segunda-feira, 13 de maio de 2019

Falta de acesso e ataques armados limitam ajuda em Moçambique, diz MSF


Chegada de ajuda humanitária às zonas mais afetadas é o maior desafio, segundo a chefe da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Moçambique. Campanha de vacinação contra cólera arranca na quinta-feira.

A dificuldade de acesso às áreas mais destruídas pelo Ciclone Kenneth, no norte de Moçambique, é o maior desafio para a chegada de ajuda humanitária à população. Além disso, ataque armados na província de Cabo Delgado dificultam os trabalhos das equipas de saúde, segundo relata a chefe da missão da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Moçambique, Caroline Rose.

"Temos desafios para ter acesso às zonas mais destruídas em termos da logística de transporte e de segurança", afirmou em entrevista à DW África. "Pode ser perigoso ter acesso a essas áreas e isso está a limitar a ajuda."

Outro desafio é reabilitar os centros de saúde. "Alguns foram completamente destruídos", afirma Caroline Rose. Ao mesmo tempo, a cólera é um problema com o qual se debatem as autoridades, pois as infraestruturas foram devastadas pelo desastre natural ocorrido no final de abril.



De acordo com o Ministério da Saúde (Misau), cerca de meio milhão de pessoas serão vacinadas contra a cólera nas regiões afetadas pelo ciclone. A campanha de vacinação contra a doença terá início na quinta-feira (16.05), o que ajudará a controlar a situação.

DW África: Quais desafios há neste momento ao nível da saúde no norte de Moçambique?

Caroline Rose (CR): Na província de Cabo Delgado, depois do Ciclone Kenneth, temos um surto de cólera que foi declarado nos distritos de Mecufi, Pemba e Macomia. A MSF está apoiando as autoridades de saúde locais na resposta.

DW África: Em relação à malária, houve a inclusão de algum caso?

CR: Os casos de malária estão a aumentar, é verdade, mas numa região onde sempre houve casos de malária. No futuro, provavelmente, veremos um aumento. O maior problema de saúde, além da cólera, é que os centros de saúde foram destruídos pelo ciclone Kenneth. Principalmente na ilha de Ibo e no distrito de Macomia não há mais serviços de saúde. As mulheres e as crianças que precisam de cuidados primários e simples não têm mais acesso.

DW África: De que forma a MSF está a ajudar as autoridades moçambicanas a resolver a situação?

CR: Estamos a intervir em lugares diferentes. Estamos a fazer a reabilitação dos centros de saúde e a doar medicamentos, porque em muitos casos tudo foi destruído. Se necessário, podemos apoiar o pessoal do Ministério da Saúde fazendo consultas também, como é o caso do centro de saúde de Macomia. Ao lado da saúde, é sempre preciso providenciar água, porque sem acesso à água limpa a população com certeza vai ficar doente. Então, estamos a melhorar o acesso à água na cidade de Pemba e estamos a trabalhar com o Ministério da Saúde no centro de tratamento da cólera.

DW África: Uma campanha de vacinação contra a cólera começa na quinta-feira em alguns distritos da província de Cabo Delgado. Essa vacinação é vital para o combate à doença neste momento delicado.

CR: Exatamente, é vital para parar o surto da cólera. Já foi feita na cidade da Beira, na província de Sofala, onde foram vacinados cerca de 900.000 pessoas. Agora, estamos a ver que o surto da cólera está a decrescer em Sofala, quase terminando. Agora, temos que fazer a mesma coisa nas cidades de Pemba, Micufi e Metuge. Com o apoio do Ministério da Saúde, do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), nós vamos vacinar cerca de 500.000 pessoas.

DW África: A MSF tem trabalhado também em campanhas de sensibilização na prevenção da cólera no norte de Moçambique?

CR: Sim, a MSF sempre trabalha na promoção de saúde. Ao mesmo tempo, estamos a oferecer cuidados e a trabalhar para garantir acesso à água limpa e ao saneamento. Essas atividades vão juntas e é importante comunicar a população e as comunidades sobre o que é a cólera, como evitá-la e orientar sobre como ter acesso à água limpa. Quando alguém apresenta os sintomas da cólera é preciso ir ao centro de saúde.

DW África: Quais são os principais desafios neste momento crítico na província de Cabo Delgado?

CR: Temos desafios para ter acesso às zonas mais destruídas em termos da logística do transporte e em termos de segurança. Em algumas zonas, só é possível ter acesso com barcos ou helicópteros, porque a estrada ainda está interrompida. As zonas mais afetadas pelo ciclone são também onde ocorrem ataques armados há mais de um ano, como no distrito de Macomia. Então, pode ser perigoso e isso está a limitar a ajuda.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

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