domingo, 6 de janeiro de 2019

África, dileto alvo neocolonial - Martinho Júnior


Martinho Júnior, Luanda 

1- As âncoras de África no que toca à questão essencial do seu subdesenvolvimento, resultam dum conjunto muito alargado de factores de ordem antropológica, histórica e contemporâneos, estes resultantes do capitalismo neoliberal globalizante e de tendência hegemónica unipolar, fundamentalmente desde o início da década de 90 do século passado, com toda a perniciosa cadeia de correntes de acção que disseminou (a começar no “soft power” dos seus procedimentos culturais indexados ao fluxo das novas tecnologias instrumentalizadas pela aristocracia financeira mundial).

Desse modo há um conjunto muito alargado de factores socioculturais forjados no e desde o passado, uns de há milénios, outros ao longo dos cinco últimos séculos, que são reaproveitados pelos “livres” impactos do capitalismo neoliberal contemporâneo por via de suas acções de choque e terapia, que no terreno mole das democracias representativas de contingência, em África tão fragilizadas, tão subvertidas e por vezes tão malparadas, estão abertas à “sublimação” de ideologias radicais fundamentalistas, ou mesmo de nacionalismos tão arcaicos que derivam em estreitos procedimentos de corrupção, ou mesmo em fascismos, que se adequam às insipiências dos próprios estados a ponto de ser possível que em república possam vingar sucessões familiares em especial onde os suportes neocoloniais ou de assimilação foram historicamente mais fortalecidos.

As motivações de guerra psicológica de baixa intensidade e ao sabor dos interesses extracontinentais, derivam de tudo isso e África não indicia capacidades independentes e soberanas de contramedidas, até por que os projectos estratégicos infraestruturais, articulando mas integrando, estão por conta de outros, de fora do continente!


2- A dialética entre as culturas nómadas e de criação de gado em regime de transumância, redundantes dos maiores e mais quentes desertos do globo (Sahara e Sahel) e as culturas sedentárias redundantes das regiões tropicais ricas em água (sobretudo na bacia do Congo e Grandes Lagos), onde proliferam as disputas pelo espaço vital, é uma dialética de fluência milenar desde a civilização egípcia forjada entre o deserto e o vale do Nilo.

Os movimentos migratórios africanos (a partir do Sahara e Sahel em direcção ao Mediterrâneo e em direcção à África Austral), assim como a acção de rebeldes ou de terroristas, resultam ainda hoje dessa dialética tão sensivelmente contraditória, porque os modos de produção não absorveram de forma ampla a complexidade dos processos da revolução industrial, ficando-se nas imensas áreas desérticas ou rurais (que neste caso ainda são bastante populosas), por atavismo e arrasto, em processos característicos de nomadização, de economias de subsistência, ou mesmo de expedientes de recolecção, incapazes de poder corresponder e fazer face por si às tão apelativas e impactantes culturas modernas extracontinentais.

O colonialismo agravou assim o estágio económico subdesenvolvido dessa dialética antropológica, o que explica por que as economias coloniais subsistiram tanto tempo em função das fragilizadas culturas, que a partir da Conferência de Berlim foram sujeitas a poderes dominantes extracontinentais, que deram continuidade ao despotismo e dividiram o continente sem respeito algum pelos africanos, apenas “para melhor reinar”, dispor de mão-de-obra escrava ou barata e ter acesso às matérias-primas, ainda que competindo entre si, ou por intermédio de terceiros (mercenários e rebeldes de ocasião).

Esta dialética antropológica tem neste momento condições físico-geográfico-ambientais e humanas para se radicalizar, pois além do mais, há diminuição de caudais freáticos nas regiões equatoriais e tropicais húmidas, afectação danosa de muitas nascentes e cursos dos rios, a redução drástica de florestas e de biodiversidade (há espécies em vias de desaparecer) e a população humana está a aumentar exponencialmente apesar das guerras e das epidemias!


3- O capitalismo neoliberal que começou a gerar impactos em África aproveitando o fim do “apartheid” na África Austral (o fim da acção dos movimentos de libertação que levaram a cabo a luta armada), tirando partido desse estado de torpor e de inércia onde as conquistas da revolução industrial praticamente nunca existiram (à excepção da África do Sul), moldaram por via do choque a que se seguiu a terapia, a mentalidade dominante do quadro das democracias representativas que simultaneamente foram geradas por seu engenho e arte dominantes, substituindo os modelos coloniais pelos novos modelos neocoloniais de domínio, assimilação e formação das elites em disputa do poder.

O “soft power” das potências e suas poderosas transnacionais globalizantes, obedeceu desde logo a modelos e parâmetros obrigatórios de natureza sociopolítica, que tiveram oportunidade de deitar mão e sobre a plataforma antropológica adveniente do passado, foram-se estabelecendo, de forma quantas vezes caótica, consumismos modernos e até franjas intensivas de novas tecnologias, particularmente no âmbito das comunicações.

Desse modo África, já de si desarticulada pelos choques neoliberais, atraía aos fulcros onde os benefícios da revolução industrial e das novas tecnologias se faziam (e fazem) melhor sentir, ou unicamente sentir, a desamparada mole errática redundante das culturas humanas em contradição milenar, pelo que as migrações em busca da legítima miragem de melhores condições de vida, aumentaram inexoravelmente de intensidade, engrossando a população urbana, mas subsistindo em subculturas por vezes em condições de extrema insalubridade e em manchas enormes de pobreza, vulnerabilidade, marginalidade e criminalidade!

A China, que determinou uma parceria estratégica com África, tem-se empenhado de há 29 anos a esta parte, na criação de infraestruturas e estruturas numa perspectiva de “ganha-ganha” e procurando estimular concepções na base de várias “belt and road”, tudo isso com um alinhamento progressivo dos atordoados (para não dizer anestesiados) africanos, remetidos ao silêncio acabrunhado perante a poderosa mas aliciante aproximação!…

Lembre-se que quem cala, consente!

Ao criar em Djibouti uma base militar, a China indicia a tentativa de a partir daí e do seu empenho na Etiópia, estabelecer por terra a conexão ao Senegal, ao longo dum paralelo que ligará o Índico ao Atlântico por toda a transversal (paralelo) do Sahel; nesse sentido a tradicional visita ao continente do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, nos primeiros dias deste ano premiou a Etiópia, o Burkina Faso, a Gâmbia e o Senegal.

A China responde desse modo à proliferação de bases militares estado-unidenses e da “FrançAfrique” espalhadas por todo o Sahel, com uma proposta de intervenção infraestrutural estratégica, do Senegal ao Djibouti (Somália).

Não é pois de estranhar o convite chinês feito aos Estados Unidos para uma parceria estratégica dirigida ao continente africano!


4- A leitura dominante adstrita à inteligência das potências da “civilização judaico-cristã ocidental” em relação a África, foi-se duma forma ou de outra apercebendo do conjunto dos fenómenos e não lhes foi difícil, (até por que tinham à sua disposição instrumentos e “know how” nunca negligenciados por si), desencadear as acções a partir do momento da queda do “apartheid”.

Na própria África do Sul, tudo foi feito para que o pensamento e a acção elitista permanecesse intocável na sua essência e natureza, ainda que se passassem a aproveitar outras direcções do empenho, por exemplo ocupando o vazio das questões ambientais geoestratégicas e às múltiplas derivadas daí advenientes (por exemplo os Parques Nacionais Transfronteiriços de Paz, o turismo ambiental para os ricos extracontinentais, as “lodges”… tudo tanto quanto o possível associado à exploração dos diamantes, conforme ao modelo do Botswana)!

