terça-feira, 13 de novembro de 2018

Quando um colonialismo oculta outro

As crianças do Iémen não preocupam certos "defensores dos direitos humanos"

Bruno Guigue

Que as crianças iemenitas morram de fome aos milhares, que os palestinos caiam sob as balas do ocupante, que a Síria seja um campo de ruínas e que a Líbia mergulhe no caos, isso já quase não nos comove. Manifesta-se, faz-se greve, protesta-se? Não realmente. Nem manifestações significativas, nem debates dignos deste nome. O crime neocolonial passa como uma carta nos correios. E contudo, se sofrêssemos o que os nossos governos infligem a povos que nada nos fizeram, o que diríamos nós? Se uma aliança criminosa nos condenasse a morrer de fome ou de cólera, como no Iémen? Se um exército de ocupação abatesse nossa juventude porque ela ousa protestar, como na Palestina? Se potências estrangeiras armassem milícias para destruir nossa república, como na Síria? Se uma coligação estrangeira houvesse bombardeado nossas cidades e assassinado nossos dirigentes, como na Líbia?

A tendência dos países ditos civilizados de jogar um véu pudico sobre suas próprias torpezas não é nova. Como é característico, a democracia ocidental vê mais facilmente a palha no olho do vizinho do que a trave que se aloja no seu. De direita, de esquerda ou do centro, vive-se num mundo ideal, um universo feliz onde a consciência está sempre do seu lado. Sarkozy destruiu a Líbia, Hollande a Síria, Macron o Iémen, mas jamais haverá tribunal internacional para julgá-los. Medidos pela vara da nossa bela democracia, estes massacres não são senão insignificâncias. Uma aberração passageira, a rigor, mas a intenção era boa. Como democracias poderiam desejar outra coisa senão a felicidade de todos? O discurso oficial dos ocidentais, sobretudo aquele destinado ao eleitor médio, traduz sempre a segurança inquebrantável de pertencer ao campo do bem. "Sofrem de opressão, ditadura, obscurantismo? Não se inquietem, enviaremos os bombardeiros!".

Acontece entretanto que na volta de uma frase, no segredo das negociações internacionais, seja levantado um canto de véu, subrepticiamente. Assiste-se então a uma forma de confissão e eis que um vigarista confessa o crime esboçando um sorriso malicioso. Em 2013, no momento em que a França intervinha no Sahel, Laurent Fabius, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, apela ao seu homólogo russo para obter o apoio da Rússia na ONU. Lavrov espanta-se então com esta iniciativa francesa contra jihadistas que Paris havia apoiado aquando da intervenção na Líbia, em 2011:   "C'est la vie!", responde-lhe o ministro francês. Semear o terror para abater um Estado soberano? É "a vida" segundo Fabius. Mas que este criminoso se tranquilize:   nenhum juiz lhe pedirá contas. O Tribunal Penal Internacional (TPI) é um tribunal para os indígenas:   está reservado aos africanos. As pessoas como Fabius têm a arte de passar entre as gotas da chuva.

Alimentados por um discurso que lhes diz que o seu país está sempre do lado bom, os franceses parecem a anos-luz do caos que os seus próprios dirigentes contribuem para construir. Os problemas do mundo não os afectam senão quando hordas de miseráveis se acumulam às suas portas. E são numerosos os que concedem seus votos – como muitos europeus – àqueles que pretendem poupar-lhes esta invasão. Naturalmente, esta defesa da "sua casa" deveria logicamente ser acompanhada da recusa de ingerência na casa dos outros:   de que valeria um patriotismo que autorizasse o forte a ingerir-se nos assuntos do fraco? Ora, a experiência mostra que estes "patriotas" raramente estão na linha de frente do combate pela independência nacional fora do mundo pretensamente civilizado. Quais os partidos da direita europeia, por exemplo, apoiam o direito dos palestinos à autodeterminação nacional? Manifestamente, eles não têm pressa de honrar os seus próprios princípios.

Mas isto não é tudo. Pode-se mesmo perguntar se estes pretensos patriotas o são verdadeiramente para si próprios:   quantos deles, com efeito, são favoráveis à saída do seu próprio país da NATO, esta máquina de arregimentar as nações europeias? Tal como para a pergunta anterior, a resposta é clara:   nenhum. Estes "nacionalistas" acusam a União Europeia pela sua política migratória, mas este é a única amostra de seu repertório patriótico, verdadeiro disco arranhado com sotaques monocórdicos. Incham os músculos diante dos migrantes, mas são muito menos viris frente aos EUA, bancos e multinacionais. Se levassem a sua soberania a sério, questionariam a sua pertença ao "campo ocidental" e ao "mundo livre". Mas sem dúvida será demasiado pedir-lhes isso.

Nesta incoerência generalizada, a França é um verdadeiro caso exemplar. Uma certa direita – ou extrema-direita, como se queira – critica com satisfação as intervenções no estrangeiro, mas de maneira selectiva. O Rassemblement National, por exemplo, denuncia a ingerência francesa na Síria, mas aprova a repressão israelense contra os palestinos. O direito dos povos a disporem de si mesmos seria de geometria variável? De facto, este partido faz exactamente o inverso do que faz uma pretensa esquerda, que apoia os palestinos – em palavras – e aprova a intervenção ocidental contra Damasco, considerando mesmo que não se faz o suficiente e que seria preciso bombardear este país mais severamente. O drama é que estas duas incoerências gémeas – e em espelho – cegam o povo francês. Mede-se esta cegueira no resultado, quando se vê esquerdistas desejarem o derrube de um Estado laico por mercenários da CIA (em nome da democracia e dos direitos humanos) e nacionalistas apoiarem a ocupação e a repressão sionistas na Palestina (em nome da luta contra o terrorismo e o islamismo radical).

