Teve lugar em Bissau o Fórum de
Coordenação de Parceiros sobre Combate ao Tráfico de Drogas e Crime Organizado
Transnacional, que juntou, esta sexta-feira na capital guineense vários atores
e entidades internacionais.
Os principais parceiros
internacionais da Guiné-Bissau reuniram-se nesta sexta-feira (29.03.), em
Bissau, para em conjunto criar novos mecanismos de coordenação e cooperação no
combate ao tráfico de droga e crime organizado no país.
A reunião foi realizada numa
altura em que se encontram detidos nas celas da Polícia Judiciaria (PJ) da
Guiné-Bissau, quatro suspeitos envolvidos na maior apreensão de cocaína pura
feita no território, a 8 de março. A PJ apreendeu e incinerou 800 kg de droga pura,
escondidos num camião que transportava pescado da Guiné-Bissau para o
Senegal.
"O encontro
visou concertar ações na mesma direção para podermos saber o que é preciso
fazer no combate ao tráfico de droga na Guiné-Bissau. Queremos saber quem são
os atores que atuam no terreno e como atuam, como atingir da melhor forma
os nossos objetivos”, disse à DW o jurista guineense Hermenegildo Pereira, que
trabalha como perito da ONU. Pereira defendeu que o trabalho precisa de ser
feito a dois níveis, nomeadamente a nível internacional com a "concertação
de esforços para evitar duplicações" e a nível nacional, através da
criação de "melhores formas de coordenação e cooperação dos
esforços para um melhor combate ao crime organizado e ao tráfico de
droga".
Coordenar intervenções no terreno
O Fórum de Coordenação de
Parceiros sobre Combate ao Tráfico de Drogas e Crime Organizado
Transnacional, juntou vários atores e entidades internacionais que trabalham
naquela área para abordar o problema do tráfico de droga no país e na
sub-região oeste-africana.
O jurista Hermenegildo
Pereira, que já foi Procurador-geral da República da Guiné-Bissau, afirmou que
existe uma intrínseca ligação entre a corrupção e o tráfico de droga na
Guiné-Bissau e que, face a isso é preciso que sejam adotadas políticas específicas
para combater o fenómeno no país.
Segundo Pereira já existe
um plano estratégico. "Hoje estamos a questionar a eficiência e
eficácia desse plano, para podermos saber se existe com maior dimensão o
tráfico de droga na Guiné-Bissau. Portanto, com a maior apreensão feita em
março mostra que o problema ainda é atual e temos que nos preocupar bastante”,
destacou.
Há vontade política, mas faltam
meios
Hermenegildo Pereira afirma por
outro lado, que há uma certa vontade política por parte das autoridades
guineenses no combate ao crime organizado. "Tem havido apreensões a nível
das chamadas 'mulas' no aeroporto de Bissau e que culminaram com a
descoberta de 800
quilogramas de cocaína”, observa. Contudo, alerta a
comunidade internacional no sentido de dar maior atenção a esse flagelo,
criando mecanismos de coordenação "para que possamos ter uma visão e
abordagem geral do território guineense".
Recentemente, a PJ guineense fez
saber que não tem meios eficazes para enfrentar os traficantes de drogas,
nomeadamente lanchas rápidas para patrulhas no alto mar, armas, coletes a prova
de balas, viaturas, rádios de comunicação e outros equipamentos indispensáveis
para o controle e investigações. As fontes da PJ disseram à DW África, que
o tráfico de droga na Guiné-Bissau ainda envolve patentes militares, que
aparentemente "estão acima das leis”.
Questionado sobre o aumento de
apreensões de droga na Guiné-Bissau, Hermenegildo Pereira salientou que apesar
da falta de meios há uma grande vontade a nível nacional e
internacional no sentido de levar a cabo um combate sem tréguas a esse tipo de
crime.
Conselho de Segurança mais
engajado no terreno
Entretanto, na última resolução
sobre a Guiné-Bissau, o Conselho de Segurança da ONU encarregou a UNIOGBIS para
prestar assessoria estratégica e técnica às autoridades guineenses no combate
ao tráfico de droga e crime organizado transnacional.
"A recente apreensão
pelas autoridades nacionais de mais de 800 quilogramas de
droga dentro do território da Guiné-Bissau, com o apoio técnico da ONU,
confirma a escala da ameaça do narcotráfico", afirmou David McLachlan-Karr,
representante especial adjunto do secretário-geral da ONU em Bissau.
Segundo David McLachlan-Karr, há
milhões de dólares em receitas nacionais que desaparecem todos os anos
"através de canais ilícitos e práticas de corrupção".
"A perda desse dinheiro
tem um impacto direto nas perspetivas de desenvolvimento do país",
salientou o responsável, acrescentando que a ONU está disponível para apoiar a
Guiné-Bissau no processo de desenvolvimento.
Braima Darame | Deutsche Welle
Foto: Ministro da Justiça Yaya
Djaló, David McLachlan-Karr, representante especial adjunto do secretário-geral
da ONU em Bissau e Edmuno Mendes, ministro do Interior (Da esq. para direita)
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