quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Brexit, a revolução sem glória via parlamento e democracia suspensos


Johnson, que também é Boris e recém-chegado a PM britânico, deu o bote à laia de serpente venenosa e levou a caquética rainha Isabel II a suspender o parlamento e a democracia – porque é isso que acontece quando o parlamento é silenciado.

O despenteado PM calou onde não devia os seus opositores à saída do Reino Unido (?) da União Europeia de forma tresloucada, em simbiose com o visual que nos oferece com o seu aspeto de despenteado mental e nos cabelos. O tema é tratado na abertura do Expresso Curto por Ricardo Costa, que lhe chama revolução sem glória.

Mas há ainda mais neste Curto que apresentamos a seguir e foi surripiado - com vénia – do já histórico jornal Expresso, o do tio Balsemão Bilderberg de Impresa. Sem mais anotações convidamos para que sigam o esparramado com interesse do autor-escritor-jornalista já referido e agora por nós cumprimentado.

Tenham um bom dia de quinta-feira e que para todos vós amanhã seja outro dia… bom.

Carlos Tadeu | Redação PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Brexit, a Revolução sem Glória

Ricardo Costa | Expresso

O Reino Unido já tinha na sua história uma Revolução Gloriosa, na gaveta do séc. XVII, com a deposição de um Rei católico (Jaime II) a favor de outro protestante (Guilherme de Orange), desembarcado da Holanda, numa transição com pouco sangue para os padrões da época.

Esses tempos voltaram a ecoar quando os alertas noticiosos anunciaram que Boris Johnson tinha pedido à Rainha para suspender o Parlamento por cinco semanas, para ter as mãos livres no Brexit.

Assim dito, até parecia que Isabel II tinha o poder de dizer que não. Não tinha, porque o tal século XVII deu a resposta: o último rei que foi contra o Parlamento foi o pai de Jaime II (Carlos I), que acabou deposto e, pormenor importante, decapitado. O filho não arriscou tanto mas teve que fazer as malas para França.

Desde essa altura que ficou claro que o centro do poder político britânico é o Parlamento. É por isso que a sua suspensão, apesar de legal e temporária, a poucas semanas do Brexit abre um grave precedente constitucional. O plano de Boris Johnson é arriscado mas simples: com a suspensão, evita qualquer entrave interno ao Brexit, sai da UE a 31 de outubro e vai direto para eleições antecipadas.

Perante isto, o Parlamento ainda pode fazer alguma coisa? Sim, pode tentar depor o primeiro-ministro e apresentar à Rainha um governo de transição que adie o Brexit enquanto se preparam eleições. Mas o prazo é muito curto – teria que o fazer já na próxima semana – e a desunião entre as partes parece grande. Além disso, o calendário permite a Johnson, mesmo depois de deposto, marcar eleições só para depois da data do Brexit.

Este é o jogo perigoso de Boris Johnson. Se os deputados não o conseguirem afastar, Boris tem o caminho livre. Se conseguirem, ele pode ficar no lugar umas semanas e partir para uma campanha eleitoral inédita do tipo Povo vs. Parlamento.

A revolução que o século XXI britânico tem para nos oferecer é esta que começa com uma crise constitucional, jogos de calendário e truques processuais difíceis de acompanhar (perguntas e respostas aqui). Uma Revolução sem Glória.

OUTRAS NOTÍCIAS

As nossas eleições legislativas são só em outubro, mas a sucessão de entrevistas e debates já começou. Ontem, na TVI, o primeiro-ministro repetiu que não quer ministros do PCP nem do Bloco, num guião iniciado na entrevista de sábado ao Expresso e que promete ser a partitura da campanha do PS.

Esse guião está muito bem explicado neste artigo da Ângela Silva no Expresso e este parágrafo faz um ótimo resumo. Passo a citar: "para haver um Governo é preciso que ele seja coeso para ter condições de governabilidade no dia a dia" e com o PCP ou o BE "como seria a relação com a União Europeia, a gestão da dívida pública, ou a gestão de uma greve como a dos camionistas?". Ou como seria a gestão pelo próximo Governo dos "riscos externos" de uma eventual crise internacional”. Fim de citação.

O Ministério Público pediu a dissolução do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas. Pelos vistos há inconformidades jurídicas, claramente protagonizadas por Pedro Pardal Henriques, que o MP considera ser ilegais e que anulam a existência do próprio sindicato. A batalha jurídica vai começar, enquanto a greve anunciada se mantém.

Os pais da bebé Matilde dão esta tarde uma conferência de imprensa a explicar o que vão fazer aos donativos que receberam para acudir à doença grave da filha, uma vez que o medicamento – de um preço astronómico – foi, entretanto, fornecido pelo SNS.

Em Itália, o golpe de teatro de Matteo Salvini, que quis deitar abaixo o seu próprio governo – onde era número 2 – para ir para eleições que pensava vencer, viu um contra golpe afastá-lo do poder e sem eleições à vista. O atual parceiro de coligação 5 estrelas fechou um surpreendente acordo com o Partido Democrático para formar um novo executivo com a Liga de fora. Se a piada não fosse de mau gosto, podíamos dizer que Salvini ficou a ver navios…

Por falar em países com governos confusos, em Espanha (lembram-se?) ainda não há solução à vista. Agora, Pedro Sanchéz vai apresentar um programa carregado de medidas, com o objetivo de convencer o Podemos a apoiar um novo governo. Se falhar, lá vão os espanhóis para novas eleições.

