sábado, 10 de agosto de 2019

Brasil | Quando o ditador sair do armário


Ataques à imprensa. Funcionários “divergentes” demitidos. Nepotismo escancarado. Elogios à ditadura. Em seis meses, governo Bolsonaro mostra do que pode ser capaz — se não for barrado por grandes manifestações

Almir Felitte | Outras Palavras

Democracia, muitas vezes, é um termo controverso. Em nome dela, por exemplo, e usando-a como uma falsa justificativa, guerras são travadas por países que, na base da força, conquistaram o direito de dizer quem é e quem não é democrático mundo afora. É também em nome de uma “democracia liberal” que uma elite minúscula em tamanho conseguiu criar uma verdadeira ditadura dos interesses burgueses na ordem mundial. Por essas e outras, confesso ter dificuldades em definir o que é Democracia. Mas se ela realmente foi pensada como contraponto a regimes autoritários, uma coisa é certa: o Brasil ficou bem mais distante dela nos últimos tempos.

É bem verdade que as “benfeitorias democráticas” nunca atingiram igualmente a todos os brasileiros na longa história do nosso país, onde a desigualdade sempre relegou as camadas mais pobres e vulneráveis a um grande déficit de democracia. Nos últimos cinco anos, porém, esse déficit começou a se tornar um verdadeiro abismo. É o que acontece quando a elite de um país, talvez por interesses das elites de outros países, resolve simplesmente rasgar o “livro de regras” da sociedade para tomar o poder.

Desde que os resultados eleitorais foram contestados em 2014 por uma direita mais uma vez derrotada, já ficara claro o tom de vale-tudo que essa mesma direita implantaria na política brasileira, mesmo que a esquerda vencedora, ironicamente, estivesse disposta a fazer uma série de concessões à agenda liberal na economia. Mas quem achava que o fundo do poço de autoritarismo no país seria um impeachment sem base legal se enganou redondamente.

Portugal | Paul Elliott Singer: mágico financeiro ou escroque na EDP?

António Mexia lidera a empresa mais lucrativa, a EDP, com um salário de 2,5 milhões de euros anuais. Créditos Tiago Petinga / Lusa
Emanuel Santos | AbrilAbril | opinião

A luta entre accionistas pelo poder na EDP poderia deixar indiferente o cidadão português: dir-se-ia que entre um capitalista americano e um capitalista chinês, venha o diabo e escolha. Dir-se-ia mal.

(Ou, como se prepara a destruição da EDP)

1. A EDP e o Fundo Elliott

O Fundo Elliott é, desde Outubro de 2018, o novo accionista qualificado da EDP, tendo adquirido para o efeito uma posição de 2.29% no capital da empresa, correspondendo a um investimento de cerca de 260 milhões de euros.

O propósito declarado deste investimento foi o de combater a OPA lançada pelo accionista maioritário China Three Gorges e, subsequentemente, aumentar o valor de mercado da empresa, assim permitindo a realização de substanciais mais valias aquando da venda dessa posição.

O primeiro objectivo está conseguido: não apenas em resultado dos esforços do novo accionista, mas também porque o accionista maioritário se revelou incapaz de ultrapassar obstáculos colocados pelos reguladores (desde logo em Portugal, onde não seria permitido aos investidores estatais chineses acumularem posições de domínio em simultâneo na EDP e na REN), bem como o próprio preço proposto na OPA, que não se revelou convincente em termos de mercado bolsista. Por todas essas razões, a OPA faleceu de morte natural, sem ter sequer tido de aguardar pela sentença dos mercados.

Este resultado favorece as ambições do actual CEO (António Mexia), o qual não desejaria ver um qualquer accionista adquirir na empresa uma posição de tal forma dominante que lhe permitisse, sem oposição significativa dos restantes accionistas, definir a estratégia da empresa e, naturalmente, a própria composição do Conselho de Administração e, em particular, a designação de novo CEO. Isto é, objectivamente, os senhores Mexia e Singer tinham (e têm) interesses comuns, não surpreendendo a comunhão de pontos de vista que entre as duas partes se tem vindo a observar.

Centenas juntos em Lisboa para lembrar que racismo é crime, não opinião


Protesto coincide com organização de conferência de extrema-direita em Lisboa

Centenas de pessoas, perto de quinhentas, segundo a organização, juntaram-se hoje no Largo Camões, em Lisboa, por uma sociedade mais justa, contra os discursos de ódio e para lembrar que racismo não é opinião, mas um crime.

