'Liberdade, Liberdade' é o novo
projeto musical da cantora Helena Sarmento, em que recria o repertório de José
Afonso, nascido há 90 anos, celebrando os 45 da revolução do 25 de Abril de
1974.
Em entrevista à agência Lusa,
Helena Sarmento afirmou que José Afonso (1929-1987) é para si uma
"referência incontornável, enquanto artista e cidadão comprometido",
e que nunca deixou de estar presente nos seus discos, mas "foi chegado o
momento para elaborar um projeto" dentro do universo do autor de
"Grândola, Vila Morena".
"Já tenho este desafio desde
que comecei a cantar, profissionalmente, há dez anos, e faço parte da
Associação José Afonso [AJA], onde esta questão era recorrentemente
colocada", disse Helena Sarmento, que referiu a parceria que fez com Ana
Ribeiro e Ana Afonso, sobre o repertório de José Afonso, "Vozes ao
Alto", nascido em 2012, influenciado pelo movimento social "Que se
lixe a troika! Queremos as nossas vidas!", que teve várias intervenções.
No seu disco de estreia,
"Fado Azul" (2011), de José Afonso, Helena Sarmento incluiu
"Canção do Desterro", no álbum seguinte, "Fado dos Dias
Assim" (2013), a "Canção de Embalar", e, no álbum editado no ano
passado, "Lonjura", incluiu "Era um Redondo Vocábulo".
"Não querendo parecer
pretensiosa, para mim é muito natural cantar Zeca Afonso", disse Helena
Sarmento à agência Lusa.
Neste projeto, a iniciar na
primavera, e que a cantora perspetiva levar "ao maior número de palcos
possíveis", Helena Sarmento inclui todas as canções de José Afonso que
gravou, e ainda "Por trás daquela Janela", "Vejam Bem",
"Epígrafe para a Arte de Furtar", "Traz Outro Amigo
Também", entre outras, e de Adriano Correia de Oliveira, que partilharam
percursos, "Canção com Lágrimas", um poema de autoria de Manuel
Alegre.
Sobre o critério de escolha das
canções, Helena Sarmento explicou: "Escolhi as que me ficaram debaixo da
pele ao primeiro instante, que me arrepiam. Aquelas por que de imediato me
apaixonei. A partir daí, foi mais simples não escolher outras músicas
igualmente lindas".
Quanto à inclusão de Adriano
Correia de Oliveira, a cantora afirmou: "As carreiras dos dois, do Zeca e
de Adriano, intercetam-se e é impossível falar de um sem falar de outro".
"Curiosamente eu chego à AJA
através do Adriano Correia de Oliveira", disse Helena Sarmento, que foi
convidada a fazer parte da associação por um seu dirigente, Paulo Esperança,
que a ouviu cantar numa homenagem ao intérprete de "Trova do Vento que
Passa".
No alinhamento do projeto
"Liberdade, Liberdade", Helena Sarmento afirmou ir incluir um fado de
João Gigante-Ferreira e estar "inclinada" a escolher "Fado
Azul", que apontou como "o mais emblemático, neste contexto de
liberdade".
"O 'Fado Azul' faz uma
síntese de mim própria, está nele o meu compromisso solidário com os outros, a
minha raiz de combate, e reflete toda a minha aprendizagem com estes nomes, o
Zeca, o Adriano, entre outros".
"Fado Azul (se azul se
atreve)", é um poema de João Gigante-Ferreira, que Helena Sarmento interpreta
no Fado Vianinha, de Francisco Viana, que gravou no seu mais recente álbum,
"Lonjura" (2018).
Os músicos que acompanham Helena Sarmento neste projeto são Samuel Cabral, na guitarra portuguesa, André Teixeira, na viola, e autor dos arranjos musicais, e Sérgio Marques, na viola baixo.
"Uma das singularidades do
espetáculo será o facto de a guitarra portuguesa fazer parte dele, de forma
consistente; se é verdade que não é a primeira vez que tal acontece, é
igualmente verdade que não é nada comum tal acontecer", realçou a criadora
de "Fado Não-Valentim".
Sobre José Afonso, Helena
Sarmento afirmou que a sua composição musical aborda "um universo de luta
e resistência, com palavras fortes e audazes, numa busca permanente da utopia
assente em melodias bem construídas e que continuam na nossa memória".
Lusa | em Notícias ao Minuto
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