Paris, 05 jun 2019 (Lusa) - O
opositor equato-guineense Salomon Abeso, condenado a 60 anos e quatro meses de
prisão por uma tentativa de golpe de Estado contra o Presidente da Guiné
Equatorial, afirmou que "não existe justiça" no seu país e rejeitou
as acusações.
"Na Guiné Equatorial não
existe justiça. A justiça é o ditador Teodoro Obiang Nguema. Desde que tomou o
poder em 03 de agosto de 1979, nunca houve justiça nesse país", disse o
opositor, membro da Coligação Restauradora de um Estado Democrático (CORED), à
agência Lusa, numa conversa telefónica a partir de Paris, onde se sedia o
partido.
O opositor, exilado em Londres há
18 anos, recebeu as notícias da sentença de "um julgamento falso" com
"muita dor".
Salomon Abeso defende que o
julgamento não decorreu de forma conforme com a justiça da Guiné Equatorial,
uma vez que muitos dos condenados não foram presentes a tribunal.
"Só fomos informados de
termos sido acusados de um dos delitos no início de 2018 (...). Até sexta-feira
não voltei a ouvir o meu nome. Em todo o julgamento, em mais de dois meses e
meio, não mencionaram o meu nome em qualquer dia. Não só o meu, a maioria dos
opositores exilados que foram condenados não tiveram o seu nome mencionado
[anteriormente]", referiu Salomon Abeso a partir de Paris, onde se
encontra.
"Não nos terem apresentado a
julgamento, foi o primeiro erro, porque não nos podem julgar na nossa
ausência", explicou, garantindo que está "à procura de uma forma para
denunciar a situação" junto de países e organizações "a nível ocidental".
De acordo com o membro da
oposição, esta situação faz parte de uma manobra do Governo para "eliminar
toda a oposição da Guiné Equatorial".
Salomon Abeso diz ser acusado de
"financiar a oposição e de financiar mercenários" e, portanto, de
"tentar assassinar o Presidente".
O julgamento que terminou na
passada sexta-feira, dia 31 de maio, sentenciou mais de 130 pessoas acusadas de
envolvimento numa tentativa de golpe de Estado na Guiné Equatorial a penas
entre os três e os 96 anos de prisão.
Os processos recuavam a janeiro
de 2018, quando as autoridades equato-guineenses afirmaram ter conseguido
impedir um golpe de Estado organizado por um grupo de mercenários estrangeiros
que pretendia atacar o Presidente, Teodoro Obiang Nguema, na véspera de natal do
ano anterior.
Três dias depois, a 27 de
dezembro, cerca de 30 homens armados foram detidos pela polícia camaronesa na
fronteira entre os Camarões e a Guiné Equatorial, tendo as autoridades
equato-guineenses procedido a várias detenções no país e emitido mandados de
captura contra cidadãos que vivem no estrangeiro e contra outros cidadãos
estrangeiros.
Salomon Abeso negou
"categoricamente" as acusações de que foi alvo, referindo que são
"falsas e infundadas" e que apenas pretende que o Governo do país
aceite negociar um governo de transição nacional transversal a todos os líderes
políticos do país.
"Nego-as categoricamente.
Todas essas acusações são falsas e infundadas. A única coisa que queremos é que
o Governo aceite a convocatória que lhe enviámos em Genebra para negociar um
roteiro para organizar um Governo de transição nacional em que participem todos
os líderes políticos da Guiné Equatorial", afirmou, sublinhando que
pretende a assistência das Nações Unidas, União Europeia, União Africana e
nações com influência naquele país, "como França, Portugal, Inglaterra,
Espanha e Estados Unidos" nestas negociações.
"Tanto eu como o bloco [a
CORED], em nome de toda a oposição, rejeitamos categoricamente as condenações
de que fomos alvo na Guiné Equatorial", concluiu.
Salomon Abeso diz ter sido já
condenado à morte pela justiça equato-guineense em 2002, por um alegado
envolvimento no planeamento de golpe de Estado encabeçado por opositores como o
seu tio, Felipe Ondo Obiang. Nessa ocasião, Abeso, que era diretor financeiro
de uma petrolífera, fora também acusado de financiar o movimento.
A Guiné Equatorial tem tido uma
história turbulenta de golpes e tentativas de golpes desde a sua independência
da Espanha, em 1968.
O Governo de Teodoro Obiang
Nguema, que hoje celebra 77 anos, 39 dos quais no poder, é regularmente acusado
de violações dos direitos humanos pelos seus opositores e organizações
internacionais.
A Guiné Equatorial é, desde julho
de 2014, membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, que integra ainda
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e
Príncipe e Timor-Leste.
JYO // JH
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