A concentração, planeada por 65 organizações antifascistas nacionais e estrangeiras, fez-se na Praça Luís de Camões, por volta das 14h30, mas a manifestação começou algum tempo antes, no Largo do Rossio, pelas 13:00, sendo que entre um sítio e outro estiveram presentes mais de duas mil pessoas, segundo a organização.

Na Praça Luís de Camões, mesmo no coração de Lisboa, ouviram-se gritos de ordem contra o líder do movimento de extrema-direita Nova Ordem Social, Mário Machado, contra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo que eram visíveis cartazes com frases como "25 de Abril Sempre! Fascismo Nunca Mais!", "Não Passarão" ou "Os imigrantes ficam, saiam vocês".

Notícias ao Minuto | Lusa

Portugal | Pardal Henriques recusou convite de Marinho e Pinto para as legislativas


Depois da polémica, o presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas garantiu que o seu vice-presidente rejeitou o convite para ser cabeça-de-lista às legislativas de outubro.

A poucos dias da segunda greve dos motoristas de matérias perigosas e de mercadorias, o principal rosto desta luta foi associado ao Partido Democrático Republicano, tendo sido noticiado que seria o cabeça-de-lista por Lisboa do partido de António Marinho e Pinto.

O líder do PDR não confirmou, nem desmentiu a notícia, o que levou o presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas a pronunciar-se sobre o tema.

Na antena da SIC Notícias, Francisco São Bento revelou que Pardal Henriques lhe “confirmou o convite para fazer parte da lista desse partido”.

No entanto, adiantou o responsável, o vice-presidente do sindicato “desmente que aceitou o convite”.

Portugal | Inspeção do Trabalho no futuro


Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

A propósito da possível greve dos motoristas continuaremos debaixo de um bombardeamento com a tese de que há contradições insanáveis entre a legislação laboral e a racionalidade económica, como se as opções económicas ao nível da governação de um país, de setores de atividade e de empresas não tivessem de considerar a sustentação das obrigações sociais no geral e, em particular, as inerentes à garantia de emprego digno, de salários justos e de corretas contribuições para a Segurança Social.

Neste espaço já abordei causas de ordem laboral e política que conduzem a lutas radicalizadas e voltarei a fazê-lo quando a atual poeira assentar. Por hoje acrescento a minha indignação perante a atuação oportunista de setores patronais e políticos retrógrados e de candidatos a projetos populistas. Também o Governo merece críticas face aos seus "serviços máximos", às suas crónicas insuficiências na dinamização da negociação coletiva e à sua complacência perante a depauperização da Segurança Social. Todos tendem a utilizar os trabalhadores como carne para canhão na execução dos seus objetivos políticos. Assim, dedico o espaço que me resta hoje para algumas observações sobre desafios a assumir para dar futuro à Inspeção do Trabalho (IT).

Portugal dos motoristas | As razões de quem faz greve e de quem não faz


A dois dias da greve dos motoristas de matérias perigosas, conheça os argumentos de quem faz greve e de quem decidiu não aderir ao protesto.

Vivemos um tempo de escravatura

Catarina Silva

Pedro Alves não pôde ver a filha nascer. Também perde as festas da escola dos filhos ou as idas ao médico. Tem 42 anos e é motorista internacional de camiões. Vai aderir a uma greve que é mais que uma luta por salários mais altos. "É contra o abuso que é o nosso contrato coletivo de trabalho. Depois de quinze dias fora, tenho um dia para estar com a minha família e volto a partir. Isto é um atentado".

Tanto transporta cerveja como peças de automóvel e está há 17 anos na mesma empresa. Desde que começou teve um aumento salarial de 11 euros e de base recebe 630 euros. Corre a Europa dentro de um camião, onde dorme, come e vive durante dias seguidos. "Já estive 21 dias fora". Em casa deixa a mulher, que parou de trabalhar para cuidar dos filhos, Diogo de 12 anos e Leonor de sete. "Quando comecei, tínhamos mais tempo para a família. No novo contrato de trabalho, somos responsabilizados em caso de acidente, corro o risco de pagar 3000 euros de prejuízos quando a empresa é que devia ter seguro. Se a carga estiver danificada, nós é que somos os responsáveis. Se antes tínhamos três a quatro dias em casa, agora temos um. Se passar das 9 horas de condução por não encontrar parque para estacionar, incorro em multa. Isto não é digno de uma pessoa com 630 euros de salário".

