domingo, 27 de janeiro de 2019

Venezuela | Guaidó, governos genuflexos, petróleo e a cortina de fumaça de Trump


Aram Aharonian*

A autoproclamação do opositor Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela, e seu imediato reconhecimento (via twitter) por parte do governo de Donald Trump e de outros países alinhados com as políticas de Washington, constitui o início de uma intervenção maior, orientada a provocar um confronto de grande escala entre os venezuelanos.

O governo de Donald Trump usa esta situação como cortina de fumaça para invisibilizar a paralisação de já mais de um mês da sua da administração, problema que deixou mais de 800 mil funcionários sem salário (enquanto Trump chantageia o Congresso para que entregue financiamento para seu muro na fronteira com o México), e também como desculpa para se apropriar do petróleo venezuelano.

Neste contexto, Rússia e China só atuaram verbalmente. O governo russo reiterou seu apoio ao governo de Maduro e rechaçou a estratégia de Washington de gerar uma “dualidade de poder” no país sul-americano. “É perceptível o propósito de aplicar o roteiro, já usado em outras ocasiões, de derrubada de governos indesejados”, afirmou a chancelaria russa, advertindo que qualquer intervenção militar estrangeira seria “uma via direta na direção da anarquia e do banho de sangue”.

A nota fala em “ações descaradas de Washington”, e que a Rússia observa “uma nova demonstração de desprezo total pelas normas e princípios do direito internacional, e uma tentativa de se impor como juiz dos destinos de outros países”.

Com a autoproclamação, fica claro, segundo analistas ligados ao chavismo, que a oposição voltou a apostar no golpe de Estado, mas a pergunta agora é como farão para materializá-lo, ou seja, tirar Nicolás Maduro à força do poder, quando não se vislumbra a possibilidade de se construir uma correlação de forças suficiente para tanto, ainda mais com as Forças Armadas respaldando o governo legal.

A evolução da frente externa tampouco evoluiu como esperava Washington. A Assembleia Nacional (em rebeldia) enviou um representante do “novo governo” à Organização dos Estados Americanos, e a direita parece ter recuperado um pouco da sua capacidade de mobilização (e nisso se baseia todo o discurso das empresas transnacionais de informação), após a queda de credibilidade devido ao terror desestabilizador promovido pela direita em 2014 e em 2017, que deixou um saldo de mais de 200 mortos, e que agora quer somar alguns cadáveres mais.

Neste emaranhado de conflitos, os meios internacionais cartelizados impõem seu imaginário coletivo adulterado. “Os atos são apresentados comunicacionalmente como espontâneos, embora sejam ações programadas, ativadas por grupos armados –manifestantes pagos – para desatar ações de incêndio, assédio, intimidação a moradores das zonas populares, para gerar uma sensação de que o chavismo está isolado e que a direita tem apoio popular”, comenta o analista Marco Teruggi.

A ameaça expressada por Trump, no sentido de que a Casa Branca considera todas as opções no caso de que o governo de Nicolás Maduro responda com violência após a autoproclamação de Guaidó, revela que este se encontra sob a proteção de Washington, o que o desqualifica como ator legítimo no cenário local da Venezuela, e o define como instrumento de uma intervenção declarada e aberta.

Os fios que sustentam o governo-marionete estão atados a uma pessoa que era um completo desconhecido para a maioria dos venezuelanos até o dia 5 de janeiro, quando assumiu a presidência da Assembleia Nacional, devido à casualidade de rotação de partidos. Agora, onde governará este presidente virtual? Em Washington?

A ruptura das relações com os Estados Unidos, anunciada por Maduro, era a resposta lógica. Contudo, o que acontecerá se os diplomatas estadunidenses não se retirarem no lapso de 72 horas dado pelo presidente?

Não há dúvidas de que a aventura intervencionista estadunidense foi coordenada (ou imposta) aos governos totalmente alinhados e dependentes de Washington, como Colômbia, Brasil (vizinhos que já enviaram tropas à fronteira) e Argentina.

“Não queremos uma América bolivariana, como há pouco existia no Brasil, nos governos anteriores. A esquerda não prevalecerá nesta região, o que é muito bom na minha opinião, não só para a América do Sul como também para o mundo”, disse o ultradireitista brasileiro Jair Bolsonaro, no mesmo dia, durante sua participação no Foro Econômico Mundial, em Davos.

Estas atitudes de cumplicidade destoam um pouco das posturas da União Europeia e de países como México, Uruguai e uma centena de outras nações. A chancelaria mexicana, em ação conjunta com o Uruguai, pediu às partes em disputa e à comunidade internacional uma postura visando “reduzir as tensões e evitar uma escalda de violência que possa agravar a situação, e a encontrar uma solução pacífica e democrática para o complexo panorama venezuelano, de forma a empreender um novo processo de negociação com inclusão, credibilidade e o pleno respeito ao Estado de direito e os direitos humanos”.

É o petróleo

A decisão de Donald Trump de reconhecer Juan Guaidó como presidente interino do país pode levar ao bloqueio dos ativos da Venezuela no país norte-americano, e fazer também com que o pagamento pelo petróleo não seja mais cobrado pela estatal PDVSA, segundo indicam os economistas opositores Francisco Rodríguez e Luis Oliveros.

“Acabo de escutar que Trump retirou o reconhecimento de um regime brutal controlado por um petroestado. Significa que finalmente percebeu que os sauditas são os caras maus?”, ironizou o estadunidense Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia.

O controle da Citgo, empresa que a estatal petroleira PDVSA mantém nos Estados Unidos, poderia passar às mãos de Juan Guaidó, o que obrigaria a empresa venezuelana a buscar onde levar o petróleo que processa nas refinarias que possui na América do Norte. Atualmente, os Estados Unidos são o melhor cliente da PDVSA.

