domingo, 1 de dezembro de 2019

Investigador aponta federalismo como solução para crise catalã


O major-general Raul Cunha, que publicou recentemente um estudo sobre a independência do Kosovo, considera, em declarações à Lusa, que o federalismo "sem conflito" pode ser a solução para a crise catalã, em Espanha.

"A Catalunha é uma situação diferente e tal como no Kosovo eu advogava que podia existir uma grande autonomia e que se podia viver sem grandes conflitos, na Catalunha penso que também. A Catalunha deve ser encarada com características próprias, como diz o seu povo, e como uma parte autónoma de uma entidade maior que é a Espanha", disse à Lusa Raul Cunha.

Sendo assim, diz, a federalização da Espanha poder ser uma das soluções, "mas sem conflito" e, sobretudo, sem o agudizar de tensões.

"No caso da Espanha (o federalismo) é o mais óbvio e isto funciona tanto para a Catalunha, como para a Galiza ou como para o País Basco", defende, sublinhando que devem ser evitadas intervenções externas.

"Tenho muito receio das intervenções externas, sobretudo pelo que vi no Kosovo. A não ser que seja uma intervenção muito moderada, muito bem pensada e, sobretudo, imparcial e que queira uma situação pacífica e que não tenha fantasias. É preciso criar situações em que se possa conviver, sem conflito", frisa.


No livro, "Kosovo -- a Incoerência de uma Independência Inédita", o autor aprofunda as situações relacionadas com a Transnístria (independente da Moldávia em 1990); Ossétia do Sul, que votou pela independência da Geórgia em novembro de 2006; a questão do Nagorno-Karabakh, que tinha feito parte da antiga República Soviética do Azerbaijão, e cujos referendos sobre independência não são reconhecidos pela União Europeia; a anexação da Crimeia pela Rússia, e 2014 e a presente situação da Catalunha, em Espanha.

"Em termos gerais, é possível afirmar que a situação está de certo modo 'congelada'. Em todo o caso, embora se possa concluir que em 2017, o movimento de independência viu a sua força confirmada, também ficou evidente que seria incapaz de cumprir a sua estratégia unilateral, dada a perceção pelos seus próprios líderes de que não tinham um apoio maioritário nem o controlo efetivo sobre todo o território da região" (páginas 224 e 225), escreve Raul Cunha, no livro em que também compara o processo do Kosovo com outras situações semelhantes.

Objetivamente sobre o Kosovo, o livro de Raul Cunha alerta para o perigo de posições parciais e de jogos de interesses que podem prejudicar as populações, tal como considera ter sucedido na província sérvia do Kosovo.

O autor do livro é doutorado em História, Estudos de Segurança e Defesa; como militar prestou serviço na European Comunity Monitoring Mission (Jugoslávia) no início dos anos 1990, esteve no Quartel General da KFOR (Força de internacional) e, mais tarde, foi chefe da Componente Militar da UNMIK (Missão das Nações Unidas no Kosovo) e conselheiro militar do representante especial do secretário geral das Nações Unidas no Kosovo.

O livro "Kosovo -- A Incoerência de uma Independência Inédita" (edições Colibri, 289 páginas) inclui mapas e fotografias e introduções assinadas pelo major-general Carlos Martins Branco e pelo embaixador António Tânger Corrêa.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Shutterstock

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