisas”, nomeadamente das acusações contra Sogyal Rimpoché, um polémico mestre budista, acusado desde 1992 de todo o tipo de abusos a alunos em retiros na Europa, em particular em França, que estão em investigação.

O líder espiritual tibetano, Nobel da Paz em 1989, afirmou que as vítimas “devem tornar as suas histórias públicas”, denunciando a identidades dos agressores.

O grupo que fez as denúncias usou o hashtag #metooguru e reuniu cerca de 1300 assinaturas numa petição, que decorreu online, a pedir uma reunião com o líder espiritual dos budistas para que fossem recebidos os testemunhos das alegadas vítimas.

O Dalai Lama ter-se-á comprometido a agir e disse que iria apresentar os relatos das 12 alegadas vítimas durante uma reunião com professores budistas sobre os abusos sexuais, físicos e psicológicos.

Lusa | em Expresso

Autoridades brasileiras apreendem mala com dinheiro e joias do filho do Presidente da Guiné-Equatorial


A polícia federal brasileira aprendeu na sexta-feira (14.09) mais de 13,7 milhões de euros, em dinheiro e joias, à delegação que acompanhava o filho do Presidente da Guiné-Equatorial num aeroporto do Brasil.

Segundo a edição online do jornal brasileiro "Estadão", a polícia federal apreendeu quase 1,5 milhões de dólares (1,3 milhões de euros) em notas numa mala e cerca de 20 relógios de luxo noutra. No total, as autoridades brasileiras estimam a apreensão no valor de 13,7 milhões de euros.

Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido como Teodorin, vice-presidente da Guiné-Equatorial e filho de Teodoro Obiang Nguema, no poder há 39 anos, integrava uma delegação de 11 pessoas que chegou na sexta-feira (14.09), a bordo de um avião privado, ao aeroporto de Viracapos, em Campinas, perto de São Paulo.

Segundo a também brasileira "TV Globo", a delegação não estava em missão oficial, pelo que apenas Teodorin beneficiava de imunidade diplomática. 

A bagagem da restante delegação foi inspecionada e as pessoas interrogadas, enquanto o vice-presidente esperava num automóvel, no exterior do aeroporto.

Segundo a lei brasileira, a entrada no país de dinheiro em espécie está limitada a 10.000 reais, que correspondem a cerca de 2.400 dólares ou 2.000 euros.

Dinheiro serviria para pagar tratamento médico

Fonte diplomática equato-guineense citada pelo Estado de São Paulo explicou que Obiang transportava aquela quantidade de dinheiro para pagar um tratamento médico e custear a hospedagem num hotel de luxo e que os relógios são de "uso pessoal" do vice-presidente, tendo as suas iniciais gravadas.

A delegação do vice-presidente da Guiné-Equatorial terá informado às autoridades brasileiras que seguiria depois para Singapura em missão oficial.

Segundo o jornal brasileiro, Teodorin viaja frequentemente para o Brasil, onde é "conhecido por promover festas extravagantes e até por patrocinar uma escola de samba no Carnaval carioca".

Teodoro Nguema Obiang Mangue foi condenado em França em outubro de 2017 a três anos de prisão, com pena suspensa, por branqueamento e desvio de fundos públicos.

Agência Lusa, nn | em Deutsche Welle

A ilha onde nasceu Moçambique faz anos e UNESCO quer acelerar marcha da preservação


A preservação do património da ilha de Moçambique está a avançar, mas as Nações Unidas pedem mais rapidez nalgumas intervenções.

ilha completa 200 anos de elevação a cidade com festejos que arrancam hoje e que se prolongam até à data da celebração, segunda-feira, 17 de setembro.

Em 1991, a ilha foi declarada Património Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), organismo que há dois meses pediu às autoridades moçambicanas que terminem "prontamente" a atualização do plano de gestão da ilha, entre outras medidas regulamentares.

Da mesma forma, é pedida com celeridade a redefinição da "zona tampão", permitindo a "proteção de património arqueológico subaquático", assim como obras de emergência no antigo hospital, a par do arranque de ações de manutenção regular dos edifícios públicos.