É verdade que este cruzamento entre pseudo-patriotas e pseudo-progressistas também tem uma dimensão histórica. Ele transporta ao seu modo a herança envenenada dos tempos coloniais. Assim, a direita nacionalista critica o neocolonialismo ocidental na Síria, mas considera insuportável mencionar os crimes coloniais passados cometidos pela França na Indochina, na Argélia ou em Madagáscar. Supõe-se que isso não é voluntário, mas a esquerda universalista contemporânea – em nome dos direitos humanos – faz exactamente o inverso:   ela acusa o velho colonialismo da "Argélia Francesa", mas aprova a intervenção neocolonial na Síria contra um estado soberano que conquistou sua independência ao ocupante francês em 1946. Em suma, a direita ama loucamente o colonialismo no passado, a esquerda ama-o apaixonadamente no presente. O círculo está fechado e, definitivamente, todos estão de acordo. Vítima principal:   a lucidez colectiva.

A França é um dos raros países em que um colonialismo oculta um outro, o velho, aquele que mergulha suas raízes na ideologia pseudo-civilizadora do homem branco, encontrando-se como que regenerado pelo sangue novo do belicismo dos "direitos do homismo". Este colonialismo, por sua vez, é um pouco como o antigo colonialismo "acessível aos caniches", para parafrasear Céline. Ele pretende fazer-nos chorar antes de lançar os mísseis. Em todo o caso, a conivência implícita entre os colonialistas de todas as plumagens – os velhos e os jovens, os arqueo e os neo – é uma da razões da errância francesa no cenário internacional desde que rompeu com uma dupla tradição, gaulista e comunista, que muitas vezes lhe permitiu – não sem erros – arrumar a sua própria casa:   a primeira por convicção anticolonialista, a segunda por inteligência política. Dia virá, sem dúvida, em que se dirá, para fazer a síntese, que se a França semeou o caos na Líbia, na Síria e no Iémen era, no fundo, para "partilhar a sua cultura", como afirmou François Fillon a propósito da colonização francesa dos séculos passados. No país dos direitos do homem, tudo é possível, mesmo atirar areia para os olhos. 

05/Novembro/2018

O original encontra-se em www.legrandsoir.info/quand-un-colonialisme-en-cache-un-autre.html 

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

Portugal | Bloco de Esquerda no próximo Governo? "Não vai acontecer"


Daniel Oliveira considera que, contrariamente ao que tem sido especulado pelos media e alimentado pelo próprio partido, o Bloco de Esquerda não terá lugar no próximo Governo.

No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, "A Opinião", o jornalista abordou a especulação sobre a entrada do Bloco de Esquerda (BE) para o Governo após as eleições. Daniel Oliveira considera que, perante uma convenção "pacífica" do partido, no último fim de semana, houve falta de assunto. "É o entretenimento que sobra", atira o comentador.

"Para o Bloco, é excelente: tira força ao voto útil no PS e dá força ao voto com utilidade no Bloco. Para a comunicação social, é excelente: dá assunto a uma convenção com pouco assunto e até permite efabular sobre possíveis ministeriáveis no partido. Só há um pequeno problema: não vai acontecer", declarou Daniel Oliveira.

O comentador defende que há três questões que impedem o Bloco de Esquerda de fazer parte do próximo Governo.

A primeira, segundo Daniel Oliveira, é tática. Uma vez que o PCP já deixou claro que não entrará num Governo do PS, pelo menos enquanto os socialistas mantiverem as suas posições em relação à Europa - o que, para os comunistas, obriga a uma governação "com um pé na direita" - também o BE não o fará.

"O Bloco nunca entregará ao PCP sozinho todo o capital de queixa contra o PS", acredita o jornalista.

A segunda, diz respeito ao programa do próximo Governo. Daniel Oliveira considera que, se o BE não entrou no Governo em 2015, não será agora que irá entrar - já que, na altura, o programa consistia em reversões e reposições, porém, o próximo programa já não será para "emendar o passado". "As divergências serão muito maiores", afirmou o comentador.

Por último, o BE não poderá formar Governo porque, no entendimento de Daniel Oliveira, "não tem quadros para dividir o Governo com o PS nem força social para resistir à erosão de entrar num Governo sem o PCP".

"O Bloco só alimenta a fantasia da possibilidade entrar no Governo porque isso reforça a sua posição nas próximas eleições", conclui o comentador.

No entanto, esta realidade não reduz a utilidade do voto no BE e no PCP, na opinião de Daniel Oliveira: "Continuam a ser um contrapeso fundamental para que o PS governe mais à esquerda."

"Não é por acaso que o presidente da CIP pediu maioria absoluta para os socialistas. António Saraiva explicou que, assim, o PS se livra destes e pesos e, assim, mais leve, poderá governar à Sócrates", atirou.

Texto: Rita Carvalho Pereira | na TSF | Com audio

Portugal | Kiki fez Kokó ajoelhar-se para a pedir em casamento


Brunodecarvalho dia. É como hoje, dias anteriores e dias seguintes, se deve dizer e escrever em português escorreito. O tradicional bom dia não. E das notícias: Bruno de Carvalho, mais Bruno de Carvalho, muiiito Bruno de Carvalho…

Os jornais estão pejados do nome do sujeito. Até parece que não há nada de importante para “descascar” nas notícias e nas manchetes, destaques e afins.  Máfia do futebol a rodos. Aqui estamos nós, no Jornalismo para Totós. Pois. Antes era a tarimba, a acumulação de saber, de conhecer, de viver e reviver… Agora é a universidade. E valores dúbios. Os 'dótores' vomitam e os que aceitarem sem estrebuchar (imensos)  têm de papar e deixar deformar suas eventuais mentes brilhantes. É o que se queira. É moderno, é moderno.

