Luanda continua a ser um chamariz
para os jovens que vivem no interior de Angola. Mas analista diz que é preciso
mudar este cenário, para que o interior também se possa desenvolver.
Luanda continua a ser um "El
Dorado" para muitos jovens angolanos a residir no interior do país, que
veem a capital como um dos únicos locais onde podem trabalhar e concretizar os
seus sonhos.
"Aqui não há emprego e
Luanda tem mais empresas", afirma Orlando Luassi, um motorista a morar na
cidade do Huambo. "Se estiver aqui dois ou três meses, sem fazer nada, é
um prejuízo. Mas, em Luanda, em poucos dias se consegue um emprego ou faz-se
táxi."
André Paixão, um agricultor que
trocou o campo pelo mototáxi, também conta que já lhe passou pela cabeça rumar
para Luanda em busca de melhores oportunidades. "A dinâmica de uma capital
é diferente do interior", diz em entrevista à DW.
O jovem até já fez contas ao que
poderia ganhar se fosse para Luanda: "Lá, o preço do táxi é 150 [kwanzas,
cerca de 40 cêntimos de euro] e aqui é 100 [26 cêntimos]."
Oportunidades para todos
Depois da conquista da paz em
Angola, em 2002, esboçaram-se vários projetos económicos e sociais para
descongestionar a capital, que, durante o conflito armado, recebeu refugiados
oriundos de todo o país.
Mas 17 anos depois, o interior
continua a não atrair quem está em Luanda. E quem ficou no interior olha para a
capital como solução para a sua realização académica e profissional, por ser
dos poucos locais onde há mais oportunidades para todos.
Para quem quer fazer teatro,
televisão ou cinema, por exemplo, Luanda é o local para estar, diz o jovem ator
Hermenegildo Magalhães: "Se estiveres em Luanda, tens mais oportunidade de
sobressair do que em outras paragens do país, porque lá há mais produtores. Uma
ou outra vez vão realizando filmes, outro tipo de eventos, e há mais cadeias
televisivas e rádios."
Fracasso das políticas públicas
Ouvido pela DW, o especialista em
políticas pública David Kissadila considera preocupante o êxodo dos jovens para
as grandes cidades, sobretudo para Luanda. Estima-se que a população da
capital cresce
duas vezes mais do que no resto do país. Atualmente, vivem em Luanda
cerca de sete milhões de pessoas.
Kissadila salienta que a culpa é
sobretudo do fracasso das políticas públicas nos domínios económicos e sociais,
logo após o fim do conflito armado.
"Tivemos uma governação
centralizada, ou seja, todas as decisões dependiam de Luanda. Luanda era vista
como o país e não como capital de Angola, onde foram feitos todos os
investimentos e esquecendo as populações e as zonas rurais. Face a isso, Luanda
tornou-se o pólo de atração para as populações rurais", lembra o
académico.
Segundo Kissadila, a existência
de um grande mercado informal na capital do país é outro fator de atração para
jovens que não encontram emprego nas suas áreas.
Para inverter o cenário atual, o
especialista defende a institucionalização das autarquias locais, em todos os
municípios, para se evitar maiores assimetrias: "A própria Constituição
fala da universalidade. Ou seja, todas as ações no país devem beneficiar todos
os cidadãos, porque são iguais perante a lei, no que toca aos
deveres e oportunidades."
O Presidente angolano, João
Lourenço, referiu, no mês passado, que combater o êxodo rural é um "grande
desafio" para o país.
José Adalberto (Huambo) |
Deutsche Welle
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