Além disso, o governo de Trump poderia impor novas sanções, através de uma série de medidas potenciais, entre elas a restrição às importações de petróleo venezuelano, e inclusive uma proibição total.

Irmãos de sangue

Durante os últimos meses, além das consultas formais, os serviços de inteligência e de segurança (a chamada diplomacia secreta) dos Estados Unidos, Israel, Brasil e Argentina coordenaram as formas de fraturar o governo venezuelano, através de um movimento concertado com o Grupo de Lima. A meta era forçar uma transição que estava condicionada pela ausência de um líder opositor que pudesse enfrentar o governo e demolir sua frente militar.

O plano foi encomendado por Trump a Mauricio Clavier, agente de origem cubana e membro do Conselho de Segurança da Casa Branca. Guaidó era a engrenagem que faltava: filho de militares, com um discurso articulado, estudos em Washington e pertencente a um partido (Vontade Popular) que demonstrou, em 2014 e em 2017, possuir a capacidade para impor o terror nas ruas e liderar uma ofensiva contra Maduro.

Hoje, o presidente Nicolás Maduro estuda como responder um cenário doméstico que oferece escassas variáveis. Se prender Guaidó por se autoproclamar presidente interino, Trump pode mover suas tropas a Caracas. Se o deixa em liberdade, reconhecerá que já não controla todas as variáveis de governo e que seu destino político está à mercê de uma possível revolta militar.

Enquanto isso, o Grupo de Lima, composto por governos alinhados com Washington, prepara uma nova ofensiva diplomática para evitar uma guerra civil, a qual pode ser potenciada pelos interesses regionais de Estados Unidos, China e Rússia.

Mas o plano estadunidense não se completou, ao menos até agora. Macri reconheceu Guaidó como presidente interino, mas não rompeu relações com a Venezuela, aconselhado por sua chancelaria. Portanto, também reconhece a Maduro. A estratégia consiste em manter o status quo (dois presidentes) e fazer com que, no futuro, o apoio militar ao presidente eleito se quebre, e que as Forças Armadas aceitem respaldar uma transição encabeçada por Guaidó e respaldada por Trump, Bolsonaro e Macri.

A cortina de fumaça de Trump

O presidente norte-americano enfrenta um formidável problema político interno e busca uma cortina de fumaça para ocultar esta grave crise doméstica. Logo, uma guerra de baixa intensidade na Venezuela seria ideal para a lógica diplomática de Trump. Macri (enrascado com a situação insustentável da economia argentina) e Bolsonaro (outro já que enfrenta escândalos internos em seu país) assumem estas intenções, mas reiteram que não apoiarão uma solução militar encabeçada pelo Pentágono.

A jogada não alcançou o resultado esperado, que era o de estimular que alguma facção militar tomasse o Palácio de Miraflores e termine com os 20 anos de bolivarianismo. A verdade é que dificilmente um presidente da América Latina apoiará um golpe contra Maduro que envolva a invasão de marines sob ordens (sejam elas expressas ou secretas) do Pentágono e da Casa Branca.

Depois de um mês, a paralisação do governo estadunidense significa a estagnação mais longa vista na história moderna do país, e já deixou sem salário mais de 800 mil funcionários. Ademais, há poucas evidências de que Donald Trump e os democratas do Congresso se unirão para resolver a crise a curto prazo.

O presidente magnata exige 5,7 bilhões de dólares do orçamento nacional para construir o muro na fronteira sul com o México (sua mais famosa promessa eleitoral de 2016) e, para impor seus desejos, paralisou o país.

O que virá?

O chavismo se encontra diante da pergunta de como enfrentar esse avanço nacional e internacional do golpismo, que busca quebrar a Força Armada Nacional Bolivariana, promover zonas de conflito na fronteira para justificar ações de força (o fator Colômbia parece ser central nesse aspecto) e colapsar a economia, empurrando a população ao enfrentamentos entre civis.

Também enfrenta o desafio de não cair nas provocações de uma direita que começa a levar o conflito aos bairros populares desde o início da escalada – diferente do que fez em 2017, quando concentrou as ações violentas nos bairros do centro. Se espera que, com o avançar dos acontecimentos, a violência se distribua a diferentes pontos do território, com o assédio armado a bairros e povoados, em ações apresentadas como pacíficas e trabalhadas com grande poder comunicacional através das redes sociais.

Com respeito à Assembleia Nacional, fica a pergunta sobre o que fazer a partir de agora. Sua ação foi declarada ilegal pelo Tribunal Supremo de Justiça, mas como poderá atuar depois da proclamação do governo paralelo, que é uma declaração de guerra? A Venezuela entra numa fase que não parece ter retorno. O plano anunciado por Guaidó, dirigido pelos Estados Unidos, só pode se materializar através da violência.

Poderá a direita manter um conflito destas características por um tempo prolongado e a nível nacional? Em 2017, a violência prolongada a fez perder legitimidade e isolou o golpismo. Nesta terceira tentativa de assalto violento ao poder em cinco anos, pensam que conseguirão se impor somente com o apoio internacional, ou com a esperança de que surja um Pinochet que incline as Forças Armadas para o lado do golpismo e da repressão – as mesmas premissas que fracassaram nas outras duas vezes.

Não se pode esquecer que o desgaste produzido pela grave crise econômica e social, que Maduro não é capaz de solucionar nem aliviar, também tem efeitos nesse tabuleiro. Tampouco se pode subestimar o povo chavista. Diante de tudo isso, o que dirá o Santo Padre, que vive em Roma?