UNESCO "satisfeita”

Uma equipa da UNESCO visitou a ilha em março e, no relatório final, diz ter ficado satisfeita ao ver algumas obras de requalificação a avançar, assim como a realização de um inventário patrimonial e um registo do tipo de construção - recomendado que venha a incluir também os imóveis tradicionais. "O Estado tem feito progressos face aos desafios colocados", no entanto, "combinar iniciativas privadas de conservação com necessidades locais continua a ser um desafio", refere o documento, destacando a necessidade de "especialistas aconselharem o Estado a encontrar um uso apropriado para a Fortaleza de São Lourenço", depois de as autoridades terem rejeitado a conversão em hotel.

No aspeto imaterial, a UNESCO alerta para desigualdades crescentes e recomenda que haja melhorias "urgentes" nas condições de vida dos bairros tradicionais da ilha, por forma a "adequarem-se ao estatuto de valor histórico para a humanidade" e educando a população como seus guardiões.

O historiador moçambicano Aurélio Rocha defende que é necessário "um projeto de requalificação que tenha pernas para andar", respeitando a "dimensão antropológica do espaço". "É preciso olhar para as pessoas que vivem na Ilha" que podem "não entender muito bem a razão pela qual se está a valorizar o património de pedra e não se está a dar atenção às comunidades", observou o docente universitário.

Vasco da Gama chegou ali em 1498 e estabeleceu uma escala na rota comercial entre Portugal e a Índia, naquele que se tornaria um importante entreposto de escravos. Ocupando uma área de 245 quilómetros quadrados, a ilha foi a primeira capital de Moçambique, permanecendo de pé diversos monumentos históricos, como a Fortaleza de São Sebastião.


Aumentar o conhecimento sobre a ilha

Aurélio Míria, antropólogo e também docente universitário, entende que Moçambique precisa de repensar a importância da Ilha, que é "o mais emblemático de todos os monumentos que o país possui". "Nós podemos colher experiências de vários países para reabilitar a ilha. Os ganhos provenientes do turismo, embora poucos, podem servir para gerar alguma receita para compensar o investimento aplicado", observou.

A adoção de conteúdos sobre a ilha nos currículos escolares é também apontada pelo académico como uma solução, tendo em conta que há "um forte desconhecimento sobre a importância histórica da ilha".

Portugal tem sido um dos parceiros das autoridades locais com intervenções no âmbito da preservação e reabilitação do património histórico e cultural. O Cluster da Cooperação Portuguesa na Ilha de Moçambique incluiu um orçamento de um milhão de euros para a segunda fase de implementação (período 2015-2018).

No âmbito das comemorações do bicentenário como cidade, Portugal organizou um total de sete exposições, na Ilha e em Maputo, ao longo do ano e está projetar organizar outros dois seminários, além de dois documentários e mais sete atividades ligadas à cidadania e a boas práticas.

"A ilha é de uma riqueza patrimonial única e este é o nosso contributo para esta celebração. Continuarmos com vontade de cooperar com as autoridades para a valorização deste local histórico, tanto para Moçambique, como para Portugal", garante Patrícia Pincarilho, conselheira para a cooperação na embaixada de Portugal em Moçambique.

Viaturas proibidas

A partir de hoje, as autoridades locais vão interditar a entrada e circulação de viaturas particulares na ilha para permitir a livre circulação de pessoas para as comemorações do bicentenário de elevação a cidade - haverá transportes públicos especiais.

O número de camas disponíveis nas unidades hoteleiras ronda as 300, escreve a Agência de Informação de Moçambique (AIM), que prevê que o número possa subir ligeiramente: os organizadores das comemorações estão a encorajar os residentes "a apetrecharem os seus alojamentos".

O programa das festas serve de prova de que a ilha é um local onde as culturas sempre se encontraram ao longo da história. Tufo, N'sope e Nsirriputi são três dos estilos de danças a ser interpretados no espetáculo de abertura marcado para hoje à noite, com 11 grupos de dançarinos dirigidos pela coreógrafa e bailarina moçambicana, Pérola Jaime.

Agência Lusa, nn | em Deutsche Welle

Tufão causa 64 mortos, 33 feridos e 45 desaparecidos nas Filipinas. 15 feridos em Macau


O tufão Mangkhut causou 64 mortos e 33 feridos nas Filipinas, onde outras 45 pessoas continuam desaparecidas, de acordo com o último balanço da polícia local.

A província mais afetada pela tempestade foi Benguet, no norte do país, onde 38 pessoas morreram, na maioria em consequência de deslizamentos de terras, e 27 continuam desaparecidas.

