Domingos De Andrade
| Jornal de Notícias | opinião
A candidatura de Pardal Henriques
às eleições legislativas de outubro como cabeça de lista por Lisboa do Partido
Democrático Republicano, de Marinho e Pinto, é a melhor notícia para o Governo
e a pior para o movimento sindical, mas sobretudo para as aspirações dos
motoristas de que era porta-voz.
Para o Governo porque, depois dos
3-0 vitoriados por António Costa quando questionado sobre os excessos usados na
greve, corria o risco de o desgaste de uma mediação frustrada se arrastar até
ao ato eleitoral, com passíveis danos nas urnas. Mantém isolado o sindicato e
surge pleno de razões, podendo invocar a ambição política como estando por
detrás de uma greve que ameaça durar até às portas da campanha.
Pior para os motoristas e para o
movimento sindical. Se, por um lado, o surgimento de novas estruturas como o
Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas, que surpreendeu e
paralisou o país em abril, tem na sua base uma aparente vitalidade sindical,
mesmo que radicalizada, por outro a atuação ziguezagueante do seu porta-voz e
as ações pouco credíveis e orientadas do protesto acabam por fazer mais mal do
que bem às reivindicações dos trabalhadores.
Já para não falar dos precedentes
que ficaram em aberto com a ação musculada de António Costa e cujos efeitos
veremos a prazo, quando os mesmos argumentos forem invocados noutras greves,
dos médicos, enfermeiros, pilotos, ou professores, seja um Governo de Esquerda
ou de Direita.
Na verdade, o jovem advogado
Pardal Henriques pode ter um Maserati e representar trabalhadores. Pode estar
sob escrutínio da Ordem e ser porta-voz de um sindicato. Pode ser apontado como
estando por detrás de movimentos extremistas. Pode até ser candidato de um
partido. Não pode é com a sua ação ser ele próprio pretexto para atacar
direitos que era suposto estar a defender.
*Diretor
Sem comentários:
Enviar um comentário