Angola está atraída pelos conceitos elitistas “de nova geração” desencadeados pelo cartel dos diamantes e “lobby” dos minerais e, ao invés de começar a controlar e a delinear geoestratégias em função da região central das grandes nascentes prioritariamente protegendo e conhecendo cientificamente as fontes dos seus rios, está preocupada com os projectos do Kawango and Zambezi Trans Frontier Conservation Area e as iniciativas de turismo que lhes estão adstritas, sabendo que o próximo passo da exploração quimberlítica de diamantes por parte do cartel, será no Cuando Cubango!

Na África do Sul, no ambiente sociopolítico e económico foi aberto espaço ao “black empowerment”, que desde logo com Nelson Mandela (recorde-se a “Mandela Rhodes Foundation”) não punha em causa o elitismo, antes o estimulava noutros moldes em consonância com o mesmo “lobby” dos minerais que sustentou Cecil John Rhodes e sustenta agora as iniciativas-mestras na África Austral e África adentro a partir do sul.

Por outro lado e com base na cidade do Cabo (onde Cecil John Rhodes assentou arraiais), distende-se o processo investigativo sul-africanos sobre o Índico Sul, o Atlântico Sul e a Antárctida, onde a África do Sul possui uma estação há mais de 50 anos e é o único país africano ali presente!

Os vínculos têm sido de tal modo poderosos que no âmbito das emergências multilaterais a África do Sul foi integrada nos BRICS e o velho plano de Cecil John Rhodes, “do Cabo ao Cairo”, na trilha da British South Africa Comany, afigura-se na melhor das vias para um “belt and road” contemporâneo em África, algo que esta China não está também a negligenciar.

Essa terá sido uma das razões estratégicas do seu empenho na construção do TanZam, a ferrovia que liga o “copperbelt”transfronteiriço da RDC e Zâmbia, ao porto de Dar es Salam, capital da Tanzânia, no Índico, por contraposição ao Caminho de Ferro de Benguela que escoa o cobre na direcção do Atlântico.

Nesse sentido foi já feito um ensaio de “belt and road” ferroviário no paralelo que liga o Lobito a Dar es Salam, na parte norte do espaço da SADC…


5- Continente adentro e depois do grosso da descolonização (o Sahara subsiste como colónia de Marrocos), o choque neoliberal estimulado pelos Estados Unidos e transnacionais de origem estado-unidense (anglo-saxónicas), foi sangrento e traumático desde logo nos Grandes Lagos e bacia do Congo, no nó principal da água e bem no miolo do continente, alastrando no que foi considerada a Iª Guerra Mundial Africana, reflectindo os interesses do “lobby” dos minerais e seus homens-de-mão.

Os interesses extracontinentais tinham necessidade premente dos minerais preciosos do Congo, particularmente os metais raros que são essenciais para as novas tecnologias de última geração e essa riqueza situava-se precisamente nos Kivus, entre a bacia do Congo e os Grandes Lagos…

Tudo começou em moldes de choque neoliberal indexado aos democratas estado-unidenses no início de 1990, mas entre Abril e Julho de 1994, no Ruanda, um genocídio sem precedentes desencadeou-se e foi repercutindo além-fronteiras sob o meio cúmplice olhar de Bill Clinton, ele próprio antigo governador do único estado onde há diamantes, o Arkansas, ele próprio um “emérito rhodes schollarship”, ele próprio um expoente do capitalismo neoliberal assíduo do Ruanda, da África do Sul e do Botswana (afim às correntes ideológicas elitistas desse tipo de contextos), ele próprio amigo pessoal do Presidente do Rwanda Patriotic Front, Paul Kagame, formado nas academias militares dos Estados Unidos!

Não é de admirar que neste momento Paul Kagame esteja à frente da União Africana!...

Na substituição do poder em Kigali, aqueles que eram apoiados pela inteligência e “expedicionários” franceses e belgas num processo de extrema radicalização e fundamentalismo étnico e religiosos, foram derrotados, indiciados por muitos dos seus crimes e perseguidos, bacia do Congo adentro (espalharam-se sobretudo pelos Kivus onde o grosso se instalou precariamente e constituiu crónicos grupos rebeldes).

