sexta-feira, 6 de setembro de 2019

COMUNISMO NOS EUA?


Marino Boeira* 

Você já imaginou um país chamado Estados Socialistas da América do Norte? Em vez de USA (United States of America), SSNA (Socialist States of North America)

Utopia? Provavelmente. Mas, mesmo que seja um sonho quase impossível, existem alguns dados para justificar esse quase da frase.

Entre as décadas de 1920 e 1940, o Partido Comunista dos Estados Unidos, o Communist Party USA (CPUSA) foi um partido marxista bastante atuante, fruto principalmente da ação dos emigrantes italianos que chegaram ao País após a Primeira Grande Guerra.

Seus membros tiveram atuação importante nos movimentos sindicais e na defesa dos direitos civis dos negros.

Após a segunda guerra mundial, 1945, com o início da guerra fria e de uma ampla campanha de mídia, principalmente, o cinema, contra o comunismo, o partido foi diminuindo de importância, mas ainda permanece vivo.

O CPUSA, dirigido em escala nacional por Sam Webb, tem sua sede no Bairro Chelsea, em Nova York e conta hoje com entre 3 e 3,5 mil membros, mas seus dirigentes esperam que a atua crise económica nos Estados Unidos, com o aumento cada vez maior da pobreza tragam novos adeptos para o partido.

Aparentemente essa não é uma expectativa de todo irreal.


Uma pesquisa patrocinada por uma instituição anti-comunista, a Foundation Victims of Commnism Memorial revelou que o número de pessoas nascidas entre 1980 e 2000, ou seja jovens entre 20 e 30 anos, que prefeririam viver num regime socialista, é de 44% do total dos entrevistados, contra 42% que escolheriam o capitalismo. Outros 14% se disseram divididos entre comunismo e fascismo.

É importante levar em conta o alto grau de desconhecimento dessa faixa de público sobre a política, refletindo uma alienação que é bastante grande em todos os segmentos de público nos Estados Unidos.

Um exemplo disso é que 66% dos entrevistados foram incapazes de dar uma definição correta de socialismo e 30% confundem comunismo com fascismo.

Mesmo assim, preocupou os pesquisadores que Karl Marx (32%), Che Guevara (31%), Lenin (23%) Mao (19%) e até Stalin (6%) recebessem opiniões favoráveis dos jovens.

Se na área política, o comunismo e mesmo as ideias socialistas, têm pouca força na vida política, o Marxismo, que dá sustentação ideológica ao comunismo, cresce em influência na área cultural, principalmente nas universidades.

Os filósofos alemães, como Adorno e Marcuse, da Escola de Frankfurt, entre outros, ao fugirem do nazismo e se radicarem nos Estados Unidos, deixaram muitas ideias de cunho marxista nos meios académicos americanos.

Hoje, nomes importantes como David Harvey, Mike Davis, Fredric Jameson, Erik Olin Wright e Michael Burawoy seguem essa tradição académica em estudos que refletem uma influência marxista.

Perry Anderson, historiador e professor da UCLA e editor da revista  New Left Review, acredita numa possível reunificação do marxismo com as lutas populares concretas, principalmente por causa da globalização da economia, abrindo um novo caminho para as revoluções sociais, que não deixariam de fora os Estados Unidos.
Portanto, camaradas, não percamos as esperanças.

*Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

Sem comentários:

Mais lidas da semana