Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias
| opinião
A Comissão de Inquérito às rendas
excessivas pagas às empresas de eletricidade ouviu dezenas de pessoas, antigos
responsáveis de governos, representantes de empresas e figuras como Luís Amado,
que incarnam ambas as condições. Foi trabalho precioso porque pela primeira vez
o Parlamento aprofundou uma matéria sempre considerada demasiado técnica para
um escrutínio político rigoroso. Resultado: ficámos com uma das faturas mais
elevadas da Europa, um país recordista de pobreza energética, que muita gente
pobre tem pago com a vida no pino do verão e no pico do inverno.
O deputado Jorge Costa, do Bloco
de Esquerda, foi eleito para preparar o relatório final da Comissão e o
documento que entregou prova bem o acerto da criação desta Comissão de
Inquérito, aprovada por unanimidade.
O relatório explica a origem
destas rendas: ao garantir lucros por decreto e pagos pelos consumidores na
fatura ao longo de anos, o Estado preparou a privatização da EDP. Os
consumidores acabaram a pagar os lucros da companhia, bem maiores do que a
receita do Estado no negócio.
Mas o relatório aponta ainda
diversas decisões milionárias adicionais, que conferiram às elétricas novos
privilégios económicos. Dos benefícios com a dívida tarifária às vantagens
introduzidas na lei dos CMEC, da oferta a preço zero da central de Sines
(inteiramente paga pelos consumidores) ao prolongamento do período de tarifas
elevadas aos produtores eólicos.
Dentro de duas semanas, todos os
partidos serão chamados a responder a uma pergunta simples: os favores feitos
às elétricas e os abusos apurados pela Comissão de Inquérito devem ou não ser
corrigidos em nome do interesse geral, em particular os das famílias e das
pequenas e médias empresas?
A Comissão de Inquérito tem uma
missão: em face de abusos detetados, recomendar aos legisladores - Governo e
Parlamento - medidas a tomar. O fecho mais indigno para este longo trabalho
seria, depois de chegar a conclusões sobre os problemas, não indicar soluções.
Depois de todo este trabalho, o
Parlamento tem o conhecimento suficiente para agir. Será imperdoável se a sua
única recomendação for, no final da Comissão, que os donos da EDP devem abrir
de novo as garrafas de champanhe.
* Deputada do BE
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