País ocupa a posição 79ª entre
189 nações avaliadas; Rafael Guerreiro Osório, do Ipea, explica que melhora nos
indicadores só virá com investimentos em educação
Glauce Cavalcanti | Época
O Brasil não terá alteração em
sua posição no ranking geral do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pelos
próximos anos, avalia Rafael Guerreiro Osório, pesquisador do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Elaborado pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud), o IDH mede a qualidade de vida nos países
para além do PIB, considerando indicadores de saúde, educação e renda.
No relatório divulgado nesta
segunda-feira, o Brasil obteve pontuação de 0,761, quase estável na comparação
com o 0,769 de 2017. Mas recuou uma posição na lista de 189 países avaliados,
caindo para a 79ª.
Para o pesquisador, um avanço
relevante do Brasil nos próximos relatórios dependeria de uma piora na
avaliação das nações consideradas como nossos pares, como as da América do Sul
ou do Brics, ou de uma “fórmula mágica” do governo brasileiro. Acompanhe a
entrevista concedida por Osório a ÉPOCA.
O relatório atual traz novidades
sobre o desempenho do Brasil no IDH?
Não há novidades na classificação
do Brasil. Dada a situação do país nos últimos anos, não caberia esperar
melhora. O peso da renda no IDH é muito grande, ainda que o índice tenha sido
criado para enxergar além da renda. E o Brasil não tem ido bem nessa área, a
pobreza subiu, a desigualdade aumentou. É até, de certa forma, surpreendente
que o recuo na classificação geral não tenha sido maior.
A desigualdade e também a
educação puxaram o desempenho para baixo.
Na educação, não estamos indo
bem. E, neste ano, não vimos proposição de política educacional que prometa
resultados extraordinários, se é que isso existe. Em expectativa de vida, não
há como mudar muito de um ano para outro. Então, a esperança seria pela renda,
mas nossa situação hoje vai nos manter lá perto do meio do ranking. O ideal
seria conseguirmos avançar uma ou duas posições sempre.
Existem caminhos para avançar?
Caminhos existem, mas eles não
são fáceis de trilhar. É preciso investir em educação. É clichê dizer isso, mas
é a verdade. Não vai trazer mudanças de uma hora para a outra. É projeto de
longo prazo. A educação impacta não apenas o nível de produção do mercado de
trabalho. Pessoas educadas escolhem melhor. É um movimento lento, que depende
do pacto federativo, exige um esforço concentrado e muito debate com base em
evidências para avançar.
Os indicadores de educação do IDH
mostram que o Brasil estagnou nessa área.
Temos melhorado. Ainda não dá
para dizer se paramos. É área em que temos soluços. E estamos em uma crise. Há
sempre medidas que podem ser tomadas. Em esperança de vida, por exemplo,
podemos combater as mortes violentas que estão atingindo os mais jovens e
principalmente os homens. Isso morde a pirâmide social e mexe com a estrutura
etária da população. O IDH não vai capturar isso muito rápido. Mas haverá
reflexo. É uma área em que podemos ter ganhos. De novo, depende de uma política
de segurança pública orientada nesse sentido. Não existe milagre.
E do lado da renda?
Na renda, o comentário é de que
há uma pequena recuperação. Temos de esperar os dados de 2019 para sabermos se
a melhora da economia vai se traduzir em renda para as famílias. Se não
acontecer nada de muito errado na condução da política econômica, a tendência é
melhorar um pouco. Nós vamos nos manter onde estamos no ranking. Isso só
mudaria de forma súbita se houvesse um cataclismo nos outros países pares do
Brasil ou se descobrirmos uma “fórmula mágica”. Mas não desejamos que ninguém
vá mal e também sabemos que milagres não existem.
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