As populações aproveitam a água
do rio Zambeze para as suas tarefas domésticas porque a água da torneira é
cara, contudo isso faz com que muitas delas se exponham ao perigo dos
crocodilos.
Ataques por crocodilos preocupam
a população de três distritos banhados pelo rio Zambeze no norte da província
central de Sofala. Estima-se que pelo menos 70 pessoas morrem por ano nos
distritos de Marromeu, Chemba e Caia vítimas de ataques de crocodilos.
A população é frequentemente
atacada por aqueles répteis nas margens daquele grande rio onde buscam água
para o consumo, lavagem de roupa ou banho. Os hipopótamos e elefantes também
têm ameaçado as populações.
Victor Nito habitante da vila de
Chemba no norte da província de Sofala lembra-se de algumas pessoas atacadas
por aqueles répteis na sua comunidade só nos últimos meses. "No total
foram nove, umas ficaram feridas e outras chegaram mesmo a morrer",
recorda Nito.
Várias pessoas entrevistadas pela
DW África dizem estar cientes dos perigos de se fazer ao rio, mas recorrem a
esta fonte para a busca de água porque nas torneiras e fontanários, do precioso
líquido, não sai ou se sai os custos mensais de fornecimento são elevados.
Messe Djó, que também reside
perto do rio, esclarece o seguinte. "Podemos ter medo dos crocodilos mas
pensamos que o fornecimento da água está muito caro, todos dias nós precisamos
de dinheiro para pagar a água da torneira! Por isso vamos apanhar a água do rio
única forma de conter os custos".
Outra moradora, Lúcia Moisés, diz
que apesar de estar a correr riscos prefere lavar a roupa no rio. "Sabemos
que é perigoso, as pessoas são mordidas pelos crocodilos mas nós não temos
outra alternativa. A água não sai nas torneiras nem de manhã, e nem ao meio dia
só vem à tarde e à noite. Mas queremos fazer as nossas tarefas, como lavar a
roupa na parte da manhã".
A DW África entrevistou também
Veloso Dias que foi vítima de um ataque por crocodilo que lhe deixou sem
um pé. Ele contou à nossa reportagem que permaneceu mais de meia hora na
água batalhando pela vida e no fim conseguiu escapar dos dentes do crocodilo
quando perdeu o pé. Veloso Dias de quarenta e seis anos de idade locomove-se
atualmente com a ajuda de muletas e tem uma opinião sobre como acabar com os
frequentes ataques dos crocodilos.
"Devíamos chamar os líderes
comunitários e os régulos para se sentarem e discutirem como fazer para
diminuir os ataques dos crocodilos, mas se me perguntarem eu gostaria que pelo
menos alguns deles fossem abatidos".
Ação do Estado
No entanto o líder comunitário
Dias Chave disse a DW África que anualmente as lideranças comunitárias têm
reunido e orientadas cerimónias tradicionais para reverter este cenário mas ao
que tudo indica falta ainda fazer muito mais. Chave acrescentou que deveria ser
dado continuidade à campanha de recolha de ovos dos répteis nas margens dos
rios.
"Desde há muito tempo pelo
menos uma ou duas vezes por ano fazíamos cerimónias tradicionais mas isto não
basta porque a população continua a ser atacada e a morrer. Sugerimos que
aquelas que vinham para aqui regressassem à região para de novo e começar a
recolher os ovos de crocodilos e assim reduzirmos a população desses répteis.
Isso já seria uma grande ajuda”.
Por seu turno, o governo diz
estar a envidar esforços de modo a ultrapassar esta situação que coloca em
perigo centenas de pessoas.
O chefe de serviços provinciais
de florestas e fauna brava, Paz Martinho, disse em entrevista à DW África que o
trabalho já realizado foram colhidos alguns resultados positivos.
"Alocámos nesses distritos mais problemáticos algumas armas numa perspectiva
da população afugentar das margens dos rios os crocodilos e se possível até o
abate do animais mais recalcitrantes e problemáticos. Associados a isto também
tivemos que identificar alguns caçadores comunitários com experiência que foram
em seguida formados e estão lá para qualquer situação que envolva mais perigos”.
Arcénio Sebastião | Deutsche
Welle
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