Depois da devastadora passagem pelas Filipinas, o tufão seguiu para a China, afetando sobretudo a província de Guangdong, no sul, onde 2,5 milhões de pessoas tiveram de ser realojadas e 50 mil barcos receberam instruções para voltarem aos portos, de acordo com a comunicação social estatal. Pelo menos duas pessoas morreram na província de Guangdon, no sul da China, devido à passagem do tufão Mangkhut, segundo um canal de televisão local.

A região administrativa de Macau também foi afetada pelo tufão, com registo de 15 feridos e pelos menos 155 incidentes, como queda de árvores e objetos e danos em construções.

O sinal 10, o máximo na escala de alerta, esteve em vigor durante nove horas em Macau, mas já baixou para 8, à medida que o tufão Mangkhut se está a afastar gradualmente do território.

O tufão perdeu alguma força ao atravessar as Filipinas e chegou ao território chinês hoje, às 17:00 locais (10:00 em Lisboa), a cerca de 50 quilómetros a oeste de Macau, com ventos de 162 quilómetros por hora.

A tempestade tropical, considerada a mais forte deste ano, provocou chuvas torrenciais e ventos ciclónicos, que causaram cortes na eletricidade e nas comunicações em vários dos locais afetados.

Com Lusa

Morreu a mulher que tinha como compromisso aproximar o chinês do português


Márcia Schmaltz morreu na passada sexta-feira, dia 7 de Setembro, aos 45 anos, vítima de cancro do pulmão, diagnosticado há um ano. A brasileira, que se considerava chinesa, antiga professora do Departamento de Português da Universidade de Macau (UM), investigadora, tradutora, intérprete e autora, dedicou a vida a fazer a ponte entre as línguas chinesa e portuguesa. Márcia deixa um espaço por preencher, não um vazio, diz o amigo Roberval Teixeira e Silva.

Nasceu em Porto Alegre, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, em 1973 e, ainda em criança, mudou-se com a família para Taiwan, onde viveu durante seis anos. Regressada a Porto Alegre, Márcia Schmaltz licenciou-se em 2001 em Letras pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras. Em 2006 concluiu o mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, altura em que também se especializou em tradução na Universidade de Língua e Cultura de Pequim. Já em Macau, Márcia Schmaltz fez o doutoramento em Linguística na UM, onde leccionou no mestrado em Estudos da Tradução Português-Chinês entre 2008 e 2015. Pelo meio, em 2000, juntamente com Janete Schmaltz, ganhou o prémio Xerox/Livro Aberto pela tradução de “Histórias da Mitologia Chinesa” e, em 2001, o Prémio Açorianos de Literatura, na categoria tradução. Fez traduções técnicas, traduções institucionais e traduções de artigos científicos, mas destacou-se nas traduções literárias, “Rickshaw boy”, de Lao She, “Contos Completos”, de Lu Xun, “Viver”, de Yu Hua, e “Deixe-me em Paz”, de Murong Xuechun. Juntamente com Sérgio Capparelli, publicou ainda livros originais: “50 Fábulas da China Fabulosa”, “Fábulas Chinesas” e “Contos Sobrenaturais Chineses”. Voltou em 2015 para o Brasil, onde era bolseira de pós-doutoramento na Universidade Federal de Minas Gerais.

“Com o seu grau de compromisso não há ninguém”

Roberval Teixeira e Silva, também ele brasileiro, trabalhou e conviveu diariamente com Márcia Schmaltz: “Nós trabalhámos sempre juntos, desde que ela chegou até quando ela decidiu voltar para o Brasil, para estar mais perto da família”. O antigo colega, professor do Departamento de Português da UM, recorda a ligação de Márcia à língua chinesa, descrevendo uma relação “afectiva e cultural muito grande com a Ásia que fala chinês, a China, Taiwan, Macau”. “Ela dizia-se bastante chinesa e ela já era mesmo chinesa”, acrescenta Roberval.

“A Márcia sempre foi uma pessoa muito lutadora em todos os aspectos da vida”, descreve o professor. “Sobretudo tinha uma grande sensibilidade para as questões sociais que afectam as pessoas e ao mesmo tempo tinha uma postura muito forte em relação aos problemas, não era pessoa de ficar a enrolar, era de falar as coisas e dizer o que pensava. Ela tinha um monte de fãs porque dizia tudo o que achava e não ficava a dourar”, lembra o docente, dizendo mesmo que Márcia “era uma pessoa que estava aqui para fazer coisas, arcava com as consequências de quem quer fazer coisas e não colocava panos quentes nos problemas, enfrentava-os”.

