Nesta terça-feira (19), véspera
do Dia da Consciência Negra, o deputado federal Coronel Tadeu (PSL), da base do
governo Bolsonaro, destruiu charge do artista Latuff que denunciava a violência
policial contra os negros em exposição na Câmara dos Deputados. Em 2018, dois
trogloditas candidatos que depois viraram deputados, também apoiadores de
primeira hora de Bolsonaro, destruíram placa em homanagem a Marielle, vereadora
negra brutalmente assassinada.
Os dois fatos (bem como a morte
de Marielle) estão diretamente relacionados e são sintomáticos do tempo que
vivemos. O Brasil está mergulhado numa perigosa onda de ódio, ignorância e
preconceito que procura criminalizar e intimidar todos que denunciam e resistem
a tudo aquilo que temos de pior, como se o erro estivesse não nos problemas
estruturais do país, mas naqueles que se rebelam contra eles e suas causas.
Dentre estes problemas estão o racismo e a desigualdade, que seguem sendo
ignorados ou minimizados por parcela considerável da população.
Entre os homens, a realidade também é dura: em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram de indivíduos negros, a maioria deles jovens. E a população negra representa 64% dos desocupados e 66% dos subutilizados. Também é negra a população com menor escolaridade, mais vulnerável à violência (inclusive policial), a maioria da população carcerária e com as piores condições de moradia, saneamento e atendimento à saúde. Dados como estes são apenas alguns que mostram a realidade vivida pela maioria da população (55% é composta por pretos e pardos).
Não é possível continuar se negando a enxergar tamanha desigualdade, tamanha iniquidade, que atinge os negros e negras. A denúncia e a luta devem ser cotidianas, devem extrapolar o mês de novembro, devem ultrapassar os limites da população negra; tem de envolver todos os brasileiros e brasileiras. Enquanto essa situação persistir, o Brasil continuará sendo uma nação infeliz que, ao invés de enfrentar seus problemas, prefere fingir que eles não existem, quebrando placas e obras para fingir que o racismo não existe.
Abigail Pereira | Vermelho | Ilustração:
Latuff
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