Jorge Rocha | opinião
No artigo de opinião de hoje no
«Público» João Miguel Tavares assume algo, que, para espanto meu, subscrevo por
inteiro: se tiver de escolher entre Mamadou Ba, que foi alvo de uma campanha
soez de assassinato político nos últimos dias, e os dois energúmenos de um
partido fascista, que andaram a segui-lo e a provoca-lo numa atitude de assédio
inaceitável, a opção é óbvia: pôr-me-ei ao lado do assessor do Bloco de
Esquerda. Porque se a sua expressão a respeito da polícia não foi a mais feliz,
não podemos esquecer que os Observatórios Europeus sobre a Segurança dos
cidadãos estão de olhos postos em Portugal, porque são demasiados os casos de
violência perpetrada pelos seus agentes sem que as autoridades os investiguem
devidamente e sancionem os culpados. O exemplo verificado uns anos atrás em
Guimarães, com um homem (branco) a ser barbaramente agredido por um
polícia, junto ao filho, com quem se deslocara para ver um jogo de futebol,
vai-se replicando nos dias que correm, embora sem as câmaras das televisões ou
os smartphones a testemunha-lo.
Não escamoteemos o facto de
existirem infiltrados de movimentos neonazis nas polícias ou nas forças
armadas. Identificá-los e expulsá-los é tarefa urgente para impedir que o
veneno se propague mais do que até aqui. Porque a situação agrava-se: ao
partilhar um post de Uma Página numa Rede Social em que se denunciavam asfake
news espalhadas pelo «Correio da Manhã» e pela SIC sobre os rendimentos do
referido Mamadou Ba, deparei-me com amigos, que considero ponderados e aparentemente
dissociados de simpatias pró-neonazis, a reagirem emotivamente contra a vítima
de tais notícias falsas sem se deterem um momento que fosse na razão de ser da
desinformação dos dois órgãos de (des)informação social. E aí volto ao texto do
escolhido por Marcelo Rebelo de Sousa para as comemorações do 10 de junho: ele
tem todo o direito a manifestar o que pensa sobre violência policial, porque a
liberdade de pensamento é um direito constitucional, que lhe está reconhecido.
Ao invés, os fascistas que o ameaçam, o insultam, o assediam, não podem
reivindicar-se de idêntico direito, porque a sua ideologia está taxativamente
proibida pela nossa Lei Fundamental. Desconheço o que o Ministério Público anda
a fazer a tal respeito, mas só espero que, muito rapidamente, esses defensores
de ideologia criminosa sejam rapidamente confrontados com a ilegalidade dos
seus atos.
Consola-me o facto de continuarem
a ser tão poucos que, na manifestação por eles convocada anteontem para o
Terreiro do Paço, apenas trinta tenham comparecido à chamada. Até ver, nem
eles, nem os simpatizantes do Ventura, conseguirão respaldo eleitoral com o
mínimo significado nas eleições deste ano. Mas, se nada for feito para esmagar
a serpente enquanto está no ovo, ela sairá da casca e mostrar-se-á letal,
quando muito mais dificilmente for contrariada.
jorge rocha | Ventos Semeados
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