*Aram Aharonian é jornalista e comunicólogo uruguaio, magister em Integração. Fundador do canal TeleSur, atualmente preside a Fundação para a Integração Latino-Americana (FILA) e dirige o Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)

*Publicado em estrategia.la | Tradução de Victor Farinelli | em Carta Maior

O Cavalo-de-Tróia Guaidó ou quando o petróleo é mesmo o “excremento do diabo”



1- Em resultado da batalha global entre a hegemonia unipolar e a emergência multipolar, as disputas em relação ao petróleo e outras riquezas da Venezuela, o país que possui as maiores reservas mundiais de crude, entraram na sua fase crítica, depois da perda de capacidade geoestratégica dos Estados Unidos no Médio Oriente Alargado.

Os Estados Unidos contam desde logo com o domínio sobre a Arábia Saudita, o maior produtor mundial e “pedra-chave” na OPEP, em função do qual o campo de manobra do petrodólar se tornou tão vasto e a partir do qual tem sido possível estabelecer a usura internacional sobre os preços do barril, particularmente ao longo da última década,“atirando ao charco” muitos dos produtores que estão severamente dependentes de suas produções nacionais e foram deliberadamente vocacionados para a não diversificação de suas economias e circuitos financeiros de relacionamento internacional.

São os Estados Unidos que ainda em nossos dias têm a mão nas torneiras que dão acesso ao petróleo como aliciante para o desenvolvimento económico (conforme África experimentou com o “Africa Oil Policy Innitiave Group” numa altura em que o Médio Oriente Alargado era já sacudido pela destabilização sincronizada com as invasões do Pentágono), ou como factor de cruel penalização, tornando o petróleo num “excremento do diabo”!

O “petróleo para o desenvolvimento” foi a manobra prévia que levou ao surgimento do AFRICOM, instalado previamente à época da quebra do valor do barril para menos de metade!

Na Venezuela, a manobra de compressão económica e financeira foi preparatória, sobretudo desde a morte do Comandante Hugo Chavez e ao longo do primeiro mandato de Nicolas Maduro, a par da desestabilização cíclica com recurso a métodos próprios das “revoluções coloridas” e “primaveras árabes” ensaiadas noutras paragens, com a convicção de que com Nicolas Maduro no poder, começariam a chegar ao fim os dias da alternativa socialista e bolivariana, nos termos de sua luta pela independência, pela soberania, pela integração, pelo socialismo, pela solidariedade e pela democracia participativa e “protagónica”.


Continuam aptos para o saque das riquezas da Venezuela, impantes de seu poder sem ética, sem moral e corrosivo até à medula dos postulados até da própria democracia representativa que dizem metaforicamente advogar.

Continuam a procurar semear caos, terrorismo e desagregação, ao invés de encontrar soluções de paz e harmonia para toda a humanidade.

Continuam a semear novas Sírias, agora no outro lado do mar, por que ao invés de encontrar soluções de integração em processos articulados, equilibrados e justos, só têm vocação para os desequilíbrios, a subversão, a promoção de da injustiça, das tensões, dos conflitos e das guerras.

Continuam insensíveis à dignidade e determinação do povo bolivariano e suas legítimas aspirações de independência, soberania e protagonismo, barricando-se em representatividades que não passam de reflexos tentaculares, instrumentalizados e manipulados, do poder capitalista que em poucas mãos formatou o império da própria aristocracia financeira mundial.


2- Ainda que praticamente sem sair da extracção de matérias-primas, a Venezuela com Nicolas Maduro respondeu digna e galhardamente, tirando partido de outras riquezas naturais no “Arco de Orinoco”, tornando-o num reduto e numa referência económica e financeira obrigatória face à asfixia programada a partir dos Estados Unidos durante a administração de Barack Hussein Obama.

Uma parte da força financeira do Banco Central da Venezuela e das reservas minguantes que possui, tem origem nessa iniciativa, que procura novas articulações internas e internacionais com a instauração da cripto-moeda Petro e com o bolívar soberano.

É evidente que as novas articulações procuram espaços de apoio e relacionamento fora dos vínculos de manobra do petrodólar, integrando acções com os emergentes multipolares, em especial a China e a Rússia, mas também com o Irão, a Turquia, a África do Sul e outros fornecedores alternativos para as importações, também eles apostados em negócios noutras moedas sem ser no petrodólar…

A Índia tarda aparentemente em surgir, mas é um potencial recurso que inicia os primeiros passos entre os “rebeldes”emergentes multipolares que tendem a abandonar a padronização dos negócios indexados ao petrodólar.

No quadro dos BRICS o Brasil estaria nas hipóteses de articulação, até por causa da sua fronteira comum, todavia perante o volte face em curso, ela tornou-se impossível.

Ainda que não conseguisse diversificar aceleradamente a economia face à asfixia progressiva a que foi sujeito o primeiro mandato de Nicolas Maduro, de há um ano a esta parte as capacidades internas de resistência da Venezuela mobilizaram as iniciativas sobretudo em função do “Arco do Orinoco”, procurando vencer a inflação galopante resultante dos factores de ingerência artificiosos e manipuladores que derivaram para a desvalorização da moeda, para uma hiperinflacção, para a especulação e para a corrupção.

Então começou a montagem do cerco físico-geográfico à Venezuela, incrementado já em função do plano da administração de Donald Trump para a América Latina, revitalizando a Doutrina Monroe nos termos possíveis no século XXI: Colômbia, Brasil, Guiana (Esequibo), Curaçao, o espectro da NATO alastrando a ocidente, norte e oriente…

A decisão de privilegiar o capitalismo produtivo sintetizado no “the americans first” reorganizou os alinhamentos integrantes da revitalização da Doutrina Monroe, cujo alvo principal passou a ser a Venezuela, até por que os “lobbies”principais, conservadores e ultraconservadores, se tornavam mobilizáveis a partir sobretudo de estados poderosos como o Texas e a Flórida, já com tradição na sustentação republicana em relação à América Latina.