O Partido Democrata continua na corrida para nomear o adversário de Donald Trump em 2020 e já conseguiu reduzir a escolha a 10 candidatos! No próximo debate, em setembro na ABC, serão dez os candidatos a defrontarem-se para a passagem à próxima fase. Biden, Sanders, Warren e Harris estão na frente. Apesar de Joe Biden liderar todos os estudos, Elisabeth Warren está numa rota ascendente e pode surpreender.

Furacão Dorian. Convém decorar o nome porque vai fazer notícia e estragos nos próximos dias. Em Porto Rico, devastado por um furacão há poucos anos, na Florida e não só.

A ativista Greta Thurnberg chegou a Nova Iorque depois de duas semanas a atravessar o atlântico para chamar a atenção para o aquecimento global, ou emergência climática como agora se começa a dizer. Greta não é lavada a sério por muita gente, tal a sua militância, mas o seu poder de influência é inquestionável, sobretudo nas gerações mais novas. O seu poder de influência é inquestionável.

O governo de Bolsonaro proibiu as queimadas em todo o país durante 60 dias. A situação está muito difícil de controlar e setembro costuma ser um mês de muitos incêndios. A pressão internacional é imensa e o governo brasileiro já percebeu que vai estar sob vigilância apertada nestas frente.

Quem faz a alegria de muitos brasileiros é Jorge Jesus. Depois de ter aterrado no Rio com a alcunha de Professor Pardal, tantas eram a suas invenções, o Mister acaba de levar o Flamengo às meias-finais da Taça dos Libertadores, onde não chegava há 35 anos, e está em primeiro lugar do campeonato nacional. As imagens da festa da torcida são épicas e as declarações de Jesus um acontecimento, como sempre.

Bruno Fernandes pode ver o seu futuro decidido hoje. Ora aí está uma frase que ameaça ser intemporal. Bruno não está sozinho, nos jornais espanhóis e franceses é Neymar que está sempre à beira de ser vendido. Esperemos sentados.

Esta tarde há sorteio da Champions. O Benfica vai no chamado Pote 2 à espera de ver o que lhe cai na sorte da Liga Milionária. Amanhã é o sorteio da Liga Europa. Os jogos começam dentro de duas semanas.

FRASES

“Não vale a pena acrescentar riscos internos aos riscos externos”. António Costa, primeiro-ministro, em entrevista à TVI onde justificou porque recusa ministros do PCP ou do Bloco

“Não faz sentido apoiar um governo sem um acordo escrito”. André Silva, líder do PAN, já à espera dos resultados de outubro

“É óbvio que estamos perante uma tentativa de acabar com o direito à greve e a liberdade sindical”. Comunicado do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas

"Maior torcida do Brasil não, maior torcida do mundo". Jorge Jesus, treinador do Flamengo

O QUE EU ANDO A LER

Gostaste mais do livro ou do filme? Quantas vezes já ouvimos esta pergunta? Estas férias dei com um exemplar da última edição de O Leopardo, de Giuseppe Tomasi de Lampedusa, e decidi lê-lo para, afinal, perceber, ou confimar, que há casos em que a pergunta é profundamente injusta.

Foi-me impossível ler o livro sem tirar da cabeça as cenas inesquecíveis da adaptação cinematográfica, feita por Visconti em 1963, num soberbo filme protagonizado por Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale.

Demorei a entrar no livro porque alguns dos seus momentos chave – por vezes capítulos inteiros – foram de tal forma bem adaptados ao cinema, que toda a história do Príncipe de Salina e de uma Sicília decadente e a dar forma a outra coisa, onde tudo mudaria para que pudesse ficar na mesma, não saía da minha cabeça à medida que lia o livro.

A história editorial de O Leopardo não foi fácil, com a publicação recusada por várias editoras, o que só seria ultrapassado – e com sucesso estrondoso – já depois do autor morrer. Poucos anos depois, Visconti fez um filme de tal forma bom que acabou por relegar injustamente o livro para segundo plano.

Lembrei-me de falar deste livro porque na próxima semana há um filme português que vai a competição em Veneza e que tem uma magnífica cena passada num baile e muitas outras coisas que nos remetem para O Leopardo. A Herdade, de Tiago Guedes, é um filme que Paulo Branco quis produzir e que “furou” um festival onde nenhum filme português era aceite a concurso há 14 anos. O universo não é o da Sicília do séc. XIX, é de um Portugal que cheira a O Delfim, cruza a revolução, os anos 80 e a decadência da alta burguesia terratenente.

Por razões profissionais, pude ver o filme numa sessão promovida pelo Paulo Branco, em finais de julho. Não sei se a magnífica história da Herdade de Rio Frio será o nosso Leopardo – deixo isso para a crítica – mas é um filme soberbo que ficará na história do cinema português.

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