'Vomitorium', é o que é.

Bem, mas mais vale o Bruno de Carvalho do que aquelas fotos e prosas ao estilo de a “Kiki fez Kokó ajoelhar-se para a pedir em casamento.” Acrescentando que Kokó até julgava que Kiki queria que ele lhe cedesse na hora (já) um 'cunilingus' para lhe provar que a amava e lhe garantir que podia contar sempre com isso no casamento – mesmo que fosse em curto período que o ajuntamento de pompa e muita publicidade se mantivesse. Em Portugal, pois então. Coisas dos famosos, malteses e às vezes…

A seguir é o Curto… Com Bruno Carvalho. Pois. Muita prosa. Fixe, meus. Até amanhã. Considerando as circunstâncias terminamos aqui e optamos por vomitar na sanita em vez de aqui sobre o computador. Bye bye, que é moderno. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Hoje é dia B

Rui Gustavo | Expresso

Bruno de Carvalho vai ser confrontado hoje no Tribunal do Barreiro com as suspeitas de que foi ele a autorizar e a dar luz verde ao ataque à Academia de Alcochete que acabou com jogadores e treinadores feridos e nove contratos rasgados. O juiz de instrução Carlos Delca já tinha sugerido num despacho de julho, dois meses depois do ataque, que os comentários do ex-presidente do Sporting no Facebook “potenciaram clima de animosidade” entre jogadores e elementos da claque, mas só agora, seis meses depois do inacreditável ataque dos adeptos aos jogadores do próprio clube, o Ministério Público liderado pela procuradora Cândida Vilar avançou com a detenção de Bruno de Carvalho e de Nuno Mendes “Mustafá”, o líder da Juventude Leonina, também suspeito da autoria moral do assalto.

Antes da detenção de Bruno de Carvalho, na argumentação contra a rescisão unilateral do contrato de um dos jogadores, o Sporting disse que seria “inusitado” que se considerasse que as declarações pudessem estar na origem do ataque. Mas o interrogatório a Bruno Jacinto, oficial de ligação entre o clube e os adeptos, que também está em prisão preventiva, terá sido decisivo para cimentar as suspeitas do MP de que o ataque teve luz verde de Bruno de Carvalho.

O MP já pediu ao juiz de instrução que declare a especial complexidade do processo porque as perícias aos telemóveis dos suspeitos estão atrasadas e porque considera essencial ouvir o ex-treinador sportinguista Jorge Jesus, que também ficou ferido no ataque. “O testemunho direto é essencial na fase de inquérito e na fase de julgamento, não sendo possível confirmar por terceiros, de ‘ouvir dizer’, aquilo que o próprio sabe”, argumenta a procuradora. Em causa estará a alteração da hora do treino que potenciou o ataque, como explicamos no Expresso Diário que noticiou em primeira mão o pedido de alargamento do prazo para concluir a investigação.

Se seguir a mesma linha de atuação que teve até agora, é natural que Cândida Vilar peça prisão preventiva para Mustafá e para Bruno de Carvalho que passou as últimas duas noites numa cela da GNR de Alcochete. Segundo o Correio da Manhã passou a noite em branco e de acordo com o I pôde fumar e ver televisão.Teve visitas dos pais e da irmã e do advogado que criticou a prisão a um domingo considerando-a "humilhante".

O caso Bruno de Carvalho está na primeira página de todos os diários de hoje. O Correio da Manhã cita-o a dizer que "na Juve Leo manda" ele, o JN garante que o MP irá pedir a prisão preventiva e o DN diz que investigação "ganha mais seis meses. O Jogo diz que foi "tudo para fazer negócios" e que "o ambiente tóxico criado à volta dos jogadores era mesmo para motiva-los a sair".

Se aceitar falar, o dia será certamente longo para Bruno de Carvalho, indiciado por um total de 56 crimes, incluindo terrorismo. Carlos Delca, que num original despacho se queixou amargamente das saudades do tempo em que guardava “cromos de jogadores como tesouros” considerou o ataque “inaceitável” e “movido pelo ódio” e aplicou a medida de coação mais grave a 38 arguidos que já tinham sido detidos pela GNR, incluindo Fernando Mendes, ex-líder da Juve Leo que esteve na Academia de Alcochete onde garantiu a Jorge Jesus que só estavam ali para “falar”.

De todas vezes que foi confrontado pelos jornalistas com estas suspeitas, Bruno de Carvalho negou qualquer envolvimento no ataque que considerou “uma coisa chata”. Foi presidente do Sporting durante cinco anos e já tinha um lugar na história por se ter tornado o primeiro líder do clube a ser destituído pelos sócios. Agora pode tornar-se o primeiro a ser preso em Portugal. O risco é real.

OUTRAS NOTÍCIAS

Era para ser mais um B no dia B, mas José Augusto Silva, o funcionário judicial suspeito de passar informação em segredo de Justiça a Paulo Gonçalves, ex-assessor jurídico do Benfica, recusou falar e o início da instrução do processo e-toupeira foi adiado para amanhã. A SAD do Benfica é arguida no processo.

Na Califórnia, um incêndio de grandes dimensões - O Camp Fire - já matou 42 pessoas. Há mais de 200 desaparecidas e o balanço final será certamente pior. Desde 1933 e do grande incêndio de Los Angeles que não morria tanta gente num incêndio neste estado americano. A cidade de Paradise desapareceu praticamente do mapa. Muitas vítimas foram mortas quando fugiam de carro e as causas do incêndio ainda não conhecidas. Um cenário que infelizmente nos é familiar. Serão necessárias mais três semanas para extinguir completamente o fogo.

Morreu Stan Lee, o genial criador de obras primas da literatura como Spider-Man, Iron Man e Hulk e que foi capaz de transferir o universo dos super heróis da Marvel para uma bem sucedida e lucrativa série de filmes e todos os produtos de merchadising que se possa imaginar. Morreu ontem, aos 95 anos, certamente de causas naturais. Mas como os super heróis não morrem, hoje é um bom dia para ler “Blue”, da dupla Loeb/Sale que pega na melhor criação de Lee, Spider-Man, e faz uma banda desenhada do melhor. A Rolling Stone sugere 15 histórias.

O NY Times revela hoje que há novos indícios que ligam um membro da família real saudita ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. O jornal americano cita uma escuta em que um dos assassinos diz a um superior hierárquico: "Tell your boss", que se acredita ser o príncipe Mohammed Salman,

Um ataque aéreo israelita destruiu a estação televisiva do Hamas na Faixa de Gaza. o ataque é uma retaliação à retaliação do Hamas que tinha lançado rockets contra Israel depois de os israelitas terem feito oito mortos num ataque contra 70 alvos palestinianos. Um dos mortos e um oficial do exército de Israel.

MANCHETES

Correio da Manhã: "Na Juve Leo mando eu". É sobre Bruno de Carvalho.
JN: "Telemóveis ao volante dão 115 mutas por dia". Se estiver a ler este curto ao volante, pouse agora o telemóvel. A sério.
Público: "PSD, CDS e BE chumbam taxa de proteção civil na Assembleia da República"
I: "As 24 horas do ex-presidente na cela". Também é sobre Bruno de Carvalho"
DN: "Bruno de Carvalho é acusado de 56 crimes"
Negócios: "Contas dos hospitais pioraram de forma dramática"

FRASES (especial Bruno de Carvalho)

"Ou há provas ou só há a vossa imaginação"
Rui de Carvalho, pai de Bruno de Carvalho

"Confio na Justiça"
Alexandra de Carvalho, irmã de Bruno

"Confia mais do que eu"
Rui de Carvalho

"Atuação infamante, alvitante e humilhante"
José Preto, advogado de Bruno de Carvalho, sobre o facto de o seu constituinte ter sido preso a um domingo

O QUE EU ANDO A LER

“O Rapaz que Seguiu Ripley”
Patricia Highsmith

Quarto livro da série Ripley – a Ripliad, como a autora lhe chamava algo jocosamente - foi escrito em 1980 e segue a estranha vida de Frank, um adolescente americano de 16 anos suspeito de matar o próprio pai milionário que se cruza com Tom Ripley, agora um respeitável negociante de arte casado com uma herdeira francesa e que até é capaz de simpatizar genuinamente com outro ser humano. O estilo frio de Patricia Highsmith cruza-se com um universo da fase gay/Berlim de Lou Reed, que é aliás citado numa das partes do livro. A escritora ainda voltaria a Ripley em mais uma história , “Ripley Debaixo de Água”.

O QUE EU ANDO A VER

Blackkksman, o Infiltrado.
Spike Lee

Melhor filme de Spike Lee desde “Infiltrado” (“Inside Man” no original, o nome em português é o mesmo de Blackkksman, vá lá saber-se porquê), é uma espetacular farsa baseada na história verídica do primeiro detetive negro do Colorado que nos anos setenta fez passar por um branco racista para se infiltrar no Klu Klux Klan. Os episódios mais delirantes são todos reais e como renego o spoiling não digo mais nada. Quando Spike Lee já estava a editar o filme, deu-se a marcha "Unite the Right", organizada por supremacistas brancos que se envolveram em confrontos com manifestantes e acabou com o brutal atropelamento de Heather Hayer. Lee decidiu incluir imagens no final do filme e dedicou-o à manifestante assassinada. E a farsa tornou-se um violento soco no estômago que todos devíamos levar.

Hoje é o dia internacional da gentileza. Se puder, pratique-a. E obrigado por tê-la tido para ler este curto até ao fim. O Dia B pode ser seguido no Expresso e na Tribuna.

Lusofutebol | Está no seu ADN


António José Gouveia | Jornal de Notícias | opinião

Tribunais, investigações, mandados, buscas, crimes, terrorismo, sequestro. Todas estas palavras estão ligadas, de alguma forma, ao futebol e aos clubes portugueses. Tem sido assim ao longo de décadas e já se pode dizer que, infelizmente, está impregnado no seu ADN.

O futebol tem tanto de apaixonante e vibrante como de fazer ressurgir os sentimentos mais primitivos. Todos os casos à volta deste desporto, desde os e-mails, do e-Toupeira, do Mala Ciao, do ataque de um bando de homens das cavernas aos jogadores do Sporting e, mais recentemente, do alegado envolvimento do ex-presidente Bruno de Carvalho, só vêm provar que é necessária uma revolução no futebol português. Os principais culpados nem são os dirigentes. Esses fazem o que lhes é permitido pelos adeptos, pelos patrocinadores ou pelas autoridades que deveriam zelar por uma indústria que já é bastante relevante em Portugal. Enquanto os adeptos não castigarem os seus dirigentes pelos alegados atos ilegais, estes vão sempre assumir que o clube são eles e eles o clube. A postura dos sócios e adeptos de cada vez que há razões para investigações, mandados, buscas ou crimes é a de culpabilizar o rival colocando no pedestal do Olimpo aqueles que prevaricaram ou até que prejudicaram gravemente o clube. Ponham os olhos na Liga Inglesa. Fala-se de tudo dentro e fora das quatro linhas, mas raramente de escândalos semelhantes aos que se passam neste retângulo da Península Ibérica. Mas as "culpas" também são repartidas por quem organiza os campeonatos e por leis que são feitas para serem laxistas, ultrapassáveis e até esquecidas. É um cenário negro e mesmo assim consegue mover multidões. É só essa a razão por que existem ainda patrocinadores que apostam no futebol. E mesmo esses vão rareando. A não ser aqueles que, para o seu negócio, estão dependentes de um dos conteúdos mais apetecíveis.

*Editor-executivo do JN

Spooooorting | Bruno de Carvalho indiciado por 56 crimes e um é de terrorismo


Mandado de detenção de Bruno de Carvalho revela que o ex-presidente do Sporting está indiciado por 56 crimes, um deles de terrorismo, na sequência do ataque a Alcochete a 15 de maio.

Segundo o JN apurou, Bruno de Carvalho está indiciado por dois crimes de dano com violência, 20 crimes de sequestro, um crime de terrorismo, 12 crimes de ofensa à integridade física qualificada, um crime de detenção de arma proibida e 20 crimes de ameaça agravada.

O ex-presidente dos leões e Mustafá, líder da Juventude Leonina, foram detidos no domingo à noite. Serão ouvidos esta terça-feira no Tribunal do Barreiro.

Jornal de Notícias | Na foto: Bruno Carvalho / Rodrigo Antunes - Lusa

Megalómana ponte Maputo-Ka Tembe custará 1,3 bilião de dólares aos moçambicanos


Foi enfim inaugurada a megalómana ponte entre a cidade de Maputo e o distrito municipal de Ka Tembe. Oficialmente o custo é de 785 milhões de dólares norte-americanos no entanto os moçambicanos vão pagar, ao que tudo indica com as receitas do gás natural da Bacia do Rovuma, por esta ponte dos “maputenses” cerca de 1,3 bilião de dólares à China. Só em juros serão mais de 30 milhões de dólares norte-americanos anuais até 2039.

O Presidente Filipe Nyusi descerrou a placa, com o seu nome, e cortou a fita mas a ponte suspensa mais longa do continente africano deveria ter sido inaugurada por Armando Guebuza, que aliás fez-se presente no evento que parou a capital moçambicana no passado sábado (10), pois foi o seu Governo que em 2011 iniciou o endividamento dos moçambicanos para esta obra.

“Hoje é um dia ímpar para a nossa história, o sonho de Samora Machel, herdado sabiamente por Joaquim Chissano e posto em andamento por Armando Guebuza foi concretizado. Nós não fizemos nada de extraordinário senão garantir a conclusão sem interrupção da obra iniciada seis meses antes da nossa tomada de posse no momento em que o país enfrenta desafios de carácter económico” reconheceu Nyusi.

Mas à parte das toneladas de cimento, betão, areia, ferro e outros materiais de construção usados na obra, que é uma afirmação da presença chinesa no nosso país, afinal “Moçambique constitui uma parte importante da extensão histórica e geográfica da iniciativa um cinturão e uma rota em África”, como afirmou o embaixador Su Jian, fica uma dívida de 756.567.361 de dólares norte-americanos, que corresponde ao Orçamento do Conselho Municipal de Maputo para mais de 13 anos.

Aliás dava para cobrir o actual Fundo de Compensação para as 53 Autarquias de Moçambique durante toda década.

Questionado sobre como Moçambique vai pagar esta dívida o ministro da Economia e Finanças disse que essa é uma responsabilidade da Empresa Maputo Sul. “Eu não posso estar a falar aqui em nome da empresa, gosto também de ouvir qual é a explicação que a empresa vai apresentar ao Governo, não vou agora dar a solução antes da apresentação do problema”, afirmou Adriano Maleiane a jornalistas durante o evento de inauguração.

Contudo em Setembro último o Presidente Nyusi revelou, depois de participar no 3º Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), que o período de graça, que foi de 5 anos, terminou e a amortização do empréstimo desta ponte, que não é prioridade para os moçambicanos mas é a mais cara infraestrutura construída depois da independência de Moçambique, começa já em 2019.
Juros da ponte Maputo – Ka Tembe ultrapassam os 30 milhões de dólares

O @Verdade apurou que o empréstimo concessional, rubricado a 19 de Julho de 2012 pelo então ministro das Finanças, Manuel Chang, tem uma maturidade de 20 anos, quer isto dizer que os moçambicanos vão pagar 4 por cento de juros até 2039 e o custo total da ponte deverá ascendera pelo menos 1,3 bilião de dólares norte-americanos.

Não foi possível apurar em que modalidades será amortizado o capital de dívida, todavia o @Verdade entende poderá estar previsto começar a ser pago durante a última década da maturidade, que é quando Moçambique espera que os cofres dos erário fiquem mais recheados com as receitas fiscais do gás natural que será explorado na Bacia do Rovuma, na província de Cabo Delgado.

Importa não esquecer que aos 756 milhões de dólares emprestados pela China, através do seu EximBank, o Governo de Filipe Nyusi teve de comparticipar com cerca de 30 milhões de dólares norte-americanos, correspondentes a 5 por cento do custo total da ponte.