Relativamente ao legado deixado pela professora e tradutora, Roberval não tem dúvidas: “Ela deixa um grande legado, muitas traduções, muitas reflexões sobre os aspectos culturais da China, livros para as crianças, livros para adolescentes, contribuições em blogues, muita coisa que ela produziu, e ajudou a criar uma pequena geração de mestrandos e tradutores aqui da Universidade de Macau”. Para o amigo e antigo colega de Márcia, o compromisso que a professora tinha para com o seu trabalho era a sua grande mais-valia: “Obviamente são pouquíssimas as pessoas que têm esse compromisso de criar pontes interculturais entre a China e as comunidades que falam português, e com o seu grau de compromisso não há ninguém”.

“Ela deixa um espaço para ser preenchido. Não é um vazio, é um espaço que tem de ser preenchido”, refere Roberval. “Esperemos que ela inspire outros a assumir o compromisso de criar um mundo mais bacana”, conclui.

“Não é possível medir a importância do seu trabalho”

Para a professora Fernanda Gil Costa, antiga directora do Departamento de Português da Universidade de Macau, actualmente professora catedrática da Faculdade de Letras de Lisboa, o trabalho desenvolvido por Márcia Schmaltz na área da tradução foi de grande relevância: “Não é possível medir a sua importância”. “Ela teve um papel importante na tradução da literatura brasileira para o chinês”, acrescenta, recordando ainda o seu trabalho na organização da semana brasileira de Macau: “A actividade como representante da cultura brasileira e de exposição à cultura chinesa na lusofonia foi sempre importante”.

“Quando a notícia da sua morte foi conhecida, aqui em Lisboa ficámos todos consternadíssimos”, lamenta a professora, que conviveu com Márcia Schmaltz durante quatro anos na UM. “Represento a opinião de muitas pessoas quando digo que foi uma colega que teve um trabalho bastante meritório e notável”, afirma.

Márcia Schmaltz também colaborou com o blogue “Extramuros”, cuja missão é levar a China até à população que fala português, como explica Catarina Domingues, jornalista e editora do projecto. Desde 2016 até ao início de 2018, altura em que lhe foi diagnosticada a doença, Márcia publicou textos sobre literatura chinesa. “Ela era tradutora-intérprete, falava mandarim perfeito, fazia traduções de obras de língua chinesa para português, escrevia sobre obras chinesas, a maior parte delas nem tinham sido traduzidas para português”, lembra Catarina. “Escreveu sobre o ‘Problema dos Três Corpos’, de Cixin Liu, que é de ficção científica chinesa, e em Portugal, em Angola ou no Brasil, ninguém ouviu falar em ficção científica chinesa, e escreveu também sobre escritores contemporâneos chineses”, refere, acrescentando que “ela fazia parte de uma comunidade muito restrita que fazia tradução directa do chinês para o português”. “Ela era uma apaixonada pela literatura e pela tradução, sabia muito mais do que eu, de modo que não custava nada editar os textos dela. Era uma aprendizagem para mim”, conclui a jornalista.

Portugueses europeus e portugueses africanos


Na véspera do início da visita de dois dias do primeiro-ministro português, António Costa, a Angola, o coordenador do Observatório da Emigração em Portugal recorda a necessidade de se facilitar a circulação de pessoas entre os países lusófonos.

“Acho que, no âmbito de reformulação da política imigratória portuguesa, é importante ter sistemas que facilitem a circulação entre os países lusófonos, ou, pelo menos, entre a maioria”, afirmou Rui Pena Pires em declarações à Lusa, recordando que esta foi uma promessa de campanha do PS.

“Também não vale a pena tentar começar logo com todos, mas era útil. E a iniciativa de Angola (em vigor desde 31 de Março, de facilitação de entradas, com vistos on-line) pode contribuir para o desenvolvimento de iniciativas bilaterais entre angolanos e portugueses”, afirmou Rui Pena Pires.

“Estou certo que isso [essa facilitação de circulação de pessoas dos países lusófonos] vai acontecer, mais tarde ou mais cedo, porque esse era aliás um dos objectivos do programa do Partido Socialista e do actual primeiro-ministro”, relembrou.

Contudo, desta visita de António Costa, a Luanda, que “se segue a um período de esfriamento nas relações entre Portugal e Angola”, Pena Pires espera só “um desgelo” nas relações políticas.

