Chegada de ajuda humanitária às
zonas mais afetadas é o maior desafio, segundo a chefe da organização Médicos
Sem Fronteiras (MSF) em Moçambique. Campanha de vacinação contra cólera arranca
na quinta-feira.
A dificuldade de acesso às áreas
mais destruídas pelo Ciclone Kenneth, no norte de Moçambique, é o maior desafio
para a chegada de ajuda humanitária à população. Além disso, ataque armados na
província de Cabo Delgado dificultam os trabalhos das equipas de saúde, segundo
relata a chefe da missão da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em
Moçambique, Caroline Rose.
"Temos desafios para ter
acesso às zonas mais destruídas em termos da logística de transporte e de
segurança", afirmou em entrevista à DW África. "Pode ser perigoso ter
acesso a essas áreas e isso está a limitar a ajuda."
Outro desafio é reabilitar os
centros de saúde. "Alguns foram completamente destruídos", afirma
Caroline Rose. Ao mesmo tempo, a cólera é um problema com o qual se debatem as
autoridades, pois as infraestruturas foram devastadas pelo desastre natural
ocorrido no final de abril.
De acordo com o Ministério da
Saúde (Misau), cerca de meio milhão de pessoas serão vacinadas contra a cólera
nas regiões afetadas pelo ciclone. A campanha de vacinação contra a doença terá
início na quinta-feira (16.05), o que ajudará a controlar a situação.
DW África: Quais desafios há
neste momento ao nível da saúde no norte de Moçambique?
Caroline Rose (CR): Na
província de Cabo Delgado, depois do Ciclone Kenneth, temos um surto de cólera
que foi declarado nos distritos de Mecufi, Pemba e Macomia. A MSF está apoiando
as autoridades de saúde locais na resposta.
DW África: Em relação à malária,
houve a inclusão de algum caso?
CR: Os casos de malária
estão a aumentar, é verdade, mas numa região onde sempre houve casos de
malária. No futuro, provavelmente, veremos um aumento. O maior problema de
saúde, além da cólera, é que os centros de saúde foram destruídos pelo ciclone
Kenneth. Principalmente na ilha de Ibo e no distrito de Macomia não há mais
serviços de saúde. As mulheres e as crianças que precisam de cuidados primários
e simples não têm mais acesso.
DW África: De que forma a MSF
está a ajudar as autoridades moçambicanas a resolver a situação?
CR: Estamos a intervir em
lugares diferentes. Estamos a fazer a reabilitação dos centros de saúde e a
doar medicamentos, porque em muitos casos tudo foi destruído. Se necessário,
podemos apoiar o pessoal do Ministério da Saúde fazendo consultas também, como
é o caso do centro de saúde de Macomia. Ao lado da saúde, é sempre preciso
providenciar água, porque sem acesso à água limpa a população com certeza vai
ficar doente. Então, estamos a melhorar o acesso à água na cidade de Pemba e
estamos a trabalhar com o Ministério da Saúde no centro de tratamento da
cólera.
DW África: Uma campanha de
vacinação contra a cólera começa na quinta-feira em alguns distritos da
província de Cabo Delgado. Essa vacinação é vital para o combate à doença neste
momento delicado.
CR: Exatamente, é vital para
parar o surto da cólera. Já foi feita na cidade da Beira, na província de
Sofala, onde foram vacinados cerca de 900.000 pessoas. Agora, estamos a ver que
o surto da cólera está a decrescer em Sofala, quase terminando. Agora, temos
que fazer a mesma coisa nas cidades de Pemba, Micufi e Metuge. Com o apoio do
Ministério da Saúde, do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da
Organização Mundial da Saúde (OMS), nós vamos vacinar cerca de 500.000 pessoas.
DW África: A MSF tem trabalhado
também em campanhas de sensibilização na prevenção da cólera no norte de
Moçambique?
CR: Sim, a MSF sempre
trabalha na promoção de saúde. Ao mesmo tempo, estamos a oferecer cuidados e a
trabalhar para garantir acesso à água limpa e ao saneamento. Essas atividades
vão juntas e é importante comunicar a população e as comunidades sobre o que é
a cólera, como evitá-la e orientar sobre como ter acesso à água limpa. Quando
alguém apresenta os sintomas da cólera é preciso ir ao centro de saúde.
DW África: Quais são os
principais desafios neste momento crítico na província de Cabo Delgado?
CR: Temos desafios para ter
acesso às zonas mais destruídas em termos da logística do transporte e em
termos de segurança. Em algumas zonas, só é possível ter acesso com barcos ou
helicópteros, porque a estrada ainda está interrompida. As zonas mais afetadas
pelo ciclone são também onde ocorrem ataques armados há mais de um ano, como no
distrito de Macomia. Então, pode ser perigoso e isso está a limitar a ajuda.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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