Os dados oficiais sobre a dívida de Moçambique à China, consultados pelo @Verdade, indicam que a 31 de Dezembro de 2016 ascendia a 120.922952.000 de meticais (cerca de 2 biliões de dólares norte americanos).

As autoridade moçambicanas indicam que o custo anual de manutenção da ponte será de pelo menos 1 milhão de dólares e é um dado adquirido que o preço das portagens não será suficiente para cobri-lo assim como pagar só os juros de mais de 30 milhões de dólares norte-americanos.

Também é certo que o Município de Maputo não irá arcar com essas despesas que representam mais de metade do seu orçamento anual, que em 2018 cifrou-se em pouco mais de 56 milhões de dólares. Portanto os 28 milhões de moçambicanos irão pagar por esta ponte que não lhes serve.

Recorde-se que o custo inicial da ponte Maputo – Ka Tembe foi de 350 milhões de dólares norte-americanos. Oficialmente o aumento até 785 milhões de dólares deveu-se a inclusão da construção da estrada Ka Tembe até a Ponta de Ouro. Mas a um custo médio de 1 milhões de dólares, por cada um dos 180 quilómetros da estrada construída, mesmo contabilizando as pontecas que foram necessárias edificar, o custo adicional não seria de mais de 200 milhões de dólares em Moçambique ou mesmo em qualquer outro local do globo.

Adérito Caldeira | @Verdade

Moçambique | 82% dos que vivem na extrema pobreza excluídos da protecção social


Mais de 80 por cento dos moçambicanos que vivem na extrema pobreza estão excluídos do sistema de protecção social. O director nacional da Assistência Social fala em falta de capacidade financeira para alargar a cobertura deste serviço básico.

Apenas 18 por cento dos moçambicanos em situação de vulnerabilidade está a receber ajuda do Estado, ou seja, a maioria, imagina-se (82 por cento) encontra-se excluída do sistema.

Justificações para esta baixa cobertura não faltam para a Direcção Nacional da Assistência Social, na voz do respectivo director, Moisés Comiche, que aponta a falta de capacidade do Estado financiar os programas de ajuda às famílias mais pobre.

“Já tivemos números muito abaixo. Há um esforço de anualmente se alargar os programas de protecção social, bem como realizar ajustes da tabela dos beneficiários”, referiu Comiche.

Adolfo Tocura, é residente em Chagara, província de Tete, um dos poucos beneficiários, revelou que no passado percorria todos os meses mais de 12 quilómetros para receber 210 meticais, mas hoje a distância reduziu bastante, porém, o valor que recebe contínua igual.

“Continuo a receber 210 meticais, muitos idosos como eu passam por inúmeras dificuldades para ter o dinheiro. As vezes passamos longas horas na fila. Há até quem pernoita nos postos de pagamento para conseguir o valor”, contou o velho Tocura.

Esse é o quadro da situação da cobertura dos programas de protecção social, num país onde cerca da metade da população vive na extrema pobreza e com uma taxa de desemprego que ronda nos 25,3 por cento.

É, perante este cenário, que a Plataforma da Sociedade Civil Moçambicana para Proteção Social iniciou esta segunda-feira, em Maputo, sessões de debate a respeito, envolvendo vários intervenientes do sistema.

Edson Arante | O País

São Tomé | Carvalhadas & Machim


Isabel de Santiago* opinião

Afrogeringonça. A versão africana, democrática, da geringonça existente em Portugal vai ter inicio em breve. Por mais engenharias ou Carvalhadas sem Machim, a Constituição da República existe, repito: existe, e vai ser Respeitada. Com tempestades (nos bastidores), Trovoadas políticas mas medrosas (um líder que se preze, jamais abandona o País, como um menino mimado que lhe tiraram a chupeta). Shame on you!

O  fugitivo, que só fugiu porque se diz doente (upss, diz-se doente! Mas não se trata no seu Hospital, para onde levou o Jovem Celso Monteiro que entende tanto de gestão hospitalar como eu de águas profundas, para onde mergulharam o povo santomense e o País.

Vamos a factos: o povo decidiu. O povo escolheu soberana e politicamente. Os partidos uniram-se. Na primeira linha MLSTP – PSD numa expressão de 23 assentos parlamentares, associando-se à coligação numa aliança de PCD+UDD+MDFM, traduzidos em 5 assentos parlamentares e o Movimento Caué com apenas 2 assentos nominais de António Monteiro e a Beatriz Azevedo, jovem descoberta por Presidente Pinto da Costa ex MLSTP – PSD promissora.

Acredito que o António Monteiro, um homem inteligente estará ao lado da nova liderança do País. Eu acredito e defendo que o mundo se divide em gente do Bem e do Mal. Deixo aqui a promessa que encetarei negociações com eles e farei com que todos representemos o Bem, a favor de desenvolvimento do País. Amorteceu. De que me serve. Informatização de serviços quando não temos luz elétrica nem são criadas centrais de energia renovável? De que me serve trazer um diretor de Londres para gerir o Hospital, sem expertise, se os reagentes são desviados e não se fazem as análises? Não me esqueço da Anabela das Dores. E não me esqueço do Racismo absurdo de uma médica (diz-se) de nome Camélia que escondeu os resultados a que tive acesso, porque temos tons de pele diferentes. Pode rezar  Ave Marias sem fim e peça perdão pelo que não fez. A Anabela partiu e nem 18 anos tinha.

