quarta-feira, 20 de março de 2019

DOS GRANDES APAGÕES…



1- Vivemos num século em que, em função das capacidades que se alcançaram desde a revolução industrial e das novas tecnologias, a instrumentalização de técnicas e tecnologias ganhou asas, passou para a estratosfera do surrealismo aplicado, até ao “ponto rebuçado” do domínio propiciar-se aos grandes apagões, subversivos, funcionais e incontornáveis, como poderosas armas de guerra psicológica ao serviço dos poderosos, sejam eles o que subscrevem o capitalismo produtivo, ou o capitalismo financeiro transnacional…

De facto a aristocracia financeira mundial, concentrada a riqueza em cada vez menos mãos, multiplicou geometricamente esse poder centrado nas capacidades de instrumentalizar, cirurgicamente instrumentalizar os relacionamentos internacionais e os padrões económicos e financeiros de alvos que se constituem os estados das ultraperiferias, como são os estados africanos duma maneira geral…


Instrumentaliza-se os media, fabricando todo o tipo de figuras e estilos de empenho, conveniência e manipulação, impedindo até de serem detectadas as linhas mestras das suas deliberadamente perniciosas opções…

Instrumentaliza-se o ensino, revertendo para a construção exclusivista do que dá lucro, o que deveria estar sempre em aberto em relação à educação e aos direitos e deveres que ela comporta…

Instrumentaliza-se a saúde colocando-a ao serviço do mercado, quando ela é um direito inalienável antes mesmo de ser reproduzido o embrião humano…

Instrumentaliza-se o desporto, forjando atletas de alta competição, quando o seu papel na escola é esquecido, perdida sua lembrança nos mais distintos expedientes de diversão e de alienação virtual…

De apagão em apagão, nas novas tecnologias o que ao virtual diz respeito ganha espaço e substitui o real e os grandes apagões tornaram-se possíveis por que a cibernética e as capacidades tecnológicas ao nível do domínio dos fenómenos electromagnéticos e físicos, reduzem se necessário e por aparente obra e graça do espírito santo, com a rapidez de quem tira de lume brando um pudim instantâneo, países inteiros à escuridão!...


2- Assim sendo também é possível confundir os grandes apagões: os que se podem fazer eclodir hoje instantaneamente e em todas as linhas, assim como os de conveniência em relação ao passado!

Precisamente na mesma altura do grande apagão induzido como uma poderosa arma ofensiva e de ataque contra a Venezuela, em Angola assiste-se ao apagão histórico induzido sobre África, por que senão não há hipótese de “converter” os povos ao mercado!

Até os apagões induzidos por Savimbi, particularmente na sua saga de “robin dos postes” na guerra dos diamantes de sangue, são esquecidos, por que interessa que não se lembre o choque neoliberal, para fazer prevalecer agora a redundante da terapia que na sequência do choque foi gerada!

Prevalece o imediatismo, ao sabor das correntes contemporâneas e perde-se o fio de rumo que o movimento de libertação nos traz de há mais de dois séculos a esta parte, assim como o que o distinguia dos subservientes processos etno-nacionalistas!

Prevalece o consumismo, ainda que o país nem suficientes rotas tenha para ligar os lugares periféricos, quais obscuros rincões onde se vai produzindo a cesta básica, aos lugares luminosos do consumo.

Prevalece um comércio concentracionário (para os empresários da ocasião, ainda bem que por causa da guerra as comunidades abandoaram os campos e afluem em multidão às grandes cidades), levando a ganância tentacular dos intermediários até aos confins rurais, com todos os incentivos ao lucro e à especulação.

Prevalece a raiz capitalista da corrupção e combate-se a corrupção apenas na folhagem, como se a poda impedisse dela mais cedo que tarde voltar a nascer ao virar da esquina mais próxima.

Prevalece o saque por via do dólar dos Estados Unidos e de “moedas fortes” como o euro, como se essa “soft cultura” nada tivesse a ver com a atracção aos mais retrógrados processos económicos e financeiros, próprios das colónias e das neocolónias… ao ponto de até Trump nos elogiar, no seguimento aliás da visita a Angola de um dos seus dilectos “guaidós”, da “Ala dos namorados”!

Prevalece a doutrina e a ideologia do “rei mercado”, fazendo proliferar mercenários ao invés de patriotas!


3- Qualquer intenção de iniciar uma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável a muito longo prazo está votada ao fracasso, por que fazem-se prevalecer, via mercado, as correntes elitistas, no caso angolano aquelas que por exemplo promovem os grandes parques naturais do Cuando Cubango, uma poderosa aliciante do cartel dos diamantes que se trasladou da ponta austral que é a África do Sul para a plataforma intensa do Botswana, mais central e influente no espaço da SADC…

Em Angola, aqueles que deveriam ser os primeiros a advogar o controlo e a preservação dos recursos hídricos do país a nível da região fulcral (por que decisiva a muito longo prazo) e central das grandes nascentes, face aos fenómenos do aquecimento global e seus rescaldos continentais, regionais e nacionais, são os primeiros “facilitadores”, em tempo de paz, dos interesses elitistas do cartel, em função de seus interesses e movimentos geoestratégicos implantados entre o deserto (Kalahári e Namibe) e a matriz da água tropical (Grandes Lagos e região central das grandes nascentes em Angola)!