Para cumprir os horários de estrada e descanso, num dia começa às 8 horas, no outro às 5 horas, depois à 1 hora. "É uma desregulação maluca e um desgaste absurdo para a saúde". Chegou há pouco de Girona, onde teve de dormir no camião debaixo de 47 graus. "Não posso ter o camião ligado para o ar condicionado. Acabo por nem dormir. Habilito-me a estragar a minha vida e a de outras famílias".

As horas extra e noturnas são pagas com um valor fixo. Independentemente das que fizer. "E tenho de estar sempre disponível. Vivemos um tempo de escravatura". Sai de casa debaixo das lágrimas dos filhos. Mata as saudades por telefone. O filho reclama: "Quase não dá para nada". Trabalha cerca de 25 dias por mês, se passar sábados e domingos fora leva para casa 1200. Mas sustenta a família sozinho. "Em ajudas de custo recebo 35 euros por dia. Não dá para almoçar e jantar em França. Tenho de levar comida e cozinhar no camião".


Os portugueses não vão entender

Salomão Rodrigues

São mais de 120 mil quilómetros percorridos por ano em toda a Europa, muitas vezes em condições precárias. A dormir no camião, a comer sandes ou a preparar a refeição num qualquer parque, longe da família. Mesmo assim, Carlos Alexandre, motorista internacional há 26 anos, não vai aderir à paralisação.

"Não vou fazer greve, porque as negociações com as entidades patronais ainda estão a decorrer e há muita mentira nas justificações que estão a ser dadas", justifica.

O motorista da empresa de transportes Álvaro Figueiredo, em Oliveira de Azeméis, afeto à Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), não se mostra contra as reivindicações dos colegas motoristas, mas não considera oportuno o momento escolhido.

"Há tanta mentira", reitera. E exemplifica com o ordenado que é propalado pelos colegas camionistas das matérias perigosas. "O salário é maior do que dizem e acrescem ajudas de custo".

Aponta o seu caso como exemplo. "Nos transportes internacionais, ganhamos 661 euros de ordenado, mais 427 euros de trabalho noturno, mais 80 euros das diuturnidades, mais 134 euros de prémio TIR [Transporte Internacional Rodoviário]. Acrescem 49,44 euros por cada dia de fim de semana, mais ajudas de custo que representam 35 euros por dia".

Ou seja, Carlos Alexandre ganha cerca de dois mil euros mensais. "Pode parecer muito dinheiro, mas não é, porque as despesas são todas por nossa conta. Tenho de pagar as refeições, os duches e até as multas", ressalva.

Mesmo assim, não vê motivos para o protesto. "Esta greve não vai ajudar em nada e os portugueses não vão entender. Há uma negociação que está protocolada e que está a decorrer e, por isso, não faz sentido fazer greve sem ouvir sequer as propostas dos patrões".

"O meu patrão, por exemplo, já anunciou um aumento do salário-base para os 700 euros a partir de outubro e das restantes ajudas de custo", referiu.

"É preciso gostar da profissão que se exerce, porque prescindimos de muita coisa. Não vemos os filhos a crescer, nem os acompanhamos em festas e eventos por causa da vida profissional e até já falhei aniversários dos meus filhos", referiu.

Jornal de Notícias

Imagens: 1 - Pedro Alves queixa-se de um ordenado baixo e dos custos que tem de suportar / Foto: Tony Dias/Global Imagens | 2 – Carlos Alexandre não vai parar e diz que há mentiras na justificação da greve / Foto: Tony Dias/Global Imagens

Sissoco: “Sou uma aposta dos jovens para refundar o Estado da Guiné-Bissau”


O principal partido da oposição na Guiné-Bissau, MADEM-G15, designou o terceiro vice-presidente para ser seu candidato nas próximas eleições presidenciais marcadas para 24 de novembro. Analista discorda com a escolha.

O  Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) vai concorrer ao primeiro pleito presidencial com o antigo primeiro-ministro, Umaro Sissoco Embaló, deliberou o órgão máximo do partido. Sissoco superou nesta sexta-feira (09.08) José Mário Vaz, atual Presidente da Guiné-Bissau e o constitucionalista Carlos Vamain nas primárias do Movimento para a Alternância Democrática, a segunda força política no Parlamento guineense.

Em entrevista à DW África, Sissoco disse que a votação decorreu de forma livre e transparente: "Os membros do Conselho Nacional do MADEM-G15 expressaram de forma livre e transparente com 70% dos votos a favor do general Umaro Sissoco Embaló e 25 % contra. Isto demonstra democracia interna de um partido. Sinto-me um homem que será suportado pelo grande partido que é o MADEM-G15 ”.