De que serve termos uma constituição se ela tem sido violada? De que servem os magistrados se eles têm sido os principais prossecutores de desrespeito às Leis em vigor no País? Dou o caso vergonhoso da Juíza de 1ª instância cuja filha enviou para o País uma vez que tanto ela como a sua irmã, na Justiça,  mas não Justiceira nem respeitadora dos Direitos Humanos, apenas quiseram servir os seus interesses criando a vergonhosa situação que começou por ser uma manifestação pacífica e acabou na vergonha de ataques e rajadas de AK?

–É que – contrariamente ao que diz o filho de Miguel Trovoada – foram montados todos os palcos para a acusação. Intimidação como os recados de “amor e desamor” de Levy Nazaré à minha pessoa. Fala, Fala, mas seguiu mesmo caminho do aprendiz de Líder.

De que serve um líder se não sabe liderar? De que serve a ADI(tadura) se os seus dirigentes – por acaso membros do Governo cessante – fogem com medo?

De que serve serem tão bons e tão fantásticos autores de projetos (falaciosos e sem projeção no país) se as estradas estão sempre esburacadas, o esgoto é um atentado sério à saúde pública sobretudo das nossas mulheres que são as maiores empreendedoras do país, as nossas Palaês?

Na verdade, de que serves tu, rapaz da camisa branca de duas riscas – azuis e amarelas – se manchaste o país com o Machim da tua ganância e até o Chefe de Estado entrou no Jogo?

De que serve um Chefe de Estado que é “eleito” com manipulação de votos retirando a vitória a uma mulher que deveria ser a Presidente da República neste momento.

Senhor Presidente, nos seus mais de 75 anos, e pai de mais de 25 filhos apelo a sua razoabilidade: respeite o seu Povo. Respeite a decisão que é nossa. Respeite a Democracia. E exija ao Primeiro Ministro cessante que regresse, devolva os dossiers que já começaram a desaparecer e sobretudo, não vincule o nosso País a mais contratos (desconhecidos) e que apenas beneficiam quem os desenvolve.

Chega de Machadadas e Machim. Como V. Excelência referiu aos meios de comunicação social que respeito (Téla Non e LUSA)  no dia em que votou, O povo põe, o povo tira. O Povo santomense saiu à rua, numa noite, de um dia assim e tirou-o do poder. Dixit

Mostre agora, Senhor Presidente que é um promotor e respeitador da nossa Constituições e esteja ao lado do seu Povo. É que “ê cigá zá ê” de Carvalhadas&MachinsTrovoantes

*Isabel de Santiago, em Téla Nón | Foto: Isabel Santiago

Angola | 43 anos mais tarde


Caetano Júnior | Jornal de Angola | opinião

Sobre o início da Luta Armada de Libertação Nacional decorreram mais de 57 anos. Já a proclamação da Independência Nacional, consequência directa do acto heróico iniciado a 4 de Fevereiro de 1961, aconteceu há 43, evento cujo simbolismo Agostinho Neto eternizou para o mundo naquela madrugada de 11 de Novembro. As motivações por detrás da acção dos combatentes angolanos são conhecidas, embora seja sempre importante lembrá-las, quer para avivar memórias, quer para delas dar conta a quem as desconhece.

Nestes tempos de preocupações que clamam por toda a atenção e também de superficialidade que mereciam desprezo, vale sempre insistir no esforço de recriar o sinuoso percurso que levou os angolanos à autodeterminação. Hoje, no intervalo de um pestanejar, verdades ganham contornos de mentira e, no mesmo ápice, mentiras descaradas passam, com a cuidada insistência, a verdades convenientes a determinados grupos de pressão.

Assim, para prevenir o surgimento do que a convenção de mal intencionados designou por "factos alternativos", é preciso relembrar eventos; urge divulgar as circunstâncias em que se desenrolaram determinados acontecimentos. E este deve ser um processo contínuo, executado a cada instante, ao longo do tempo. À História deve estar mesmo reservado o papel de "memória", ficando a quem tem a obrigação de a munir de informações fazer a parte que lhe cabe.

Uma avaliação às condições sob as quais viviam os angolanos à época da colonização ajuda a compreender o estado de espírito que os animou, quando partiram à conquista da liberdade. Quem, na sua própria terra, sofre com a violência, suporta a discriminação e abusos de toda a ordem, enfim, aguenta enormidades que só a escravatura inflige, acaba, mais cedo ou mais tarde, por apelar ao ser reivindicador que tem dentro de si e à revolta. Afinal, mais vale morrer com alguma dignidade a viver o resto da existência vergado a humilhações, que a cobardia aconselha a aturar.

As páginas que se estendem pela frente, nesta edição essencialmente dedicada ao 11 de Novembro, estão preenchidas com testemunhos vivos de figuras ligadas, de alguma forma, a processos que ajudaram a desencadear eventos desfavoráveis à colonização. Depoimentos emotivos, narrados em meio a lembranças dolorosas, transportam-nos para um passado de sofrimento, mas de resiliência, por meio da qual a luta clandestina percorreu até se consagrar; até  se proclamar a vitória sobre a força que também se conhecia como “potência” colonizadora. São, na verdade, documentos legados às novas gerações para que conheçam a trajectória do País que os trouxe à luz.  
 
Como se vê, para os compatriotas desses tempos de calvário, a alternativa era evidente. E, a muitos deles, o exercício do patriotismo e o resgate da terra custou a vida; a outros, o mesmo esforço traduziu-se na compreensão de que o País alcançara, finalmente, a Independência; de que a terra lhes pertencia e podiam dar-lhe o destino que melhor conviesse. Eis um dos benefícios de se ser um povo autodeterminado, soberano, detentor do pleno direito de se governar, fazer escolhas próprias, sem intervenção externa, embora consciente da necessidade de cooperar com outras Nações.