Nem a “Opération Turquoise” decidida pela “FrançAfrique” valeu ao derrubado “poder hutu” (até o minúsculo Ruanda, país das mil colinas, foi dividido pelo colonialismo entre tutsis e hútus… para assim melhor reinar e ainda melhor traumatizar).

Desde então, derrubando-se Mobutu já com um regime antidemocrático, obsoleto e em estertor, multiplicaram-se as tensões, os conflitos e as guerras, incluindo em Angola, onde Savimbi, aproveitando-se dos êxitos alcançados no campo político-diplomático de Bicesse em 31 de Maio de 1991, protagonizou no terreno a iniciativa do choque neoliberal entre 1992 e 2002.

Os seus suportes portugueses, em especial Mário Soares e franjas do PSD e CDS, têm tudo a ver com isso, no âmbito dum “arco de governação” inspirado num 25 de Novembro (de 1975), que repescou muitas das capacidades ideológicas e de inteligência inerentes ao spinolismo e ao Exercício ALCORA (o acordo secreto entre o colonialismo português e o“apartheid”, estabelecido “em defesa da civilização ocidental e contra a progressão do comunismo” de acordo com os cânones de influência cristã-democrata do “Le Cercle” animado pelas “redes stay behind” da CIA e da NATO).


6- Como se tudo não bastasse para África, na sequência do 11 de Setembro de 2001 e após o derrube das Torres Gémeas de Nova-York, os Estados Unidos desencadearam acções de ingerência e manipulação, tirando partido de seus aliados arábicos, que alastraram as acções que com os europeus protagonizaram nos Balcãs acabando com a Jugoslávia!

Chegara a vez dos republicanos ficarem ao serviço do capitalismo financeiro transnacional, sustentados pelos “lobbies”do petróleo e do armamento, algo que aumentou a onda de choque e de trauma imediatamente antes da tentativa de instalação dos processos de terapia neoliberal de seu inteiro interesse e conveniência!

Em África, no princípio (enquanto o Iraque e o Afeganistão eram atacados e alvos de todo o tipo de destruições) o petróleo era promovido pelas ideologias “ocidentais” como uma tão esperada quão bonançosa ilusão (foi assim por exemplo no Golfo da Guiné sob os auspícios do Institute for Advanced Strategic and Political Studies no âmbito do Africa Oil Policy Initiative Group), mas quando em 2011 o AFRICOM (que havia sido criado em 2007) e a NATO atacaram e destruíram a Líbia de Kadhafi para implantar o caos e o terrorismo do Senegal à Somália e do Mediterrâneo ao Lago Chade e bacia do Congo (República Centro Africana), o petróleo passou também a ser um pesadelo ao nível dum “excremento do diabo”, similar ao criado pelo “lobby” dos minerais que lhe precedeu!

Democratas e republicanos convergiram com Bill Clinton, com George Bush e com Barack Hussein Obama (de pai queniano) nos seus “bons ofícios” a favor do capitalismo financeiro transnacional dirigido também a África, em função do neoliberalismo que havia passado a nortear os interesses da aristocracia financeira mundial desde a administração de Ronald Reagan, que findou no início de Janeiro de 1989, imediatamente antes das conjunturas da Guerra Fria terem o seu fim, dando abertura aos relacionamentos internacionais neoliberais e de portas escancaradas que animaram desde então o império da hegemonia unipolar!

O capitalismo financeiro transnacional assumiu o controlo das tendências ao dispor da aristocracia financeira mundial e ondas de caos, de terrorismo e desagregação foram desencadeadas no Médio Oriente Alargado, com imediatas repercussões em África, onde já não era novidade o choque neoliberal da Iª Guerra Mundial Africana.