“Se esta visita trouxesse um degelo já seria bom, o resto depois faz-se, já seria uma enorme vitória no campo das relações externas portuguesas, porque não é possível, quando as relações não estão no seu melhor, tratar com sucesso as pequenas grandes coisas, quase instrumentais”, afirmou.

Para Rui Pena Pires não há problemas particulares dos emigrantes portugueses em Angola, os das transferências de salários, algumas vezes em atraso, afectam qualquer emigrante de qualquer origem naquele país e resultam de questões económicas e não de problemas políticos ou de qualquer tensão.

Contudo, considera, “se as relações [entre os dois países] ficarem desbloqueadas, depois já se pode tratar do resto por outros canais.”

De resto, aquilo que se espera sempre destas visitas políticas relativamente à emigração “é a garantia de segurança e de igualdade de direitos dos emigrantes portugueses face ao resto da população, e condições.

Com base nos dados dos registos consulares (registos que as pessoas fazem quando recorrem aos consulados), em 2013, existiam 39 000 portugueses em Angola.

De acordo com o último relatório do observatório da emigração de 2017, relativo aos dados de 2016, teriam entrado neste ano em Angola 3.908 portugueses, sem incluir dados do consulado de Faro, só os de Porto e Lisboa.

Estes números revelaram uma quebra face a 2015, ano em tinham entrado cerca de 7.000, (6.700) portugueses em Angola.

“Uma das coisas que sabemos é que houve uma quebra na emigração para Angola, que entre 2013 e 2015 tinha crescido significativamente. Relativamente a 2017 ainda não há dados. Só estarão disponíveis provavelmente em Dezembro”, explicou Pena Pires.

No entanto, diz, “não espero um crescimento” da emigração portuguesa para aquele destino de África em 2017.

“A quebra [da emigração portuguesa] que se verificou em 2016 resultou da crise do preço do petróleo. A situação económica agora ainda não retomou os níveis anteriores à crise, mas também não se aprofundou, por isso é provável que haja uma manutenção ou um ligeiro decréscimo na emigração para Angola em 2017. O que não prevejo de todo é que haja um acréscimo”, estimou o professor e responsável pelo Observatório da Emigração.

A emigração para Angola começou a crescer na viragem do século XX para o século XXI, antes disso não teve grande expressão. E é precisamente na mesma altura que começa o regresso dos emigrantes angolanos em Portugal ao seu país de origem, adianta Pena Pires, ou seja, no período em que a situação política e económica começa a estabilizar.

“Temos um indicador bom que nos demonstra isso que é o das remessas dos emigrantes. E este é o período em que as remessas vindas de Angola começam a ultrapassar o valor das remessas dos angolanos em Portugal para o seu país de origem. (…) Em 2000 os valores estão mais ou menos equiparados e a partir de 2004 o fosso aumenta substancialmente”, referiu.

Para se ter uma ideia, acrescenta, “no ano 2000 as remessas de Angola para Portugal eram de 11 milhões de euros e de angolanos no nosso país para Angola eram de 14 milhões. Em 2017, para Angola foram sensivelmente os mesmo valores de 2000 mas de emigrantes portugueses para Portugal vieram 245 milhões. O envio de remessas de angolanos para Angola estagnou e as de portugueses no mercado angolano para Portugal foram multiplicadas por mais de 20”.

Assim, defende o responsável do Observatório, “se usarmos o indicador das remessas como um indicador indirecto da evolução da emigração, o que concluímos é que a de portugueses para Angola cresce de uma forma sustentada a partir de 2004, 2005 e 2006, início do processo de paz, e tem alguns picos, sobretudo em 2007 e 2008, com a abertura da primeira crise, e depois em 2012”. E só em 2016 regista a primeira quebra.

Quanto aos portugueses que estão a deixar Angola e a regressar ao seu país, também com base nos escassos dados disponíveis – dos censos de 2010, o coordenador do Observatório da Emigração considera que este não será um número muito elevado.

Entre 2001 e 2011 terão regressado de Angola, de acordo com os censos, pouco menos de 5.000, o que dá cerca de 500 regressos por ano. “É provável que tenha sido superior depois de 2011, mas não terá ido além de 500 a 1.000 pessoas por ano”, diz.

No ano da crise terá sido maior, mas os regressos agora não devem ser muito superiores, andarão na ordem das centenas, 5, ou 6 ou sete centenas. Era preciso existir uma crise que não fosse só económica para haver muitos mais regressos”, concluiu.