Hoje, decorridos 43 anos sobre a proclamação da Independência Nacional, o reconhecimento de que não há benefício maior deve ser unânime. Ainda que, vez por outra, o esforço de reconstrução nos tolhe de cansaço, o trabalho que se estende pela frente nos baixe o ânimo ou os contratempos do percurso nos abalem a esperança. É preciso seguir nas acções que conduzem à normalização do país: na transparência, no resgate, na moralização, na educação, na harmonização, na verdade ...

ZELAR PELOS NOSSOS RIOS, É ZELAR PELA VIDA!


EM SAUDAÇÃO AO 43º ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA


1- A 1ª fase da Operação Transparência, que terá sob o ponto de vista humano profundas implicações sobretudo no triângulo norte do território angolano, desde as fronteiras com a RDC, até à REGIÃO CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES, estará em curso até 2020, altura em que Angola completará 45 anos de independência.

De entre as muitas acções urgentes que há a desencadear com a reorganização dos diamantes explorados nas bacias hidrográficas do país e em particular nesse triângulo norte, estão as que se inscrevem nas medidas ambientais.

Isso é tão mais importante quanto o Ministério do Ambiente, não se ouve, não se vê, nem se sente em relação à Operação Transparência… quando a transparência tem tanto a ver com a água.

De facto ao mesmo tempo que de aldeia em aldeia, de comuna a comuna, de município a município, se desenrola a Operação Transparência, que neste momento decorre em 11 das 18 províncias do país, seria necessário um inventário ambiental fazendo a leitura dos prejuízos decorrentes nas bacias hidrográficas mais afectadas pelas explorações selvagens de diamantes aluviais, as do Cuanza, do Cuango e do Cassai.

Essa leitura além do mais é crítica também em relação às implicações do Cuango e do Cassai no espaço nacional da República Democrática do Congo, tendo em conta que a bacia do Cassai é das mais importantes na afluência ao maior pulmão tropical de África e o segundo maior do globo!

2- Tirando partido das acções do âmbito do exercício de soberania das Forças Armadas Angolanas implicadas na Operação Transparência e em tempo de paz, equipas adstritas sob orientação do Ministério do Ambiente deveriam estar aptas a fazer esse inventário, desde as nascentes de cada curso de água, até aos percursos hidrográficos e leitos dos rios afectados, pois a reorganização da exploração e comércio de diamantes aluviais não pode excluir o conhecimento adquirido a partir desse inventário, por que em nome da civilização não se pode voltar a incorrer no bárbaro desnorte das últimas décadas!

Por um lado as FAA deveriam estar a criar unidades de fuzileiros aptas ao reconhecimento e controlo dos rios angolanos, algo que já propus citando o exemplo das iniciativas da Venezuela Socialista e Bolivariana, particularmente no Orinoco (“Vencer assimetrias”)…

Por outro, as universidades e institutos superiores angolanos, deveriam actuar de forma conjugada com as unidades policiais e militares, no inventário dos prejuízos, pois são elas que devem levar a cabo as imensas tarefas de resgate do conhecimento cientificado que há a realizar em relação à água interior do país, em benefício da independência, da soberania, da segurança e dum futuro de desenvolvimento sustentável para as gerações que se nos seguem!

Essa seria a fórmula mais coerente de mobilizar a juventude angolana que, ao invés de andar distraída com tanta alienação que nos chega por via das novas tecnologias a partir do exterior, tem assim bastos motivos patrióticos para, conhecendo profundamente o seu próprio país, o seu próprio território e as questões mais marcantes de sua própria natureza, se afirmar e projectar em direcção ao futuro!

Essa plataforma de acção deveria estar nos caboucos duma cultura nacional patriótica, indexada a uma GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, capaz de potenciar as profundas medidas que, no âmbito da independência e da soberania, impactem sob os pontos de vista infraestrutural e estrutural, sobre o que nesse aspecto advém do longo processo colonial.

3- Angola, 43 anos depois da independência de bandeira, continua encalhada numa visão colonial de implantação infraestrutural, estrutural e de “pólos de desenvolvimento”, como se um Diogo Cão invisível abordasse hoje a costa, com todas as velas pandas, vindo do norte pelo mar.

A partir do desencadear da Operação Transparência, há a oportunidade e a possibilidade de começar a alterar essas tendências que, advindo do passado, têm tantas implicações nas assimetrias do país!

É evidente que essa questão prende-se não só à gestação coerente da identidade nacional, mas também com a gestação dos programas de desenvolvimento sustentável e amigo do ambiente, de forma a garantir que os cursos de nossos rios, que tanto têm a ver com a vida em todo o território angolano, estejam saudavelmente disponíveis em benefício das futuras gerações e com horizontes a muito longo prazo, ao longo dos próximos séculos!

Lutar de forma inteligente e patriótica contra o subdesenvolvimento, passa pela formulação da GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL que faça a densa leitura antropológica irradiando na e a partir da REGIÃO CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES e sobre a imensidão que há a descobrir na e com a ROSA DOS RIOS angolana!

De que se está à espera para dar à ignição essa tão legítima quão vital aspiração?

Zelar pelos nossos rios, é zelar pela vida, zelar acima de tudo, pela vida das futuras gerações!

Martinho Júnior - Luanda, 7 de Novembro de 2018

Base de consulta:
GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –   http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/geoestrategia-para-um-desenvolvimento.html

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