Houston e Miami têm tudo a ver com os fluxos de compressão a norte, América Latina adentro, também por que é nesses estados, no seguimento da “pedra angular” que é a Colômbia, onde se encontram recursos humanos, económicos e financeiros prontos para a manobra de asfixia e cerco à Venezuela Socialista e Bolivariana sob mandato do Partido Socialista Unificado da Venezuela e de Nicolas Maduro.

Para esse efeito, em Dezembro passado e segundo a Associated Press, Juan Guaidó conseguiu sair clandestinamente de Caracas e da Venezuela, para fazer contactos secretos em Washington, Colômbia e Brasil, a fim de concertar toda a estratégia a desencadear tendo em conta o momento tático de 10 de Janeiro de 2019, quando Nicolas Maduro foi empossado no seu segundo mandato.

A campanha em jeito de crescente guerra psicológica, acompanhou o seu movimento, sincronizando-se por completo com os planos de Donald Trump contra a Venezuela…

Agora para que ele possa progredir a sua saga mercenária e fazer progredir o golpe que leva o seu rosto, o golpe injectado do exterior, deitam mão a tudo a que podem deitar mão da Venezuela, tal e qual fizeram com o que era da Líbia que desapareceu impunemente e sem rasto nos cofres dos bancos dos poderosos, sobretudo nos bancos da Europa, reeditando saques próprios da pirataria em pleno século XXI.


3- A representada oposição sociopolítica e jurídico-institucional que se barrica por dentro do poder legislativo, a Assembleia Nacional da Venezuela, ganhou as eleições legislativas e agora vêem assim chegar a sua hora face ao momento táctico em que se tornou o início do segundo mandato de Nicolas Maduro, no quadro da sua legítima eleição e do seu legítimo empossamento e do seu governo constitucional.

Respeitar a Constituição da Venezuela não cabe na cabeça dos que, grosseiramente, apenas pretendem levar a cabo o golpe de estado conforme o modelo que têm seguido desde o início da década de 90 do século passado.

Tudo estava preparado de antemão pela administração de Donald Trump para a partir desse inusitado cavalo-de-troia lançar o “golpe de mão” inscrito no plano de Juan Guaidó, capaz de aglutinar os recursos que provenientes da Venezuela, eram capitais e activos no exterior, até por que possuíam um pretexto viável para tal: a CITGO.

A história de CITGO, sua interligação à estatal venezuelana Petróleos de Venezuela SA (PDVSA) e as manobras nos Estados Unidos sincronizadas com a asfixia e o cerco à Venezuela Socialista e Bolivariana, possibilita a sua utilização como um arrogante “efeito boomerang” no momento oportuno, no momento táctico em que se tornou o início do segundo mandato de Nicolas Maduro na Presidência da República, com todos os desgastes já causados, como um enorme peso que, pela sua densidade, procura esgotar as energias dos progressistas venezuelanos tentando acabar com os tão legítimos sonhos libertários de Bolivar e de Chavez.

Os revolucionários venezuelanos, por muito legítimo que seja o segundo mandato de Nicolas Mauro na Presidência, estão acossados por múltiplas acções subversivas de natureza sociopolítica, económica, financeira e mediática, numa guerra psicológica ao nível das que são tecnologicamente possíveis no século XXI.

O papel da Organização dos Estados Americanos, o papel do “informal” Grupo de Lima inscreve-se nessa manobra de asfixia, cerco e golpe, pelo que os alinhamentos não estão isentos dos apetites sobre o petróleo da Venezuela e seu colar de interesses, influências e ingerências, ainda que ele seja hoje usado como “excremento do diabo” conjuntural e ao mesmo tempo cirúrgico, neste caso por via do eixo propiciado pelos enredos da CITGO em jeito de “efeito boomerang”na manobra indexada ao petrodólar sobre todas as demais moedas concorrentes.

A Grã-Bretanha, fiel aos desempenhos típicos das culturas anglo-saxónicas, recusa-se a entregar o ouro de Venezuela que se encontra em seu Banco de Inglaterra, pelo que é de esperar que venha a entregá-lo a Juan Guaidó, ou seja, encontra assim uma forma de roubar como um velho pirata das Caraíbas!

Com o Brexit a Grã-Bretanha pode vir mesmo a construir uma base na Guiana, naturalmente num dispositivo a leste contra a Venezuela progressista, em reforço de outras potencialidades da NATO na região (Colômbia a oeste e Curaçao a norte e junto da costa).

A proclamação de Juan Guaidó como Presidente Interino a partir da barricada da oposição em que se tornou a Assembleia Nacional da Venezuela, nutre um cavalo-de-troia vitaminado, procurando penetrar numa Venezuela asfixiada pela desvalorização da moeda nacional, a hiperinflacção, a especulação financeira e a corrupção, tudo isso conjugado pelas ingerências e manipulações do triângulo das Bermudas em que se tornaram Washington-Houston-Miami com seu espectro de oligarquias vassalas a sul, América Latina adentro!

Por fim juntam à sua ignomínia a cínica vassalagem duma Europa perdida em seus próprios labirintos e incapaz de definir até o seu próprio futuro, o futuro duma União Europeia que é representativa do capital e não dos povos.