Portugueses europeus e portugueses africanos

Mas, diga-se, a culpa não é só dos portugueses de hoje que, ao contrário dos de ontem, procuram sacar tudo o que podem, começando o exemplo pelos governantes, passando pelos gestores e administradores públicos e restante casta.

A culpa também é nossa que colocamos os de ontem, muitos dos quais deixaram mesmo o cordão umbilical em Angola, ao mesmo nível dos de hoje, ou muitas vezes a um nível bem mais baixo.

Em Angola causa alguma estranheza o facto de, apesar da presença massiva de portugueses, eles nunca serem mencionados nos balanços do Serviço de Migração e Estrangeiros sobre a expulsão de expatriados.

E estranha-se porquê? Porque, mesmo considerando que esses cidadãos são súbditos de sua majestade D. António Costa, as vítimas dos serviços de migração são por regra africanos e, de quando em vez, uns chineses.

E Maio de 2009, o Semanário Angolense dizia que “aos outros imigrantes é exigido o cumprimento da lei, mas aos portugueses não”. E acrescentava: “Muitos até falsificam documentos e dizem-se naturais de Malange – maioritariamente “nasceram” em terras da Palanca Negra –, Huíla, Benguela, mesmo sem nunca lá terem estado”.

E o jornal concluía: “É urgente investigar e descobrir quem promove e protege essa invasão silenciosa de portugueses”.

É verdade que são aos milhares os portugueses africanos que agora nasceram de gestação espontânea, uma espécie de mercenários que nada têm em comum com muitos outros portugueses de outrora, esses sim africanos de alma e coração.

Os novos descobridores vão para a África rica (caso de uma parte de Angola) sacar tudo o que for possível e depois regressam à sua normal e tipificada forma de vida, voltando a ter a porta sempre fechada aos africanos.

Com a conivência consciente das autoridades angolanas, que não dos angolanos, Portugal aposta tudo o que tem (lata) e o que não tem (dignidade) nos muitos mercenários que têm as portas blindadas e sempre fechadas, remetendo para as catacumbas todos aqueles portugueses que sempre tiveram a porta aberta.

Como é que se vê a diferença? É simples

Agrande diferença é que os portugueses europeus, os que agora aceleram na tentativa de chegar à cenoura na ponta da vara de Angola, sempre consideraram (quiçá com razão) que até prova em contrário todos os estranhos são culpados.

Já os portugueses africanos, os que deram luz ao mundo, os que choram ao ouvir Teta Lando, Elias Dia Kimuezo, Carlos Lamartine ou os N’Gola Ritmos, entenderam que até prova em contrário todos os estranhos são inocentes.

Em África, os portugueses africanos aprenderam a amar a diferença e com ela se multiplicaram. Aprenderam a ser solidários com o seu semelhante, fosse ele preto, castanho, amarelo ou vermelho. Aprenderam a fazer sua uma vivência que não estava nas suas raízes.

Na Europa, os portugueses aprenderam a desconfiar da diferença e a neutralizá-la sempre que possível. Aprenderam a ser individualistas mesquinhos e a só aceitar a diferença como exemplo raro das coisas do demónio.

Com o re(in)gresso de milhares de portugueses africanos ao Portugal europeu, a situação alterou-se apenas por breves momentos. Tão breves que hoje, 43 anos depois da debandada africana, quase se contam pelos dedos de uma mão os que ainda se assumem como portugueses africanos.

Isto é, muitos dos portugueses europeus que foram para África tornaram-se facilmente africanos. No entanto, ao re(in)gressarem às origens ressuscitaram a velha mesquinhez de um país virado para o umbigo, de um país de portas fechadas. Voltaram a ser apenas europeus.

Nessa mesma leva regressaram muitos portugueses africanos nascidos em África. Esses não re(in)gressaram em coisa alguma. Mantiveram-se fiéis às suas raízes mas, é claro, tiveram (e ainda têm) de sobreviver.

Apesar disso, só olham para o umbigo de vez em quando e as suas portas só estão meio fechadas.

Acresce que muitos destes acabaram por constituir vida em Portugal, muitos casando com portugueses europeus. Por força das circunstâncias, passaram a olhar mais vezes para o umbigo e a porta fechou-se quase completamente.