Guineenses indignados com mau atendimento nos serviços públicos


Os guineenses queixam-se que é cada vez mais complicado obter o bilhete de identidade. Para adquirir o documento básico tem que se contar com longos tempos de espera nas repartições públicas.

Os serviços da identificação civil da Guiné-Bissau têm com seis centros de produção nas regiões do país. Mas não são os centros que imprime os bilhetes de identidade. A impressão é assegurada por um único centro localizado na capital, Bissau. E aqui juntam-se diariamente várias centenas de pessoas que precisam deste documento básico de identificação pessoal.

A DW foi ao Centro de Produção de Bilhete de Identidade falar com guineenses presentes, que se mostram- insatisfeitos com o serviço prestado aos cidadãos. As queixam vão desde a demora no atendimento, passam pela fraca capacidade de produção e terminam na discriminação no atendimento dos cidadãos: "Estou aqui desde as sete horas da manhã em busca do formulário, mas até agora não consegui”, diz um cidadão que realça estarem presentes cerca de duzentas pessoas desde as oito horas da manhã. Por vezes, diz, falta a eletricidade.

Guiné Equatorial responde à Amnistia Internacional com elogio a Obiang


O Governo da Guiné Equatorial elogiou hoje a "mudança positiva" rumo "à paz e prosperidade" introduzida pelo Presidente Teodoro Obiang, numa resposta à Amnistia Internacional, que voltou a denunciar violações dos direitos humanos no país.

A Amnistia Internacional (AI) voltou a alertar para violações dos direitos humanos na Guiné Equatorial, como torturas sobre opositores, detenções arbitrárias e execuções extra-judiciais, a 02 de Agosto, véspera do 40.º aniversário da tomada do poder do actual Presidente, Teodoro Nguema Obiang.

Uma versão rejeitada pela Guiné Equatorial, que num longo texto de "reacção ao artigo da Amnistia Internacional", divulgado através do Gabinete de Informação e Imprensa oficial, diz que o país "acaba de celebrar 40 anos de paz, prosperidade e sã convivência nacional".

No documento, o Governo sustenta que esse percurso resulta do "Golpe de Liberdade do dia 03 de Agosto de 1979", que "felizmente modificou o curso da história" do país.

Teodoro Obiang Nguema, 77 anos, assumiu o poder na Guiné Equatorial após um golpe de Estado militar que depôs o seu tio, executado em Setembro desse ano.

Guiné Equatorial projeta erguer um muro na fronteira com Camarões


A medida é contra a livre circulação de pessoas e bens na região aprovada, em 2017, pelos seis países membros da África Central, da qual também fazem parte os Camarões e a Guiné Equatorial, dizem fontes locais.

A Guiné Equatorial está a planear construir um muro na fronteira com os Camarões. O alerta foi dado pelo exército camaronês que garante que militares do país vizinho invadiram a cidade de Kyé Ossi, na fronteira, e colocaram marcos em várias terras, estendendo assim o seu território para além da fronteira estipulada atualmente. 

Segundo a imprensa camaronesa, o chefe do exército do país visitou, recentemente, o local para se inteirar do sucedido e garantiu, na altura, que os Camarões "não vão tolerar qualquer intrusão ilegal no seu território".

"Os camaroneses estão muito irritados porque eles olham para a Guiné Equatorial como um possível destino de negócios”, dizem fontes locais.

S. Tomé e Príncipe | A Fogueira das Vaidades


Adelino Cardoso Cassandra | Téla Nón | opinião

Vivemos tempos difíceis, muitos difíceis, como tenho frequentemente alertado, neste jornal, em vários artigos de opinião, perante a indiferença, e, até, manifestações de escárnio e ataques pessoais, por parte das celebridades do costume, que, em nome da defesa dos seus superiores interesses e das suas clientelas, fizeram com que o país perdesse, definitivamente, o medo do ridículo e da chacota.

Na primeira república e após a abertura do referido regime (basta ler o famoso livro do Gerhard Seibert – Camaradas, Clientes e Compadres) muitos dos problemas que enfrentávamos, relacionados com a manifestação da crença na autoridade e confiança no progresso, não eram diferentes dos atuais, mas, todavia, naquela altura, existia algum pudor, por parte dos representantes e instituições do Estado, na exposição pública e impiedosa da mediocridade, da vulgaridade ou, até, da vaidade inconsequente e pueril, voluntária ou involuntariamente, como elementos de manifestação da luta pelo poder na nossa terra.