Os anos de progresso em benefício do povo venezuelano, alcançado com o sucesso das missões que continuam em curso, nada contam para os condores de ocasião, que arrogantemente os desprezam e fazem deles tábua-rasa, por que sua visão de futuro para a Venezuela é a visão do saque a todo o custo.

Encontros secretos com o concurso de Juan Guaidó, motivaram seu papel e desempenho quer no Grupo de Lima, quer na Organização dos Estados Americanos.

As tensões globais desse modo transpostas para dentro da Venezuela procuram juntar às iniciativas do cavalo-de-troia, potencialidades de faca em manteiga derretida, pois um petrodólar à rédea solta, quando há tanta pressão provocadora e desgastante, estimula os aliciamentos inconfessáveis, desde logo dirigidos para dentro dos instrumentos do poder de estado que suportam o início do legítimo segundo mandato de Nicolas Maduro.

Há já alguns indícios que espelham as consequências das tentativas iniciais dos aliciamentos, escondidos na força de mobilização humana ao derredor da projecção meteórica de Juan Guaidó.


O coração da aliança cívico-militar tão pacientemente activo sob a direcção de Hugo Chavez e de Nicolas Maduro, apesar da asfixia e do cerco conseguirá resistir ao caudal que seguir-se-á ao cavalo-de-troia Juan Guaidó vitaminado na perspectiva do eixo que é o “efeito-boomerang” do CITGO enquanto o mais perverso dos “excrementos do diabo”?

Quando há cerca de um ano passei meteoricamente por Caracas tive a oportunidade de testemunhar a energia daqueles que em condições conjunturais tão difíceis levavam por diante os ideais de Bolivar e do Comandante Hugo Chavez, resistindo resoluta e lucidamente cinco anos depois do seu falecimento.

Nesses dias de luta, juntei-me a eles com a emocionada exaltação de quem um dia viveu outro momento tático tão importante como foi a independência de Angola e o cumprimento do Programa Mínimo do MPLA.

Face à aliança claramente impulsionada a partir de Washington, os revolucionários conseguirão manter a tão imprescindível unidade e coesão?

Quando um dia tal aconteceu numa Angola independente e numa situação algo similar, o génio de António Agostinho Neto fazia-se sentir mobilizando resolutamente os patriotas angolanos contra o poder perverso do “apartheid”: “somos milhões e contra milhões ninguém combate”, proclamava ele!

Se houver fragmentação quais serão as perdas, as consequências e o seu significado no sentido duma guerra psicológica assimétrica de imprevisíveis consequências América Latina adentro?

Os processos de integração e articulação dos emergentes que socorrem a Venezuela Socialista Bolivariana vão estar seguramente postos à prova como nunca antes, provavelmente nem sequer no Médio Oriente Alargado e nesse aspecto, os parâmetros da IIIª Guerra Mundial, com todo o seu caudal de novas tecnologias, armas económicas, armas financeiras, armas militares e armas indexadas às inteligências humanas e artificiais, vai-se duma forma ou de outra fazer-se sentir por que as placas tectónicas entre hegemonia unipolar e multilateralismo incidem em cheio sobre a Venezuela, justamente neste momento tático do início do segundo mandato presidencial de Nicolas Maduro!

Qualquer que seja a evolução, continuo a preencher o lugar justo que tenho vindo a assumir advogando a revolução venezuelana como antes advoguei a causa angolana integrando as próprias fileiras do movimento de libertação em África: “todos somos Venezuela”, por que tal como antes o “apartheid”, o condor neocolonial é por demais evidente na América Latina!

Cerrar fileiras na e em torno da Venezuela Socialista Bolivariana é dever de todos os progressistas do globo ávidos da lógica com sentido de vida e da paz que a barbárie mais uma vez procura inviabilizar!

Com a asfixia, o cerco e o golpe na Venezuela, mas numa conjuntura de retracção como nunca antes os Estados Unidos experimentaram, entendem assim algumas das razões profundas do muro-obsessão de Donald Trump na fronteira do México neste quadro de guerra psicológica assimétrica, desde já carregada de tensões, simbolismos e cortejo de velhos abutres que se abatem sobre o corpo vilipendiado da América?

Defendendo a Venezuela, defende-se a humanidade!

Martinho Júnior - Luanda, 26 de Janeiro de 2019

Imagens:
Um e dois: Nicolas Maduro é o legítimo Presidente da Venezuela;
Três: a quadrilha representativa dos piratas de turno nos Estados Unidos que impõe por todos os meios ilegítimos e inconstitucionais, o saque à Venezuela;
Quatro: A CITGO esá na charneira do projectado saque;
Cinco: o ouro da Venezuela depositado no Banco de Inglaterra, está pronto para os piratas do século XXI o entregarem às mãos dum Guaidó da ocasião que faz o ladrão.

Tentativa de golpe na Venezuela não passa na ONU


Os EUA levaram a ingerência ao Conselho de Segurança da ONU mas o objectivo de garantir «um apoio pleno» a Juan Guaidó falhou. 

Um projecto de declaração dos EUA levado hoje ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) com vista a destituir o presidente eleito Nicolás Maduro e garantir «um apoio pleno» à Assembleia Nacional venezuelana, dirigida por Juan Guaidó, foi vetado hoje pela Rússia e pela China.

O texto, ao qual a agência France Presse teve acesso, sublinhava o compromisso da Assembleia Nacional venezuelana de restaurar a democracia e o Estado de direito no país, contestando a legitimidade das eleições presidenciais ocorridas em Maio.

As referências foram eliminadas do texto pela Rússia com o apoio da China. A diplomacia russa propôs um novo texto, no qual se pedia um diálogo político na Venezuela, tendo sido considerado inaceitável pelos Estados Unidos.

O embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, acusou «os Estados Unidos e os seus aliados de quererem depor o Presidente» da Venezuela. A par de negar ao Conselho de Segurança o direito de discutir a situação no país, Nebenzia afirmou que Washington está a promover um golpe de estado na Venezuela e que, esse sim, é um assunto a analisar com urgência pelo Conselho de Segurança da ONU.

A delegação da Guiné Equatorial insistiu que a Venezuela não é uma ameaça à paz e segurança internacionais, tendo apelado ao diálogo e frisado a necessidade de respeitar a ordem constitucional na Venezuela.

Do mesmo modo, Jerry Matjila, embaixador da África do Sul nas Nações Unidas, rejeitou a interferência nos assuntos internos da Venezuela e as tentativas de ingerência naquele país. 

Nicolás Maduro venceu as eleições presidenciais de Maio passado, com aproximadamente 68% dos votos. O sufrágio foi acompanhado por mais de 200 observadores internacionais e não foi contestada pela oposição.

Na sequência do ultimato de Portugal, Espanha, França, Alemanha e Inglaterra, que deram oito dias a Nicolás Maduro para convocar eleições, sob pena de reconhecerem Juan Guaidó como presidente da Venezuela, a chefe da diplomacia europeia Federica Mogherini anunciou que poderão ser tomadas «novas medidas» por parte da União Europeia caso tal não aconteça.

Com Agência Lusa | Foto: O ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Jorge Arreaza, cumprimenta o embaixador russo na ONU, Vasily NebenzyaCréditosJason Szenes / EPA

Nicolás Maduro diz não ao ultimato e rejeita eleições livres


O presidente da Venezuela diz estar aberto ao diálogo com Guaidó, mas sem violar a Constituição.

O Presidente da Venezuela recusa o ultimato feito por alguns países europeus para convocar eleições livres no espaço de oito dias. Em entrevista à CNN Turquia, Nicolás Maduro diz que a Europa está a cometer um erro com a Venezuela e garante que está disponível para o diálogo com Juan Guaidó e faz criticas constantes aos aos Estados Unidos da América.

As críticas aos EUA são o pano de fundo da entrevista de Nicolás Maduro. O presidente de Venezuela acusa Donald Trump de estar a promover uma tentativa de golpe de estado e lamenta que os norte-americanos vejam o país como um quintal dos estados unidos.

Mira apontada também à Europa, Maduro diz que os países europeus estão a ser arrogantes e a cometer um erro grave com a Venezuela.

Maduro diz ainda que devem retirar o ultimato para convocar eleições livres dentro de oito dias e que as elites da Europa não refletem a opinião do povo europeu.

O presidente garante que esta disponível para dialogar com Juan Guaidó mas sem violar a Constituição e que está disposto a lutar pela democracia na Venezuela para continuar no poder.

Maduro diz estar aberto ao dialogo com Juan Guaidó, mas sem violar a Constituição.
O presidente da Venezuela diz estar aberto ao diálogo com Guaidó, mas sem violar a Constituição.

Maria Miguel Cabo com Sara Beatriz Monteiro | TSF | Foto: Reuters

Governo português dá cobertura ao golpe na Venezuela


Augusto Santos Silva afirmou que a Venezuela precisa de «eleições livres», ignorando o presidente democraticamente eleito, Nicolás Maduro, e dando «legitimidade» ao autoproclamado presidente interino. 

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, disse esta manhã na Antena1 que a Venezuela necessita de um novo escrutínio, acrescentando que «não há nenhuma saída para a crise política na Venezuela que não passe por eleições livres, credíveis, justas e transparentes».

Ao arrepio da Constituição da República Portuguesa, num exercício de obediência à tentativa de golpe perpetrada pelos EUA sem oposição da União Europeia, o governante português ignorava, pelo menos, as eleições presidenciais realizadas em Maio naquele país caribenho.

Ao contrário de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Municipal, que conta com o patrocínio de Donald Trump, logo seguido de Jair Bolsonaro, Nicolás Maduro, candidato pela Frente Ampla da Pátria, foi reeleito com mais de 67% dos votos. 

Em Dezembro, houve novo sufrágio na Venezuela. Os partidos defensores da Revolução Bolivariana ganharam mais de 90% das câmaras municipais venezuelanas. Quando Augusto Santos Silva, tal como a Alta Representante para a Política Externa da UE, Federica Mogherini, fala de «eleições livres» despreza, por exemplo, o Conselho de Especialistas Eleitorais Latino-Americanos (CEELA), que acompanhou este último acto eleitoral. 

Nas vésperas da tomada de posse de Nicolás Maduro para o segundo mandato de seis anos como presidente da Venezuela, o governo da República Bolivariana da Venezuela denunciou a tentativa por parte da administração norte-americana de «consumar um golpe de Estado» ao promover «o não reconhecimento das instituições legítimas e democráticas do Estado venezuelano». A confirmação veio com a auto-proclamação de Juan Guaidó, inserida num vasto esquema de bloqueios e sanções que têm comprometido a economia da Venezuela. 

AbrilAbril | Na foto: Augusto Santos Silva, o “alinhado” / Créditos: Kiko Huesca / EPA

Portugal | “Não se deve generalizar” e eu às vezes vejo pretos


Isabel Moreira | Expresso | opinião

As recentes acontecimentos no Bairro da Jamaica foram analisados, como não podia deixar de ser, em si mesmos. Estando em circulação um vídeo que gerou a revolta de uns e a defesa da atuação da polícia por parte de outros, não se espera que em cima do acontecimento se paralise o direito à indignação de quem tem um acumulado de histórias às costas em nome de uma mesa redonda, com acesso restrito, que “vá ao fundo da questão” com o mote “não se deve generalizar”.