Chega-se assim aos filhos, nados e criados como “bons” tugas europeus. Estes só olham para o umbigo e trancaram a porta. Por muito que o pai, ou a mãe, lhes digam que até prova em contrário todos (brancos, pretos, amarelos, castanhos ou vermelhos) são inocentes, eles já pouco, ou nada, querem saber disso.

Por força das circunstâncias, os portugueses africanos diluíram-se no deserto europeu, foram colonizados e só resistem alguns malucos que, por força dos seus ideais, admitiram que o presente de Portugal poderia estar na Europa, mas sempre e desde sempre tiveram a certeza que o futuro estava em África.

Folha 8 com Lusa

Um terço dos expatriados regressou a Portugal com crise angolana


Pelo menos um terço dos trabalhadores portugueses expatriados em Angola regressou a Portugal no pico da crise económica que assola Angola desde 2014, altura em que baixaram significativamente os preços do crude nos mercados internacionais.

A constatação foi feita à agência Lusa por responsáveis oficiais de Portugal e de Angola em vésperas da primeira visita de um primeiro-ministro português, a de António Costa, desde a efetuada em 2007 pelo então chefe do Governo de Lisboa, José Sócrates, que admitiram, porém, haver uma expectativa de regresso.

Números oficiais não há, reconheceram as fontes dos dois países, que pediram para não serem identificadas, pelo que se trata de uma mera estimativa, "por baixo", uma vez que foram muitas as micro, pequenas e médias empresas que, face ao diminuto volume de negócios, acabaram por não resistir à crise, fechar portas e regressar a Portugal.

Por outro lado, as empresas portuguesas sofreram com o atraso no pagamento pelo Estado angolano, nalguns casos desde 2013/2014 e pela dificuldade, mais tarde, em transferir os lucros para as "casas-mãe" em Portugal, "questão sensível" que fonte diplomática angolana vê como "reflexo natural" da crise económica em Angola.

A dívida às empresas portuguesas, face à ausência de números oficiais, situa-se "na casa das centenas de milhões de euros", situação que afeta também, e sobretudo, as empresas portuguesas ligadas à construção civil que, embora continuem com projetos e obras, viram o ritmo interrompido, sendo visível, por exemplo, em Luanda, obras paradas que em nada embelezam a cidade.

Este é um dos temas que as três fontes contactadas pela Lusa insistiram em considerá-la como "a questão sensível" que será analisada durante a visita do primeiro-ministro português, segunda e terça-feira a Angola.

As fontes assumiram, por outro lado, que o regresso de expatriados a Portugal "foi significativo, mas longe de uma debandada", mas reconheceram que, exemplo simples, a área da restauração em Luanda sofre com a ausência de clientes portugueses, que outrora enchiam os restaurantes.

Fonte diplomática angolana salientou a vontade política de Luanda em solucionar a questão dos atrasados, destacando o posicionamento do Banco Nacional de Angola (BNA), cuja atuação, reivindicou, se tem pautado por um maior rigor e transparência nas operações financeiras, tendo como "luz ao fundo do túnel" obter a "certificação de dívida", passo "determinante" na resolução da situação.

Antes, acrescentou, terá de ser feita a "conciliação de contas", pois a grande maioria dos contratos foi feita em dólares e euros - o kwanza depreciou-se, só este ano, em cerca de 45% -, processo já em curso entre o Governo angolano e as empresas afetadas.

O problema agravou-se com o fim do pagamento dos salários em divisas, situação que, admitiram as fontes, foi "tenuemente resolvida" com a introdução do estatuto de "residente fiscal", que obrigou os expatriados a recebem na moeda local, pouco ou nada convertível nos mercados cambiais internacionais, deixando de ser atrativo trabalhar em Angola.

Resolvida foi a questão da dívida de Angola à transportadora aérea portuguesa, a TAP, resolução, porém, que foi enquadrada noutro processo, o que afetou todas as companhias aéreas estrangeiras com ligações a Luanda.

Segundo apurou a Lusa, grande parte da dívida à TAP, estimada em 100 milhões de euros, já foi liquidada.

Dados oficiais apontam para cerca de 130.000 cidadãos portugueses e luso-angolanos inscritos no Consulado de Portugal em Luanda, número que, mais uma vez, não reflete a realidade.

A esfera de luso-angolanos é "maior" que a de portugueses que circulam por toda Angola e há também muitos cidadãos lusos que não estão inscritos na secção consular, razão pela qual as estatísticas são, quase sempre, meras estimativas.

