O major-general Raul Cunha, que
publicou recentemente um estudo sobre a independência do Kosovo, considera, em
declarações à Lusa, que o federalismo "sem conflito" pode ser a
solução para a crise catalã, em Espanha.
"A Catalunha é uma situação
diferente e tal como no Kosovo eu advogava que podia existir uma
grande autonomia e que se podia viver sem grandes conflitos, na Catalunha penso
que também. A Catalunha deve ser encarada com características próprias, como
diz o seu povo, e como uma parte autónoma de uma entidade maior que é a
Espanha", disse à Lusa Raul Cunha.
Sendo assim, diz, a federalização da
Espanha poder ser uma das soluções, "mas sem conflito" e, sobretudo,
sem o agudizar de tensões.
"No caso da Espanha (o
federalismo) é o mais óbvio e isto funciona tanto para a Catalunha,
como para a Galiza ou como para o País Basco", defende, sublinhando que
devem ser evitadas intervenções externas.
"Tenho muito receio das
intervenções externas, sobretudo pelo que vi no Kosovo. A não ser que seja
uma intervenção muito moderada, muito bem pensada e, sobretudo, imparcial e que
queira uma situação pacífica e que não tenha fantasias. É preciso criar
situações em que se possa conviver, sem conflito", frisa.
No livro, "Kosovo -- a
Incoerência de uma Independência Inédita", o autor aprofunda as situações
relacionadas com a Transnístria (independente da Moldávia em 1990); Ossétia do
Sul, que votou pela independência da Geórgia em novembro de 2006; a
questão do Nagorno-Karabakh, que tinha feito parte da antiga República
Soviética do Azerbaijão, e cujos referendos sobre independência
não são reconhecidos pela União Europeia; a anexação da Crimeia pela
Rússia, e 2014 e a presente situação da Catalunha, em Espanha.
"Em termos gerais, é
possível afirmar que a situação está de certo modo 'congelada'. Em todo o caso,
embora se possa concluir que em 2017, o movimento de independência viu a sua
força confirmada, também ficou evidente que seria incapaz de cumprir a sua estratégia
unilateral, dada a perceção pelos seus próprios líderes de que não
tinham um apoio maioritário nem o controlo efetivo sobre
todo o território da região" (páginas 224 e 225), escreve Raul Cunha, no
livro em que também compara o processo do Kosovo com outras situações
semelhantes.
Objetivamente sobre o Kosovo,
o livro de Raul Cunha alerta para o perigo de posições parciais e de jogos de
interesses que podem prejudicar as populações, tal como considera ter sucedido
na província sérvia do Kosovo.
O autor do livro é doutorado em
História, Estudos de Segurança e Defesa; como militar prestou serviço na
European Comunity Monitoring Mission (Jugoslávia) no início dos anos
1990, esteve no Quartel General da KFOR (Força de internacional) e,
mais tarde, foi chefe da Componente Militar da UNMIK (Missão das
Nações Unidas no Kosovo) e conselheiro militar do representante especial
do secretário geral das Nações Unidas no Kosovo.
O livro "Kosovo -- A
Incoerência de uma Independência Inédita" (edições Colibri, 289 páginas)
inclui mapas e fotografias e introduções assinadas pelo major-general Carlos
Martins Branco e pelo embaixador António Tânger Corrêa.
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: © Shutterstock
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