Para além disso, em aparente contradição com esta constatação, o país, naquela altura, tinha muitos menos quadros qualificados, na maior parte dos sectores de atividade e mesmo na estrutura do Estado.

Ou seja, ao mesmo tempo que, aparentemente, o esforço para a qualificação dos quadros nacionais foi sendo feito e o seu enquadramento, como garantia da normalização da vida e dinâmica das instituições do país, ao longo dos tempos, foi decorrendo, o país começou a viver numa espécie de “Fogueira das Vaidades”, com reflexos desastrosos na regularização da nossa vida em comunidade, cuja manifestação está relacionada com o desejo e luta pelo exercício do poder, nas suas mais variadas formas, no interior dos partidos políticos, nas instituições do Estado e, até, nas relações sociais mais básicas, caracterizador do estádio embrionário de um autêntico Estado falhado.

Angola e Ghana definem passos para a nova era de cooperação


Angola e o Ghana pretendem firmar passos concretos no que consideram de nova era da cooperação com a assinatura, ontem, em Luanda, de um Memorando no domínio da Educação para a mobilidade de professores e pesquisadores em instituições de ensino superior e centros de pesquisa científica.

Ontem, após as conversações oficiais, foram também assinados outros dois acordos: o Acordo sobre o funcionamento da Comissão Bilateral de Cooperação, visando estabelecer um quadro que permita a implementação da Comissão bilateral criada à luz do artigo 7º do Acordo Geral de Cooperação Económica, Científica, Técnica e Cultural e o Acordo sobre supressão de vistos recíproco em passaportes diplomáticos e de serviço. 

O acordo visa facilitar a mobilidade migratória a favor de cidadãos de ambos os países portadores de passaportes diplomáticos e de serviço.

Foram signatários dos três acordos, rubricados no Salão Nobre do Palácio Presidencial, o ministro angolano das Relações Exteriores, Manuel Augusto, e a ministra dos Negócios Estrangeiros e da Integração Regional do Ghana, Shirley Ayorkor Botchwey.

Ebola, doença do colonialismo


Epidemia que assombra África tem origem em intervenções muito ocidentais: agronegócio mercantilizou cultivo do dendê e submeteu camponeses a convívio com morcegos. Destruição da Saúde Pública completou o trabalho

Rob Wallace e Rodrick Wallace | no New Left Review | Outras Palavras | Tradução: Simone Paz | Imagem: Owen Davey

As epidemias constituem, na mesma medida, marcos da civilização moderna e ameaças contra ela. Tudo que consegue evoluir e se expandir depende da matriz de barreiras e oportunidades que determinada sociedade dá aos patógenos que a circundam. Durante grande parte de sua história, por exemplo, o vibrião colério [Vibrio cholerae] alimentou-se do plâncton que existia no delta do Rio Ganges.

Somente depois que muitas camadas da população adotaram um modo de vida urbano e sedentário e, posteriormente, integraram-se cada vez mais graças ao comércio e aos sistemas de transporte do século XIX, é que as bactérias do cólera viraram um específico e exclusivo ecótipo humano. Os vírus que causam a imunodeficiência (AIDS) em primatas surgiram em macacos, na forma de HIV, quando a expropriação colonial converteu o consumo de animais exóticos para a subsistência e o comércio sexual nas cidades em mercadorias de escala industrial.

O gado domesticado tem se tornado uma fonte tremenda de difteria, gripe, sarampo, caxumba, pragas, coqueluche, tuberculose, rotavírus A, doença do sono e leishmaniose para os seres humanos. As mudanças ecológicas provocadas no entorno, pela intervenção humana, têm facilitado a transmissão de malária das aves e de dengue e febre amarela dos primatas selvagens. Os novos agentes patógenos adaptaram-se às melhorias da tecnologia médica e da saúde pública, enquanto as inovações nos métodos agrícolas e industriais têm acelerado as mudanças demográficas e as novas formas de habitar, concentrando potenciais populações hospedeiras e, desse modo, promovendo novas rodadas de transmissão.

As políticas destinadas a redesenhar a economia local em benefício das multinacionais impactam drasticamente o ambiente e os ecossistemas, e, portanto, influenciam do mesmo modo no destino das doenças infecciosas. Como testemunha a história epidemiológica, o contexto é muito mais que um simples cenário de colisão entre agentes patogênicos e

Os impactos agroeconômicos regionais do neoliberalismo mundial podem ser percebidos em todos os níveis da ordem biocultural, inclusive nas proporções do vírus e da molécula. A investigação de tais conexões pode se tornar uma questão decisiva para o século XXI. Não deixa de crescer a bibliografia sobre saúde pública e animal que sugere que os padrões atuais de exploração agroeconômica aumentam o risco de uma nova pandemia, seja provocada pelos vírus RNA, como o ebola ou a síndrome respiratória aguda grave (SARS), ou por qualquer outro patógeno.