Até essa questão essencial para a definição dos parâmetros físico-geográficos e humanos continentais, regionais e nacionais, são arredios dos compêndios geográficos, por que o que é essencial para África e para Angola, não dá lucro e não serve ao caos tão necessário aos poderosos, só por que esses poderosos continuam a conseguir iludir os seus alvos preferenciais, as elites dos povos mais dependentes e subdesenvolvidos do planeta!

A paz, esquece-se por via das correntes elitistas, é-o por via de interesses, quando ela tanto tem a ver com abrangentes integrações, particularmente quando é a vida que está em jogo e por que água é vida!


4- Para Angola, de apagão em apagão, esquece-se por fim que a corrupção e os corruptos são apenas a outra face da moeda dos que estiveram, estão e estarão sempre prontos para, em época de terapêutica capitalista neoliberal, lançar em tempo oportuno as correntes fomentadoras de tomada de poder por processos não violentos, de muito baixo custo, por que a matriz de ambos as trilhas, corrupção e injectados activismos não violentos, é a mesma!

Para que os activistas de Gene Sharp e do CANVAS (Centro para a Aplicação de Acções e Estratégias Não Violentas) voltem a procurar florescer em Angola, estamos a incorrer no erro de fazer hoje mais do mesmo, esquecendo que um movimento não violento não sendo um movimento pacifista, é um movimento que se inspira em conceitos militares para influenciar nos processos de terapêutica após o choque neoliberal, por via de meios de acção propositadamente rotulados de “cívicos”, aproveitando os frutos da formatação das mentalidades sujeitas ao bombardeamento da alienação, da ilusão e da mentira!

A paz com lucidez, clarividência, geoestratégia patriótica e justiça social, nada tem a ver com a terapêutica neoliberal fomentadora de corrupção e de corruptos, tal como de afiliação de última hora a movimentos, activismos e activistas que se movem e comovem nas versões mais transversais e oblíquas de tomada de poder por meios não violentos, mesmo que em relação a eles seja estendido o tapete vermelho dum qualquer palácio presidencial, ou a ribalta das cátedras das mais antigas universidades!

Aprendamos humilde, mas solidária e dignamente com as múltiplas lições que nos chegam do livro aberto da Venezuela Bolivariana e não nos deixemos enredar pelos “guaidós” de contingência, conforme a inspiração própria da “Ala dos namorados” de que se nutre a perfídia que dá pelo nome de Donald Trump!

Martinho Júnior - Luanda, 17 de Março de 2019.


Fotos e ilustrações:
- “Não violentos” angolanos, potenciais guaidós;
- CANVAS – onde eles dizem que actuaram no mundo;
- Yon Goicoechea, neoliberal, “activista” e “opositor”, amigo de peito do Guaidó na “Geração 2007”, prémio Milton Friedman do Cato Institute for Advancing Liberty;
- CANVAS – onde dizem estar bem activos;
- O “cavalo de Tróia” do grande apagão na Venezuela.

A consultar:
- João Lourenço recebeu sociedade civil. “Este clima tem mais a ver com democracia”, diz activista – https://www.publico.pt/2018/12/04/mundo/noticia/joao-lourenco-recebeu-sociedade-civil-clima-democracia-admite-activista-1853480;
- Presidente angolano recebeu ativistas num encontro inédito – https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/presidente-angolano-recebeu-ativistas-num-encontro-inedito
- Soft and Undercover Coups d’État – The Albert Einstein Institution: non-violence according to the CIA – https://www.voltairenet.org/article30032.html
- Canvas, AEI y CIA: operación encubierta detrás de Guaidó y Estado paralelo en Venezuela – http://parstoday.com/es/news/américa_latina-i62326-canvas_aei_y_cia_operación_encubierta_detrás_de_guaidó_y_estado_paralelo_en_venezuela;
- A cobertura da BBC ao cavalo de Tróia venezuelano – Juan Guaidó: 'Nenhum organismo de segurança controlado por Maduro ousou me prender' – https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47548661

A consultar de Martinho Júnior:
- LUATY BEIRÃO, AVESSO À CRÍTICA E À OPINIÃO DE OUTROS, QUEIXOU-SE AO FACEBOOK? – http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/12/luaty-beirao-avesso-critica-e-opiniao.html;
- Inversão completa – NO FACEBOOK NÃO HÁ LIBERDADE DE EXPRESSÃO PARA O CONTRADITÓRIO AOS SEGUIDORES DE GENE SHARP! – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/01/inversao-completa.html;

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