JSD // PJA | Lusa

Moody’s diz que Angola se encontra no caminho da estabilidade


A agência norte-americana de notação financeira Moody's insere Angola num grupo de cinco países africanos onde o "risco político se apresenta no sentido inverso" e se encontram a "caminho da estabilidade".

A declaração é feita no relatório "Global Emerging Markets Chartbook", apresentado durante um encontro em Joanesburgo, dedicado a investidores na África subsaariana, um documento que aponta, ao lado de Angola, a África do Sul, Maurícias, Senegal e Ghana. 

A Moody's indicou que o número de mercados emergentes com notação financeira soberana, que classifica a dívida de cada Estado, está a crescer desde 2004, sobretudo com a inclusão dos países africanos.

Desde 2013, cerca de 2,6 triliões de dólares em Eurobonds - dívida pública emitida junto de investidores internacionais e em moeda diferente da do país emitente - foram emitidos por fundos soberanos, sub-soberanos, corporações, instituições financeiras e entidades de financiamento de projectos e infra-estruturas, destacou a agência no relatório.

Jornal de Angola

TPA reforça cooperação com órgãos portugueses



A Televisão Pública de Angola (TPA) vai rubricar na terça-feira, em Luanda, dois acordos de cooperação, um com a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e outro com a agência de notícias portuguesa Lusa.

Os acordos vão ser rubricados no âmbito da visita oficial a Angola do primeiro-ministro português, António Costa, que inicia na segunda-feira, de acordo com um comunicado da estação televisiva angolana, enviado na sexta-feira à Angop.

O documento informa que os acordos estabelecem as bases da futura cooperação entre os órgãos de comunicação social e prevê a formação e superação de quadros, troca de conteúdos, assistência técnica, visitas e troca de experiências entre profissionais da TPA e das empresas portuguesas de comunicação social.

Os acordos vão ser rubricados pelos presidentes dos conselhos de administração da TPA, José Guerreiro, da RTP, Gonçalo Reis, e da Lusa, Nicolau Santos. A cerimónia vai decorrer na presença do ministro da Comunicação Social, João Melo, e de membros dos governos de Angola e de Portugal.

Jornal de Angola

Angola - Portugal | Países põem fim à dupla tributação


Angola e Portugal assinam na próxima semana uma convenção para pôr fim à dupla tributação entre os dois países, durante a visita de dois dias que o primeiro-ministro luso inicia amanhã ao nosso país, noticiou na sexta-feira o português “Jornal de Negócios”.

A publicação considera que os dois Estados põem assim termo a uma prática que os empresários consideram injusta e lesiva à sua actividade, já que os seus rendimentos são tributados duas vezes.

O jornal escreve que apesar de o Ministério das Finanças de Portugal não ter confirmado que o acordo será assinado durante a visita do Primeiro-Ministro, o secretário de Estado angolano para a Cooperação Internacional, Domingos Vieira Lopes, já tinha admitido a possibilidade da subscrição do documento ao longo da permanência do chefe do Governo em Luanda. 

“Está em curso e praticamente concluído o acordo para se evitar a dupla tributação entre Angola e Portugal”, escreve o jornal citando o secretário de Estado para a Cooperação Internacional.

Por outro lado, prossegue o jornal, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, declarou que a visita “terá uma componente económica muito importante, porque o relacionamento comercial e em termos de investimentos recíprocos de Portugal e de Angola é muito intenso”. 

Augusto Santos Silva disse, em Bruxelas, à margem de uma cimeira da NATO realizada em Julho, que “Portugal e Angola vão também assinar o novo programa estratégico de cooperação”, estando ainda previstos encontros do Primeiro-Ministro com a comunidade portuguesa em Luanda.

O Jornal
de Angola noticiou ontem, com base em informações oficiais, que o Primeiro-Ministro português discursa terça-feira no “Fórum Económico Angola-Portugal: por uma parceria estratégica”.

Fórum económico

O Fórum é organizado pela Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX) de Angola e a sua congénere Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), devendo o ministro de Estado para o Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes,  proferir as palavras iniciais do encontro.

O programa, ao qual o Jornal de Angola teve acesso, indica que durante a reunião vai ser  apresentado o “Quadro geral do investimento em Angola”, com intervenções dos presidentes da AIPEX, Licínio Contreiras, e do AICEP, Luís Filipe de Castro Henriques, e é assinada uma carta de intenções (LOI) para o apoio da  Sofid portuguesa, a um projecto da empresa angolana Metalser.

Jornal de Angola

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