Num decreto presidencial, o chefe
de Estado angolano autorizou a aquisição do material avaliado em mais de 70
milhões de kwanzas (cerca de 200 mil euros). O contrato será celebrado com a
empresa Sistec, S.A.
À semelhança do "Bairro
dos Ministérios", com 28 edifícios ministeriais e várias unidades de
apoio, o tema do ginásio está a gerar grande polémica em Angola e a intenção do
governo está a ser muito criticada.
Em declarações à DW África,
Nelito Ekuikui, da bancada da União Nacional para Independência Total de Angola
(UNITA), diz que o país tem outras prioridades. "Não é oportuno alocar
verbas para a construção ou apetrechamento de um ginásio ao nível da Assembleia
Nacional. O país tem prioridades e as prioridades do país estão devidamente identificadas",
afirma o deputado mais jovem do Parlamento angolano.
Seca ou saúde são "mais
urgentes"
Nelito Ekuikui diz que não
pretende frequentar o ginásio dos deputados. E aconselha o governo a recuar na
sua decisão: "Faço exercício, vou caminhando, correndo pelas estradas que
o país tem. O Executivo deve recuar no sentido de alocar essas verbas para um
outro fim que é urgente e é imediato."
egundo o deputado, outro fim
seria, por exemplo, a resolução do problema da seca no sul de Angola,
nomeadamente no Cunene, no Kuando Kubango e no Namibe. Ou "a resolução da
pobreza que é extrema em Angola", lembra.
"A questão do nosso sistema
de saúde de uma forma geral. Há prioridades devidamente definidas e acho que
não nos devíamos dar ao luxo de identificar pequenas coisas que não acrescentam
valor absolutamente algum quer na vida dos deputados quer na vida dos angolanos
de um modo geral", critica Nelito Ekuikui.
Angola precisa de deputados
musculosos?
Também Jorge Neto, jornalista e
diretor do Jornal Manchete, não vê necessidade de o Governo investir num
ginásio para deputados angolanos. "Nós precisamos de deputados caenhes
(musculosos)? Não. Nós precisamos de deputados que se preocupam com as
necessidades daqueles que eles representam na Assembleia Nacional."
Jorge Neto diz que João Lourenço
"deve pensar naquilo que está a fazer" e, sobretudo, nos cidadãos.
"Os próprios deputados não irão frequentar este ginásio, porque com os
salários de luxo que auferem, a maior parte deles têm ginásio em casa. Quem não
tem em casa, paga um no bairro onde faz o seu exercício físico", explica.
O jornalista acrescenta que se os
valores forem investidos noutro setor da vida social, isso iria minimizar
alguns problemas básicos da população: "(Esses) milhões de dólares para o
governo liderado pelo João Lourenço podem não parecer nada, mas esses 12
milhões de dólares, investidos nas necessidades básicas dos cidadãos, é muito
dinheiro".
País em crise
Angola continua em crise. Os
angolanos continuam a mobilizar-se para acudir às populações que sofrem
com a seca
no sul do país, através da recolha de bens de primeira necessidade.
Recentemente, a Rádio Nacional de Angola (RNA) e o Governo Provincial de Luanda
levaram a cabo uma campanha e recolha de donativos para milhares de crianças e
mulheres que não têm o que comer e beber no Cunene, Namibe e Kuando Kuabango.
Mas é difícil chegar às zonas
mais recônditas. "Há dificuldades de acesso, sobretudo das sedes comunais
para o interior, porque as estradas não estão em condições. Por isso, optamos
por comprar tratores que nos vão resolver o acesso às zonas de maior
dificuldade, zonas sem estrada, para podermos lá chegar", diz o governador
da província do Cunene, Virgílio Tchova. Além de água, há bens alimentares para
entregar às populações nas zonas mais recônditas da província.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário