Dança das cadeiras muda cenário
político do país e gera incertezas sobre a sobrevivência do Governo até às
eleições. PRS irá apoiar o candidato do APU-PDGB, atual parceiro do partido no
poder no Parlamento.
Prazo para a entrega das
candidaturas para as eleições presidenciais de 24 de novembro, junto ao Supremo
Tribunal de Justiça da Guiné-Bissau, terminou na quarta-feira (25.09).
Para aqueles que ambicionam
ocupar a presidência da Guiné-Bissau, uns têm origem e ideologias iguais, mas
outros são diferentes até na forma de ver a situação do país.
Para alguns observadores
políticos, os problemas são de várias ordens, motivo pelo qual devem merecer um
debate profundo entre os candidatos, num país cuja estabilidade política e
governativa é ainda muito questionada.
Contudo, Bacar Camará, jornalista
e comentador político, espera uma corrida eleitoral bastante disputada.
"Vão ser bastante disputadas
e renhidas, do ponto de vista de concorrência," afirma.
"Acredito também que do
ponto de vista de discursos e mensagens que vão marcar os concorrentes não vamos
ter grandes novidades, visto que tem sido essa uma prática na nossa democracia.
Os concorrentes às eleições não se importam com as linhas
mestras," critica, acrescentado que "quando se fala das eleições
presidenciais, os candidatos devem centrar discursos em matéria da Constituição
da República, porque o papel do Presidente da República num regime
semipresidencial tem a ver com o respeito escrupuloso da Constituição".
A Guiné-Bissau está a dois meses
da escolha de um novo Presidente da República. A situação política tem sido
efervescente nos últimos dias, em torno da Assembleia Nacional Popular (ANP),
sobre o programa do Governo.
Vários comentadores políticos
admitem um cenário que possa levar à queda do atual Governo, prestes a
completar três meses de exercício.
A base para esta linha de
raciocínio encontra-se no facto de o Partido da Renovação Social (PRS), na
oposição, ter decidido abdicar de ter o próprio candidato presidencial, facto
inédito no país, em troca de um acordo político que o leva a apoiar Nuno Gomes
Nabiam, líder da Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau
(APU-PDGB).
Recorde-se que a APU-PDGB é
parceira do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), na
atual governação do país.
Para Bacar Camará, o acordo
estabelecido entre Nuno Gomes Nabiam e o PRS pode ter reflexos nas votações
parlamentares, com um objetivo claro.
"Podemos admitir, este
acordo visa derrubar o Governo e assumir o comando do Governo. Esta é a única
explicação que se pode ter em relação ao acordo estabelecido entre Nuno
Gomes Nabiam e o PRS. Não vejo a razão do PRS deixar pelo caminho o atual
Presidente, que foi sempre um grande apoiante do PRS ao longo da nona
legislatura," avalia.
"Nuno Nabiam é líder de uma
formação política com cinco mandatos no Parlamento, seria mais fácil para o PRS
derrubar a atual maioria [formada entre o APU-PDGB e o PAIGC] e assumir a
governação," acrescenta o analista.
Opinião contrária tem Anselmo
Mendes, professor universitário, que considera que os dois acordos, de
incidência parlamentar com PAIGC e o de apoio à sua candidatura por parte do
PRS, assinados por Nuno Nabiam são diferentes.
"O acordo com o PAIGC é de
viabilizar a governação e dar a maioria a esse partido. O acordo com o PRS é de
encontrar um partido forte para o ajudar a chegar à Presidência da República.
Se há ou não intenções de derrubar o Governo ou se os dois acordos se
contrapõem, não é o nosso entendimento, uma coisa não tem nada a ver com
outra," considera.
Para Anselmo Mendes, o líder do
APU-PDGB teria ficado dececionado com os resultados da sua parceria com o
PAIGC.
"O próprio Nuno Gomes Nabiam
disse publicamente que não saiu beneficiado do acordo com o PAIGC e que contava
com o PAIGC para as presidenciais. Agora, o próprio PAIGC tem um candidato
presidencial que não é Nuno Gomes Nabiam," explica.
Lista oficial de candidatos
Entregues as candidaturas de 19
personalidades guineenses no Supremo Tribunal de Justiça, aquele órgão judicial
tem, a partir de agora, de acordo com a lei, um prazo não superior a três
semanas para apreciar os dossiers e afixar a lista provisória dos
candidatos oficiais para, depois das reclamações, tornar pública a lista
definitiva dos concorrentes às sextas eleições presidenciais na história da
democracia guineense desde 1994.
Nancy Schwarz é a única
mulher que se disponibilizou para concorrer às presidenciais numa
candidatura independente.
Entretanto, a apreciação das
candidaturas pelos juízes conselheiros poderá não acontecer a partir desta
quinta-feira (26.09), devido à greve dos magistrados judiciais que tem início
no mesmo dia.
Essa situação que pode pôr em
causa os prazos legais para apreciação dos dossiers das
candidaturas e a sua divulgação.
Os grevistas exigem do Governo a
aplicação do Estatuto Remuneratório dos Magistrados judiciais, aprovado pelo
Parlamento guineense.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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