Bem ou mal comparado, quando tantas e tantos de nós saímos à rua para protestar contra sentenças sexistas, exortando ao fim da “justiça machista”, não vi Partidos “institucionalistas” e vozes tão acesas nos últimos dias a acusarem-nos de “generalizar”, a acusarem-nos de lançar uma suspeita sobre todas e todos os juízes do país ou a desvalorizar a importância da Justiça.

O debate profundo sobre o racismo estrutural, institucional e sobre o apartheid social é um debate urgente, mas não se pode exigir a quem reage a um caso que merce e terá investigação e a quem se manifesta na Avenida da Liberdade que tenha cuidadinho, não vá o seu protesto manchar “toda” uma instituição.

Pelo contrário: cada atuação policial alegadamente violenta e/ou racista tem de ser denunciada e investigada; ainda bem que há associações como o SOS racismo com gente que não se cala há mais de vinte anos; devíamos agradecer a existência, em democracia, de relatórios como ESTE denunciando que em Portugal o racismo é tolerado pela Polícia e que as denúncias não são investigadas a fundo.

Afinal, a melhor forma de dignificar a nossa democracia e as suas instituições é, precisamente, identificar as suas falhas no curto e no longo prazo.

Ou não?

Afirmar que há um historial de violência policial contra pessoas racializadas em bairros periféricos é repudiar a instituição PSP? Claro que não.

Um pouco de seriedade e um pouco de respeito por quem vive invisível e sem voz e sem direito a ser versão oficial do que quer que seja.

Não sei o que é viver no Bairro da Jamaica, agora finalmente com um plano de realojamento em ação. Não sei o que é ser a preta da periferia sem dinheiro para casa digna condenada ao bairro dos prédios inacabados. Não sei o que é ser o preto que ali está há mais de vinte anos à espera de ser gente. Não sei o que é viver policiada, mergulhada na pobreza e nos dramas socias que a pobreza acarreta. Não sei o que é o insulto diário, a não identificação da minha pele com a nacionalidade portuguesa, não sei o que é ouvir e ler “volta para a tua terra”.

Pior.

Não sei de pretos e pretas. Só de alguns que se safaram.

Desde que me lembro de mim, nos bairros em que vivi, só sei de gente branca. Quer dizer: a gente branca era e é a gente “igual”. Da infância até agora, longe da periferia, a gente preta existe: limpa-nos as casas, faz as obras na via pública e recolhe o lixo.
Isto é assim, mas há pretos e pretas que se safaram.

É que eu não quero generalizar e às vezes até vejo pretos.

A manipulação do «Correio da Manhã» e da SIC a encontrar eco em quem não esperava


Jorge Rocha | opinião

No artigo de opinião de hoje no «Público» João Miguel Tavares assume algo, que, para espanto meu, subscrevo por inteiro: se tiver de escolher entre Mamadou Ba, que foi alvo de uma campanha soez de assassinato político nos últimos dias, e os dois energúmenos de um partido fascista, que andaram a segui-lo e a provoca-lo numa atitude de assédio inaceitável, a opção é óbvia: pôr-me-ei ao lado do assessor do Bloco de Esquerda. Porque se a sua expressão a respeito da polícia não foi a mais feliz, não podemos esquecer que os Observatórios Europeus sobre a Segurança dos cidadãos estão de olhos postos em Portugal, porque são demasiados os casos de violência perpetrada pelos seus agentes sem que as autoridades os investiguem devidamente e sancionem os culpados. O exemplo verificado uns anos atrás em Guimarães, com um homem  (branco) a ser barbaramente agredido por um polícia, junto ao filho, com quem se deslocara para ver um jogo de futebol, vai-se replicando nos dias que correm, embora sem as câmaras das televisões ou os smartphones a testemunha-lo.

Não escamoteemos o facto de existirem infiltrados de movimentos neonazis nas polícias ou nas forças armadas. Identificá-los e expulsá-los é tarefa urgente para impedir que o veneno se propague mais do que até aqui. Porque a situação agrava-se: ao partilhar um post de Uma Página numa Rede Social em que se denunciavam asfake news espalhadas pelo «Correio da Manhã» e pela SIC sobre os rendimentos do referido Mamadou Ba, deparei-me com amigos, que considero ponderados e aparentemente dissociados de simpatias pró-neonazis, a reagirem emotivamente contra a vítima de tais notícias falsas sem se deterem um momento que fosse na razão de ser da desinformação dos dois órgãos de (des)informação social. E aí volto ao texto do escolhido por Marcelo Rebelo de Sousa para as comemorações do 10 de junho: ele tem todo o direito a manifestar o que pensa sobre violência policial, porque a liberdade de pensamento é um direito constitucional, que lhe está reconhecido. Ao invés, os fascistas que o ameaçam, o insultam, o assediam, não podem reivindicar-se de idêntico direito, porque a sua ideologia está taxativamente proibida pela nossa Lei Fundamental. Desconheço o que o Ministério Público anda a fazer a tal respeito, mas só espero que, muito rapidamente, esses defensores de ideologia criminosa sejam rapidamente confrontados com a ilegalidade dos seus atos.

