Novo procurador-geral, Ladislau
Embassa, nomeado esta quarta-feira (03.07), assume funções com Justiça
guineense sob críticas. Politização, morosidade, corrupção, e alto custo seriam
causas do mau funcionamento.
Para todos - cidadãos comuns,
políticos e operadores judiciários - a atuação da Justiça, na Guiné-Bissau,
está aquém das expetativas, uma opinião reforçada, recentemente, pelo
Bastonário da Ordem dos Advogados, Basílio Sanca, que numa entrevista à imprensa
guineense apontou a corrupção no setor judiciário guineense.
Sobre a matéria, a DW falou com o
Presidente da Rede Nacional das Associações Juvenis da Guiné-Bissau, uma das
organizações que mais tem reivindicado a igualdade de direitos no país.
Seco Duarte Nhaga diz que a
Justiça não funciona, porque há uma politização do setor.
"Isso acaba por amputar as
próprias instituições judiciárias no cumprimento das suas missões
constitucionais de realização da Justiça. Basta vermos que só para a nomeação
do procurador-geral da República, houve todo o imbróglio político à volta da
nomeação do PGR", descreve Duarte Nhaga.
Para o jurista Lesmes Monteiro, o
sistema de justiça guineense é praticamente inexistente, porque o setor
judiciário também é vítima da situação política do país.
"Na Guiné-Bissau, não
podemos falar, no verdadeiro sentido do termo, de um sistema de justiça, porque
há toda uma cumplicidade derivada da crise política que acaba por afetar o
sistema de justiça guineense," avalia.
"Segundo a nossa
constituição, no artigo 119, os tribunais são órgãos da soberania encarregues
de administrar a Justiça em nome do povo, mas hoje há um crescente índice de
corrupção, onde estão envolvidos todos os atores da Justiça, inclusive, os
clientes, os advogados, os magistrados e os juízes", critica Monteiro.
E para que os problemas atuais
sejam solucionados, Lesmes Monteiro defende que "primeiramente deve haver
uma reforma legislativa. Deve haver uma fiscalização, a nível internacional, da
atividade judicial. Há uma possibilidade de auditoria ou da fiscalização
internacional, há outros países que já fizeram isso".
Insatisfação generealizada
O setor da justiça da
Guiné-Bissau é caraterizado pela morosidade, pelas interferências políticas,
corrupção, e, sobretudo, o seu alto custo para os cidadãos comuns.
"Só os documentos, para dar uma petição inicial, devem ter uma selagem e o selo custa muito dinheiro. Se a pessoa não tem capital, a sua pretensão não vai ser resolvida", descreve um estudante guineense.
A opinião é partilhada por outra
cidadã, que fala na denegação da Justiça aos cidadãos.
"Sabemos que muitas pessoas
não trabalham, muitas pessoas não têm condições económicas. Então, aplicando
essas custas elevadas, é uma forma de denegação da Justiça e a nossa
Constituição prevê que nenhuma pessoa pode ser denegada a Justiça, por virtude
das condições económicas", constata.
"Quem não tem dinheiro não
vai ao tribunal. Portanto, quem não tem dinheiro para contratar o advogado não
resolve o seu problema no tribunal. E agora, uma vez não tendo feito isso,
torna um bocadinho complicado e o problema fica adiado e nunca teremos a
solução", critica outro estudante, apanhado numa das ruas de Bissau pela
reportagem da DW.
CEDEAO e a nomeação do novo PGR
Fala-se do estado atual da
Justiça guineense, numa altura em que o país já tem um novo
procurador-geral da República, na sequência da demissão pelo Presidente
José Mário Vaz do anterior titular do cargo, Bacar Biai, sob as
orientações dos chefes de Estado da Comunidade Económica do Desenvolvimento dos
Estados da África Ocidental (CEDEAO).
O novo homem forte do Ministério
Público, nomeado esta quarta-feira (03.07), é Ladislau Embassa, juiz
conselheiro até aqui presidente do Conselho Nacional da Comunicação Social.
Timóteo Saba Mbundé, especialista
em relações internacionais, considera que a decisão da CEDEAO é compreensível,
até porque há dois aspetos que legitimaram essa tomada de posição: "O
primeiro aspeto tem a ver justamente com o facto de a Guiné-Bissau fazer parte
de uma comunidade internacional e deve seguir todas as orientações, todos os
preceitos, que regem a comunidade internacional, neste caso, que regem a
CEDEAO", afirma, acrescentando que "outro elemento tem a ver com a
própria fragilidade do país, que é uma fragilidade compreendida e entendida
muito bem pela comunidade internacional".
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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