Menina morreu na noite de sexta,
com um tiro nas costas, quando estava dentro de uma kombi no Complexo do
Alemão, zona norte da cidade
A morte da menina Ágatha Félix,
de 8 anos, durante uma operação policial no Complexo do Alemão, voltou a
despertar a indignação contra a violência que assola as periferias do Rio de
Janeiro, onde traficantes, agentes policiais e milícias travam uma guerra
que se
arrasta há anos.
A menina estava dentro de uma
Kombi junto com a avó, e voltava para casa na comunidade da Fazendinha, na
sexta-feira à noite, quando foi baleada nas costas. Ágatha chegou a ser levada
às pressas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu
ao ferimento.
De acordo com a plataforma Fogo Cruzado, Ágatha foi
a 16º criança vítima de violência armada neste ano no Grande Rio, e a quinta
que não resistiu aos ferimentos. "Vai chegar amanhã e [dizer] morreu uma
criança num confronto. Que confronto? A mãe dele passou lá e viu que não tinha
confronto. Com quem? Porque não tinha ninguém, não tinha ninguém. Atirou por
atirar na Kombi. Atirou na Kombi e matou a minha neta. Foi isso. Isso é
confronto? A minha neta estava armada por acaso para poder levar um
tiro?", afirmou Airton Félix, avô da criança, em vídeo do Jornal Hoje.
A Polícia
Militar informou por meio de nota que, por volta das 22h da
sexta-feira, equipes policiais da UPP Fazendinha foram atacadas de várias localidades da
comunidade de forma simultânea. Os policiais teriam revidado à agressão,
segundo informações da Agência Brasil. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora
(CPP) vai abrir uma apuração para verificar todas as circunstâncias da ação.
Segundo relatos de vizinhos
apurados pela agência de comunicação Voz das Comunidades,
no entanto, os policiais dispararam contra uma motocicleta, mas a bala desviou,
entrou no veículo e atingiu a criança.
O Complexo Alemão é palco de
constantes confrontos armados devido à presença de quadrilhas de traficantes
que controlam seu acesso. A "guerra" travada dentro desta comunidade
deixou pelo menos seis pessoas mortas nesta semana em outra operação realizada
pela polícia.
O silêncio do poder público
Com cartazes "Parem de nos
matar" e "A vida na favela importa", dezenas de moradores saíram
no sábado às ruas para pedir o fim da violência no Complexo Alemão, e exigir
uma resposta do governador do Rio de Janeiro, Wilson
Witzel. "O silêncio do governador Witzel é ensurdecedor diante do
barulho de uma criança morta a tiros de fuzil!, denunciou uma deputada do
estado do Rio de Janeiro, Monica Francisco, nas mídias sociais.
Witzel foi denunciado a
organizações internacionais por entidades de direitos humanos por ser um
defensor do uso de franco-atiradores e helicópteros blindados em operações
policiais, apesar de colocar em risco centenas de pessoas inocentes. O
governador também defende uma solução policial para os problemas de violência
nas favelas do Rio e que os os agentes públicos não sejam punidos pelas mortes
que causam.
Segundo dados do Instituto de
Segurança Pública do Rio de Janeiro, entre janeiro e julho deste ano, coincidindo com a chegada de Witzel ao poder, 1.075
pessoas morreram em operações policiais na cidade, número 20% superior ao mesmo
período do ano passado.
Dados divulgados na semana
passada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, embora as
mortes violentas em geral tenham sido reduzidas em 10% no Brasil no ano
passado, o número de civis mortos por policiais aumentou de 5.179 em 2017 para
o recorde de 6.220 em 2018.
O Rio de Janeiro registrou quase
um quarto de todas as mortes causadas pela polícia no ano passado, com 1.534
casos, em meio a confrontos com grupos criminosos.
El País | Com informações da
Europa Press e da Agência Brasil
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