A NATO, alargando a sua área de intervenção das Caraíbas ao Afeganistão e intervindo em África a partir de suas bases em países mediterrânicos (sobretudo a partir da Itália), foi um dos instrumentos dessas tendências de hegemonia unipolar em função dos interesses da aristocracia financeira mundial e suas transnacionais.

Os fundamentalistas sunitas-wahabitas islâmicos produziram via Irmãos Muçulmanos um conjunto muito alargado de processos “transversais” de subversão e desestabilização, a que não ficaram indiferentes os Estados Unidos e os seus tradicionais aliados europeus da NATO em jeito de vassalos, sobretudo ao nível das antigas potências coloniais Grã-Bretanha, França e Itália.

Enquanto eram accionadas as “redes stay behind” na Europa num processo que se estendeu por todos os países que antes foram componentes do Pacto de Varsóvia que entretanto se extinguiu em 31 de Março de 1991, processos similares foram desencadeados na Europa, América Latina, África e Médio Oriente Alargado, recorrendo ao petrodólar, assim como aos financiamentos e mobilizações humanas das monarquias arábicas, fruto da aliança conhecida como Tratado de Quincy, firmado a 14 de Fevereiro de 1945 no Suez.

Acabar com Kadafi e implantar de forma expansiva o islão radical em África, foi um dos objectivos das monarquias arábicas ultraconservadoras, íntimas aliadas dos Estados Unidos e dos seus aliados-vassalos da NATO.

Sucessivas “Revoluções Coloridas” e “Primaveras Árabes” foram então desencadeadas, afectando também o norte de África (Tunísia, Líbia e Egipto, menos na Argélia onde o terrorismo foi severamente combatido e reprimido logo à nascença).

Na Líbia o caos, o terrorismo e a desagregação foram instalados até hoje, içada a bandeira do fantoche rei Ídris e a mancha alastrou à velocidade dum rastilho pelo Sahara e pelo Sahel, atravessando os desertos quentes do norte de África e chegando ao Sudão e às ricas regiões tropicais onde é tão duramente disputado o espaço vital!

7- Os poderosos da hegemonia unipolar sabiam que em África haveria uma expansão em jeito de “efeito dominó”quando Kadafi desaparecesse (dadas as características de sua acção contra as monarquias arábicas, as linhas dos seus programas vocacionados para os africanos e os interesses que aglutinava que com o seu fim deixariam um vazio em aberto, pronto a ser ocupado por outros e por outras correntes).

Os aliados “ocidentais” das monarquias arábicas sunitas-wahabitas, tacitamente moveram NATO, AFRICOM e suas forças armadas e de inteligência para arremedarem o reforço dos líderes dos países africanos afectados (muitos deles irremediáveis agentes seus à semelhança das produções “stay behind”), do Mali à Somália e do Mediterrâneo ao Lago Chade e República Centro Africana.

O neocolonialismo nessas imensas regiões de África, do Mediterrâneo ao Equador, tornou-se impetuoso e vibrante, explorando seus contraditórios ingredientes e canais de acção operativa, com a “FrançAfrique” (a França também presente no Médio Oriente Alargado e no ataque à Líbia) a ganhar novo fulgor, num também alargado “pré carré”!

Nesse neocolonialismo que se abate agora sobre África com todos os arsenais de guerra psicológica, ingerência e manipulação, conhecedores das contradições antropológicas que grassam no continente e de toda a história de África, as potências da hegemonia unipolar com os Estados Unidos na vanguarda, dividem entre si áreas de acção e influência:

Na África Austral as linhas elitistas anglo-saxónicas, ainda que a África do Sul se tisne de “arco íris” e de BRICS;

Na costa oriental de África e África Central, expedientes de indexação anglo-saxónica para fazer face aos problemas fundamentalistas na Somália, no Quénia, na Etiópia, nos Grandes Lagos e na Bacia do Congo;

Nas regiões mais ricas em água da África Central, a predominância de líderes como Yoweri Museveni ou Paul Kagame, com perfis que indiciam ser seus dedicados “homens-de-mão” cuja acção se estende para dentro da República Democrática do Congo impondo suas regras e conexões.

Na África do Oeste (desde o Congo até ao Senegal) e na imensidão do Sahara e Sahel até ao Sudão e por fim estendendo-se à Somália e Djibouti), a “FrançAfrique” domina num alargado e tácito “pré carré”, ressuscitando e rejuvenescendo as redes do “professor” Jacques Foccard, com uma amplidão de iniciativas de toda a ordem sob a cobertura duma moeda que foi criada no tempo do Franco Francês, o Franco CFA…

Os legionários da “FrançAfrique”, as Forças Militares da França, ou suas Forças Especiais, vão desencadeando missões atrás de missões, reforçando os agenciados estados propagandeados como “irmãos africanos”, por si impotentes para fazer face ao caos, ao terrorismo e à desagregação.

Forças do AFRICOM reforçam esses dispositivos, como por exemplo na base de drones no Níger e as múltiplas acções de treino e acompanhamento militar nas respostas às rebeliões islâmicas em progressão em direcção ao sul.

Todo esse expediente tácito invade o Sahel e o Sahara de forma coordenada e sincronizada, multiplicando as operações militares, numa região onde a China quer chegar com sua estratégia de “belt and road”!

Ao cabo dos últimos dez anos tentei vislumbrar capacidades próprias de renascimento africano a partir das culturas autóctones, mas o crescimento que houve, estabelecido em função de processos de assimilação sujeitos ao choque e à terapia neoliberal, nem a dialética antropológica milenar reconhece como seu, a fim de a partir dessa base melhor equacionar e estabelecer pontos de partida para fazer face aos prementes desafios que se apresentam.

Mesmo os projectos infraestruturais estratégicos da China resultam de iniciativas extracontinentais.

As fontes dos poderosos rios africanos estão em risco, estão em risco os cursos desses rios, muitos deles esventrados e delapidados por exploradores e aventureiros ávidos de suas riquezas, assim como estão em risco os aquíferos subterrâneos, tudo isso enquanto os desertos quentes se expandem, diminui a biodiversidade, desaparecem cada vez mais espécies, impactam alterações climáticas e aumenta a população disputando em convulsão o espaço vital!

África continua a ser um dilecto alvo neocolonial e nestes últimos dez anos, não só não acordou em relação à derrapagem em que se encontra, como está cada vez mais alienada em relação aos fundamentos da vida, da existência do homem e do respeito devido à Mãe Terra!

O neocolonialismo é, em função dos processos de domínio, contra a civilização da lógica com sentido de vida em África e esse domínio persuasivo ou drástico das potências e suas transnacionais impõe quase sempre, ainda que com dispersas excepções, a barbárie própria dos caminhos da divisão sem consenso, do colapso, da perdição, do abismo e da morte!

A cólera, segundo um caso recente com notícia a correr mundo, até já chegou à esterilizada Suécia!

Martinho Júnior - Luanda, 4 de Janeiro de 2019, (aniversário da revolta da Baixa do Cassanje em Angola)

Imagens:
Operações do AFRICOM ao longo do Sahel;
Operações da “FrançAfrique” no seu “pré carré”;
Acção psicológica em Agadez, com a entrega de carteiras a uma escola primária do Níger, junto à base de drones dos Estados Unidos;
O “pioneiro” Jacques Foccard e um dos seus agenciados, Mobutu, no início da construção do “pré carré”;
O major Paul Kagame num dos cursos que frequentou em Fort Leavenworth que estimulou seus “bons ofícios” em função dos interesses dos Estados Unidos em África.

Nota:
Não foram colocados links a fim de possibilitar a publicação no Facebook, que tem sido avesso a intervenções que integrem referências aos seus fundamentos.

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