Quem o diz é Thomas Kesselring,
um investigador suíço que denuncia ainda a contratação de empresas ligadas a
Bastos de Morais, "nas últimas semanas de José Eduardo dos Santos" no
poder.
O empresário suíço-angolano
Jean-Claude Bastos de Morais, figura central no escândalo de desvios envolvendo
o Fundo Soberano de Angola, criou ao longo de vários anos fortes conexões entre
a Suíça e Angola. Ligações que, segundo o investigador suíço Thomas Kesselring,
autor de um dossiê sobre os Paradise Papers, tiveram um papel-chave na sua
libertação, no final de março, em Angola.
Jean-Claude Bastos de Morais foi
detido em Angola a 24 de setembro de 2018, acusado de vários crimes, entre os
quais, associação criminosa, recebimento indevido de vantagem, corrupção e
participação económica em negócios. Saiu em liberdade no passado dia 22
de março, altura em que o Estado
angolano anunciou a recuperação dos 3 mil milhões de dólares (2,8 mil
milhões de euros) do Fundo Soberano de Angola sob sua gestão.
Em entrevista à DW África, Thomas
Kesselring afirma ainda que, durante a sua investigação, se deu conta que
"nas últimas semanas do Governo de José Eduardo dos Santos",
"várias empresas [ligadas a Jean-Claude Bastos de Morais] foram reativadas
ou receberam ordens". O investigador fala ainda do envolvimento no caso do
filho de Manuel Vicente, ex-vice-Presidente de Angola.
DW África: Neste caso de
corrupção em
que Jean-Claude Bastos está envolvido, quais são as ligações
entre a Suíça e Angola?
Thomas Kesselring (TK): Eu
salientei na minha pesquisa que os métodos de trabalho de Jean-Claude Bastos no
Fundo Soberano de Angola eram os mesmos que ele usava na Suíça, num projeto
menor chamado Kaimu, com empresas de pequeno e médio porte. Ele recebia um
salário alto, uma percentagem, e depois também [recebia] de serviços extra. E o
mesmo acontecia com o Fundo Soberano de Angola. Depois da publicação dos
"Paradise Papers", Jean-Claude Bastos disse sempre que tinha
aprendido com o que tinha feito com as pequenas empresas na Suíça, em 2011. Mas
a minha impressão é que ele continuou a fazer o mesmo, num âmbito muito maior,
quando começou os seus negócios em Angola. Portanto , não sei se será agora que ele
vai mudar, ou se voltará a repetir uma terceira vez as mesmas coisas.
DW África: Jean-Claude Bastos foi
libertado no final de março, apesar dos contratos firmados terem sido
extremamente lesivos para o Estado angolano. Como avalia a absolvição do
empresário?
TK: Eu diria queJean-Claude
Bastosé um empresário particular. Ele trabalhou por iniciativa própria, com [a
ajuda] de amigos, não recebia ordens ou algo desse género. E acabou por criar
uma rede bastante densa e com pessoas importantes, na Suíça. Quando o caso
Bastos se tornou público, muitas dessas pessoas foram faladas na imprensa na
Suíça. Por exemplo, a presidente do conselho dos Caminhos de Ferro da Suíça;
uma antiga executiva do conselho federal, com um dos cargos mais altos, uma
senhora que também tinha se aliado com Bastos, estavam cooperando no porto de
Caio (Cabinda); o chefe de uma grande rede de turismo, entre outros. Bastos tem
amigos advogados que são especialistas do direito das finanças e federal. São
advogados bem pagos e que tiveram [uma abordagem] muito sofisticada na sua
defesa. Acho que essa é a razão pela qual ele não foi condenado. Porque teve
uma defesa muito inteligente e porque estabeleceu uma rede social. Essa rede
ajudou-o muito.
DW África: Quais foram as
principais descobertas do seu dossiê em relação ao Fundo Soberano de Angola?
TK: No início, eu repeti
coisas que já eram conhecidas após a primeira publicação dos "Paradise
Papers". Depois dei-me conta que quando Jean-Claude Bastos e o filho de
José Eduardo dos Santos começaram a fundar empresas, no ano de 2007, estava
presente um terceiro companheiro que era o filho do Manuel Vicente. E percebi
que antes de José Eduardo dos Santos ceder o poder, convidou empresas [ligadas]
a Jean-Claude Bastos para fazer consultoria de uma central hidroelétrica. Uma
das empresas era de uma ex esposa do Jean-Claude Bastos de Morais. Tenho
impressão que várias empresas foram reativadas ou receberam ordens nas
últimas semanas do Governo de Eduardo dos Santos.
Karina Gomes | Deutsche Welle
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