Consola-me o facto de continuarem a ser tão poucos que, na manifestação por eles convocada anteontem para o Terreiro do Paço, apenas trinta tenham comparecido à chamada. Até ver, nem eles, nem os simpatizantes do Ventura, conseguirão respaldo eleitoral com o mínimo significado nas eleições deste ano. Mas, se nada for feito para esmagar a serpente enquanto está no ovo, ela sairá da casca e mostrar-se-á letal, quando muito mais dificilmente for contrariada.

jorge rocha | Ventos Semeados

Portugal | Leões (re)conquistaram, em Braga, o primeiro troféu de 2019: a Taça da Liga


Renan no pior e no melhor, até que os penáltis os separem

O Sporting é #CampeãoDeInverno, renovando o título que já tinha conquistado na última época. FC Porto e Sporting disputaram, este sábado, a final da Taça da Liga, numa tentativa de conquistar aquele que será o primeiro troféu do ano de 2019. No final dos 90 minutos o jogo estava empatado a uma bola. Fernando Andrade marcou primeiro, mas Bas Dost deixou tudo empatado e obrigou a recorrer aos penáltis para decidir quem era o vencedor. No final, foi Renan - com a ajuda dos penáltis falhados por Hernâni, Militão e Felipe - quem acabou por decidir a final.

A história conta-nos que, nos últimos tempos, os leões têm levado a melhor sobre os dragões, pelo que se impunha a pergunta: conseguirá o Sporting vencer a quinta final consecutiva ao FC Porto?

A resposta não foi encontrada, de todo, na primeira meia hora de jogo. FC Porto e Sporting entraram em campo com vontade de assumir a iniciativa mas pouco engenho para o fazerem. Durante a semana falou-se, no mundo desportivo, da necessidade de que este fosse um jogo diferente do de Alvalade, que acabou empatado a zero e ficou rotulado como um dos piores Clássicos dos últimos anos.

A vontade e fio de jogo de ambas as equipas afastava, pelo que se podia observar, esse fantasma da repetição de um jogo pouco interessante. Ainda assim, intensidade não era tudo. Raphinha, Corona, Brahimi e Nani bem corriam e exploravam as alas, mas a quantidade cruzamentos que faziam para o interior de grandes áreas vazias mostravam que algo faltava no último terço de cada uma das equipas. Vaná e Renan, que se limitavam a recolher cruzamentos, agradeciam.

A primeira parte tornou-se, portanto, fácil de resumir: muito jogo pelos corredores, pouco acerto na hora do último passe e a pergunta que se impunha era "onde estão Marega e Bas Dost?"

Ficou guardado para o último minuto do primeiro período o momento mais empolgante que o jogo tinha tido até então: Raphinha consegue ganhar posição e arranca em direção à baliza, mas acaba por ser obstruído por Felipe. Os jogadores do Sporting depressa rodearam João Pinheiro para contestar a cor do cartão que o árbitro tinha mostrado ao defesa brasileiro - Nani e companheiros pediam o vermelho. João Pinheiro não mudou a sua decisão.

Na conversão do livre direto frontal, Bruno Fernandes faz a bola rasar o poste direito da baliza de Vaná. A primeira parte acabava com um arrepio para os dragões e o fantasma de um jogo "sem balizas", como o do início de janeiro, voltava a pairar, desta vez em Braga.

Se as alas foram onde se jogou mais durante a primeira parte, Keizer achou que precisava de lhes mexer. No início da segunda parte, o técnico holandês lançou Jefferson para o lugar de Acuña. O argentino teve algumas dificuldades em segurar Corona e Marega e não regressou dos balneários.

A maldição de André Pinto

Mal imaginava o técnico leonino que, logo de seguida, quase precisaria de fazer mais uma alteração. André Pinto chocou com Marega e ficou com o nariz muito mal tratado. O central português esteve na iminência de abandonar a partida e Petrovic estava pronto para o render. No final de contas, Pinto aguentou a dor e voltou lá para dentro.

Durou cinco minutos a resistência do português. Aos 52' sentou-se no relvado e selou o seu destino: a substituição por Petrovic. O sérvio deve ter herdado, no entanto, a mesma maldição que assolou André Pinto. Quatro minutos depois de ter entrado em campo, também o nariz de Petrovic teve um encontro com a nuca de André Pereira. Petrovic não saiu, mas as imagens televisivas não enganavam: o nariz estava deslocado.

A primeira grande ocasião do jogo surgiu aos 60 minutos. Alex Telles bate um pontapé de canto a partir do lado esquerdo e Renan defende para a frente uma bola cabeceada por um jogador portista. À boca da baliza, Herrera não teve tempo de reação suficientemente rápido para enviar a bola para o fundo das redes.

Renan do céu ao inferno

Aos 79 minutos a maldição que começou por afetar André Pinto e depois Petrovic alastrou até Renan. O guarda-redes brasileiro tinha sido o herói leonino ao defender várias grandes penalidades e garantir a passagem dos leões a esta final. Pois bem,Herrera decidiu testar como estavam, neste sábado, as mãos que tinham defendido todos aqueles penáltis e a aposta deu frutos. Renan quis agarrar a bola junto ao peito e o esférico acabou por ressaltar. Na recarga, como um verdadeiro rato de área, Fernando Andrade fez o primeiro golo da final da Taça da Liga.

A resposta não se fez esperar e chegou por meio do duplo VAR desta noite. Óliver tenta aliviar uma bola dentro da grande área e acaba por acertar na perna de Diaby pelo caminho. João Pinheiro foi chamado à atenção pela dupla Tiago Martins e Bruno Esteves. Todos concordaram: era penálti. Na hora de assumir a responsabilidade, foi Bas Dost quem se chegou à frente. Ele, que tinha falhado um penálti contra o Braga, não falhou desta vez e empatou a partida aos 90+2'.

Renan defendeu, mais uma vez, uma grande penalidade, desta feita marcada por Hernâni. Felipe e Militão falharam os seus penáltis e deram a vitória ao Sporting. Renan voltava aos céus.

Gonçalo Teles | TSF

Foto: Gonçalo Delgado/Global Imagens

Mais lidas da semana