A "tampa" já saltou a
alguns membros da RENAMO, incluindo a António Chichone. Ele acha que o líder do
partido, Ossufo Momade, é a razão da fragmentação interna.
O descontentamento na Resistência
Nacional Moçambicana (RENAMO, o maior partido da oposição) já é de domínio
público. E há quem, sem receios, já esteja a assumir as fragilidades na força
política.
António Chichone é uma dessas
pessoas. Em entrevista à DW África, o destacado membro da RENAMO na
diáspora diz que Ossufo Momade "foi um erro de casting"
e não está a conduzir o partido a bom porto. Chichone chega mesmo ao
ponto de suspeitar que líder do partido tenha sido subalterno ao partido no
poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), nas eleições de 15 de
outubro.
Por isso, pede ao Conselho
Nacional da RENAMO que tome medidas urgentes para resolver os problemas
internos do partido.
DW África: É facto que a RENAMO
está fragmentada?
António Chichone (AC): Tenho
a profunda consciência de que tem de haver coragem interna para se dizer isso.
Eu não terei problema nenhum em afirmar que realmente está fragmentada.
DW África: É capaz de apontar os
motivos que ditaram essa fragmentação?
AC: Primeiro, isso foi após
o congresso [em
janeiro de 2019]. Percebeu-se que havia o intuito de pesseguir e criar divisão
interna dentro do partido. Outra questão é a da Beira, houve aquela
confusão, aquela chamada desordem interna, que não foi desordem, que podia
ter sido resolvida de outra forma. E vimos o resultado disso nas eleições de 15
de outubro. [Minimizaram] este problema e foram às eleições assim. Pensaram
que, indo às eleições e esquecendo-se da Beira, iam ganhar simplesmente com as
províncias de Nampula e Zambézia.
DW África: É capaz de dizer quem
está na génese dos celeumas do partido?
AC: Temos de apontar
cabeças, e pedir a cabeça do presidente do partido. E as pessoas que fazem
cordão ao presidente [também] devem ser responsabilizadas por tudo
isso que aconteceu, porque não se pode permitir que façam que façam coisas
dessa natureza e deixem que as coisas continuem, ficando caladinhos, como
se não se passasse nada.
Então, isto tem muito a ver com a
perseguição que, no meu entender, está a ser perpetrada pela liderança do
partido. Primeiro, após o congresso, tivemos um novo presidente eleito, é
verdade. [Mas,] na minha ótica, o presidente devia ter esperado algum
tempo antes de fazer mexidas radicais. Dá-me a entender que o presidente do
partido está a tentar apagar o legado do presidente Dhlakama, mas não vai
conseguir, porque o presidente Dhlakama foi o presidente Dhlakama, teve o seu
carisma. E foi comandante em chefe das forças residuais da RENAMO e presidente
da RENAMO, coisa que o presidente do partido neste momento não consegue -
aglutinar as alas [desavindas]. Como é que as pessoas o vão respeitar e como
vai ter o estatuto que teve o presidente Dhlakama, se ele está a criar divisão
para reinar?
DW África: Acha que Ossufo Momade
não tem capacidade para ser líder da RENAMO?
AC: Eu afirmo
categoricamente que foi um erro de casting dos membros da RENAMO e
dos delegados ao congresso terem eleito o atual presidente do partido. Foi um
erro tremendo e está-se apagar caro. E ainda vou dizer mais. Sinto
que, [em relação à] fraude que ocorreu, na sua forma tão aberta,
desavergonhada, até parece que existe uma colaboração de quem está a liderar o
partido. Houve uma passividade. A sua reação dá a entender que temos
um presidente que está a ser subalterno ao partido FRELIMO, isso é inadmissível.
DW África: Então, para si, o
líder da RENAMO é uma espécie de traidor?
AC: Eu não queria ir além
com estas palavras de traidor, porque não tenho evidências que me clarifiquem
isso. Mas a sua passividade e a sua maneira de resolver os problemas do partido
leva-me a crer... e a forma [como despreza os] membros da própria
instituição. Isso é inadmissível. Os membros da RENAMO não devem aceitar
essa brincadeira. É tempo de chamar à razão. Apelo, neste momento, ao Conselho
Nacional do partido para tomar medidas urgentes, porque, se não, teremos que
responsabilizar todos os membros do Conselho Nacional por essas falhas todas.
DW África: Acha que a RENAMO está
com os dias contados?
AC: Sinto muito dizer isso,
mas na minha perspetiva é preciso ter muito cuidado, porque os tempos são
outros.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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