Às sextas-feiras, virou rotina na
Europa: escolares faltam aula e vão às ruas protestar por uma política
climática mais sustentável. Muita gente torce o nariz, mas o movimento conta
com cada vez mais apoio.
Atualmente, Sebastian Grieme
enfrenta a época de "abitur", o vestibular alemão. Mas, segundo
o estudante de 19 anos, suas prioridades são agora um pouco diferentes. Todos
os dias, ele investe 12 horas, às vezes até mais, na organização das
"Sextas-Feiras para o Futuro" (Fridays for Future).
"Protestar não é tudo. A
maior parte do esforço que realizamos aqui acontece em nosso tempo livre."
No fim de semana, ele trabalha no jornal conjunto, reúne-se com outros membros
do movimento contra as mudanças climáticas, prepara notícias para os grupos
nacionais – das 9h da manhã às 2h da madrugada.
Grieme faz parte do "grupo
de trabalho do documento de reivindicações", que conta com cem membros.
Seu objetivo é realizar um catálogo conjunto de demandas do movimento na
Alemanha.
Para isso, eles tiveram conversas
com cientistas, leram relatórios científicos. Grieme afirma ter estudado o
relatório do IPCC, de 150 páginas, o relatório climático da ONU. "Com base
nisso, tentamos levar demandas mais concretas aos políticos".
Desde meados de dezembro,
estudantes de toda a Alemanha vão às ruas às sextas-feiras para protestar por
uma política climática mais sustentável. Eles seguem o exemplo de Greta
Thunberg, a ativista sueca de 16 anos que ganhou atenção internacional com uma
greve escolar de várias semanas e desencadeou protestos semanais em todo o
mundo.
Nesta sexta-feira
(29/03),Thunberg esteve em Berlim, apoiando o movimento escolar alemão pelo
clima. O líder do Partido Liberal Democrático alemão, Christian Lindner,
declarou recentemente que a política climática é "uma coisa para
profissionais".
E o ex-prefeito do bairro
berlinense de Neukölln, Heinz Buschkowsky, escreveu há pouco tempo num
editorial para o jornal Bild que a maioria dos jovens ativistas
estaria entendendo as "sextas-feiras para o futuro" deliberadamente
de forma errônea – como uma "licença para matar aula". E com a
reprovação, Buschkowsky não está sozinho.
O pré-universitário Sebastian
Grieme afirma se irritar com tais declarações. "Se o Sr. Lindner nos
diz que devemos deixar isso para profissionais, então pergunto se ele leu o
relatório do IPCC."
E não apenas Grieme rejeita as
alegações de evasão escolar. Entrevistas de pesquisadores de protestos também afirmam:
"Faltar aula não é certamente a razão pela qual as pessoas vão para
lá", diz Sebastian Koos, professor do Instituto de Política e
Administração Pública da Universidade de Konstanz.
Ele entrevistou os participantes
dos protestos no sul da Alemanha, em 15 de março último, para questionar seus
motivos. Quase 90% disseram não achar que as manifestações de sexta-feira foram
apenas uma boa oportunidade para não ir à escola. "Também é preciso ser
dito: naquela sexta-feira choveu muito em Konstanz, o tempo estava realmente
uma catástrofe. Quem quis faltar aula seguramente não estava nos
protestos", afirma Koos.
Sophia Salzberger também diz que
as alegações seriam absurdas. A estudante organiza os protestos
"sextas-feiras para o futuro" em Leipzig. "Eu diria que este é
um emprego de meio expediente para mim, eu trabalho certamente entre 10 e 20
horas por semana para as 'sextas-feiras para o futuro'", afirmou. "E
insinuar que eu só estou fazendo isso para faltar aula – acho que haveria
métodos mais fáceis do que aderir a um movimento global de jovens."
O movimento "sextas-feiras
para o futuro" afirma ter mais de 350 grupos locais. Cada um deles envia
um delegado, o "Deli", para um plenário nacional. Este grêmio, por
sua vez, reúne-se uma vez por semana por videoconferência e discute, entre
outras coisas, quando vai ocorrer a próxima grande greve, se deve haver uma
conta para doações ou se os políticos serão convidados para tais ações.
Os respectivos grupos locais
deliberam sobre as propostas e, uma semana depois, o plenário vota as decisões.
Os ativistas das "sextas-feiras para o futuro" chamam isso de
"democracia de base". Eles se conectam através de grupos no Whatsapp,
Instagram, Facebook, Telegram ou Slack. Há uma assessoria de imprensa própria
que responde às perguntas dos jornalistas e envia mensagens questão
de minutos.
Luisa Neubauer foi uma das
iniciadoras das "sextas-feiras para o futuro" na Alemanha. A mídia
considera a estudante de geografia de 22 anos como a Greta Thunberg alemã.
Neubauer conheceu Thunberg na conferência sobre o clima em Katowice.
"Eu pensei: temos que mudar
muita coisa e rapidamente fazer muito alarde", afirmou Neubauer em
entrevista. "Nossos protestos geram uma pressão pública, que chama todos
os tomadores de decisão à responsabilidade e aumenta a necessidade de
agir." Suas principais demandas: a manutenção da meta de 1,5°C e desistir o mais
rapidamente do carvão – não apenas em 2038.
Os pesquisadores de protestos se
dizem impressionados com o movimento em ascensão. "Eles colocaram mais uma
vez as mudanças climáticas na agenda, mas agora de uma forma completamente
diferente da anterior", aponta o pesquisador Sebastian Haunss,
professor da Universidade de Bremen.
Ele afirma que os jovens já
fazem certo em se tornar um movimento social sustentável. "Eles não
apostam em ações espetaculares, não dependem de oradores proeminentes, mas na
própria convicção local. Eles conseguiram fazer com que as pessoas tomassem uma
ação que não tomariam de outra forma."
Muitos participantes das
manifestações de sexta-feira se aventuram com suas ausências não justificadas.
Para que realmente se afirmem, na opinião de Haunss, eles precisam
de aliados. "Eles precisam de outros atores que os apoiem, que
assumam suas reivindicações."
Nas últimas semanas, as sextas-feiras
têm recebido mais apoio. A organização ambiental alemã BUND divulgou uma nota
de apoio. Políticos de quase todos os partidos também declararam sua
solidariedade com o movimento – até mesmo a chanceler federal alemã,
Angela Merkel, elogiou o comprometimento dos jovens.
E os "profissionais"
também estão apoiando o movimento. Cerca de 23 mil cientistas – os
"cientistas para o futuro" - assinaram uma declaração de
solidariedade às manifestações.
O pesquisador de protestos
Sebastian Koos, de Konstanz, também acredita que as "Sextas-Feiras para o
Futuro" tem o potencial de se tornar um movimento de longo prazo. Ele
estava se referindo ao "efeito Greta": segundo Koos, os jovens viram
que podem provocar mudanças.
O tamanho do movimento vai
depender não apenas da mobilização de outros grupos, mas também de quanto os
jovens se envolverem no trabalho político clássico e não apostar todas as suas
cartas nas "Sextas-Feiras para o Futuro", diz Koos, explicando que
muitas demandas ainda são um pouco abstratas no momento. "Acho que o
próximo passo é formular novamente objetivos políticos concretos".
Rahel Klein (ca) | Deutsche Welle
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