O embaixador Francisco Seixas da
Costa alertou hoje que uma eventual intervenção dos Estados Unidos na Venezuela
"seria catastrófica" e traria várias consequências para os países
limítrofes ou mesmo para a estabilidade global.
"Uma intervenção dos Estados
Unidos na Venezuela seria catastrófica. Não apenas para a Venezuela, mas também
para os países limítrofes, que teriam consequências até em termos de refugiados
e do próprio envolvimento quase automático que isso poderia ter", afirmou
à Lusa o antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus.
O embaixador falava à margem do
VIII Encontro Triângulo Estratégico América Latina e Caraíbas -- Europa --
África, que aconteceu entre segunda-feira e hoje, em Lisboa.
"Espero que, por parte dos
parceiros latino-americanos, haja uma capacidade de dissuasão dos Estados
Unidos deste tipo de atitude, porque se embarcassem ou se se deixassem envolver
numa ação aventureira na Venezuela, isso poderia ter consequências muito graves
para a estabilidade global", sublinhou Seixas da Costa.
"Eu penso que a ideia dos
Estados Unidos de que há uma espécie de coutada estratégica de reserva dos
Estados Unidos no continente americano é, como é sabido, um revisitar da
doutrina Monroe, que nós pensávamos estar mais ou menos abandonada, em
particular depois do fim da Guerra Fria", acrescentou ainda o embaixador.
Segundo Seixas da Costa, esta
"doutrina Monroe", ao dar a possibilidade aos Estados Unidos de atuar
na América Latina, significa também que a Rússia pode atuar na sua área de
influência, ou mesmo a China, atuando na Mar da China.
"Os Estados Unidos
conseguiram fazer intervenções diversas no quadro da América Latina,
nomeadamente na América Central, mas num quadro da Guerra Fria, que pensávamos
abandonada", disse.
"Infelizmente, a nova
Administração norte-americana, talvez pela necessidade de mostrar algum êxito
no plano externo, que possa mostrar alguma força do Presidente Trump, poderá
estar inclinada por aí", declarou.
Para o embaixador, os Estados
Unidos estarão hoje a fazer mais ameaças e menos prontos a fazer ações
concretas.
"Se a Rússia embarcar com os
Estados Unidos num modelo de transição que possa salvaguardar os interesses
russos (na Venezuela), (...) (o Presidente venezuelano, Nicolás) Maduro tem os
seus dias contados", referiu ainda.
"A questão chave é saber
onde está o exército em particular, mas também em que medida é possível travar
as milícias que estão armadas e que num quadro de guerra civil, que não
envolvam forças militares, poderão ter um papel importante", sublinhou.
Para Seixas da Costa, Maduro tem
vindo a perder, ao longo das últimas semanas, "muito da sua capacidade e
muito das suas hipóteses de continuar no poder".
"Há um desgaste profundo do
Presidente Maduro e a circunstância de terem aparecido figuras ligadas ao
regime a serem seduzidas para um diálogo, para uma fase de transição, é a prova
de que o regime está a entrar em declínio", acrescentou.
Recentemente, os Estados Unidos
advertiram de que não descartam qualquer opção, incluindo uma intervenção
militar, para apoiar Juan Guaidó, reconhecido como Presidente interino da
Venezuela por mais de 50 países.
Contudo, Moscovo considera que o
único Presidente legítimo da Venezuela é Nicolás Maduro.
O ministro dos Negócios
Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, reiterou também na segunda-feira na
Finlândia que a Rússia se opõe totalmente a uma intervenção militar na
Venezuela e advertiu que uma operação desse tipo seria "catastrófica e
injustificada".
O autoproclamado Presidente
interino da Venezuela, Juan Guaidó, desencadeou na madrugada de dia 30 de abril
um ato de força contra o regime de Nicolás Maduro em que envolveu militares e
para o qual apelou à adesão popular.
O regime ripostou, considerando
que estava em curso uma tentativa de golpe de Estado.
Lusa | Notícias ao Minuto | Global
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