Ecossistemas nos quais os vírus “silvestres” eram controlados pelas alternâncias da estocasticidade ambiental (variações ao acaso nas condições ambientais, como catástrofes, etc.) estão sendo radicalmente reestruturados pelo desmatamento e pelas plantações de monocultivo. As transmissões de patógenos que antes desapareciam com relativa rapidez, hoje descobrem cadeias de vulnerabilidade, gerando surtos de maior extensão, duração e impulso. Existe a possibilidade de que algum desses surtos chegue a igualar a escala da pandemia de gripe de 1918, de alcance global e com altas taxas de mortalidade e de invalidez.

O agronegócio capitalista transforma cada vez mais o Planeta Terra em Planeta Fazenda. 40% da superfície terrestre destina-se à agricultura, e espera-se que muitos milhões de hectares passem a ser de produção daqui ao ano de 2050. O gado, que representa 72% da biomassa animal, está, ao mesmo tempo, muito concentrado e amplamente disperso pela superfície do planeta.

A pecuária usa um terço da água doce disponível e um terço das colheitas do mundo para sua alimentação. Com sua expansão global, a agricultura mercantilizada atua como a ponte através da qual os agentes patogênicos de diversas origens migram, inclusive das reservas selvagens mais isoladas até os centros populacionais mais globalizados.

Quanto mais longas as cadeias de suprimento associadas, e quanto maior for o rastro do desmatamento, mais variados — e exóticos — serão os patógenos zoonóticos a entrar na cadeia alimentar. Entre os patógenos emergentes, encontram-se os Campylobacter industriais, o vírus Nipah, a febre Q, a hepatite E, a Salmonella enteritidis, a febre aftosa e diversas novas variantes da gripe (1)

As deseconomias de escala da agricultura intensiva vão muito além das consequências epidemiológicas acidentais que decorrem do transporte e da distribuição globalizados. Os ciclos de produção deste modelo debilitam a resistência dos ecossistemas às doenças e aceleram a difusão e a evolução dos agentes patogênicos, devido ao aumento dos monocultivos genéticos, à alta densidade populacional e à expansão das exportações.

Neste ensaio, descrevemos o surgimento de um ebola urbanizado na África Ocidental, no fim de 2013, como exemplo fundamental de tal transição.

Estará o Federal Reserve a perder o controle do preço do ouro?


Paul Craig Roberts

Depois de ser mantido estagnado durante anos através da orquestração de vendas a descoberto, aqui descritas por Roberts e Kranzler, o ouro finalmente subiu drasticamente atingindo US$1.510 nesta manhã. O preço do ouro tem continuado a ascender apesar da prática contínua de despejar grandes volumes de contratos informais não legalmente obrigatórios (naked contracts) no mercado de futuros. O preço do ouro é deitado abaixo mas recupera-se rapidamente e sobe. Desta vez não tenho uma explicação para esta nova força mais poderosa do que as vendas a descoberto que têm sido utilizadas para controlar o preço do ouro.

Vários bancos centrais têm convertido as suas reservas em dólares para o ouro, as quais reduzem a procura por dólares e aumentam a procura pelo metal amarelo. Stocks existentes de ouro disponível para atender as encomendas estão a ser levantados e nova produção mineira não está a acompanhar a ascensão da procura. Talvez esta seja a explicação para a ascensão do preço do ouro.

Durante os muitos anos da Facilidade Quantitativa o valor cambial do dólar foi protegido pelos bancos centrais do Japão, Grã-Bretanha e UE que também imprimiam moeda para assegurar que as suas divisas não ascenderiam em termos de valor relativo para com o dólar. O Federal Reserve precisa proteger o valor cambial do dólar de modo a que ele continue no seu papel como a divisa de reserva do mundo em que são efectuadas as transacções internacionais. Se o dólar perder este papel, os EUA perderão a capacidade de pagar as suas contas imprimindo dólares. Um dólar com valor declinante em relação a outros países provocaria a fuga do dólar em direcção às divisas que subissem. A catástrofe ocorreria rapidamente com o aumento da oferta de uma divisa que os bancos centrais estivessem relutantes em manter.

Mais lidas da semana