domingo, 29 de setembro de 2019

Sobra vontade política a JLo, mas falta competência à sua equipa económica, diz analista


Para economista angolano Josué Chilundulo, capital político do Presidente angolano tem estado a diminuir, dois anos depois da posse de João Lourenço. Motivo: reformas económicas ainda não trouxeram resultados palpáveis.

Em entrevista à DW, o economista angolano Josué Chilundulo afirma que as reformas económicas prometidas e iniciadas pelo Presidente João Lourenço ainda não trouxeram resultados palpáveis, o que fez diminuir o otimismo inicial com a chegada dele à liderança de Angola.

Chilundulo diz que a falta de credibilidade por parte do mercado internacional ainda é um entrave para a economia angolana que poderia ser minimizado com a reforma da lei do sistema financeiro nacional.

Para analista, não faltou ao Presidente vontade política, mas sim competência por parte da equipa económica de João Lourenço.

DW África: Analisando a situação atual da economia angolana, considera que o "otimismo” desvanasceu-se após dois anos de governação do Presidente João Lourenço?

Josué Chilundulo (JC): Para o conjunto de cidadãos do país, não importa quais sejam as decisões governamentais. Se elas não se refletirem no bem-estar, na melhoria das condições de vida dos cidadãos, todas as decisões são inócuas. Nestes termos, há sim uma certa decadência da parte do capital político, porque ao mesmo tempo que os cidadãos não observam melhorias na sua condição de vida, também não se observam reformas económicas profundas e concretas com resultados palpáveis. Daí que pode ser sim justo que se afirme que o seu capital político tem estado a diminuir aos poucos.

DW África: Então seria a hora de o Governo adotar outras estratégias para retomar aquele otimismo? E que estratégias seriam estas?

JC: Há duas perspectivas. A primeira é, desde logo, a questão do acelerar da reforma da administração pública, porque nós somos uma economia fortemente dependente das atitudes do Estado e, do ponto de vista da equipe económica e das áreas conexas, percebe-se muito pouca competência. Do ponto de vista da realização das políticas económicas - a questão, por exemplo, do acesso às dividas e os mecanismos de importação, a questão do acesso aos produtos de cesta básica de produção nacional - seriam de imediato ações que não precisam de dinheiro, decorrem um pouco da assunção de uma taxa de sacrifício político necessária.

Por outro lado, é a questão da reforma da lei do sistema financeiro nacional. Porque enquanto tivermos pessoas politicamente dispostas no sistema financeiro nacional e houver pouca credibilidade da parte do mercado internacional, nós vamos continuar a ter limitações no acesso a divisas. E, atenção, limitação no acesso a divisas é um comprometimento às importações e a nossa economia, nos próximos cinco a dez anos, ainda vai depender de importações.

DW África: Além das importações, a dependência do petróleo ainda é apontada por analistas como um dos grandes entraves para o progresso económico de Angola. O Governo espera investimentos, principalmente estrangeiros, para então concretizar a diversificação. O que poderia ser feito como alternativa?

JC: Temos que olhar para o capital que já temos. Temos que tentar explorar um pouco mais o corredor do Lobito. Temos que tentar explorar um pouco mais as iniciativas de produção agrícola que já existem e, se possível, desafogarmos um pouco as questões fiscais e priorizarmos, do ponto de vista do acesso às divisas, os insumos agrícolas. Porque Angola tem potencial nesse setor e os resultados podem ser imediatos. Há um capital adormecido que precisa ser estimulado.

DW África: Então, falta vontade política?

JC: Acho que é incompetência. Não é tanto vontade política, porque o líder máximo da governação, que é o Presidente João Lourenço, até aborda esses aspectos no seu discurso. Acho que há um desfasamento entre aquilo que são as pretensões do Presidente e a capacidade real de reação da sua equipa económica. A equipa de governação com a qual o Presidente João Lourenço decidiu trabalhar já deu o que tinha que dar. É preciso trazer novas inteligências.

Thiago Melo | Deutsche Welle

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